*Com Junior de Paula
Hoje, a grife Karamello possuiu 11 grandes lojas espalhadas pelo Rio de Janeiro – de Ipanema à Bangu. Mas há 10 anos, era na Av. Brigadeiro Lima e Silva, em Caxias, na Baixada Fluminense, o único perímetro que Rosilane Jardim, diretora criativa, tinha para vender moda e lifestyle, propondo a valorização da imagem da mulher brasileira real. Um início de história promissora que, para ela, reflete ousadia. Mas não só. “Foi muito mais que isso. Iniciei um movimento no qual acredito e coloco toda minha energia. Nasci em Caxias e sempre enxerguei que éramos renegados pelo universo da moda. Me orgulho de ser pioneira em fazer e vender moda com acessibilidade e de desenvolver um trabalho tão bacana, para um público idem que veste minhas ideias e meus ideais”, analisou em entrevista exclusiva ao Site HT.
E o discurso, ao falar em pioneirismo e ousadia, não é da boca para fora. “Quando abrimos nossa loja em 2005 escolhemos uma casa num ponto pouco convencional. Meu marido e sócio me convenceu na época que aquele ponto seria o ideal. Me lembro de falar que seria loucura, mas sempre fomos meio loucos….Acredito que somos referência de coragem na cidade”, lembrou. A nós, de HT, cabe hoje, observando toda a cena da moda na urbe-maravilha, classificar a até então “loucura” como postura de visionários. Por que falamos isso? A pirâmide social do Brasil se inverteu, classes ascenderam, e o que entendíamos como “localização social” caiu por terra. Logo, toda aquele estereótipo sobre a Baixada Fluminense pulveriza. Conclusão que Rosilane, à frente do seu tempo, já tirou há anos…
“A Karamello sempre teve essa percepção. Sempre enxergamos além. Nunca pautei minhas criações pelo ‘social location’, e sim pelas pessoas interessantes que estavam à minha volta . Defendo a bandeira de que todos são iguais, mesmo sendo diferentes. O local em que você mora ou o poder aquisitivo não define quem você é. O que te define é sua personalidade”, opinou. Esse nobre pensamento, no entanto, ainda não atingiu a todos. Como a própria Rosilane avalia, “infelizmente ainda existe muito preconceito” em relação a Zona Norte e a Baixada Fluminense. Para desanimar? Ai, ai. “Não ligo. Sou moderna e minha marca também. Consequentemente minhas consumidoras também são. E isso é o que importa para mim. Nossa verdade é compreendida da Zona Norte a Zona Sul , da Baixada Fluminense a Zona Oeste. Estamos em todo o Rio de janeiro”, listou.
E as mulheres que vestem Karamello, seja na loja do Barra Shopping ou na de Nova Iguaçu, num efeito que Rosilane adjetiva como “incrível”, chegam com a mesma expectativa e desejo fashion. “Temos unidade no perfil das nossas clientes. Elas esperam a mesma coisa do nosso trabalho: querem ser surpreendidas. A mulher Karamello é madura, sabe o que quer da vida: ser feliz. E pode ser tomando Chandon em Ipanema ou um chopp gelado no Méier”, comparou, espirituosa. Mas, afinal de contas, qual o segredo para transitar tão bem assim entre classes e localidades? “O segredo, se é que ele existe, é ser autêntica. Não quero vender uma sofisticação que não acredito ou que eu não saberia fazer. Minha forma simplificada de ver a vida me possibilita transitar sem neuras em cada pedacinho do nosso Rio de Janeiro. Afinal, ele pertence a todos e não somente a uma pequena fatia dos moradores”.
E, para quem pensar em ter a ousadia de discordar, um adendo final de Rosilane: “O Cristo Redentor recebe a todos de braços abertos”. Verdade, ao alcance dos nossos olhos, para não se esquecer.
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