A maratona de desfiles do quarto dia da São Paulo Fashion Week começou cedo, com o show exclusivo de Pedro Lourenço, que retornou ao line up da semana de moda paulista após certo tempo desfilando somente em Paris.
Foto: Agência Fotosite
Em seguida, a Pat Pat, marca jovem de Patrícia Vieira estreou no evento e soube fazer bonito. A marca fica sob responsabilidade de Andréa, filha de Patricia, que tem seguido o caminho das pedras da mãe direitinho, como manda o figurino.
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Assim como o filho, Pedro Lourenço, Gloria Coelho foi outra que voltou ao line up do evento, já que pulou a edição passada. É sempre um grato prazer ver o trabalho de Gloria na passarela. É possível comparar sua obra com a de cineastas como Roman Polanski, Quentin Tarantino ou Stanley Kubrick: mesmo em uma temporada em que ela não faça algo absolutamente novo, ainda assim o resultado é imensamente superior à média, o que, por si só, já vale a entrada. Dessa vez, claro, ela manteve a pegada de sempre com referências dos anos 1960/80, geometrias, grafismos, recortes e espírito mod. Mas, mesmo sendo fascinada por esses aspectos da moda, ela sempre encontra uma forma de, sem abrir mão de sua forte identidade, inventar uma abordagem diferente, mesmo que, no fundo, tudo seja exatamente mais do mesmo. E por que não, não é mesmo? Estilo não é eterno? E estilo Gloria tem de sobra. Agora, em uma coleção onde a base do styling é um legging – ítem essencial nesta temporada -, ela sobrepôs peças com talho futurista como vestidos, blusas, casacos e ainda trouxe o vocabulário esportivo da vez, com tricôs em shape casulo, malha mescla, jogos de preto, grafite e cinza.
Fotos: Agência Fotosite
Depois, foi a vez de Ronaldo Fraga fazer seu showzinho de sempre. Showzinho nada, showzaço! O mineiro foi responsável pelo cenário mais bacana até agora em uma semana em que, com a crise, a cenografia diferenciada ficou em oitavo plano. Bom, Ronaldo sempre gosta de investir em uma ambientação esperta que valorize suas elucubrações estilísticas. Pena que a iluminação do desfile, apesar de teatralmente linda, até mesmo adequada para um show ao vivo, dificultou a percepção de algumas texturas e cores, além de prejudicar a cobertura fotográfica. Minha experiência em teatro e dança já me ensinou que nem tudo que gostamos de ver em um balé, ópera ou peça de teatro funciona na passarela, pois, apesar de permitir que a emoção flua na plateia, às vezes a luz é cruel para o registro posterior, em foto ou vídeo. E, para o bem ou para o mal, a grande massa de público, consumidores e clientes acaba, no final, tendo contato com o trabalho do estilista através da divulgação da imprensa.
Mas, no geral, Ronaldo fez uma coleção sublime, calcada na aridez nordestina, mais uma vez se inspirando na literatura de Mário de Andrade – influência forte em sua vida, de cuja obra já havia norteado outra coleção do designer baseada nas viagens do escritor pela Amazônia. Dessa vez, o GPS do estilista o levou em direção ao ambiente agreste da caatinga, com mulheres fortes que evocam Maria Bonita e outras personagens dignas de portar uma peixeira na cintura. Peças em couro ecológico convivem com outras desenvolvidas no material de saco de aniagem, estampado com padrões étnicos dessa região. Um primor! Ronaldo ainda chegou ao requinte de imprimir o mesmo mix de estampas tanto nesse telado de saco de batata e em tecidos nobres como seda para combiná-los nas mesmas peças ou looks, amplificando a riqueza de detalhes. E, como ele não está nem aí praquela obsessão da brasileira de se sentir o tempo toda sexy, não se deu ao luxo nem mesmo de apostar no comprimento midi que tem sido onipresente nos desfiles, desde o Minas Trend. Ele foi além: preferiu investir em um dificílimo comprimento longuete. E mais: na sua moringa de sacações, ainda conseguiu reunir essas referência brasileiras em shapes e montagens orientalizados, como amarrações que remetem a obis japoneses. Quem vai dizer que não é um mestre?
Fotos: Vinícius Pereira