Abertura da edição de 2019, do Salão Internacional do Couro e do Calçado foi realizada no Hotel Serra Park, em Gramado, com o Papo Legal. O encontro juntou as jornalistas de moda Patricia Pontalti e Patricia Parenza, da plataforma Oi, Pati e o estilista e coordenador do Núcleo de Design da Assintecal, Walter Rodrigues, para falar de um novo perfil de consumidor, as perennials: as consumidoras do agora. A relação das mulheres sem idade com a moda. O encontro teve o start com as Patricias detalhando o perfil dessas mulheres e revelando representantes desse universo. “Acho que nós duas temos essa experiência, porque eu comecei a perceber que alguns preconceitos que eu mesma tinha foram caindo por terra quando o tempo foi passando, quando eu fiquei mais segura e autosuficiente”, explica a jornalista Patricia Pontalti, acrescentando. “Eu nunca tinha usado minissaia na minha vida, só fui usar depois dos 40 anos”.
A ex-primeira-dama dos Estados Unidos, Eleanor Roosevelt (1884-1962) disse: o futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos – esse é um dos motes das perennials. Para a editora de conteúdo da revista digital, The What, Gina Pell, padrões geracionais não são adequados para indicar as características e qualidades de alguém. O nome perennial foi chancelado própria Gina e citado pela primeira vez em uma matéria da revista Fast Company, no final de 2016. Desde então, o termo popularizou-se rapidamente, marcando presença nas páginas de jornais, como The Telegraph e El País.
De acordo com Gina, perennial é um indivíduo cujo estilo de vida contém gostos e hábitos de diversas faixas etárias. Esse movimento, portanto, não está fundamentado em aspectos cronológicos, mas sim em identidade social. “Adotamos a ideia como base de pesquisa, porque a gente tem muito cacife para falar desse tema, de verdade, e também dessa nossa mudança, dessa confiança de usar a moda como um discurso de autoestima, aí que começou a nossa relação com a linguagem”, ressalta Pontalti.
O conceito de perennials emerge como uma oposição à tendência de enquadrar as gerações por idade e características relacionadas ao seu tempo, mais especificamente aos Millennials, ou a Geração Y. Essa categoria de mulheres não pertencem a uma geração específica: são pessoas de qualquer idade, atualizadas tecnologicamente e com amigas também de qualquer idade. É uma geração que representa um novo lifestyle ageless – com um estilo de vida não datado e atemporal. “Como a gente dá muita palestra em relação à pesquisa, comportamento, começamos a olhar e tentar identificar esse público. Mergulhamos nessa história e identificamos que essa questão não era só nossa, também das nossas amigas, de pessoas do mundo inteiro, e aí tudo se linkou”, enfatiza Patricia Parenza.
Em 2017, a SuperHuman, agência de marketing britânica especializada no público feminino, identificou uma tendência que já é muito presente na prática que tornou-se ultrapassada para classificar as mulheres de ‘meia-idade’. Mais de 500 mulheres acima de 40 anos foram ouvidas no Reino Unido, e os resultados indicaram que dois terços delas creem estar no auge da vida, enquanto 67% declararam se sentir mais confiantes do que há dez anos, 84% defendem que a idade não pode defini-las. “Ter passado dos 40, hoje, é muito diferente do que 15 anos atrás [90% das entrevistadas nos disseram que têm estilo e atitude muito mais jovens do que tinham suas mães]. Essas mulheres têm sede de experiências tanto quanto as millennials”, constata Sandra Peat, co-fundadora da SuperHuman, em pesquisa publicada no site da SuperHuman.
E o mercado está preparado para perennials? Com a palavra o mestre, Walter Rodrigues. “O mais importante hoje é ter uma noção muito clara de que essa mulher existe, até porque essa consumidora, está mais segura de si, tem dinheiro e muitas vezes não compra porque se sente insegura por não ser respeitada e reconhecida. As marcas, os lojistas e o varejo precisam urgentemente, começar a respeitar e colocar ela no centro das atenções”, alerta o coordenador do Núcleo de Design da Assintecal. “Essa faixa etária está esquecida, o nosso holofote tem que se virar para ela, porque vai realmente apostar, vai ser muito interessante trabalhar com ela, que tem gosto de ousar e usar, até a experiência dos lojistas será diferente”, enfatiza o estilista.
A moda aposta eternamente no conceito da juventude, o que acaba excluindo muitos públicos. Lembrando que a inclusão e a diversidade são os grandes conceitos da humanidade atualmente. “Não que a gente vá perder essa sensação da fonte da juventude, lembra da novela que acabou (O sétimo guardião), em que a água era o fator do rejuvenescimento? Esse mito perdura na identidade da história do homem, isso sempre vai existir, só que realmente o que está acontecendo com a medicina e a tecnologia é que estamos vivendo mais”, explica Walter Rodrigues. A geração que hoje tem 30 anos, pode viver até os 120, a dos 50 anos chegará até os 80, 90 anos. “Na realidade eu não vou chegar a essa idade acabado, vou chegar lá querendo comprar. Eu tenho que pensar nessas pessoas, na necessidade de conforto, de uso, nas dificuldades que a vida vai colocando de locomoção, no caso do calçado… Temos que começar a pensar logo nessas pessoas, para sermos efetivos, corretos, incríveis e assertivos no decorrer do tempo”.
Walter chamou a atenção para o público masculino, que quase sempre é esquecido e fica à margem das pesquisas. “Eu acho que teremos uma projeção interessante no masculino, que é a própria descoberta dele como consumidor. Antigamente, quem comprava roupas para eles eram as mães, depois as namoradas, depois as mulheres. Hoje, você tem um fluxo maior de homens indo as compras, muitas vezes pela internet e até indo as lojas e se arriscando, dando a cara a tapa”, pontua o designer. Segundo o SEBRAE, 54% dos homens têm interesse por moda e beleza. Esse crescimento se deu nos últimos cinco anos, e pode ser justificado pela mudança comportamental da maioria dos homens que hoje, diferente de outra época, investem em itens que supram necessidades específicas e assegurem benefícios de bem estar e conforto. “Isso é uma tremenda mudança, porque se você pensar que o menino que gostava da Xuxa, hoje já é um consumidor mais maduro, toda aquela empatia que ele tem com a cor, com a moda, isso vai influenciar o comportamento de consumo dele. E daqui para frente só vai melhorar”.
Muitas dessas mudanças acontecem porque um grande número de pais, atualmente, estão abolindo as ‘regras de gênero’ na criação de seus filhos. “As crianças usam mais colorido, os meninos estão mais divertidos, estão perdendo a noção de que azul é de homem e rosa de mulher, já existe essa liberdade. No futuro pros varejistas e pros estilistas vai ser muito mais legal trabalhar com o universo masculino, porque ele vai estar pronto a aceitar ideias e a experimentar coisas novas. A gente ainda é um pouco travado, mas na realidade você vai quebrando isso ao longo do tempo”, conclui.
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