SENAI CETIQT: Conheça o case Bump Box, armário-cápsula por meio de assinatura de aluguel para mulheres grávidas


Durante a live parte integrante do ‘Projeto Moda Circular: O Início de Um Novo Ciclo para a Indústria da Moda’, fruto de uma parceria do SENAI CETIQT com a Laudes Foundation, as sócias Juliana Franco Semino e Cintia Cavalli contaram como foi empreender em 2017 com uma nova proposta para uma geração de mães que amam moda, mas com a consciência da sustentabilidade como fio condutor de um consumo temporário. Elas recebem mensalmente uma caixa com quatro looks com diversas opções de combinação entre as peças. E o aluguel é sinônimo de moda atemporal e zero desperdício em sinergia com o processo da economia circular

Vou levar, você, leitor (a), a mais um mergulho em um case importantíssimo relacionado à transição da moda brasileira para um modelo mais circular de produção e consumo: o da empresa Bump Box, pioneira em kits de looks para grávidas, com peças que podem ser combinadas entre si e que são oferecidas por meio de assinaturas de aluguel. Criada em 2017 por Juliana Franco Semino e Cintia Cavalli, trata-se de uma valiosa experiência de um armário-cápsula inteligente para as mulheres que estão grávidas e também para o pós-parto e período de amamentação . Podemos dizer que é uma verdadeira rede de apoio e acolhimento para o corpo em transformação. E o aluguel das peças é sinônimo de novidade sempre, moda atemporal e zero desperdício em sinergia com o processo da economia circular. Portanto, um modelo de consumo “semente” para as novas gerações. E o SENAI CETIQT promoveu a live “Bump Box: Boas-vindas a um novo consumo” parte integrante do projeto Moda Circular: O Início de Um Novo Ciclo para a Indústria da Moda, uma parceria com a Laudes Foundation. Durante pouco mais de uma hora, Michelle Souza, consultora do Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção, bateu um papo com as sócias Juliana, uma apaixonada por moda que viveu sete anos entre Nova York, Madri e Florença e trabalhou em revistas como “Elle” e “Estilo”, e Cintia, que trocou a carreira em agências de propaganda renomadas pela vida de empreendedora.

“Começamos a falar sobre o projeto em 2016 e passamos nove meses fazendo testes, até abrirmos a Bump, no ano seguinte. Naquele momento, tudo era mato alto. A gente falava sobre economia e moda circular, sobre economia do uso e da posse, mas não havia eco. Pouquíssima gente conversava sobre isso no Brasil. Tínhamos poucas oportunidades de diálogo quando resolvemos desenvolver uma assinatura de aluguel”, conta Cintia, lembrando que o mercado e a consciência de consumo vêm se transformando profundamente. “Fomos a primeira assinatura de aluguel de roupas para grávidas. Muitas vezes nos perguntam sobre o nosso benchmarking. Há cinco anos, não havia benchmarking para esse modelo de negócio. Nem aqui nem no exterior. E tudo nasceu de uma conversa entre amigas”.

Os looks atemporais que integram a Bump Box, primeira marca de aluguel de roupas para grávidas por assinatura do Brasil (Divulgação/Instagram)

Antes dessa conversa, porém, nasceu José, primeiro filho de Juliana, em 2014. Na época, a co-criadora da Bump Box era editora-sênior de um grande e-commerce e tinha todos aqueles compromissos que se espera de alguém que trabalha com moda: desfiles, eventos, lançamentos etc. Assim, rolava uma certa expectativa das pessoas com relação ao que a então editora vestia, pois, além de a moda fazer parte de sua identidade pessoal, há uma questão profissional permeando o vestir. “Engordei muito durante a gravidez e meu corpo mudou. Em três meses, eu não tinha mais acesso às minhas roupas e ao armário que havia construído. Quem trabalha com moda cria um acervo pessoal ao longo do tempo”, explica. “Dias antes de o José nascer, fui chamada para uma entrevista de trabalho numa das principais revistas do Brasil. Literalmente, eu não tinha o que vestir. Nada servia. Recorri a uma amiga com corpo diferente do meu, acrescentei uma camisa do marido, mas aquilo não me representava. Aí veio o insight: por que comprar se podemos alugar roupas de uso temporário? Por que ninguém fez um aluguel de roupas para grávidas?”.

A resposta veio numa conversa com Cintia: ninguém fez, mas elas podiam empreender nessa nova proposta. Alugar resolveria o problema de muitas mulheres e ajudaria a sanar a carência de um mercado no Brasil, pois, na época, essa proposta girava globalmente em torno de um bilhão de dólares, com perspectivas de imenso crescimento. “Assim que engravidava, aquela mulher que era bombardeada por informação de moda durante a vida inteira deixava de ‘existir’ para a indústria que a assediou por tanto tempo”, lembra Juliana. “E ainda tem a história de transformar quem espera um bebê numa entidade pseudo-imaculada, tipo ‘ah, ela engravidou então é Mãe. Ai, olha a barriguinha dela’. Onde fica a mulher por trás da barriga?”. A sturtup nasce como solução possível para a mulher que continua no mercado de trabalho, mantém suas atividades sociais; enfim, segue com a vida.

Bump box: armário-cápsula com aluguel de quatro peças mês, novidade sempre, zero desperdício (Foto: Divulgação/Instagram)

As sócias perceberam, também, que os modelos para gestantes existentes no mercado simplesmente não conversavam com a geração Y. Para se vestirem com um mínimo de elegância e feminilidade, essas moças precisariam investir uma quantia alta em marcas boas com tamanhos e modelagens que não eram os delas. E teriam problemas adaptando essa roupa à sua condição, pois o corpo grávido não é só maior, é diferente. Outra opção seria gastar um tempo enorme fazendo buscas para usar a calça de uma amiga que talvez lhe coubesse ou algo que a prima da mãe usou um dia, sempre tentando equilibrar qualidade, design e informação de moda. “De qualquer forma, eram opções ruins”, garantem as sócias.

Desde o começo, a Bump se propôs a promover o consumo consciente, a ser uma plataforma de moda circular a aproximar as grávidas e neo-mães. Funciona assim: uma vez por mês, as futuras mamães recebem uma caixa com quatro peças de roupas que combinam entre si. Depois de um mês de uso, a gestante devolve tudo sem se preocupar com higienização, que é feita por uma empresa com alta expertise, e recebe um novo box com outra combinação de peças. A plataforma também oferece caixas com opções de modelos para amamentação e para ir à maternidade. Uma curadoria define como as peças vão se combinar entre si e como vão se compor com um guarda-roupa maior, pois uma preocupação sempre presente é não limitar a oferta. Esse novo modelo de consumo evita desperdícios, já que as roupas não são descartadas ao fim da gestação.

“Não queríamos que a Bump nascesse como apenas mais uma marca de roupa para gestantes, mas que viesse para oferecer soluções mais completas. Queríamos que fosse um serviço. Tivemos conversas com grávidas e com mulheres que haviam atravessado a gravidez sem as roupas de que gostariam para descobrir quais eram as suas demandas. A curadoria de moda funciona, porque a vida está corrida e ela não se reconhece no corpo novo. E tem a conveniência de não precisar sair para ter as peças. Afinal, trata-se de uma assinatura”, ressalta Cíntia.

A sustentabilidade é o fio condutor. A ideia é fazer diferente, não desperdiçar, não consumir algo que é temporário: não faz sentido. Temos dados sobre emissão de carbono e gastos com água e energia, mas estamos economizando muito mais que isso. As economias subjetivas de tempo e desgaste do processo decisório são relevantes – Juliana Semino, sócia da Bump Box

Cintia e Juliana contam que sempre priorizam o material mais sustentável, mas buscando o equilíbrio entre o ecologicamente responsável e o estender a vida útil da peça. A Bump Box privilegia uma moda atemporal, que foge das tendências fugazes do fast fashion. O desenvolvimento das roupas é feito para durar – tanto através dos materiais utilizados quanto da modelagem. É uma roupa que se pode usar antes, durante e depois da gravidez, com design atemporal, não-datado. “A gente queria chegar num produto para o qual a pessoa olhasse e, mesmo sem estar grávida, pensasse: ‘eu quero. É desejável, gostoso e bonito de usar’. Tudo isso com uma modelagem bem-feita, que acolhesse um corpo que muda sem parar”, observa Cíntia. Também em função da durabilidade, os reparos são feitos sempre que possível: quase tudo pode ser consertado. O compromisso com a assinante é entregar algo que seja impecável: “Cuidamos da peça e da mulher. Pode descosturar e ela não ter como levar na costureira. A cliente devolve descosturada e está tudo bem, pois pequenos reparos fazem parte do negócio”, lembra Juliana.

Peças dos looks de cinco anos atrás e de hoje primam pela atemporalidade. “A gente atualiza complementos, modifica as propostas e a peça continua válida e desejada. Temos modelos que atravessaram a história inteira da Bump. Ou seja, tiveram qualidade para passar todo esse tempo conosco e permanecer atuais. Imagina quantas mulheres já não usufruíram dessas roupas e o quanto elas ainda podem atender”, dispara Cintia.

A gente não quer que ela use a roupa porque serve. Servir, para nós, é o óbvio. É parte da nossa função buscar uma modelagem que acomode esse corpo. Mas nós queremos que a mulher use a roupa porque ela quer e a representa. Então tem funcionalidades – Cintia Cavalli, sócia da Bump Box

O destino final também é dado pela Bump. As roupas passam por um processo de upcycling ou seguem para doação, pois estão em perfeitas condições de uso. Por algum motivo, como uma pequena mancha, por exemplo, elas não voltam para o aluguel. “Damos o melhor destino possível. Isso é o que faz com que tenham uma vida útil maior que os modelos tradicionais”, garante Cintia.

A longevidade das peças também vem de as sócias revitalizarem seus maiores acertos. Um modelo com cara de inverno pode ser customizado para ficar com jeito de verão e vice-versa. E muitos desses acertos são repetidos em outras cores e tecidos. Não necessitar produzir muito é um dos maiores desafios. “Temos uma inteligência de design que nem todo mundo consegue atender, já que a indústria não está preparada para produzir em pequena escala. Mas conseguimos, com nossos parceiros, viabilizar essa demanda. Trabalhamos num momento ocioso da indústria, é um ganha-ganha para todo mundo”, diz Juliana. Isso é inteligência de design sem perder de vista a informação da moda, a foto bonita, a roupa que a mulher queira usar.

É muito parte da nossa missão que a mulher use a roupa feliz. Que seja a vontade dela e que esteja confortável naquela roupa. Como falamos, lá atrás, mato alto, grávidas invisíveis. Hoje a gente vê uma transformação maravilhosa em curso. Estamos muito felizes, porque parece que realmente acertamos o caminho que escolhemos – Juliana Semino, sócia da Bump Box

A empresa nasceu online. No entanto, as sócias fazem questão de manter uma relação de troca, diálogo, acolhimento e solidariedade com as mulheres que as procuram. A proximidade é mantida em eventos, workshops e rodas de conversas: “A presença sempre foi um desejo nosso. Desde o começo procuramos ter diálogo com as clientes, dar um espaço para elas conversarem, para escutá-las e trazer isso para a vida real. Em inúmeras oportunidades nós promovemos encontros para essas mulheres falarem sobre si mesmas. Quando começamos, havia menos espaços de conversa. Queremos tratar de questões da maternidade que permeiam a mulher, não apenas a mãe. Queremos ser um espaço acolhedor onde ela possa trazer seu bebê recém-nascido ou vir supergrávida e se sentir confortável, onde as dúvidas e os anseios tenham lugar, onde seja abraçada, acolhida e traga um pouco de sua vivência para nossas conversas”, pontua Juliana.

Das conversas sobre experiências pessoais, profissionais e emocionais nasceu o “Pequeno Guia Feminino de Sobrevivência na Maternidade”, que pode ser baixado do site (www.bumpbox.com.br). As sócias apresentam depoimentos marcantes de clientes e amigas registrados em vídeos. Thais Farage, que participou da elaboração do guia, conta que já havia tido seu primeiro filho quando conheceu a grife. “Quando voltei a engravidar, criamos uma coleção juntas. A ideia de ir trocando as peças à medida que as necessidades mudam é um jeito novo de pensar roupas: você não precisa ter, pode só usar.”

Cintia e Juliana afirmam que a ideia de criar esse guia de dicas surgiu das conversas e experiências pessoais, profissionais e emocionais com a gravidez. Nessa fase cada mulher se sente de um jeito e isso é muito especial. Um pedaço do caminho é mesmo intransferível e único, mas tem muita coisa que vale a pena dividir.

Além de cliente, Natasha Varpechowski é modelo da grife. “Temos uma longa trajetória juntas. Na maternidade, nós nos transformamos e, muitas vezes, não sabemos o que nos espera. Ter alguém do outro lado que não só experienciou esse sentimento mas que está ali para te acolher é muito especial, muito valioso”.

Uma história que as meninas contam emocionadas é a da cliente que teve um parto muito prematuro mas que, mesmo assim, decidiu seguir recebendo as peças alugadas. “Essa mãe, a Tati, passou meses no hospital e recebia as roupas lá. Eram práticas e facilitavam a amamentação. Mas o bebê não sobreviveu. Ela atravessou essa jornada conosco. Anos depois, engravidou de novo e voltou. Disse que só tinha lembrança boa da nossa história. Que, apesar do desfecho tristíssimo, se lembrava do carinho, do cuidado e de uma coisa bonita que nossas roupas traziam para ela. No fim da gestação do Raul, ela se tornou nossa modelo”, conta Juliana Semino.