SPFW inverno 2014 day #2: das camisolas de Herchcovitch aos moletons de Juliana Jabour, nada é o que parece, ganhando novas interpretações


Em comum, grifes apostam na releitura do sportswear e na segurança das vendas, trazendo vermelhos para levantar os neutros

O dia começou com o desfile feminino de Alexandre Herchcovitch em um desfile externo que levou o público à bela cúpula do Teatro Municipal de São Paulo. Dessa vez, o enfant gaté criou uma coleção a partir da observação de camisolas antigas, daquelas que já povoaram os guarda-roupas de gente real, como a escritora dinamarquesa Karen Blixen, ou fictícia, como a Wendy inventada por James Barrie para seu clássico Peter Pan. Como colorido sóbrio, com preto, vermelho, off white, creme e bege – que evoca as cores das roupas de baixo – Alexandre estava inspirado como de costume e soube passar uma atmosfera romântica aos convidados. Causou.

Mais tarde, já na tenda o Parque Villa-Lobos, Esther Bauman apresentou sua nova coleção de roupas de festa, desta vez inspirada pela sofisticação enxuta do pós-guerra americano sintetizada na elegante figura de Marlene Dietrich. Naturalmente, a Acquastudio bebeu na fonte de uma Marlene mais austera, que nada tem a ver com ambigüidades sexuais ou o brilho art déco dos anos 1930. A Marlene em questão é personagem da década seguinte, a de quarenta, e norteou a criação de peças como saias lápis com comprimento midi, looks em alfaiataria pontual, shapes secos, suéteres e pelerines dando o charme. Além disso, Esther desenvolveu vestidos longos com capas fluidas que surgem a partir dos ombros dos vestidos e que, algumas vezes, estão arrematadas por casquetes na cabeça. Poderia ser Dietrich, mas também Lauren BacallGene TierneyAlida Valli e até Giulieta Massina, todas representantes dessa nova sobriedade que surgiu na virada de 1940 por conta da escassez de matérias-primas causada pela guerra, sepultando de vez os exageros da cintilância déco. O colorido da coleção acompanhou esse clima, com muito preto, cinzas mesclados e rosê iluminados por vermelho.

Fernanda Yamamoto foi a terceira a se apresentar neste dia, misturando moda e arte no seu caldeiraozinho conceitual de costume, prato cheio para fazer aquilo que ela mais gosta: desenvolver estampas e padronagens. Dessa vez, é possível perceber um crescimento no seu trabalho, com visível amadurecimento. As formas continuam puro conceito, com influências orientais, mas ganhando possibilidades de uso real além das passarelas. Ela desenvolveu belas estampas florais, que desenhou em parceria com dois estúdios de ilustração: My.s – das irmãs Maíra e Yara Fukimoto e de Stephanie Marihan – a partir de técnicas de lápis grafite, e o Black Madre, do artista plástico André Maciel, bamba nas aquarelas. No final, tudo passou pelos processos digitais de sempre em looks com sobreposições, volumes e recortes em mix de tecidos variados como jacquard, cetim, crepe, tricoline, organza e algodão.

O papa da fotografia de moda Irving Penn foi a influência mais marcante na coleção do baiano Vitorino Campos, que também se deixou levar pela corrente vital da natureza. Vitorino é outro que vem crescendo a cada edição, mantendo seu apreço pela alfaiataria chique, mas se superando nas técnicas de modelagem. Brincou lindamente com preto, branco e cinza, com uma pitada de bordô na reta final. Ou seja, preferiu apostar naquilo que é certeiro, pois, além dos neutros, bordô é uma cor que deve repetir no próximo inverno o desempenho comercial que teve na estação passada. Os looks em pied-de-cocq em lã de camelo, como o tubo usado por Raquel Radiske e o suéter envergado por Lovani Pinow, se destacaram em um conjunto que causou boa impressão na platéia, assim como o vestido que fechou o show, um tubo negro em zibeline fundida com cetim duchesse, encarnado pela bela ruiva Cinthia Dicker.

No fim do dia, Juliana Jabour apresentou uma coleção onde a vedette-coquette absoluta é o moletom, material de destaque no próximo inverno. Juliana resgatou esta matéria-prima como fio condutor da nova coleção, seguindo a bússola que aponta para o esporte e para o streetwear. Mas, claro, em se tratando da estilista, mesmo algo funcional como o moletom ganha nuances sexies, bem ao gosto de suas clientes. Assim, ela soube aliar o urbano ao esportivo e manter características suas que lhe são caras, como esse jeito meio chique, meio cool, um quê de largado, que define o seu lifestyle. Nada de muito novo no front da moda, mas, ainda assim, gostos de se ver e usar. No mais, a combinação de ouro velho com o cinza-mescla do moletom deu certo.

Fotos: Agência Fotosite