SENAI CETIQT: Com a Simbiose como tema, Inova Moda Digital trata das macrotendências Outono/Inverno 23


Symbiosis, do latim, significa viver junto com vantagens mútuas – no caso, estamos falando sobre como nos conectamos, como fazemos parte de um todo. É um olhar de pertencimento, de contribuição, de regeneração, de construção, de descentralização para conexão. E pode ser dividida em três conceitos: energia vital, mudanças de estado e o metanatural. “Precisamos expandir o olhar. Temos muito mais do que vivemos em nossas correrias atrás de telas, atrás dos nossos negócios e poderíamos pensar em buscar nossa criatividade de uma outra forma. Não estamos falando apenas da indústria da moda, mas da indústria no geral. Ela precisa se modificar para compreendermos que alguns assuntos abordados com muita frequência atualmente – crise climática, sustentabilidade, produtividade – precisam ser revistos, revisitados. Precisamos aprender novamente, desapegar de conceitos antigos para começar a pensar num momento mais abrangente”, sinaliza Angélica Coelho, consultora do Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção e head de Moda Circular do IMD

O lançamento do Projeto Inova Moda Digital, fruto de uma parceria entre o SENAI CETIQT e o Sebrae Nacional para atendimento a micro e pequenas empresas de moda e confecção brasileiras, apresentou o Relatório das Macrotendências para Outono/Inverno 2023. A ideia é proporcionar um olhar mais abrangente sobre o design, a fim de pensarmos de maneira estratégica. O tema central desta edição é Simbiose, palavra que vem do latim symbiosis e significa viver junto com vantagens mútuas – no caso, estamos falando sobre como nos conectamos, como fazemos parte de um todo. É um olhar muito maior sobre não ser o ponto de inflexão, mas de pertencimento, de contribuição, de regeneração, de construção, de descentralização para conexão. O evento híbrido contou com apresentação de Christina Rangel, coordenadora de Moda e Design do Instituto SENAI de Tecnologia e head do Inova Moda Digital. Antes de passar o bastão para os palestrantes (a consultora do Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção, Angélica Coelho, head de Moda Circular do IMD, e Cléber Lima, do SENAI Pernambuco, responsável pela Inteligência de Produtos do IMD), Chris Rangel fez questão de dizer belas palavras sobre a equipe e a plataforma, “ponto de encontro, um lugar de reflexão. Trazemos informação e a depuramos para ser o que entendemos e vivenciamos lidando com a micro e a pequena empresa”.

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Para falarmos de Simbiose, porém, precisamos de um olhar 360 graus. “Temos muito mais do que vivemos em nossas correrias atrás de telas, atrás dos nossos negócios e poderíamos pensar em buscar nossa criatividade de uma outra forma. Não estamos falando apenas da indústria da moda, mas da indústria no geral. Ela precisa se modificar para compreendermos que alguns assuntos abordados com muita frequência – crise climática, sustentabilidade, produtividade – precisam ser revistos, revisitados”, observa Angélica Coelho, acrescentando que pensar nesse novo momento implica em perceber que não estamos mais em um mood antropocêntrico. Estamos falando de observar nuances através do pertencimento”, sinaliza Angélica Coelho.

Ou seja, começamos a passar daquele feeling tradicional de que o homem é o centro de tudo, o detentor da ideia, da tecnologia, da história, para um momento em que falamos de distribuir, de sermos parte integrante do ecossistema ou da comunidade. Pensando em como gostaríamos de viver os nossos futuros. E essa pluralidade não deteria caminhos diferentes e nos direcionaria para novos rumos? “Nós começamos a desafiar nossas fronteiras não só de vivências ancestrais, pois nos deslocamos de um olhar colonizado para entender que os saberes ancestrais não são só os dos europeus. É um olhar decolonial. Temos saberes e tecnologias antigas que não necessariamente vêm só de um caminho, um olhar, um rumo”, pontua Angélica, acrescentando: “Pensar em novos caminhos e tecnologias parece romântico quando falo sobre pertencermos ao mesmo espaço. Nesse momento, não estamos falando de utopia nem de distopia. Estamos falando sobre uma protopia, um futuro melhor com o que é possível e conseguimos construir com facilidade. Olhamos para esses momentos com pragmatismo”.

Pensando em futuros melhores, foram reunidos três pilares principais: pessoas, natureza e senso digital. Não se trata de tecnologia, pois esta não é, necessariamente, digital: o senso tem mais a ver com extrapolar, descentralizar a ordem, não ter um ponto de inflexão para que possamos distribuir e nos conectar. É muito mais sobre como se relacionar, é expandir o nosso relacionamento interpessoal através de conexões digitais.

Simbiose: macrotendência Outono/Inverno 23 (Foto: Reprodução/Inova Moda Digital)

OUTONO/INVERNO 23 – SIMBIOSE E TRÊS CONCEITOS: ENERGIA VITAL, MUDANÇA DE ESTADO E METANATURAL

ENERGIA VITAL

Energia Vital é falar sobre como pertencemos a esse espaço, natureza, como visualizamos e de onde trazemos esse senso de comunidade. Refletimos como estamos enfrentando esse período da Covid e como vimos pequenas regenerações na natureza e começamos a revisitar algumas formas de fazer diferente. Visualizamos como a Terra pode ter essa potência e como aprendemos com isso. “Algumas palavras-chave do conceito de Energia Vital são culturas de equidade, contribuição, reciprocidade, neo-primitivo, multiespécies, euforia-raiz, neo-coletivismo e sabedoria indígena num olhar para uma sabedoria ancestral”, observa Angélica Coelho. “Pensando na Energia Vital, refletimos como o designer pode desenvolver competências para criar coleções e processos industriais que beneficiem o todo. Vislumbramos uma moda mais amiga da Terra”, explica a hed de Moda Circular do IMD.

É nesse ponto que ela aborda o design regenerativo: “Não é um termo novo, mas percebermos que não tomamos decisões enquanto designers, marcas e empresas apenas para dizer que somos sustentáveis, mas pensando em como podemos contribuir para a velocidade da regeneração. Sabemos o quanto a nossa indústria impacta. E já tem muita gente fazendo algo sobre isso, não só em questão de resíduos, recursos ou materiais, mas como um todo. Já falamos de consumo consciente, sustentabilidade e economia circular, mas ainda precisamos trabalhar nisso com os pés mais no chão, pensando no que podemos fazer agora, no que podemos fazer funcionar”.

Para a palestrante, pensar de uma maneira mais realista é fundamental: “Nossa indústria não faz isso, mas nós podemos pensar antes de entregar para o consumidor e dar ferramentas para que ele consuma conscientemente e para que faça um descarte ‘degradavelmente’ mais rápido – e que isso potencialize a velocidade de regeneração do meio ambiente. É papel do designer, da marca e do empreendedor fazer escolhas para que trabalhemos com design regenerativo com um olhar mais sistêmico. É essencial pensar em como uma indústria de moda pode funcionar com um olhar para a regeneração. Em como substituir, pensar, inovar e trazer novos materiais e processos para que isso aconteça”.

A indústria da moda pode trabalhar com os avanços na agricultura regenerativa e fibras celulósicas. Como o exemplo mostrou um, vestido criado com fibra sem pigmento, estruturalmente colorida que imita como a cor é produzida e vista nas asas das borboletas. Através da luz, reflete cores diferentes.

Pensando neo-coletivismo, podemos usar os saberes de comunidades, os saberes ancestrais para pensar nas quatro forças digitais mencionadas pelo investigador de futuros e empreendedor Tiago Mattos em sua palestra: digitalização, automatização, personalização e distribuição.

E como trazer o consumidor para perto pensando em utilizar nanoescalas? Angélica exemplifica com programa da Nike. “É interessante, porque se trata de uma empresa global com senso de comunidade e pertencimento. É testar novos materiais, novos solados, novas aplicações, novos designs, novas estéticas pensando em opiniões e feedbacks reais de consumidores em vez de jogar no mercado e entender como reage. É focar na comunidade”, afirma Angélica.

ENERGIA VITAL EM PRODUTOS

De acordo com Cléber Lima, do SENAI-PE, responsável pela Inteligência de Produtos do IMD, a Energia Vital trata da beleza casual: “Eu enxergo modelagens usuais, ditas urbanas, alongo as linhas estruturais desses produtos e tempero tudo com a carga da memória. Memórias de tempos passados, de civilizações diferentes, artesanais e memórias do fazer. São produtos que recebem uma carga maior de informação e conteúdo de moda. O objetivo é ter um conjunto de ofertas fáceis – são roupas muito dinâmicas –, mas que tenham vontade de expressar personalidade através de colagens, misturas ou escolhas”.

Energia vital (Foto: Reprodução/montagem IMD)

O fato é que funciona muito bem para empresas que, independentemente do nicho, atuam com produtos em que a modelagem não varia, mas nas quais a estampa ou a textura dos tecidos é importante. “Essa linguagem visual meio que pautada numa noção de tapeçaria é recorrente. É evolução da estética floral que dominou, e ainda domina, o mercado, e essas colagens que ora parecem boho, ora parecem folk. O lance aqui é divertido e fácil. É roupa para viver”, pontifica Cléber Lima. “Num segundo aspecto, é algo extremamente animado. A natureza é um caldeirão de animações com muita cor, muito movimento e muitos sons. O desdobramento dessa vontade de imergir nessa boa loucura, nessa energia que a natureza carrega, é a Natureza Eufórica”.

Natureza Eufórica (Foto: Reprodução/montagem IMD)

O outro aspecto é o Primal, uma artesania low profile. “Primal é aquilo que está bruto. Pode ser uma composição com um top meio assimétrico, jaqueta e calça jeans onde há ferrugem, oxidação, desgaste, mas tudo muito polido. Eu lapido essa estética suja, no bom sentido, e traduzo tudo isso para uma linguagem”, diz Cléber Lima.

Primal (Foto: Reprodução/montagem IMD)

MUDANÇAS DE ESTADO

A palavra-chave é pluralidade. “Partimos para o que chamamos de comunicação, para essa segunda pele que vestimos e que nos representa estética e psicologicamente. Falamos de como manipular nossos corpos de uma forma fluida, não-binária e muito longe de ser mercantilizada. Uma fluidez não apenas estética, mas também funcional. A gente começa a entender como pode, nesse inverno, trazer essa mudança do corpo, essa segunda pele. É quase como sair do casulo, como se nos revestíssemos ‘camaleonicamente’ para o novo momento’, explica Angélica Coelho.

A mudança está muito mais ligada ao corpo mental, psíquico, e a como a pessoa quer se descobrir com possibilidades de alteração: “Posso brincar, posso ser plural, trabalhar, me movimentar, me mostrar e me construir com esse olhar de multiespécies. Posso ser várias versões de mim mesma, posso ser interconectada tanto com a natureza quanto com a tecnologia pensando em passear por vários nichos, públicos e povos”.

Os seres humanos não podem desenvolver uma segunda pele. Em vez disso, obtemos as qualidades essenciais de proteção, calor e expressão produzindo roupas que substituem peles. Uma exposição do artista plástico e designer digital alemão Tobias Gremmler, inspirado pela dinâmica do movimento, fala dessa pele ao mostrar a moda crescendo a partir dela.

Angélica Coelho nos conta que, pensando ainda nessa mimetização da natureza para a moda, temos a inspiração, por exemplo, dos corais. “O projeto Beyond Biomimicry (Além do Biomimetismo, em tradução livre) foi inspirado nos corais e em seu crescimento, permitindo que a natureza atue como a própria designer, na esperança de uma maior igualdade ecológica. A coleção Meander (Meandro) cria um efeito de biofilia vestível e simula o crescimento dos corais através de um algoritmo inspirado pelo desenvolvimento sinuoso deles no mar. A série os mostra se desenvolvendo em lugares onde nunca poderiam crescer na realidade – em um rosto humano, por exemplo. A coleção projeta um futuro quando o design será cultivado e não desenhado”.

MUDANÇAS DE ESTADO EM PRODUTOS

Celebram a transitoriedade: ora sólida, ora líquida. Elas olham para a maneira como os produtos são criados e convidam a quebrar regras ou paradigmas no momento de decidir entre A ou B. “Nas duas propostas de Inteligência de Produtos sobre esse conceito, Fluido e Foam, percebemos uma brincadeira com a forma corporal. É como se a modelagem fosse uma maneira de materializar as nossas vontades ou o jeito como nos enxergamos no mundo. Rola uma pitada de diversão em que tudo é pensado para quebrar regras”, diz Cléber Lima. “O que as marcas que se estabeleceram ou conseguiram preservar e evoluir os seus negócios na pandemia fizeram foi aceitar que as características do produto têm que ser um convite à criatividade. A noção de ‘deu certo, vou morrer fazendo isso’ não funciona mais”.

O primeiro conjunto de referências das Mudanças de Estado diz respeito à fluidez. “Imagine que derretemos modelagens, desconstruímos as linhas em prol de uma sensualidade. Dá para fazer isso estendendo as linhas da modelagem. Há uma noção de equilíbrio entre pesos percebida tanto no mercado dito de streetwear como no de festa. Uma questão dos cruzamentos improváveis de materiais rígidos com os que se desmancham”, exemplifica Cléber.

Fluidos (Foto: Reprodução/montagem IMD)

“O segundo aspecto, Foam (“espuma”, em inglês), pode assustar no primeiro momento, porque vivemos num país tropical. Essa segunda estética pode ser batizada de ‘tudo o que é fofinho’. E não falamos apenas de casacos, que já existem no mercado há muitos anos. Aqui vale a noção do tridimensional, do tecido vivo, que não é plano, tem textura e relevo. Trata-se de uma estética não-plana, muito baseada no inflado, no tridimensional, no fofo, no touch”.

Foam (Foto: Reprodução/montagem IMD)

METANATURAL

Representa a simbiose entre o universo tecnológico e o orgânico, imaginando novos mundos, novas estéticas e novas soluções através dos poderes imersivos tanto da natureza quanto da tecnologia, resultando em cenários de pura fantasia tão presentes na era da criatividade pós-pandemia. “Tudo que é meta é mais, é expansivo. Estamos falando aqui de ampliar esse olhar de natureza. A gente começa a falar de inserção no mundo digital. Quando falamos de digital, parece o oposto de natureza. Mas, estamos vendo um pouquinho do contrário, de como trazemos essa tecnologia para ser emulada pela natureza”, compara Angélica Coelho. “Num olhar mais regenerativo, como as tecnologias podem beneficiar a reconstrução do ecossistema no geral? Como podemos pensar nessa imersão natural com pitadas tecnológicas? Como pensar nesse metanatural com a temática do inverno, com a Simbiose entre o orgânico e o digital, para pensarmos em novos mundos, novas possibilidades?”.

E Angélica nos mostra um case inspirado nos avatares de que tanto falamos no metaverso, nos jogos, nos games em que nos transformamos num personagem, numa persona digital, num avatar. “Isso foi uma experiência muito baseada na evolução do Do It Yourself (DIY, Faça Você Mesmo) para o Do It Your Way (DIYW, Faça do Seu Jeito). A brincadeira é trazer os componentes para que crianças construam suas próprias peças. Aí pode-se construir a calça de três pernas, deslocar os decotes, colocar mangas em outros ambientes e pensar em como essa criatividade pode ampliar”.

“Isso é muito bacana também para pensar em upcycling, em novas práticas, em estruturação de formas para modelagens diferenciadas. E não precisamos estar de vestidos, jeans ou calças, podemos extrapolar através de texturas e experimentações levando para a particularidade do consumidor para que ele tenha uma peça diferenciada, única, para pensarmos em desafiar estéticas e comportamentos.”

“Já que estamos falando de experiências, como deixamos isso mais imersivo? Um olhar muito interessante, mas que, se pensarmos a fundo, tem suas questões. São necessários óculos de realidade virtual para acessar com X de definição. Temos algumas plataformas em metaverso que ampliam essa imersividade vendo, através de realidade aumentada, possibilidades de otimizar o dia a dia do consumidor e das pessoas em geral. No entanto, para chegarmos a essa conectividade, temos um caminho a trilhar. Ainda temos barreiras técnicas a serem ultrapassadas, como velocidade de internet, acessibilidade aos conectores de realidade virtual, realidade aumentada etc”, avalia Angélica Coelho.

O termo da vez é metaverso (ou os metaversos, avatares), moda digital. Mas nós falamos de tecnologia em algum momento atrás. “Era uma promessa muito grande. Parecia que ia mudar tudo antes de falarmos de moda digital como falamos agora. Eram os wearables. Onde foram parar?”, pergunta Angélica Coelho. Ela mesma responde: “A tendência tornou-se nicho. Temos uma roupa com sensores e vibrações que permite que seu personal trainer lhe dê toques sobre postura. Através de um aplicativo você consegue expandir a interatividade sem estar numa realidade virtual, com o apoio da tecnologia para atingir os seus objetivos. Essa inserção tecnológica no vestuário vem para melhorar a vida dos consumidores e desbloquear um grande potencial humano”.

Para que a interatividade se amplie ainda mais e saia do campo das telinhas, existem projetos de materiais que mudam de aparência. A brincadeira aqui é de uma pesquisa em cima de um pigmento fotossensível às luzes UV e LED que permitirá ao usuário final alterar cores e aparência dos produtos sob demanda. Um algoritmo de otimização vai alterar os designs de itens do dia a dia. Mas teremos que esperar, pois esse produto ainda não chegou ao mercado.

METANATURAL EM PRODUTOS

“A riqueza do entorno deve ser aproveitada como ponto de virada. Durante a pandemia, todo mundo teve que se virar com o pouco que tinha ou com o muito que estava parado no estoque. Cada um à sua maneira deu um jeito. Já que agora a gente meio que aterrou, o que podemos resgatar das vivências problemáticas e emergenciais que tivemos para o lugar da oportunidade? Qual é a minha proposta enquanto negócio e o que eu vou gerar com isso?”, propõe Cléber Lima.

“Isso tem um nome, que é Pensamento Efectual. A gente entende onde quer chegar, elabora os processos, trabalha e otimiza os processos, enxuga todos os desperdícios, mas, em contrapartida, nós olhamos para as cartas que temos na mesa. O que temos de benefício? Porque aquela linha não precisa ser reta, não precisamos ter um caminho linear para trabalhar com isso. Podemos trabalhar a partir de possibilidades. Para isso precisamos de uma equipe bem treinada, precisamos entender onde queremos chegar, precisamos de histórico para saber qual é a nossa viabilidade produtiva”, destaca Angélica Coelho.

No geral, o terceiro e último conceito é dividido em três estados em que a água é protagonista.

“A profundeza da água, o submerso, a surpresa, o encantamento, o mistério e aquele mundo meio desconhecido do fundo dos mares; o resiliente, a noção da sobrevivência, de adaptação dos pântanos e, também, aquilo que muitas vezes a gente não olha ou que é tratado como feio, defeituoso ou errado mas que tem uma beleza muitas vezes desprezada, tanto em estética quanto em processo; e, por último, o resistente, que é muito sobre a aridez, o universo onde tudo existe em pouca quantidade: pouca água, pouca vegetação, mas onde a natureza está presente. São as três variáveis de natureza dentro desse contexto aquático”, comenta Cléber Lima.

Observando as peças em lançamentos nacionais e no exterior, contatamos beneficiamentos que lembram resistência, materiais que viveram, que foram submetidos a situações extremas e fazem parte do Árido. “Imaginem uma lupa sobre qualquer processo. Um jeans stonado, por exemplo, com pesponto duplo entre as pernas da calça: por que não trazer isso para a frente do produto? É muito no sentido de olhar para o que é componente do que não é importante no produto e trazer para um lugar de destaque. É como se usássemos o avesso como elemento de design. E é muito pensado como a roupa da pessoa que sobrevive no deserto, em Marte, em Toritama (município do estado de Pernambuco). São modelagens que parecem normais, mas são ‘crocantes’. Tudo parece meio crespo, ranhurado. Nada é ‘gostosinho’, nada é liso, tudo tem uma memória, uma textura de roupa que viveu”, explica Cléber Lima.

Árido (Foto: Reprodução/montagem IMD)

O segundo caminho, batizado de Atlântida, é a estética que cruza o universo digital com o esportivo para gerar uma linguagem em que novos seres são materializados através da roupa. É uma estética “molhada”, de superfícies aquosas, que podem trazer também a noção do envernizado, do encerado: “Trata-se, em geral, do casamento do streetwear com o lugar dos seres aquáticos, da superfície dos peixes e o ver através da água”.

Atlântida (Foto: Reprodução/montagem IMD)

E, finalmente, chegamos ao pântano. Aqui se usam materiais secos, molhados e muito molhados. Ou como se a roupa tivesse sido submetida a um processo de desgaste que a enobreceu. São contrastes de textura muito áspera, muito seca e pontos luminosos, por exemplo. “Esses contrastes olham muito para os pântanos, que congregam espécies que achamos lindas mas nas quais não queremos tocar. Como o caranguejo, por exemplo: ele é maravilhoso, mas não tenho coragem de colocar a mão. É trazer o lance do bonito-estranho, do diferente, um produto que consegue equilibrar esses dois lados: o usual e algo que não dá para definir”.

Pântano (Foto: Reprodução/montagem IMD)