Semana de Moda de Paris: enquanto a Lanvin pós-Alber Elbaz desliza no limbo, Rick Owens ganha no exótico e Balmain dá seu show à parte


A mais importante fashion week do planeta acontece em meio a resistência dos antigos designers ao novo calendário da moda (a ideia de marcar os eventos por estação estaria com os dias contados) e adequar o que é apresentado nas passarelas ao sistema de varejo (em outras palavras: nada de esperar quase que um semestre para levar os looks pra as lojas)

A Semana de Moda de Paris é, talvez, a mais esperada de todas entre os fashionistas. Isso porque a cidade-luz é também berço das grifes mais tradicionais e vanguardistas e essa fashion week fecha de vez o calendário outono-inverno 2016/17. A resistência dos antigos designers ao novo calendário da moda (a ideia de marcar os eventos por estação estaria com os dias contados) tem chamado atenção por lá, como é o caso dos poderosos Karl Lagerfeld e François Pinault, CEO do grupo Kering, que também são contra o novo sistema de aliar o que é apresentado nas passarelas ao sistema de varejo (em outras palavras: nada de esperar quase que um semestre para levar os looks pra as lojas). Pinault chegou a declarar que, dentro da Gucci, nada vai mudar, já que a ideia de se adequar ao varejo vai contra o “sonho” que o luxo precisa ter para funcionar. Apesar de tanta polêmica, no entanto, as coleções foram desfiladas com o tradicionalismo habitual.

Anthony Vaccarello, por exemplo, seguiu fiel à sua estética sexy e cheia de couro, mas surpreendeu ao inserir estampas florais em sua coleção, enquanto a Maison Margiela comandada por John Galliano levou uma abordagem não-tradicional da moda à passarela. A Balmain comandada pelo jovem Olivier Rousteing chamou atenção ao levar um verdadeiro dream team de modelos para o catwalk e… trocar seus cabelos! Isso mesmo. O estilista propôs que as tops loiras ficassem morenas e vice-versa, o que rendeu muitas fotos nas redes. Pega na nossa mão e vem saber tudo da semana de moda de Paris!

Anthony Vaccarello
O designer desfilou sua coleção outono-inverno 2016/17 logo no primeiro dia de semana de moda parisiense. Fiel à sua estética, a marca exibiu as já tradicionais fendas e cortes assimétricos, além de minissaias, muitas peças pretas e detalhes de diamantes falsos. Leggings rasgadas, casacos de veludos e muito couro foram as grandes apostas da temporada supersexy de Vaccarello. Para o inverno, a inspiração foram os corsets, com looks cheios de amarrações que ressaltavam quadris, e não apenas as cinturas – como é tradicional dos espartilhos. Blusas com capuz e casacos surgiram em diversos materiais, mas a pele branca foi o que chamou atenção dos fashionistas na fila A. Conhecido por seus minis, couros e muitos modelos ultrasexys, Vaccarello chamou atenção ao terminar o desfile com uma sequência de tons mostarda e estampas florais grandes e brilhosas.

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Maison Margiela
Comandada por John Galliano, a grife já havia prometido uma abordagem não-tradicional em Paris. E foi o que aconteceu. Entre modelos calçando sapatos diferentes em cada pé, perucas, vestidos usados em mais de uma dimensão e espécies de “babadores”, Galliano proclamou uma “compreensão inata de elementos e técnicas de design da maison”. Ou seja: apresentou uma coleção que trouxe mais questionamentos do que respostas. Se a Maison Margiela vem sendo, sutilmente, remodelada ao estilo Galliano, isso ficou claro na passarela cheia de tendências maximalistas, peças com inspiração artsy e mix inusitado de tecidos como couro, cetim, musseline e seda. O militarismo marcou presença como um dos protagonistas da temporada, enquanto a malharia apresentou mudanças exóticas de cores, formas e tamanhos em uma mesma peça – assimétrica, por sinal. O lurex fruta cor transparente e o metalizado prateado garantiram o ar moderno e cool do desfile. Os acessórios ficaram por conta das botas militares estilo caçador que foram desconstruídas com solados de borracha verde-limão e laranja e dos cintos de fivelas enormes marcando a cintura.

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Balmain
Muitos apaixonados por moda sequer imaginam que a Balmain é uma marca francesa. Isso porque a grife está sempre alinhada à visão americana da moda, com a família Kardashian-Jenner como entusiastas número um das peças de cinturas hipermarcadas. Olivier Rousteing, de apenas 30 anos, é o designer criativo a frente da Balmain e é bem isso que a grife representa: modernidade e inspiração pop. Com Kris Jenner e Kanye West sentados na fila A, o show reuniu um verdadeiro “dream team” na passarela, com nomes como Kendall Jenner, Gigi Hadid, Karlie Kloss, Alessandra Ambrosio, Sara Sampaio, Rosie Huntington-Whiteley, Jourdan Dunn e Joan Smalls e mostrou que as cinturas marcadas e quadris em destaque – com direito a minissaias de enchimento quase esféricas – continuam sendo a grande aposta para a nova temporada. As modelos surpreenderam pela “troca de cabelos”. Explicamos: Olivier pediu para que todas usassem perucas e transformou as loiras em morenas e as morenas em loiras especialmente para o desfile – o que rendeu muitas fotos nas redes sociais, claro. Os shapes supersensuais foram ornamentados com babados e rendas, colos cobertos e ombros valorizados por ombreiras, mas a ousadia da grife ficou mais discreta nessa coleção. As botas de canos altíssimos quase que na virilha e as chokers poderosas chamaram atenção ao lado de peças inspiradas pelo barroco de Versalhes, com camurça em tons pastéis como rosa e azul-bebê, referências aos espartilhos e franjas. Por outro lado, Olivier não decepcionou os apaixonados pelos modelos justos e curtos da marca. Listras pretas e douradas também foram destaque em uma passarela cheia de elementos que prometem ir direto para o tapete vermelho.

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Rick Owens
Rick Owens não decepcionou nessa temporada. A inspiração na obra “Cisnes Refletindo Elefantes”, de Salvador Dalí, rendeu momentos marcantes em uma coleção em que a malha de lã reinou na passarela. A paleta de cores entre branco, cinza, pérola e marrom ganhou vivacidade com os toques de verde-água, enquanto os modelos apresentaram volumes deformados. Casacos em tons contrastantes e diferentes texturas deram uma noção de “peças derretidas”, enquanto botas de couro de cano acima dos joelhos aparecem com solas grossas e amplas de inspiração japonesa. Até a beleza foi exótica e algumas modelos adentraram a passarela com penteados que formavam uma espécie de globo na cabeça, lembrando casulos de seda de aranhas. Pouca estranheza se comparado à temporada passada, em que o estilista pendurou modelos de cabeça para baixo umas nas outras. Ainda assim, exótico. A cara de Owens.

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Loewe
Entre rigidez e fluidez. Assim foi a coleção de J.W Anderson para a Loewe. Com seu talento especial para incorporar elementos duros em peças fluidas, o estilista aplicou colares de contas nas cinturas e decotes e misturou os clássicos vestidos tubinho com espartilhos de couro. As mangas leves ornamentadas com anéis de metal provaram, mais uma vez, que o modernismo e a excentricidade podem andar ao lado da elegância. Um casaco acolchoado levemente queimado, calças em algodão verde militar e couro caramelo chamaram atenção na passarela ao lado de looks que mesclaram tecidos leves com metais e couro. As malhas metálicas duras deram – por incrível que pareça – fluidez às mangas dos vestidos. Acessórios peculiares como bolsas em forma de bichos penduradas no pescoço das modelos e joias complementaram os looks.

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Lanvin
A era pós-Alber Elbaz, que deixou o cargo de designer criativo da Lavin em outubro de 2015, após 14 anos à frente da marca, ainda é turva e misteriosa. Isso porque, comandados pela coordenação de Chemena Kamali e Lucio Finale, uma equipe de estilistas é responsável pelos desenhos da coleção, com identidade ainda pouco definida. No outono-inverno 2016/17 isso pode ser claramente visto, através de peças ready-to-wear que buscaram inspiração nos anos 80. Ternos compridos foram sobrepostos em calças e saias compridas e blusas de babados e rendas New Romantics tomaram a passarela da marca ao lado de trench coats inusitados de vinil preto e tecidos metalizados. Os vestidos assimétricos chamaram atenção por suas silhuetas de cinturas naturais e desconstrução criticada entre os fashionistas. Os casacos com pele nos punhos e golas foram usados com peças em xadrez e veludos e a cartela de cores se estendeu entre preto, cinza, azul marinho, marrom, verde, marsala e até dourado. Acessórios como a bolsa saco e os colares e gargantilhas tinham personalidade e os sapatos estilete altos e ornamentados também atraíram os fashionistas. A Lanvin parece querer se reinventar após a saída de Elbaz, mas, ao que tudo indica, Chemena Kamali e Lucio Finale estão pouco preparados para assumir uma grife tão poderosa.

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