SENAI CETIQT: Webinar sobre pesquisa de moda revisitando a história da Celeste Modas, no Rio de Janeiro dos anos 50


Ana Cláudia Lopes, coordenadora do curso de Design de Moda do SENAI CETIQT, fala sobre sua tese de mestrado “A d. Celeste e a Celeste Modas: história, estratégias e
sociabilidades” para abordar metodologias, desafios e caminhos para a pesquisa de história da moda no Brasil

Ana Cláudia Lopes, coordenadora do curso de Design de Moda, é neta da fundadora da Celeste Modas

Quando o curso de graduação vai chegando ao fim e é hora de apresentar o trabalho de conclusão, também chamado de TCC. É o momento em que muitos estudantes ficam com os nervos à flor da pele, preocupados em como botar no papel o tema escolhido. Na webinar “Rio de Janeiro, anos 1950: a pesquisa de moda e a Celeste Modas”, Ana Cláudia Lopes, coordenadora do curso de Design de Moda do SENAI CETIQT, ajuda a acalmar o coração dos alunos que passam por essa etapa. Usando como exemplo a própria tese de mestrado, ela fala de metodologias, desafios e caminhos para a pesquisa de história da moda no Brasil.

Inaugurada em 18 de dezembro de 1948, a Celeste Modas, tradicional loja de roupas femininas no Rio de Janeiro, tem sua história em sinergia com a da família de Ana Cláudia: foi fundada pela avó dela, Celeste da Veiga Teixeira Lopes. “Minha avó era portuguesa, veio para o Brasil com 20 e poucos anos. Quando trabalhava como vendedora em uma loja no Centro da Cidade chamada A Imperial, conheceu meu avô, José Ferreira Lopes. Os dois se casaram e, anos depois, ela e o cunhado mais velho fizeram uma sociedade e abriram a Celeste Modas. Meu avô acabou comprando a parte do irmão”, conta a coordenadora do curso de Design de Moda.

Ao decidir fazer mestrado, Ana Cláudia escolheu a Celeste Modas como objeto de estudo, a fim de escrever sobre o comércio de moda feminina no bairro de Copacabana nas décadas de 1940 e 1950. “A gente não tem tantos livros assim de história da moda se formos comparar com o que existe de literatura estrangeira. Nos livros brasileiros, só se fala de Copacabana a partir dos anos 1960. E eu ficava pensando: minha avó não era louca de abrir um negócio em Copacabana em 1948 se lá não tivesse nada. Tinha que ter alguma coisa. Copacabana já tinha glamour, porque ninguém iria abrir uma loja em um lugar que não tinha nenhuma perspectiva de sucesso de comércio. Foi aí que comecei a pesquisar”, explica.

Em sua introdução na tese, Ana Claudia afirma: “Esse trabalho tem por objetivo jogar luz sobre o comércio de moda feminina em Copacabana no final dos anos 1940 e anos 1950, dando enfoque principalmente à Celeste Modas. A partir de entrevistas com pessoas que trabalharam com moda nessas décadas; da pesquisa em jornais e na revista Rio Magazine; e de fotos antigas das lojas mais renomadas do Centro da Cidade, então principal comércio de moda feminina no Rio de Janeiro, buscou-se entender o quanto as casas que surgiram em Copacabana no período se basearam no modelo físico e na forma de produção de vestuário estabelecidas pelas distintas lojas do Centro; e o quanto elas se adaptaram ao imaginário simbólico de Copacabana e às ideias de modernidade e distinção do período”.

A coordenadora do curso de Design de Moda revela que, antes de começar a pesquisa, compartilhava a visão romântica que muitos alunos têm em relação ao TCC ou a uma tese de mestrado: achava que seria fácil encontrar as informações que desejava. “Tinha muito material que era da minha avó e pensei que acharia outras fotos da época, por exemplo, com tranquilidade. Mas estava enganada, até porque não era um hábito registrar tudo, como vemos nos dias de hoje”, lembra ela.

Ana Cláudia ensina que, uma vez escolhido o tema, o primeiro passo para levar o trabalho adiante é definir quais questões pretende responder. “No meu caso, queria saber o que havia em Copacabana no início dos anos 1940, principalmente em relação ao comércio de moda; que tipo de produto essas lojas vendiam; de que forma essas lojas se diferenciavam das célebres do Centro; e quem comprava em Copacabana”, afirma.

D. Celeste com a grega Kiriaki Tsopei, Miss Universo de 1964. Acervo particular de Luiz Claudio Lopes

Outra etapa importante foi escolher as lojas que seriam objetos de pesquisa. Além da Celeste Modas, Ana Cláudia se debruçou sobre outras lojas famosas da época. Casa Canadá, Étoile, Hermínia, Canadá Boutique, Ao Bicho da Seda, em Copacabana, entre outras. “Tinha ideia de que a Celeste Modas era voltada para a elite. Por isso, fui atrás de outros lugares com esse perfil”, observa. “Para descobrir quem era a alta sociedade da época e como o moderno foi associado a Copacabana, usei como fontes revistas como ‘Rio Magazine’ e o jornal ‘Correio da Manhã’, que tinha uma seção com artigos de moda”, acrescenta.

Antes de colocar a mão na massa, Ana Cláudia definiu seus alicerces de pesquisa. Foram quatro: pesquisa bibliográfica; pesquisa em jornais e revistas; pesquisa imagética; e entrevistas – história oral. “Esse formato de entrevista requer paciência para deixar o entrevistado falar livremente, sem interromper. Outro ponto importante é ir para a entrevista sabendo bastante sobre o objeto de pesquisa, a fim de evitar cair nas armadilhas da memória de quem vai falar”, pontua.

Entre as dicas de lugares para pesquisar, Ana Cláudia destaca a Hemeroteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional, que pode ser consultada sem sair de casa, via internet; a Associação Brasileira de Imprensa (ABI); o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (IHGB); a própria Biblioteca Nacional; e o acervo de jornais oferecidos online para assinantes. “O material disponível na Hemeroteca e no acervo de O Globo foi muito importante para buscar as lojas que eu escolhi como objetos de pesquisa”, ressalta.

Fashion Lab no SENAI CETIQT (Foto: Divulgação/Mônica Cardoso)

Vale lembrar que o curso de Design de Moda do SENAI CETIQT oferece a possibilidade de criar uma coleção para um desfile voltado para a inclusão e sustentabilidade, além de proporcionar um mergulho no universo da cadeia produtiva do setor têxtil, já tendo como tônica a Quarta Revolução Industrial. São aulas criativas e inspiradoras que potencializam a paixão pela futura profissão, bem como laboratórios tecnológicos como fonte de conhecimento e porta para novas oportunidades.

Atualmente, o SENAI CETIQT é o maior centro latino-americano de produção de conhecimento da cadeia produtiva têxtil e de confecção e da área Química. Além da graduação, a instituição oferece a pós-graduação em moda 4.0, formando profissionais capazes de compreender esse mercado de forma disruptiva, provocando uma mudança na forma de conceber produtos dessa indústria. O foco é mudar o mindset de todos os profissionais da área de moda, da criatividade até a produção final.