Contamos recentemente aqui no site que, pela expertise, o SENAI CETIQT, maior centro latino-americano de produção de conhecimento aplicado à cadeia produtiva têxtil, de confecção e química, e referência em tecnologia, consultoria e formação de profissionais qualificados para a Quarta Revolução Industrial, em sinergia com o Programa Alavancagem de Alianças para o Setor Automotivo, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), deu o start aos trabalhos da primeira turma do Master In Business Innovation (MBI) em Indústria Avançada: Automotiva 4.0, exclusivo para gestores das maiores empresas automotivas. Além disso, lançou as Oficinas do Programa Rota 2030 voltadas para produtividade, Indústria 4.0 e digitalização. Só para lembrar, o Programa Rota 2030 foi criado para alavancar a indústria automotiva nacional e ampliar a inserção global por meio da exportação de veículos e autopeças.
Conforme comentou Robson Wanka, gerente de Educação Profissional do SENAI CETIQT e gestor do projeto de ações que a instituição desenvolve em sinergia com o Departamento Nacional do SENAI em prol da indústria automobilística, o objetivo é que os alunos estejam preparados para conduzir o processo de transformação digital, tornando as indústrias mais competitivas em âmbito global, seja por inovação, geração de resultados financeiros ou resultados para a sociedade”. Com a intenção de reunir pesquisadores e profissionais de todo o país para discutir temáticas pertinentes ao desenvolvimento competitivo do setor automotivo, o SENAI CETIQT promoveu o webinar “Panorama Rota 2030” Mobilidade Elétrica.
O pesquisador-chefe do Instituto SENAI de Inovação de Santa Catarina, Luiz Gonzaga Trabasso, e Kleber Canuto, do SENAI Paraná, compuseram a mesa com mediação de Osvaldo Padovan, diretor da Escola SENAI Armando de Arruda Pereira, em São Caetano do Sul (SP), que abriga a Faculdade de Tecnologia em Mecatrônica Industrial e o Instituto SENAI de Tecnologia. O professor Gonzaga, graduado em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual Paulista, mestre em Engenharia e Tecnologia Espaciais pelo Instituto Nacional de Pesquisas; doutor em Mechanical Engeneering e que desenvolve pesquisas integradas de produtos e mecatrônica, com ênfase em automação industrial e robótica, falou que “há evidências muito acentuadas do renascimento da Mobilidade Elétrica. No mês passado, o primeiro-ministro da Inglaterra, Boris Johnson, anunciou que, a partir de 2030, não vai mais ser possível fabricar carros movidos a gasolina e diesel. Isso vai acontecer cinco anos antes do planejado inicialmente. No Brasil também vemos esse movimento. O eixo eletrificado do caminhão da Randon é um exemplo. Quando o caminhão está numa subida, ele é acionado automaticamente e, quando está na descida, a energia de frenagem é usada para carregar a bateria. O primeiro buggy elétrico do Brasil será posto à venda em janeiro. E a saudosa Fábrica Nacional de Motores, a Fenemê (FNM), ressurgiu na forma de um caminhão elétrico leve”, observou Gonzaga.
Coordenador de P&D e PDI do SENAI do Paraná, professor Kleber Canuto, que também atua como pesquisador e coordenador de projetos na Federação das Indústrias do Estado do Paraná e projetos relacionados a Prospectiva Tecnológica e Estratégica, Inovação e Tecnologia da Informação e Comunicação, mais especificamente Big Date, Open Date e Inteligência Artificial, reafirmou que o caminho que está sendo trilhado aponta para Cidades Inteligentes. “A indústria, principalmente do ponto de vista da mobilidade, já está passando por um processo profundo de transformação. E quando se pensa em uma Cidade Inteligente, a montadora vende mobilidade, estamos falando de fazer carsharing, de onde instalar os carports para fazer a recarga dos carros elétricos etc. É uma nova dimensão, um novo modelo de negócio”.
O professor Gonzaga comentou que hoje a mobilidade elétrica é um assunto que está na moda, mas antes de 1907 já havia uma Mercedes Electric. “Na verdade, o primeiro carro elétrico é de 1888. Ou seja, a gente já viu esse filme há muito tempo. Em 1909, havia uma estação de táxis elétricos em Nova York, cada táxi com seu equipamento para fazer a recarga das baterias. Essa era de carros elétricos durou muito pouco, porque em torno de 1904 começaram a aparecer os campos de extração de petróleo e os carros de combustão interna eram mais rápidos”. contou.
Fazendo uma passagem muito rápida na história, chegamos à primeira crise mundial do petróleo, em 1973, quando surgem os primeiros problemas relacionados ao combustível e seus derivados, particularmente a gasolina e o diesel, os mais usados no setor automotivo. Esses problemas se acentuaram em outros setores, principalmente em relação aos gases efeito estufa, os recursos naturais que são finitos. “O que estamos vendo agora são evidências acentuadas do renascimento da mobilidade elétrica. Do shift dos motores de combustão interna para os elétricos e seja a nossa infraestrutura ou a energia a matriz energética de hoje, é suficiente para acomodar o shift completo do motor de combustão interna para os motores elétricos”, assegurou Luiz Gonzaga.
Outro ponto importante sobre o qual há muitas pesquisas é que existem várias formas de se reciclar a bateria, mas não em escala industrial. “É bom saber que a sociedade já está se preparando para criar a infraestrutura necessária para a reciclagem dessas baterias; ou seja, não vão ficar amontoadas em lixões. Em 2018, já havia 20 empresas trabalhando na reciclagem de baterias”, contou, acrescentando que há diversas possibilidades de se usar as baterias do setor automotivo viciadas: “Uma unidade estacionária de baterias para acumular a energia gerada por fontes alternativas, como a eólica, a solar, gerada pelas marés. Essa energia precisa ser armazenada em baterias. Essa é uma outra fonte de destino na hora em que as baterias do setor automotivo não podem mais ser usadas, porque estão viciadas”.
“Dentro da nova visão de cidade, como Smart City, a mobilidade elétrica tem um papel preponderante. Para transportar 190 passageiros, são necessários 127 carros. Você pode fazer esse mesmo transporte com dois ônibus ou com um ônibus biarticulado elétrico. Também em termos de investimento, o uso de eletricidade é vantajoso. Com um mesmo valor podemos simular quatro sistemas: construir 426 quilômetros de BRT, 40 quilômetros de VLT, 14 de ferrovias elevadas e sete de metrô”.
Outra consequência da presença dos veículos elétricos dentro do contexto Smart Cities é o Smart Grid. É a integração da estrutura elétrica para abastecer a bateria do carro quanto do carro para abastecer o sistema. Por exemplo, enquanto o carro está estacionado em casa, a bateria dele é carregada pela rede elétrica ou por painéis de energia solar. No horário de pico, a energia armazenada pode voltar para a rede, como contribuição. E, também, em uma situação de falta da rede, a bateria pode acionar o nobreak.
Durante sua apresentação, o professor Kleber Canuto ressaltou que, quando falamos de cidades inteligentes, há diferentes dimensões e questões de recursos naturais, de prover educação, saúde a toda a população. “Nós temos toda a parte de governança inteligente de uma cidade, que envolve a participação do cidadão em decisões importantes. Como prover os recursos de moradia à população? Todos esses elementos impactam a mobilidade. Por quê? Se você tem uma moradia num bairro muito afastado da cidade, onde não há um portfólio de produtos adequados (por portfólio de produtos entenda-se estabelecimentos comerciais), isso gera, obviamente, necessidade de mobilidade dessa população pela cidade. Para se pensar mobilidade não se deve pensar apenas em meios de transporte, mas também é necessário ter em mente a oferta de serviços comerciais, de saúde, de educação para as diferentes populações que compõem a cidade”, alertou.
“Todos esses elementos que fazem uma cidade inteligente têm um ponto central: a Ciência de Dados. Para viabilizar o desenvolvimento, existem algumas fases que a literatura nos apresenta para se chegar ao ponto de ter múltiplos serviços funcionando de forma integrada, online, intercambiando dados entre diversas instituições. Pode parecer um modelo utópico, mas já está em processo de construção em alguns lugares do mundo e requer um processo de articulação bastante intenso entre a tríplice hélice de inovação, Universidade-Indústria-Governo”.
Sobre exemplo de como aplicar a Ciência de Dados na mobilidade inteligente, o professor Kleber Canuto falou sobre o Cabify na Espanha. “Os cientistas de dados já estão trabalhando para quando você disser: ‘Eu quero me deslocar do ponto A para o B’, ele não pensar somente no carro que vai enviar. Ele vai pensar: ‘Dentro da viagem que você necessita fazer, qual é o melhor modal de transporte? Um patinete, uma motocicleta, um carro? Qual deles vai causar o menor impacto ambiental no seu trajeto?’”
Segundo Kleber Canuto, quando se fala de carsharing há uma nova dimensão, conceito, modelo de negócio que, para as montadoras, é uma verdadeira ruptura com o modo de trabalho que elas tinham até então. “O executivo de montadora sempre entendeu que precisava produzir o melhor carro para causar o melhor efeito e ter um usuário que a cada dez mil quilômetros voltasse para fazer a manutenção e garantir a continuidade desse cliente. Quando você muda a chave e passa a se preocupar mais com mobilidade, a manutenção do carro passa para a sua mão. É preciso começar a pensar “Onde devem ficar esses carports?”, pensar na experiência do usuário no processo de locação, em como se precifica o carro. Entra uma série de fatores muito interessantes na ciência de dados aplicados. A partir do momento em que você tem um veículo completamente conectado gerando dados a respeito de como o indivíduo troca marcha, qual é o deslocamento dele, qual é a velocidade média em cada localidade da cidade, de acordo com o horário, com o clima da cidade, você começa a traçar perfis de motoristas”.
O conceito de veículo conectado, com todos os sensores plugados gerando dados, permite uma imensidão de entendimento sobre o público dirigindo dentro da cidade. Ou entendendo, cada vez melhor, não só a intensidade de fluxo em cada localidade, mas os trajetos que as pessoas fazem, porque passam a ser monitoradas em tempo real.
“A partir do momento em que se conectam esses múltiplos serviços e a monitorar todos esses dados sobre mobilidade e sobre carros, começa a abrir um mundo objetivo e real de que não tínhamos conhecimento. Trazendo de volta a mobilidade inteligente e os objetivos do programa Rota 2030, a gente tem inúmeras oportunidades de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento pensando exatamente nessa perspectiva”, pontuou Kleber Canuto.
Moderador do debate, Osvaldo Padovan lembrou que os modais elétricos, como bicicletas, patinetes, scooters, motos e até o carro elétrico estão exigindo uma grande transformação da nossa sociedade. Essa transformação passará até pela cadeia produtiva. São os novos negócios aparecendo, empresas que estão produzindo algum tipo de produto ligado à área automotiva. Se elas não conseguirem se colocar numa situação diferente da que estão hoje, provavelmente perecerão.
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