SPFW #2: das Marilyns contemporâneas de Alexandre Herchcovitch à Positano irreverente da Triton!


Sunset dreams! Neste segundo dia de evento, predomina um passeio pelos balneários sofisticados, da recatada Paraty ao glam dourado da Califórnia, passando pela Costa Amalfitana em leitura moderninha!

* Por Alexandre Schnabl

O segundo dia de SPFW começou bem cedo, com desfile feminino de Alexandre Herchcovitch na Oca do Parque Ibirapuera. Teve gostinho de revival, já que o evento se transferiu de mala e cuia para o Parque Villa Lobos / Parque Cândido Portinari e a Oca fica ao lado da Bienal, onde a semana de moda costumava ser realizada. Depois de desconstruir armaduras medievais e camisolas retrô, o estilista traz para seu verão o ícone bombástico Marilyn Monroe. Mas engana-se quem supõe que o designer apresentaria na passarela louras peitudas com vestidos godê fazendo saliência em cima de bueiro de metrô. Muito óbvio para Alexandre e claro que ele preferiu soprar sua moda em outros ventos, deixando a brisa que vem de baixo para outro criador menos inspirado. O aroma fifties, contudo, está todo ali, na coleção, desde capas e sobretudos levinhos, passando por blusaria com levada retrô e cintura marcada, até as saias-lápis midi e calças cigarrette, com toques de vinil. E, se por um lado Celso Kamura – responsável pela beleza do desfile – assumiu o bocão marcado, uma das marcas da movie star, em contra-partida aqueles cabelos com onda (que poderiam imprimir uma leitura mais caricata) foram deixados de lado. O penteado preso foi um acerto.

E, em sua primeira parceria com a Loungerie, Alexandre desenvolveu sutiãs e bustiês com a mesma pegada 1950/60, com bojos estruturados e shapes bicudos nos mesmo tecido planos da coleção. Uma graça! Bem verdade que não é a primeira vez ele envereda pela observação da lingerie retrô. Há algumas temporada atrás, em sua segunda linha difusion,  ele desfilou no Fashion Rio uma coleção inteira em jeans baseada em sutiãs e corpetes, linda! Agora, ele se aprofunda no tema e ainda dá pista de uma boa notícia: apesar de terem sido criados especialmente pelo estilista, ele não descarta a possibilidade de comercializar as peças posteriormente.

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Foto: Divulgação/Agência Fotosite

Em seguida, a Pat Pat’s, marca mais jovem de Patrícia Vieira comandada por sua filha Andrea, desfilou em clima de verão sem fim. Com inspiração na Califórnia dos endinheirados chegados a pool parties, lounge cocktails, praia chiques, badalos com levada de Orange County e arroubos de consumo nas Rodeo Drives da vida, a marca tem DNA sofisticado, porém jovem, com cara de juventude dourada da Costa Oeste americana. Gente que sabe ser contemporânea misturando o rock com o retrô, que arrisca na montagem, mas que já sai direto do carro para dentro da festinha hypada, como se estivesse em um tobogã, sem sequer pisar na calçada da rua. Como essa galera consegue fazer isso, mistério, rs. Dessa vez, o couro comparece metalizado, com texturas e cortes a laser, em levada boho, com presença até de franja. Nas cores, saem de cena os pretos da coleção passada, dando vez aos alaranjados e rosados do por do sol, intercalados com os óbvios azuis e verdes do céu e mar, clarinhos. E o prata, a bola maior da vez no que se refere a aspecto metálico. No todo, referências sportswear se encarregam de imprimir esse jeito cool de ser, junto com o tal aspecto metálico e as cores, praticamente negando que produções em couro só podem funcionar no estilo perua. Nada disso, a Pat Pat’s sabe se impor sem cair nessa cilada.

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Fotos: Divulgação/ Agência Fotosite

Patrícia Motta participa pela segunda vez da SPFW e aposta na silhueta lady like para o seu verão. Sua inspiração é sinestésica. A partir de reflexões à sombra de uma pitangueira, concebe uma coleção que estabelece perfeita conexão entre flores e sabores. Tanto que as cores tem nomes de frutas. Ou de sorvetes de frutas, já que as gamas suaves lembram os displays das sorveterias artesanais: limão, pitaia, jabuticaba, lichia, pitanga. Sensações de aroma e doçura, portanto, comparecem aqui, despertando o paladar, ops, o desejo de consumir. Sua matéria-prima xodó, o couro, surge estampado com flores, liso, navalhado, em  vazados florais, com pitadas de traços a laser. O destaque vai para o composê de flores miúdas e grandes, uma beleza de se ver nesse material, e para os vários comprimentos de saias, algumas com volume, midis, longuettes e longas.

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Foto: Divulgação/ Agência Fotosite

Giuliana Romanno estreou no line up da SPFW com pé direito. A coleção, que teve a cidade de Paraty como inspiração, resulta em um contraponto entre o tecnológico e o artesanal, com destaque para o acabamento das peças e a valorização de texturas. O tressê de seda, por exemplo, causa ótimo efeito em shapes essencialmente fluidos e sensuais, sem exageros. Uma cartela de cores com branco, off white, blush, coral, papaya e laranja em edição bonita que começa neutra evai crescendo à medida em que as gamas fortes surgem, até chegar ao preto. E materiais como o vinil e o lurex silk se encarregam de acrescentar o tal toque tecnológico. O macaquinho preto, com costas em tressê e detalhes em vinil, por exemplo, é lindo!

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Fotos: Divulgação/ Agência Fotosite

Vitorino Campos apresenta agora talvez sua melhor coleção. Focado em uma mulher de 30/40 anos, ele imerge em “2001”, de Stanley Kubrick, e transforma sua moda em um buraco negro. Como assim? Explica-se. O colapso gravitacional de uma estrela é seu ponto de partida para apresentar peças sofisticadas e sexies, com muito preto, naturalmente. Daí a luz negra utilizada no show e que imprime efeito furta-cor em maxi paetês. Com uma bermuda ciclista usada como base em várias montagens , looks assimétricos apresentam transparência e franjas – um dos hits da temporada, de novo. Os prints comparecem em telas e brilhos surgem com textura de fios de lurex e aplicações de metais.  E, claro, dentro desta proposta, materiais com certa levada sci-fi – como neoprene bordado, seda com poliamida em aspecto plastificado e cetim duchesse – contribuem para esse minimalismo sideral. No mais, é agradável ver que alguns pequenos problemas de modelagem que o estilista apresentava em coleções anteriores parecem sanados.

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Fotos: Divulgação/ Agência Fotosite

Raquel Davidowicz desfilou coleção onde o jeans comparece tanto na matéria-prima quanto estampado sobre cetim, em efeito que ela chama de trompe l’oeil. Misturando alfaiataria com muita malha e pontuando tudo com boas peças neste material, destruída em locais estratégicos, a Uma brinca com prints localizados em foil prata, ouro e vermelho metalizado, que reproduzem a textura do índigo, suas costuras e pespontos ou simulam grafismos recortados. Bacana, assim como as aplicações de maxi botões prata e os colares de correntes, que enriquecem o minimalismo da marca, assim como a série de looks em amarelo curry e vermelho. O único porém foi o fato de a grife afirmar que o ponto de partida foi o movimento artístico do dadaísmo. Okay, a coleção é linda,mas cadê o dadá????

No mais, funcionou bem a trilha de Hisato usada para sublinhar o desfile, com destaque para o clássico ¨Hey Joe”, de Jimi Hendrix,  cantado por Charlotte Gainsbourg em versão feita especialmente para o filme “Ninfomaníaca”, de Lars Von Trier . Luxo, assim como a coleção de Raquel.

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Foto: Divulgação/Agência Fotosite

Assim como Giuliana Romanno se inspirou em Paraty, a Triton trouxe a atmosfera de outro balneário para o verão. Inspirada pela Costa Amalfitana, na Itália, a grife, que tem Karen Fuke na batuta do feminino e Igor de Barros no masculino, veio em colorido suave, com cores que poderiam marcar presença em uma coleção lady like (para elas) , mas que representam agora a modernidade que a marca curte: pêssego, rosa, laranja, azul, verde e cáqui, com ouro e prata fechando a cartela, tudo bem luminoso. Mas, se o seu DNA é forte por outro lado um certo ar rebuscado deixou algumas pessoas do público em dúvida quanto à coleção feminina: será que isso não é meio inverno? Bom, aquele excesso dobraduras é mesmo a cara da estilista, que sabe ter coerência, mantendo a evolução de uma estação para outra, e as montagens também têm a assinatura de outro oriental, Daniel Ueda, habilidoso nas sobreposições. Okay, claro que tudo aquilo que foi visto ali é passarela e, agora, resta esperar a primavera chegar para ver como que esse espírito será transposto para as araras. Ainda assim, os belos bordados florais sobre organza combinados com o tweed e a seda estampada poderão gerar ótimas ideias comerciais.

Na linha masculina, o uso de materiais leves como cambraia, linho e lã tropical contrabalançou com o jeans em peças soltas e itens de alfaiataria desestruturados, colaborando na renovação do estilo, com destaque para o uso de zippers como elemento decorativo. No mais, vale ressaltar que a riqueza dos listrados conferiu arremate ao colorido pastel e que os belos oxford, em cores variadas e até dourado, são o acessório ideal para quem quer dar um up na produção sem apelar para exageros. São de fazer figa e torcer para que não sejam apenas recurso de styling.                         

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Foto: Divulgação/Agência Fotosite