Um homem apaixonado pela vida, que nunca se deixou abalar pelas dificuldades, assim é descrito Clovis Tramontina, diretor do Conselho de Administração da Tramontina, empresa que celebra seus 112 anos de existência, compartilhando um legado sólido, gerador de empregos e que investe na reinvenção através do tempo. Clássicos não saem de moda, mas é preciso atenção às evoluções para que o sonho lá de trás se mantenha firme. Assim, a trajetória de Clovis se confunde com a da empresa, não somente pelos laços familiares, mas por toda a dedicação ao império que ajudou a desenvolver nos 30 anos à frente de sua administração. E é justamente essa vivência que ele compartilhou na 30ª edição do Salão Internacional e do Couro e do Calçado (SICC), na palestra ‘Empreender não é um ato. É uma jornada‘, realizada no eMerkator Talks.
“Com a minha apresentação, busco deixar um legado sobre liderança e empreendedorismo. E nela procuro exemplificar para as pessoas partes da minha história de vida, da minha trajetória profissional e um pouco da Tramontina. Eu, como qualquer outra pessoa, tive momentos bons e situações difíceis, mas nunca recuei, sempre acreditei que era possível sonhar e realizar. E espero que contando sobre a minha jornada empreendedora eu possa inspirar pessoas e deixar um bom exemplo do meu legado a todos”, diz, em entrevista exclusiva ao site HT.
A pequena ferraria fundada por Valentin e Elisa Tramontina, em 1911, no Rio Grande do Sul, deu origem a um grupo que hoje conta com 9 unidades fabris e mantém a vocação centenária de encantar com gestos simples. O segredo para manter a essência está em acreditar nas pessoas. A Tramontina valoriza cada um dos mais de 10 mil funcionários para que entreguem ao mercado produtos funcionais e com estilo, que inspiram o dia a dia e estimulam experiências para gerar valor e satisfação a clientes, consumidores e comunidades. Hoje, a empresa está presente de Norte a Sul do país e em 120 países com um portfólio de 22.000 produtos.
A empresa familiar fundada pelos avós, também legado do pai, Ivo, que formou e profissionalizou diversos profissionais nos anos 50, inspirou Clovis a apostar nas relações interpessoais e desenvolver lideranças. Qual o segredo ou as práticas da longevidade e do sucesso de um negócio com DNA familiar? “Acredito que o importante é distinguir o papel e as responsabilidades da família e dos executivos. E não vejo nenhum problema em um executivo ser da família. O executivo familiar inserido na empresa cuida com maior atenção de todos os detalhes, pois o negócio é próprio. Mas é preciso ter clareza, transparência e valores para nortear as decisões de quem estiver à frente do negócio”, destaca.
A Tramontina chegou aos 112 anos sem perder a essência de inovar, de capacitar as pessoas e de investir, porque tem valores fortes e sólidos, como: satisfação do cliente, transparência, liderança, valorização das pessoas, trabalho e devoção. Esses pilares foram seguidos pelas diferentes gerações que estiveram no comando da empresa e tenho certeza que as próximas também seguirão. Um valor que consideramos fundamental na nossa empresa é a valorização das pessoas, são elas que fazem a Tramontina, por isso, procuramos sempre dar oportunidade de crescimento para quem trabalha conosco – Clovis Tramontina
Em sua trajetória de sucesso, o empresário trabalhou em vários setores da empresa, evidenciando que não assumiu postos só por conta do sobrenome, mas sim por se preparar tecnicamente, e através da vivência. “O sucesso leva tempo, exige esforço e dedicação, ninguém começa por cima. Iniciei minha história no setor de auditorias, trabalhando nessa área eu tive a oportunidade de conhecer todos os setores da empresa, o que me trouxe muita experiência. Segui trabalhando em diversas funções na área administrativa até que comecei a atuar na comercial, onde permaneci como gerente em São Paulo, o maior mercado brasileiro e onde descobri minha paixão por vendas e pelos negócios. Minha ambição era chegar à presidência e com muito foco e dedicação realizei esse sonho e atuei durante 30 anos como presidente do Conselho de Administração da Tramontina”, conta.
Como vê a importância da participação no SICC para os lojistas e expositores, para o segmento? “As associações são muito importantes para a comunidade como um todo, entendo que quando você está inserido em um grupo forte, que defende os interesses comuns, o poder de conquista e sucesso é muito maior do que a força individual. A área de vendas é acirrada e competitiva, mas é importante que todos os lojistas tenham foco, determinação nas suas atividades, aproveitando a sua força e potencial e se amparando na união da associação para obter ganhos e êxito nas adversidades”.
O valor do legado
O que aprendeu, que leva na sua trajetória para sempre e te ajudou na caminhada de empreender? “Minhas maiores inspirações sempre foram minha mãe, que queria que eu fosse o Número 1, exigia que eu estudasse e me incentivava, e também o meu pai, Ivo Tramontina, emotivo, gostava de pessoas, dos relacionamentos e sempre acreditou na mecânica como o cérebro da empresa. Já o Sr. Ruy Scomazzon, sócio dele e meu padrinho, um homem racional, que me ensinou a objetividade e outras técnicas de gestão, sem nunca perder o lado humano nas decisões. Aprendi muito com eles”, relata.
O empresário é também ponte para o desenvolvimento de lideranças, e aqui compartilha as projeções da empresa para este 2023. “Nós somos otimistas, estamos projetando crescimento. Mesmo em um momento delicado e de ajuste de governo, nossa empresa está um pouco abaixo do projetado para o primeiro semestre, mas acreditamos na recuperação no segundo. Para o Turismo acredito que seja o melhor inverno de todos: hotéis lotados, as pessoas passeando e consumindo. Digo uma coisa pra vocês, o povo precisa de três coisas fundamentais: comer, vestir-se (nisso entra o calçar) e de moradia, e precisamos trabalhar para proporcionar isso a todos”.
Mantendo a atitude positiva e ousada que lhe é atribuída nestas décadas como empresário, Clovis finaliza comentando sobre a mudança de governo: “Como centenária, a empresa já passou por muitas dificuldades históricas, como guerras, crises econômicas, a inflação galopante e a troca de moedas. Mas, em nenhum momento, deixamos de crescer e de acreditar no potencial do Brasil”.
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