SPFW # 5: Da Londres de Reinaldo Lourenço ao Havaí da Amapô, tudo acaba na festa de Samuel!


O último dia da SPFW ainda trouxe a boa estreia de Wagner Kallieno, o verão clarinho da Ellus e a pantagruelice da Melissa!

* Por Alexandre Schnabl 

Neste último dia da edição de inverno da SPFW, reinou a diversidade. Reinaldo Lourenço apontou sua bússola fashion para Londres, a Melissa transformou a moda em um prazer pantagruélico, a Ellus investiu em um verão clarinho, Wagner Kallieno estreou no evento, a Amapô reafirmou seu amadurecimento, Alexandre Herchcovitch fez o melhor desfile da temporada com sua coleção masculina e Samuel Cirnansck fechou a semana.

Reinaldo Lourenço investiu em um verão londrino, com ar de Vanessa Redgrave, novinha e piteú, passeando linda, leve e solta pelas calçadas da capital inglesa. Não se trata de uma coleção com referências de época, ao contrário, mas, olhando para o colorido, os trench coats, os chapéus usados no styling e as estampas florais estilo liberty, é impossível não imaginar versões atualizadas dela e de outra atriz da mesma geração, Julie Christie, circulando pelas ruas de Covent Garden ou da sofisticada Belgravia. A cartela de cores brinca com preto, branco, azul, vermelho e pink, praticamente  uma versão ampliada do blue-white-red da union jack, a icônica bandeira britânica. E o equilíbrio entre lisos e prints deu o tom exato daquilo que seria o fugaz verão inglês.

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Foto: Divulgação/Agência Fotosite

Depois de um desfile étnico deslumbrante – onde o excesso de produção era tão bonito que até compensou o fato de os calçados terem ficado em segundo plano – a Melissa fez sua segunda investida na passarela da SPFW. Dessa vez, o bolo solou. Com uma coleção chamada “Eat My Melissa”, onde, obviamente, a grife brinca com a sinestesia entre os plásticos coloridos com jeito de jujuba (de seus produtos) e iguarias apetitosas, a coisa até começou bem, com roupas no mesmo PVC injetado dos sapatos – desenvolvidas por Louise Latex e John Earnshaw -, em tramado de telinha vazada igual ao da famosa bolsa de feira da marca. Tudo tinha um quê Mila Jovovich em “O Quinto Elemento” misturado com “João & Maria” e poderia dar certo, não fosse a insistência da equipe contratada em transformar o evento, do meio em diante, em um daqueles shows de alunos de escola de moda que querem se tornar stylists de Lady Gaga. Aí tudo perdeu a mão e, pior, o púbico até esqueceu os ótimos sapatos da nova coleção. A impressão que dá é que a stylist resolveu fazer um city tour pela 25 de Março, arrematou um estoque de poliuretanos e acetatos e, encantada com a textura dos materiais, resolveu criar roupitchas daquelas que estudante do primeiro período de moda faz na hora de se afirmar como conceitual. Três Dorflex não foram suficientes para driblar minha enxaqueca, nem mesmo quando, na reta final, entraram roupas em látex divertidas com sorvetes, cupcakes, hot dogs e outros quitutes sobre-aplicados. Mesmo em um desfile de uma grife que pode se dar ao luxo de ser funny, menos é mais e perucas coloridas dentro de um mesmo caminho de beleza não são suficientes para dar liga a três menus-degustação distintos na mesma passarela-gourmet. Felizmente, a trilha sonora – que teve  o dedinho firme de Érika Palomino – foi delicinha, com direito a “What is Love?”, do Dee-Lite.

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Foto: Divulgação/Agência Fotosite

Em seguida, a Ellus apresentou uma coleção toda clarinha, onde neutros como branco, cinza e prata ganham o tempero de pretos pontuais. E muito jeans, óbvio, que faz parte do DNA da marca, em lavagens super clarinhas, uma beleza! As formas são soltas e utilitárias, e a grife ainda faz menção à Copa do Mundo de maneira limpa, gostosa de se ver, como na padronagem de bandeirinhas. Ótimo desfile!

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Foto: Divulgação/Agência Fotosite

Wagner Kallieno estreou bem na SPFW trazendo o sol do Nordeste para a passarela e looks com os bordados do Rio Grande do Norte recriados com novos desenhos. Uma coleção bem estruturada, bem modelada, com cartela de cores sucinta de brancos, crus, ouro cáqui, voltada para o mulherão. Para dar refresh nesse segmento, ele aposta na falta de acabamento proposital em algumas bainhas e ainda investe em elementos do sportswear para rejuvenescer seus shapes secos e saias midi. O resultado é sexy e vai funcionar nas araras, sobretudo para as magrinhas.

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Foto: Divulgação/Agência Fotosite

Amapô reconfirmou seu amadurecimento na passarela. Felizmente, já foi o tempo em que Carolina Gold e Pitty Taliani deixavam transparecer que um desfile da marca era uma ação entre amigos, onde as ideias se resumiam a conceitos daquilo que iria simplesmente agradar à patota, sem aparente compromisso com o mercado, mas com o calor humano dos mais próximos na plateia. De uns tempos para cá, o trabalho da dupla foi ficando mais sólido e as coleções foram se tornando… Coleções!

E este caminho ficou muito evidente nesta temporada. Sim, de fato, os ares havaianos fizeram muito bem à grife que, em uma temporada morna em meio a um momento de crise global, soube trazer alegria ao evento. Não só pela maneira como o desfile foi apresentado – a gente até esqueceu que, nos anos noventa, odiava o “É o Tcham!” e o “Gerasamba”  e acabou sacudindo o pezinho -, mas nos looks, nas estampas, na edição. A moda praia estampada, as hot pants, os acessórios feitos com cordas náuticas, as deliciosas bermudas masculinas, as peças em jeans, os prints de maxi hibiscos, quase tudo usável, mesmo fora do contexto dos moderninhos fãs da marca. Uma delícia!

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Foto: Divulgação/Agência Fotosite

Em seguida, Alexandre Herchcovitch apresentou o melhor desfile da temporada, cuja análise pode ser lida na seção Gente & Badalo. Confira as fotos abaixo!

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Foto: Divulgação/Agência Fotosite

Samuel Cirnansck fechou o evento trazendo sua nova coleção de festas dividida em três atos. No primeiro, uma seleção de vestidos coloridos, com drapeados e repuxados, pouco decorada como se espera de um trabalho do estilista. No meio, ele se entregou às suas rendas, às cores clarinhas e até a alguns macacões justérrimos, daqueles que lembram o shape de corselet e calça cigarrette das Pinks Ladies, de “Grease” , Stockard Channing à frente. Aqui a modelagem ganhou força, abrindo espaço para a reta final, quando looks em branco dividiram a cena com outros em que a renda negra sobre tule empretecia as bases coloridas, ótimo efeito!  No geral, uma coleção irregular, aquém da anterior, aquela em que o designer se baseou em bonequinhas russas. Faltou mojo desta vez.

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Foto: Divulgação/Agência Fotosite