“É importante criar uma interface com empresários e profissionais dos setores de moda, têxtil e de confecção para trocar informações, de forma que possamos transmitir o conhecimento que os consultores do SENAI CETIQT possuem. Nós sentimos a necessidade de preencher a lacuna que existe e aumentar o canal de comunicação com profissionais que participam ativamente do ramo”. A frase é do gerente de inovação do SENAI CETIQT Fabian Diniz sobre o 1º Fórum da Indústria da Moda SENAI. O evento gratuito reuniu, na quarta-feira (dia 10), empresários e profissionais do ramo têxtil, confecção e de moda na sede do Riachuelo para participarem de palestras com profissionais da instituição, como a consultora Christina Rangel, o consultor em processo produtivo Luiz Claudio Leão e o consultor em engenharia de produção Erasmo Fernandes com o objetivo de potencializar a confecção por meio de produtos, processos e pessoas. Segundo Fabian Diniz, “são as pessoas que movem a engrenagem. Então, é importante que todos os envolvidos na indústria da moda estejam alinhados e preparados para acompanhar o boom de inovação que estamos vivendo”.
O Site HT estava por lá para conferir in loco esta primeira edição. O momento foi de troca de conhecimentos sobre inovação nos processos de produção, principalmente sobre ferramentas e soluções para os problemas que a indústria brasileira enfrenta. As palestras abordaram as ações e resultados práticos para a confecção industrial, visando conhecimento, inovação e diferencial para o público. Os participantes puderam ainda ouvir resultados práticos, como o case de sucesso de Fabrício Tardin, da empresa Dellas Lingerie, de Nova Friburgo, Região Serrana do Rio, e visitar as áreas do Instituto SENAI de Tecnologia (IST) e conferir a Planta Modelo de Confecção 4.0.
Para começar o dia com um mergulho na inovação, empresários e profissionais da moda fizeram um tour pela Planta Modelo de Confecção 4.0. O coordenador Fernando Moebus explicou detalhadamente o objetivo desse novo maquinário. O grande diferencial de uma empresa com esta tecnologia para as outras do mercado é a conectividade e integração. A planta foi desenvolvida para facilitar a aplicação dos conceitos da Indústria 4.0 e a base é feita com a produção customizada e ativa para o consumidor final, de forma que minimize os insumos, com redução de custos, virtualização do processo, de forma sustentável e com um tempo de operação por meio de planejamento dos fluxos de produção, sempre conectados em rede para o acesso coletivo. O processo ainda é novo e apresenta grandes avanços na produção mais sustentável e consciente.
Foi realizada ainda uma visita aos laboratórios modernos do IST e uma avaliação na qual os players do setor puderam preencher formulários para entender com mais propriedade as possibilidades de melhorias dentro de seus processos de criação e avaliar a maturidade de cada empresa rumo à Indústria 4.0. Para profissionais do ramo foi a oportunidade de pensar inovação de forma única no Brasil.
“O objetivo do SENAI CETIQT é sempre o diálogo, a inovação e a educação. Estamos à frente de produções e serviços em diversos âmbitos e em sintonia com os profissionais. Esse fórum é a primeira de muitas ações que vamos promover até o ano que vem. Então, é muito importante que todos compartilhem esse momento de troca de experiências e nos vejam como parceiros para incentivar ainda mais a prospecção tecnológica, o desenvolvimento da cadeia da moda e o aprendizado”. Com essas frases, o assessor da diretoria executiva e gerente de estudos prospectivos e projetos especiais do SENAI CETIQT, Marcelo Ramos, abriu o ciclo de palestras do 1º Fórum da Indústria da Moda.
Com o auditório lotado, a consultora do SENAI CETIQT Christina Rangel começou sua palestra sobre a importância do fluxo da informação no processo de criação e desenvolvimento de produtos. Em suma: o processo de criação e desenvolvimento de produtos numa confecção deve ser orientado pelo conhecimento compartilhado e focado exclusivamente na geração de valor para clientes e na redução de desperdícios. Com exemplos práticos, Christina abordou os principais problemas enfrentados pelas empresas e que envolvem a comunicação com ruídos e a dificuldade no planejamento. Como Christina afirmou, a Era 4.0 é o momento de uma transformação digital que atinge todos os setores das empresas, com novas competências, maior responsabilidade social e sustentabilidade. Mas, para isso, é preciso sistematização dos processos, mesmo quando partem da criatividade.
“A comunicação entre modelistas, estilistas e qualquer profissional que faça parte do processo deve ser clara e registrada de forma sistemática. Muitas vezes, vemos empresas trabalhando unicamente com a comunicação oral e informal. As metas não são registradas oficialmente, as informações são mal distribuídas. Se apenas um setor tem acesso aos informes do processo, ele vai atrasar, vai haver desperdício, ruído na comunicação, além de desgastar as relações e perder a qualidade do produto”, comentou a consultora. Como solução, Christina apresentou os princípios da Filosofia Lean, que envolvem fortalecer a equipe, delegando atividades. O foco da gestão é de otimização para a cadeia de serviços e produtos através da transmissão total do valor que flui horizontalmente. “O seu time inteiro precisa estar ciente do processo e ter acesso às informações. É importante fortalecer essas relações, principalmente porque você está desenvolvendo talentos. Então, a sua equipe precisa aprender com você”, completou.
Um aspecto essencial, para Christina, é o feedback. Trocar experiências e aumentar o canal de comunicação antes, durante e depois do processo amplifica o conhecimento e melhora a qualidade do que é produzido, além de diminuir o desperdício. Em média, são produzidas cerca de 30% a 40% a mais de peças piloto em relação às que são aprovadas. “É preciso uma política clara dentro dos setores: os responsáveis pelo processo, a ocorrência dele, as informações necessárias para alimentá-lo e quais as metas necessárias e em quanto tempo. Com isso padronizado e esquematizado, a empresa funciona melhor e garante menos desgaste”, disse Christina. Com exemplos de vídeos sobre a experiência de empresas e a divisão geográfica dos processos, os participantes puderam entender como comunicação é essencial para garantir o funcionamento. Christina Rangel fez pensar, por fim, que todas as funções e atividades da empresa devem impactar o fluxo de valor da marca e que, ao multiplicar o número de conexões entre a equipe de uma indústria, o benefício é total para o cliente também.
Para mostrar um case de sucesso, o empresário Fabrício Tardin foi convidado para falar sobre a sua empresa, Dellas Lingerie, de Nova Friburgo, Região Serrana do Rio. A empresa familiar nasceu na cidade de Bicas, em Minas Gerais, e completa 21 anos de trajetória agora, em 2018. Com um dos caminhos para o sucesso, Fabrício considera ser importante e essencial desenvolver trocas de aprendizado. “Colaboração sintetiza minha participação no fórum. É um momento que encontramos outros empresários e estamos em uma instituição de ensino importante. Então, essa troca de conhecimento é muito rica e energizante. Nós voltamos com mais responsabilidade, pensando que temos que levar uma palavra de incentivo e ânimo. Mais motivados a desenvolver e continuar nosso trabalho”, frisou.
Cerca de 80% da indústria têxtil é formada por pequenas e médias empresas e a Dellas é parte integrante. Começou como muitas empresas no Brasil: no fundo da casa dos pais de Fabrício. A família de friburguenses mudou-se para Minas Gerais e, então, resolveu empreender no ramo, já que sua mãe trabalhava com modelagem em uma grande empresa. “Minha família toda é de Nova Friburgo, um pólo importante de confecção e o SENAI está inserido ali. Então, nós vemos colaboradores muito mais preparados para desempenhar as funções”, comentou o empresário.
Atualmente, são cerca de 200 funcionários diretos e indiretos nas unidades de Bicas e Nova Friburgo, nas quais são produzidas peças femininas e masculinas, nos segmentos de fitness, lingerie como carro-chefe, linha praia, pijamas, totalizando por mês cerca de 250 mil peças. “Isso só foi possível graças à metodologia implantada pelo SENAI CETIQT e divulgada pelo consultor Luiz Claudio Leão: a metodologia PUPI, ou seja: Pequenas Unidades de Produção Inteligente. Ela foi essencial, porque empodera os funcionários. A união e a colaboração em um grupo de produção faz com que todo o processo seja eficiente e sem desperdícios”, afirmou Fabrício.
Com a consultoria do SENAI CETIQT e a metodologia, o próprio colaborador que trabalha na máquina, segundo Fabrício, apresenta o problema ao superior, mas propõe a solução. Fabrício contou que com o planejamento e a metodologia, o alcance de interação só aumentou. “Nós conseguimos chegar a mercados diferentes com essas evoluções e possuímos 13 lojas próprias em Minas Gerais, além do nosso foco em atacado, que também exportamos para alguns países, como Japão, Israel, Reino Unido e Estados Unidos. Nós fazemos questão de exportar uma moda genuinamente brasileira”, disse. Durante a palestra, o empresário contou sobre a importância da sustentabilidade e como ela pode ser um desafio, principalmente no ramo da moda em que o destino têxtil ainda não é adequado em todas as empresas. Na Dellas, o encaixe dos moldes no tecido é feito para o mínimo de desperdício, além de se utilizar sobras na produção de peças extras e no ensinamento de técnicas de costura para a comunidade da região da empresa, em que os participantes de um projeto produzem tapetes, tags para malas e podem desenvolver um novo aprendizado. A inovação, que veio a partir da metodologia PUPI, que empodera os colaboradores, dividindo-os em equipes menores com um objetivo em comum: entregar um determinado produto. “Além de você proporcionar responsabilidade às pessoas que compõem o time, elas passam a se sentir parte integrante da empresa apresentando soluções”, contou Fabrício Tardin.
Em seguida, o consultor de processo produtivo do SENAI CETIQT Luiz Claudio Leão abordou o empoderamento das equipes produtivas na indústria da moda. O empoderamento das equipes consiste em proporcionar aos colaboradores da cadeia produtiva, informações e ferramentas necessárias para que possam assumir responsabilidades, propor soluções inovadoras e atuar com mais independência, melhorando resultados e aumentando motivação. O consultor propôs uma atividade: os participantes deveriam levantar e cumprimentar quem estivesse no auditório, com sorriso e um aperto de mão. Para Luiz Claudio, conectar, dar atenção e desenvolver as habilidades dos colaboradores é fundamental.”Dentro da indústria de confecção, nós temos que entender as pessoas para obter os resultados que a empresa espera. Isso só é possível com pessoas empoderadas, para que elas alcancem as metas através da força interior e nós temos que desenvolver isso ouvindo quem ainda não tem voz nas fábricas”, defendeu.
Para Leão, a motivação é peça chave na força interior dos integrantes das mais diversas equipes e o processo só é capaz de dar um bom resultado com a liderança positiva.”Motivação é algo que você tem que praticar todo dia dentro da fábrica, mas é uma porta que a pessoa abre dentro de si. Só isso já muda o modo de alguém trabalhar”, contou o consultor.
O consultor ressaltou o trabalho de um bom líder, que ele define como alguém que escuta e está junto da sua equipe, mesmo quando erra ou quando complicações aparecem. “Esses profissionais têm de estar cada vez mais bem preparados para atender uma grande quantidade de pessoas. O líder tem que ser um parceiro. Ele não pode ficar em uma sala trancada. Tem que ouvir as pessoas que estão na linha de produção. Através do exemplo, os resultados aparecem. O verdadeiro líder é aquele que todos querem seguir. As pessoas que trabalham nesse processo têm que ser respondidas e atendidas. Um profissional dedicado é essencial para a transformação da indústria”, defendeu. A liderança também envolve criar bons ambientes de trabalho para os colaboradores, saber cumprimentar e se interessar pelas pessoas. Só com um “bom dia”, segundo Luiz Claudio, você consegue aumentar uma produção. Além disso, dar feedbacks também é necessário para que o colaborador entenda onde está acertando e errando. A comunicação deve ser clara e sem ruídos por afetar diretamente o processo de confecção.
Para finalizar em bom astral, Luiz Claudio propôs uma fila na qual todos os participantes do 1º Fórum da Indústria da Moda recebessem uma palavra de incentivo de cada consultor do SENAI CETIQT. Pura motivação, desenvolvimento de confiança e de empoderamento de cada profissional, o que resultou em um momento repleto de confiança e estímulo a todos que buscam estudar, se aprofundar e se especializar em inovação com sustentabilidade.
Em continuidade, o consultor de engenharia de produção Erasmo Fernandes mediou a Rampa de Soluções, um diagnóstico e propostas de solução para os principais problemas enfrentados pela confecção. Os participantes, por meio do aplicativo Sli.do puderam fazer perguntas em tempo real para os palestrantes e outros consultores presentes sobre criação, desperdício, índices e técnicas de inovação a serem utilizadas nas fábricas. Além disso, o evento também contou com sorteio de brindes para os profissionais e a iniciativa é só o começo de uma agenda programada pelo SENAI CETIQT para 2019, em que se pretende aumentar ainda mais o canal de comunicação entre profissionais e empresários de moda, com propostas e soluções inovadoras.
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