* Por Alexandre Schnabl
Na manhã deste terceiro dia de SPFW, Paula Raia recebeu a imprensa em sua própria casa para exibir uma coleção inspirada em uma mulher acolhedora que pisa na terra. Por isso, tons terrosos – terracota, off white, cru e palha – formam a sucinta cartela de cores que, apesar do tema, nada tem de étnica. Pelo contrário, a coleção exala um perfume minimalista no qual as texturas e recortes ganham primazia de atenção, com os comprimentos longos predominando. Como se essa mulher da estilista fosse a deusa Gaia, da mitologia grega, daí uma certa leitura de divindade olimpiana revisitada sob a ótica toda particular de Paula.
Foto: Divulgação/Agência Fotosite
Fause Haten cada vez mais se afasta do showzão-desfile e envereda por uma caminho que vai de encontro aos novos anseios artísticos que tem experimentado. Nessa temporada, ao invés de um desfile propriamente dito, ele apresenta uma performance no Teatro da FAAP, quando está prestes a estrear como ator profissional. Para quem, na última coleção, optou por transformar o processo de produção de um fashion show em happening artístico na Avenida Paulista, o momento atual não poderia deixar de ser uma evolução. Claro que ele continua desenhando roupas sob medida para aquelas clientes fieis que querem exibir sua assinatura em badalos sociais. Portanto, a SPFW é o veículo de escape ideal para Fause fugir da rotina e se aventurar por essas ideias mirabolantes que, certamente fazem bem à sua alma e, além disso, causam curiosidade no público. “O que será que ele vai preparar dessa vez” já é pensamento corriqueiro quando se pensa em suas apresentações. Agora, ele brincou de boneca e vestiu sete modelos no cenário de sua peça “A Feia Lulu” e, ao término, tocou piano como um Liberace tropical.
Foto: Divulgação/Agência Fotosite
Logo de cara no release, Gloria Coelho dizia que sua inspiração, dessa vez, são criaturas mágicas. Mas o que é isso? Duendes fabulosos? Sasquatchs? Unicórnios com arco-íris na barriga? Talvez sejam os Oompa Loompa, por que não, já que estamos em mês de Páscoa, com os chocolates abundando. Mas, nada disso! Em desfile de Gloria nada é exatamente o que se escreve e, em sua multiplicidade de referências, tudo, no final resulta em… Gloria! Mas, entre os muitos looks apresentados, – sobretudo os vestidos de festa, já que ela é profissional atuante neste filão -, sobressaem a série de peças em malha canelada colorida com tule preta sobreposta e os vestidos em plaquinhas sobre tule, meio sessenta. Uma graça!
Foto: Divulgação/Agência Fotosite
Ronaldo Fraga continua sendo um dos principais expoentes da vertente na qual associar moda à arte é uma realidade inquestionável, tanto pelo resultado do seu trabalho quanto pela abordagem de assuntos relevantes ao cenário cultural do Brasil. E, mesmo em temporada mais enxuta do ponto de vista cenográfico e performático, ele emociona, como nesta coleção em que visita a obra de Candido Potinari, baluarte da arte moderna. Com música que mistura bandoneon e batucada ao fundo, o desfile se divide em blocos que destrincham a obra do artista plástico, quase como se fossem alas de uma escola de samba no carnaval, bem marcadas.
A apresentação começa com as bandeirinhas e pipas da infância de Portinari abrindo a sequência de looks autorais, em cartela de cores com laranjas, azuis, ocre e canário. Depois vem o circo que marcou a infância do artista e, nessa hora, a música ajuda a contextualizar as montagens. Como sempre, as silhuetas são soltas e confortáveis, predominam os longuettes no comprimentos dos vestidos, mas nota-se a preocupação do estilista em ser um pouco mais comercial sem perder identidade. Os decotes mais acentuados em alguns looks e a presença incomum (no seu estilo) de tantas transparências entregam essa premissa. Mas são os bordados artesanais com fios soltos e estampas que aludem aos azulejos azuis do painel da Igreja da Pampulha, já no final, que impressionam e deixam claro: é sim Ronaldo, em sua boa e habitual forma.
No mais, vale mencionar as maxi bijoux em madeira, natural ou pintada em cores fortes, assim como os óculos transparentes coloridos que se encarregam de adicionar riqueza às montagens.
Frase contundente do artista: “No Brasil-novo-rico, a obra de Portinari ainda grita e seu legado se faz caro em tempos desmemoriados e apáticos”. Salve, Ronaldo!
Foto: Divulgação/Agência Fotosite
Com Ana Beatriz Barros abrindo o desfile, Lilly Sarti estreia na SPFW com desfile concorrido, daqueles em que o mulherio aplaude e faz questão de mostrar calor humano. A marca tem clientela fiel e isso pode ser confirmado com a quantidade de itens que compõem a quantidade de looks desfilados. O tema é o ano do cavalo no horóscopo chinês e, assim, um sabor western pontua a coleção, com ferraduras em estampas localizadas, brincos e até decorando as open boots. Um time de modelos poderosas ajuda a consagrar a marca no line up do evento, com Alicia Kuczman, Renata Kuerten, Lovani Pinow, Aline Weber, Vivi Orth e Daiane Conterato encabeçando este time que também se encarrega de dizer ao público presente que a marca é power. Em época de contenção de despesas, o volume de tops por desfile está mais minguado nesta temporada, exceto nos shows de moda praia, e Lilly Sarti é exceção até agora. Muitas peças em couro e chamois, vestidos-camisetões e peças em jeans com aroma seventies prometem conquistar uma legião de consumidoras, assim como as peças mais diáfanas, com transparências que devem agradar em cheio as fashionistas. Mas o destaque vai para as calças jeans boca-de-sino com barras desfiadas que simulam franjas e para as belas bolsas que completam as montagens.
Foto: Divulgação/Agência Fotosite
Água de Coco mergulhou nas profundezas oceânicas em companhia de um time de sereias de responsa, daqueles que definem o final da partida: Izabel Goulart – estrela da campanha – Ana Claudia Michels, Aline Weber, Bárbara Fialho, Bruna Tenório, Renata Kuerten, Lovani Pinow, Thairine Garcia, Juliana Imai, Debora Muller, Bárbara Berger, Isabel Hickmann, Alicia Kuczman, Carol Francischini, Marcelia Freesz, Viviane Orth e até Carol Trentini em única aparição surpresa, fechando o desfile. Dream team, sem dúvida. A marca também investiu em cenografia mais poderosa, com arquibancada na boca de cena para compor o impactante tableau vivant, marcação coreográfica com as modelos compondo um grupo em diferentes alturas e posições, em resultado que sempre causa ótimo efeito.
A coleção versou pelo animal print, com estampas fazendo as vezes de escamas de peixes e cascos de tartaruga, além de estampas do fundo do mar, corais e cardumes de peixinhos coloridos, tipo “Procurando Nemo.” No geral, três grupos de cores predominaram: coral, amarelo, e a dupla azul com verde, o que imprimiu um colorido lindo na fila e no final. E a trilha sonora, um deep house, serviu belamente para pontuar o show. Redondo o show de Liana Thomaz.
Foto: Divulgação/Agência Fotosite
Adriana Degreas faz moda praia de mulher bem nascida. Daí natural que, além dos maiôs e peças adequados para se usar no iate, ela dê um passo além no pós-praia e desenvolva até blusas, bodies e túnicas que, se bobear, podem virar composição de look para festa, tal o requinte da coisa. Os caftãs, por exemplo, transformam-se em sofisticados jumpsuits dignos de um badalo noturno. Por que não? Agora, em um desfile-show onde o time de beldades ganha a adesão da estonteante Shirley Mallmann e da incrível Solange Wilwert, ela brinca com o conceito de lingerie sexy, trazendo as formas e texturas do visual boudoir para a areia. A coleção, portanto, traz maiôs com cavas profundas que podem ser usados como bodies e usa lycra rendada com padronagens tropicais que, aliadas a uma cartela de cores secas, imprime a leitura pretendida. Preto, ouro seco, um rosê intenso e verde celadon – aquele tom que os franceses amam – colorem as peças , que trazem até laçadas nos ombros e bolsos eventuais. E, como tudo tem essa pegada underwear, trazendo o passado para a leitura chique contemporânea da grife, é significativa a presença do print de cisne do artista inglês Walter Crane (1845-1915) na série final do desfile, conferindo um aroma art nouveau a0 conjunto.
Foto: Divulgação/Agência Fotosite
A Colcci fechou a noite com o habitual frenesi de convidados, todos querendo tirar casquinha da dupla de estrelas como se estivesse em um show de pop rock. A marca, mesmo depois de ter solidificado seu estilo, continua mantendo essa pegada star system, com super models ou astros de cinema deflagrando, na passarela e campanhas, esse frisson. Dessa vez, Gisele Bundchen mais uma vez e o top número 1 do mundo, Sean O’Pry. E, na plateia, o maridão da super modelo, Tom Brady, era outro motivo para se estar na sala de desfile. Cada vez que ela passava, ele babava, provando que, nessa casa, quem manda é a mulher.
No universo tropical da marca predomina um espírito praiano, com jogos de listras coloridas e uma cartela de cores suave, às vezes neon, sempre bem refrescante. Turquesa, azul clarinho, verde jade, rosa fluor, goiaba pastel, amarelo, cru, branco e bege são as apostas, assim como os composês de listras e florais alegrinhos. Nos homens, os paletós em alfaiataria precisa são um must, assim com as calças cropped com sapatos Oxford, uma beleza. Para elas, as estampas florais e as composições de listras com flor são uma delícia. E os sobretudos de verão colaboram no sentido de dar leveza ao conjunto, mas arrematando o estilo, com destaque para o branco com desenhos vazados na barra e punhos usado por Aline Weber. Uma das mais bonitas coleções que a Colcci já apresentou, embora a persistência em comprimentos midi, logo abaixo do joelho, não seja exatamente algo que seduza a garotada que costuma frequentar as lojas da marca.
Foto: Divulgação/Agência Fotosite
Artigos relacionados