Foi prazeroso conferir in loco no Inspiramais 2021_I – Único Salão de Design e Inovação de Materiais da América Latina, realizado semana passada no Centro de Eventos Pró Magno, em São Paulo, a exposição dos looks criados a partir da juta – fibra sustentável – dos vencedores e duplas finalistas do concurso parceria do SENAI CETIQT com a Castanhal Companhia Têxtil, a maior processadora de fibras de juta das Américas. Os alunos do SENAI CETIQT selecionados para o Concurso de Moda Sustentável Juta Castanhal desenvolveram vestidos, calças, casacos, cropped e acessórios nos laboratórios de experimentações do SENAI CETIQT, no Rio de Janeiro, para utilização dos tecidos feitos com a fibra de juta para o vestuário do dia a dia, apresentando soluções sustentáveis, ecológicas e 100% biodegradáveis para a moda brasileira.
O Inspiramais elegeu, a partir das pesquisas do Núcleo de Design, Sincronia como palavra-chave desta edição. Passado, presente e futuro no agora. Portanto, estamos em tempos repletos de transformações da internet, das tecnologias, da robótica, mas observando um renascer de ideias, uma transformação tal qual à época do Renascimento com mudança de pensamentos, de mindset da sociedade e foco total na sustentabilidade.
Como pontua o coordenador do Núcleo de Design do Inspiramais, Walter Rodrigues, “a palavra sustentabilidade adquiriu uma importância gigantesca uma vez que deixou de ser conceito para tornar-se uma prática cotidiana com grande impacto na escolha do produto final pelos consumidores conscientes”. Ele acrescenta que, com a Inteligência Artificial, conectividade, redes… o futuro é agora e a evolução das ciências torna o homem atual um questionador sem limites. “Tivemos um tempo onde fortaleceram-se as relações B To B, e B To C, mas de agora em diante deverá ser Human to Human”, pontua.
Eu fui jurada do concurso e fiquei feliz em ver que designers, empresários, profissionais da moda e players das indústrias de Norte a Sul do país e do exterior, entre 7.800 visitantes do Inspiramais 2021_I, se conectaram com as criações dos jovens estudantes que serão o presente e futuro da moda sustentável.
No Inspiramais 2021_I, os visitantes puderam observar a harmonia, o caimento, a modelagem, a qualidade da costura externa e dos elementos de detalhes e a viabilidade produtiva e comercial dos trabalhos da dupla vencedora, formada por Amanda Brêtas e Flavia Tampeli – que ganhou uma viagem para visitar a fábrica da Castanhal, no Pará, e conhecer um pouco mais sobre o processamento da juta, do plantio ao produto final – e dos demais finalistas: Maria Clara Brodbeck e Thalita Costa (2º lugar); Pedro Louzada e Joana Litiman (3º lugar); Gustavo Souza e Karine Mello; Daniel Gomes e Larissa Alves; João Carvalho e Thaynara Bragança; e Arad e Gabriel Dau.
Vou contar para você leitor, um pouco mais sobre a inspiração de cada look em exposição com material 100% sustentável. Os jovens repletos de ideias mil mergulharam em processos produtivos circulares e relações de consumo mais conscientes na cadeia produtiva da moda, gerando impacto positivo para o meio ambiente.
Os alunos do SENAI CETIQT selecionados para o Concurso de Moda Sustentável Juta Castanhal 2019 trabalharam em – compostas por um integrante com conhecimentos em Estilismo ou Design de Moda e outro em Modelagem do Vestuário -, na criação e desenvolvimento de dois looks completos + acessórios, utilizando a juta como matéria-prima principal dos protótipos que sintetizaram uma abordagem autoral, repleta de identidade e que retratou a tríade: sustentabilidade + diversidade + representatividade, como frisei anteriormente aqui, no site.
Com a orientação de coaches, eles partiram para a execução do processo de criação com o aprimoramento técnico de suas habilidades. O apoio técnico foi dado pelos consultores do Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção durante o período de desenvolvimento dos produtos.
Os laboratórios de última geração estão em sinergia com a Indústria 4.0, a grande revolução industrial que o Brasil começa a ser inserido. Vale ressaltar que a conectividade entre as áreas de Educação, Tecnologia e Inovação é o diferencial do Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil – SENAI CETIQT, que oferece serviços transversais que o consagram como um dos maiores centros latino-americanos de produção de conhecimento aplicado à cadeia produtiva dos setores Químico, Têxtil e de Confecção.
Os looks foram desenvolvidos pelos alunos fazendo o uso da matéria-prima juta produzida e cedida pela empresa Castanhal, de aviamentos da empresa HAK e da lavanderia CILAVE, que auxiliou no beneficiamento das peças prontas e/ou do tecido antes das peças serem produzidas. Um desfile foi realizado no Fashion Lab do SENAI CETIQT para a escolha das duplas vencedoras.
O espaço é destinado à experimentação de produtos e serviços no segmento têxtil e confecção, baseado nos conceitos de laboratório aberto e de maker spaces. A ideia é disseminar a tecnologia inovadora e sustentável nos processos relacionados ao desenvolvimento de produto, modelagem, fabricação aditiva e experiência de consumo. Um espaço aberto e colaborativo para a realização de experimentos que utilizem tecnologias inovadoras destinadas à indústria da moda.
Nós, jurados, avaliamos as coleções apresentadas a partir da viabilidade comercial dos looks desenvolvidos; adequação da Proposta Autoral de Projeto de Moda Sustentável elaborado pelo aluno ao que de fato foi apresentado; criatividade das peças apresentadas; qualidade do acabamento e da costura das peças e caimento da modelagem desenvolvida ao corpo. Também era vital conferir a harmonia entre a inspiração e o tema proposto, coerência da seleção de cores e uso da juta, coerência com a identidade da empresa Castanhal e sua história e adequação do tema escolhido em relação aos croquis.
Coordenadora de marketing da Castanhal, Célia Pinho estava entusiasmada com o projeto. “Estamos felizes e honrados em poder contribuir com a transformação e inovação possibilitados por um modelo de ensino e aprendizagem hands on, provando que a juta pode ser uma das principais matérias-primas para a moda contemporânea e futura”, pontua.
E vamos lá: Primeiro lugar para a dupla Amanda Brêtas e Flávia Tampeli que criou looks inspirados em Raoni Metuktire, o cacique da tribo Kaiapó, um dos maiores nomes na luta contra o desmatamento da Amazônia. Segundo as alunas, elas traduziram a luta ativista “em uma coleção de amor e luta, trazendo como base o vermelho e amarelo em destaque representando o protesto pelas ações decorrentes em nossas matas”. Uma frase que sintetizasse todo o trabalho? “Salve Raoni, salve sua força e luta”.
O segundo lugar ficou com a dupla Maria Clara Brodbeck e Thalita Costa. As meninas batizaram os protótipos de “Sobre.Viver”, tendo como ponto de partida a natureza e a visão artística de Frans Krajcberg, aliado a uma pegada urbana. A coleção apresenta uma cartela inspirada nas cores as obras do artista, modelagens 2 e 1, toque de alfaiataria, volumes, bordados, motivados nas formas da natureza, especialmente a da Amazônia.
Pedro Louzada e Joana Litiman, que conquistaram o terceiro lugar, alinhavaram o tema “O encontro das águas”. Uma alusão ao encontro dos rios Solimões e Negro, um dos maiores fenômenos da Amazônia. Esse espetáculo ocorre quando as águas ocrargilosas do Solimões e as escuras do rio Negro se encontram e percorrem quilômetros de distância lado a lado, sem se misturar.
Vimos ainda os trabalhos de Daniel Gomes e Larissa Alves batizado “Corchorus Capsularis” inspirado na diversidade brasileira e na arte de Maitê Zara, artista paraense que utiliza de cores inspiradas nas referências gráficas de Belém. O foco é o street style retratando a diversidade.
Gustavo Souza e Karina Mello desenvolveram looks com juta ap artie do encontro do rústico com o urbano. Segundo eles, a coleção foi inspirada no street style e na arte do grafite. “São roupas versáteis, pensadas para um público de espírito jovem que busca se librtar dos padrões impostos pela sociedade e que tem se importado com questões ambientais e atitudes sustentáveis, como por exemplo, o ciclo de vida de um produto e seu descarte final, sendo a juta um material que traduz essas características”.
O lago Amaçu, na Amazônia, foi o ponto de partida para João Carvalho e Thaynara Bragança. Eles se inspiraram em lendas. Representando a cobiça do homem branco pela natureza desde o início da colonização do Brasil, acreditava-se na existência de uma fonte da juventude por conta de uma ilha encoberta por xisto micáceo, uma rocha que produz forte brilho quando iluminada pelo sol, a qual trazia a ideia de riqueza para os europeus.
Arad e Gabriel Dau criaram “Higroscope”, uma substância higroscópica é aquela que possui propriedades capazes de absorver água do ambiente em que se está contextualizada. É a partir desse conceito físico que Higroscope desenvolve-se, fazendo referência a uma das propriedades primordiais da juta.
A Castanhal Companhia Têxtil tem mais de 50 anos de atividades e apoia mais de 15 mil famílias ribeirinhas que vivem nas margens dos rios Solimões e Amazonas, na região Amazônica. A fibra de juta é 100% sustentável no seu plantio e no seu processamento, contribuindo para a manutenção da Floresta Amazônica enquanto gera renda para milhares de pessoas. Maior processadora de fibra de juta do país, oferece ao mercado uma matéria-prima de qualidade, versátil e totalmente integrada ao bioma amazônico, sem provocar queimadas ou desmatamentos e sem a utilização de agrotóxicos, herbicidas ou fungicidas, com adubação natural feita pelo húmus deixado pelas cheias dos rios amazônicos. Tudo isso confere à Castanhal as certificações de preceito orgânico pela BCS Oko, Fairtrade (comércio sustentável, justo e solidário) e Pesticide Free.
Em sinergia com o tema do Inspiramais, a Castanhal levou lançamentos com a fibra de juta como a Tela V7, com trama e urdume com o fio 7 lbs, que promove um tecido mais uniforme e fechado, mais adequado para a impressão de estampas, menor desfiamento ao corte, toque mais suave e que viabiliza o desenvolvimento de artigos mais elaborados e recortados para uso em cabedais.
“A Tela V7 é um lançamento que busca atender as exigências dos clientes de um dos segmentos mais importantes da indústria, o calçadista, que busca, a cada estação inovação, matérias-primas sustentáveis e ao mesmo tempo tecnológicas. Além disso, nosso portfólio de produtos é focado em artigos sustentáveis e ecologicamente corretos, esse é o DNA da Castanhal”, declara Mauricio Vasques, Gerente Comercial e Marketing da Castanhal.
No estande, a empresa apresentou o lançamento de fios engomados mais lineares, com menor pilosidade, mais maleáveis e com melhor desenrolamento. E, para reforçar a ampliação da coleção de fios fantasia com a fibra de juta, a Castanhal realizou também o lançamento de uma nova cartela de cores e produtos, apresentando a diversidade de títulos e misturas com outras fibras, como algodão reciclado, multifilamentos e fio de lurex ouro e prata.
Em 2019 foram feitos investimentos na Castanhal para ampliar a produção de telas em juta com a aquisição de teares para atender aos segmentos que, cada vez mais, se interessam por matérias-primas sustentáveis, vegetais e procedentes da Amazônia.
O diretor-presidente da Juta Castanhal, Flavio Junqueira Smith, comentou: “Sustentabilidade é nosso DNA, é prática diária no relacionamento com a comunidade em torno do plantio da juta. Acreditamos que o ser humano e a natureza são um organismo único e interdependente e que a economia circular é a melhor forma de produzir, consumir, reutilizar e assim buscar a perpetuação de nossa marca”.
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