O Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras (ISI), do SENAI CETIQT, reforça mais uma vez a chancela de sempre contribuir, como um hub de inovação, para que o Brasil seja exemplo de ações em prol do desenvolvimento sustentável. Foi criado para trabalhar na identificação e no desenvolvimento de novos produtos e processos químicos, bioquímicos e têxteis, a partir de recursos renováveis e não renováveis, atuando de forma transversal em áreas e temas identificados como portadores de futuro para as cadeias industriais química e têxtil. O ISI apoia também empresas no desenho da sua estratégia de P&D, no desenvolvimento de produtos e processos nos laboratórios de forma a viabilizar a diminuição do impacto ambiental. Um dos mais recentes projetos de pesquisa apresenta alternativa sustentável de suma importância para as indústrias têxtil e cosmética.
E vamos contar aqui para você, leitor, o que o SENAI CETIQT acaba de divulgar: “Utilizar vias biológicas para a produção de novos insumos já é uma realidade que têm contribuído para a criação de alternativas a produtos quimicamente produzidos. Com o objetivo de agregar valor aos resíduos da indústria, foi engenheirado geneticamente um micro-organismo com potencial de obter carbono e convertê-lo em um biocorante azul”.
Pesquisadora do Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos e Fibras ISI), Giulia Aranha observa que o projeto de produção de corantes, por rotas microbiológicas, surgiu após a identificação da demanda da indústria por processos mais verdes relacionados às cores. “Ser sustentável não é apenas uma obrigação, mas sim uma estratégia de posicionamento de produtos, pela indústria. Pensar em um resíduo rico em carbono e nitrogênio, como nutrientes para bactérias, nos permite desenvolver novos bioprocessos”, ressalta Giulia.
O Brasil ocupa a quarta posição entre os maiores produtores mundiais de artigos de vestuário e a quinta posição entre os de manufaturas têxteis. No entanto, em uma lente de aumento com relação ao nosso planeta, a indústria da moda é a segunda mais poluidora do mundo, atrás apenas da indústria petrolífera. Levantamento publicado pela Global Fashion Agenda, organização sem fins lucrativos, aponta que mais de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis foram descartados em anos recentes. E a projeção é de um aumento de 60%, ou mais de 140 milhões de toneladas nos próximos oito anos. A estimativa é de que 20% dos corantes utilizados pela indústria têxtil são descartados em efluentes, que se não tratados de forma correta podem agredir o ecossistema. Os biocorantes são uma alternativa viável na substituição de corantes artificiais, pois são provenientes de fontes naturais, renováveis e em sinergia com o meio ambiente.
Controlar impactos ambientais e identificar inovações é prioritário. Os resíduos de indústrias têxteis possuem como característica uma intensa coloração a qual, em ambientes aquáticos, pode causar uma interferência nos processos de fotossíntese.
Já ressaltei aqui o que o diretor-geral do SENAI CETIQT, Sergio Motta, já havia nos antecipado quando da inauguração das novas instalações do Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras, no Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Fundão: uma nova frente de desenvolvimento de pesquisas para um dos setores que mais cresce no mundo, como o de Cosméticos, Higiene Pessoal e Perfumaria, está em potência máxima com planejamento estratégico pelo ISI do SENAI CETIQT. E, segundo o último levantamento realizado pela empresa Euromonitor International, o Brasil possui o quarto maior mercado de beleza e cuidados pessoais no mundo, ficando atrás apenas de Estados Unidos, China e Japão. A Associação Brasileira da Indústria, Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) aponta que, nos últimos cinco anos (2018-2022), o crescimento desse setor foi de 560% em relação aos períodos anteriores. Observem que inclui o período da pandemia da covid-19. E o biocorante é a solução eco-frendly como corroboram as pesquisas do ISI.
Mas, por que o biocorante na cor azul? O azul índigo é um dos pigmentos naturais mais antigos. Extraído da Indigofera tinctoria L., há mais de 4.000 anos, na Índia, ele chegou na Europa no século XVIII. Diferente de outras cores, o azul índigo ganhou popularidade pela sua estabilidade e versatilidade. Por conta dele, e de alguns bons temperos, as civilizações se lançavam ao mar durante as grandes navegações.
O índigo sintético, que atende a maior parte da demanda comercial de têxtil e de alimentos, é produzido em uma fusão química sob pressão. Uma alternativa de obtenção do Índigo também pode ser por vias naturais de extração de plantas, o que demanda um processo que ocupa área cultivável, mas tendo um menor rendimento.
A utilização dos micro-organismos na produção dos corantes apresenta várias vantagens, como o reciclo de resíduos como matéria-prima sustentável; obtenção de um produto eco-friendly análogo a uma versão sintética; não é necessário limitar-se a uma única molécula; além de não se demandarem hectares de cultivo, o que facilita a logística, quando comparado a uma produção extrativista vegetal.
“Existe a demanda industrial de inovar e ser competitivo. A biodiversidade brasileira é um parque de diversões, em termos de conteúdo e possibilidades para os cientistas. Ter os diversos manuais de instruções, em mãos, ou seja, os genes de um organismo, nos permite pensar em como transformar aquela receita em algo real para a sociedade.” conclui Giulia.
Contextualização histórica
Corantes sintéticos são mais recentes em nossas linhas de produção, mas os corantes naturais foram os responsáveis por termos as documentações de nossas origens em pinturas rupestres, com o uso de, majoritariamente, minério, como (vermelho) hematita, (amarelo) goethita, (pretos) óxido de ferro, preto carvão e calcita, no período Paleolítico, entre 2,5 milhões de anos até 10 mil de anos atrás*.
Evoluindo na história e sofisticando os hábitos, não apenas se desenvolveram as vestimentas mais sofisticadas e tonalizadas, como também se passou a pintar corpos e cabelos, como o caso dos egípcios, com a henna e a camomila. Também foi nessa civilização específica, juntamente com a chinesa, que se desenvolveu, concomitantemente, o nanquim, essencial para manufatura de acervos literários.
A Índia se manteve, por milênios, como referência no mundo, tendo inclusive festas culturais associadas às cores. Com a demanda cada vez maior de se desenvolver aplicações para os corantes naturais, as tecnologias passaram a evoluir em conjunto, de forma a terem maior durabilidade e resistência. Os gregos buscaram refinar as técnicas egípcias utilizando proteínas de ovo, contudo, nesse caso específico, os micro-organismos não colaboraram para que as histórias fossem contadas, degradando esses corantes.
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