SPFW # 4: Osklen flerta com arte, Movimento troca alianças com Dudu Bertholini e Forum mantém bodas com Felipe Jardim!


Penúltimo dia do evento apresenta a boa estreia de Lolitta, o delírio pé no chão de Lino e a coleção encapsulada de Pedro Lourenço. Confira!

* Por Alexandre Schnabl

Este quarto dia de SPFW começou cedo, em maratona que levou os convidados a dois desfiles externos, o de Pedro Lourenço e da Têca, de Helô Rocha.

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Foto: Divulgação/Agência Fotosite

Oskar Metsavaht recebeu jornalistas no seu show room paulistano para explicar que a moda agora está na arte, daí os projetos   que a Osklen desenvolve neste verão com o Instituto Inhotim, MG, uma referência no mercado artístico nacional. Ao invés de desfile da marca na SPFW, volta para o Fashion Rio com sua nova empreitada – a Osklen Praia – e prefere desenvolver coleção a céu aberto na cidade mineira que é baluarte da arte plástica nacional, além de uma série de ações nesse sentido. Mas, e a nova coleção da grife? Bom, ela comparece no look book e nas araras, como sempre com a plasticidade surgindo naquilo que a grife sabe fazer muito bem, de cor e salteado: formas minimalistas, estampas de folhagens e flores cool, listras, um pouco de vinil, tudo em bases pretas ou brancas com aquele jeito de carioca bem nascido que Oskar tanto se orgulha de ser um dos artífices.

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Foto: Divulgação/Jhonatan Chicaroni

A Movimento ganha novo gás com a adesão de Dudu Bertholini como stylist, que impregna a coleção com aquela aura oitentista que ele tanto curte, adicionando uma pegada hype. As montagens lembram aqueles ensaios com tops da época na antiga Revista Manchete, com Magda Cotrofe, Angela Figueiredo ou Luiza Brunet, produzidos por Claudio Lobato, ou mesmo os editoriais de moda praia de outra publicação da mesma Editora Bloch, a Desfile. Ou os ensaios produzidos para a Revista de Domingo, o suplemento dominical do Jornal do Brasil. Sabor de revival que é a cara de Dudu. Com vitórias-régias como inspiração e a brasilidade como norte, uma sucessão de peças que contrastam esporte com tecnologia em cores fortes e grafismos tomam conta da passarela em resultado que lembra muito a visão de um dos papas do jornalismo de moda no Brasil por quase 40 anos, Roberto Barreira. Tendo o maiô como peça-chave, surgem triângulos em detalhes e amarrações e recortes em looks bacanas que recebem impulso dos acessórios criados por Caio Vinicius e Christopher Alexander. No pós-praia, os macacões, assim como as calças e bermudas clochard, têm presença forte, lembrando outro mito que influenciou toda essa geração 80, a Julia Mattos interpretada por Sonia Braga em “Dancing Days”, a icônica novela de Gilberto Braga.

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Foto: Divulgação/Agência Fotosite

Lolitta é outra marca que estreia na SPFW com o pé direito. A estilista Lolitta Hannud apresentou um desfile com aroma étnico, tendo o México como inspiração e oferecendo ao público belos vestidos curtos, midi e longuete em composês de florais com listras, confeccionados em malha, alguns com maxi flores aplicadas. Uma coleção madura, com primoroso trabalho de modelagem e de cores que justifica sua presença em uma passarela, amplificada por ótima edição de moda. A fila final das modelos é uma daquelas coisas pelas quais um jornalista espera em meio ao ritmo pauleira de uma semana de lançamentos. Um primor. Os maxi babados pontuam esta silhueta que, em alguns looks, pode ser linda de se ver no shape sequinho de uma top, mas talvez seja difícil de se acomodar sobre as curvas da brasileira. A torcida pelo sucesso da grife, porém, é grande.

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Foto: Divulgação/Agência Fotosite

Traduzir um desfile de Lino Villaventura é uma tarefa para os fortes. Fortes de espírito, de sensibilidade e de percepção, já que o criador não dá quase pista nenhuma no release sobre qual motivo o levou a chegar àquele resultado. Dessa vez, ele menciona que compartilha emoções sem medo e que tem os pés no chão. Bom, os modelos desfilam descalços, com os pés protegidos apenas por um daqueles suportes atléticos. Mas, é só isso? Claro que não. Sem nenhum tema ou referência definido, a sensação que se tem é que ele dá continuidade ao desfile da edição passada em uma evolução, em certa simplificação. Os sinais estão todos ali. Os materiais a forma como o designer dá sentido a eles. As duas modelos que protagonizaram o beijo lésbico do final passado – Isabel Hickmann e Alícia Kuczman – comparecem de novo no catwalk. As pinceladas de cor que compunham o exuberante make de Marcos Costa no desfile anterior agora migram para as peças de roupa, sobretudo nas jaquetas da série desfilada no meio, como se tivessem escorrido do rosto dos modelos e pigmentado as produções, enquanto a beleza agora está limpa. E as montagens estão bem mais fluidas e leves, mas ainda mantêm os repuxados, plissados e brilhos dos jogos apresentados no desfile de outubro.

Sublinhando o desfile, uma música com levada africana que, depois, desemboca em “Memorial”, de Michael Nyman, a contundente trilha composta para “O Cozinheiro, o ladrão, a mulher e o amante” (The Cook, the thief, his wife & her lover, 1989), o estonteante clássico de Peter Greenaway estrelado por Helen Mirren e Michael Gambon. Perfeito. No jogo de sensações de Lino, está aí a última pista. Se no desfile de inverno ele evocava o sonho de uma festa onde todas as loucuras eram possíveis, agora ele põe os pés no chão e crava unhas na realidade. Daí os looks mais despojados que os do desfile anterior, com se os modelos já estivessem em casa, de volta da festa e após a noite de charme, se despindo para voltar à vida real. Já tiraram os sapatos, estão descalços, a maquiagem já escorreu e manchou as roupas. Portanto, eles estão de cara limpa. Os homens desfilam com jaquetas sobre sungas, cuecas e shorts que poderiam aludir ao underwear que sobra no corpo quando se tira a roupa do badalo. E a música, bom, “Memorial” como é como um réquiem que celebra a morte da tal festa, depositando os sonhos de novo na realidade. É isso! Lino está contando uma história, cujo capítulo anterior (o show de inverno) continua nesse de agora (o verão). Moda em capítulos!

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Foto: Divulgação/Agência Fotosite

A Forum fecha a noite com coleção inspirada na exuberância da flora brasileira, em orquídeas. Marta Ciribelli mantém o prumo que tem dado à marca desde que assumiu, praticamente dando continuidade ao seu olhar e sem pretensão de grandes mudanças de uma estação para outra. Mas, afinal, não é essa mão firme que confere identidade a uma marca? A estilista certamente aprendeu isso durante os anos a fio que esteve à frente da icônica Yes Brazil, inclusive após a morte de seu criador, o lendário Simon Azulay. Na primeira parte da coleção, o orquidário da designer comparece na dobradinha que ela já faz há algum tempo com o ilustrador Felipe Jardim. Seus traços e pinceladas se tornam grafismos quase abstratos, mais fáceis de assimilar por uma consumidora urbana que é a cliente da grife, certamente não tão chegada à florzinhas. Nessa abordagem, bingo! As cores fortes e pequenos pontos de brilho se encarregam de enriquecer o branco e as maxi flores aplicadas no styling imprimem alegria aos looks.

A outra parte é dedicada à pesquisa de materiais em um campo mais experimental, com ráfia de alfaiataria com fio de celofane, organzas e rendas bordadas sobre sedas, além de giga paetês cortados a laser. Aqui as texturas são a vedete em comprimentos curtos e midi, com boa presença de volumes nos ombros e mangas. Em toda a coleção, enormes zippers decoram as peças, criando efeitos que vão além do funcional.

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Foto: Divulgação/Agência Fotosite