Foi o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi quem inaugurou a semana de moda de Milão, marcando, assim, a primeira vez em que um líder político do país foi encarregado da função. O pontapé inicial, em um almoço no Palácio Real, em Milão, foi coroado com discurso em que Renzi ressaltou a importância do segmento fashion. “Moda é feita por homens e mulheres que colocam no seu trabalho muita paixão e por empresários que tem a coragem de acreditar no setor mesmo quando isso não é fácil”, disse ele, destacando que é preciso “superar os esteriótipos sobre as pessoas que trabalham nessa área”. Renzi defendeu, ainda, que os valores do passado devem estar presentes sempre. “A moda ou é inovação ou não é, ela mostra o futuro da Itália, que não vive de nostalgia, mas de curiosidade e é mais inovadora que tradicional”, afirmou.
Pois bem, após o start, na própria quarta-feira, 24, as primeiras marcas apresentaram suas coleções. Até agora, já vimos Gucci inovar com grafites do artista Trouble Andrew, as listras horizontais voltando a cair no gosto dos fashionistas graças ao Kaiser Lagerfeld e seu desfile na Fendi, muitas new-faces brasileiras nas passarelas – destaque para Lorena Maraschi, Isabella Ridolfi e Angélica Erthal, novas queridinhas de Miuccia Prada -, desfile performático com direito a peças queimando e até um vestido-candelabro na passarela da Moschino e um pequeno acidente que deixou Gigi Hadid com os seios de fora em pleno catwalk da Versace. Vamos aos fatos:
Gucci
Corre à boca miúda entre os fashionistas que Alessandro Michele, diretor criativo da Gucci, apresenta sempre “mais do mesmo”. De fato, a boataria foi comprovada na passarela, através de looks monocromáticos – com direito a chapéu e meia-calça -, conjuntos de alfaiataria, vestidos de paetês, óculos de nerd, bordados chineses e outros elementos que já são a cara da marca, com poucas novidades. Não que o “mais do mesmo” não seja bom: a fórmula que o estilista encontrou para a mulher Gucci desde que assumiu o cargo, em janeiro do ano passado, funciona dentro e fora da catwalk e é sempre elegante e cheia de peças desejáveis.
O outono-inverno 2016/17 da marca italiana – primeiro grande nome a desfilar na semana de moda de Milão – trouxe roupas com cara de brechó, mas com modelagens reinventadas que dão o ar de modernidade. Além disso, o grafite do artista Trouble Andrew chamou atenção ao estampar sobretudos, terninhos e vestidos. As referências da Gucci foram um mix bem entrosado entre a disco music – com detalhes de séculos passados e ar renascentista e a Studio 54, famosa boate novaiorquina dos anos 70. “O Renascimento chega ao Studio 54”, explicou Michele, antes de apresentar vestidos com brilhos, bordados em paetês, detalhes em penas, franjas, meias coloridas, megaplataformas, babados, jacquard, quimonos modernos e desenhos de cobras e corujas. As mangas bufantes e os shapes rebuscados refletiram a nobreza dos séculos passados, enquanto a explosão de cores que iam do rosa ao verde garantiu modernidade. Bingo.
Roberto Cavalli
A segunda coleção de Peter Dundas como diretor criativo da Roberto Cavalli teve como inspiração o início dos anos 70, mas com um clima rock-chique. Maxicasacos, alfaiataria e vestidos – todos usados com muitas sobreposições, chamaram atenção em materiais diversos como lurex, jacquard, seda, renda, veludo e pelos. A cartela de cores da coleção é escura, com tons de azul, marrom, verde e roxo. Quase todos os looks vieram com detalhes ou até mesmo peças principais em animal print, supertendência na passarela de Cavalli. Além disso, muito mix de estampas, transparências, metalizados, patchwork, florais riscaram o catalk.
Fendi
Junte a teoria da onda gravitacional de Einstein com as criações inspiradas de Karl Lagerfeld e temos a coleção de outono-inverno 2016/17 da Fendi. A marca, conhecida como um dos maiores selos de luxo da Milão Fashion Week, trouxe looks com pouco conceito, mas muita coerência. “O que precisa de explicação, não merece ser explicado”, disse o Kaiser, citando Voltaire. As listras horizontas com inspiração no céu vieram em versões para todos os gostos – e até mesmo para quem torce o nariz! Estreitas, largas, com babados complementares ou lisas, elas prometem ser o desejo da temporada, quebrando todos os paradigmas. Casacos texturizados, estampas e bordados florais e pelos coloridos também chamaram atenção na passarela, que contou com tops do nível de Kendall Jenner, Mica Arganaraz, Binx Walton, Jamie Bochert, Alexandra Elizabeth, Lineisy Monteiro – que é uma das recordistas da estação – e outras. A cartela de cores foi contrastante, com tons de roxo, azul e ocre misturados aos vibrantes turquesa, laranja, amarelo e rosa. Branco também teve sua vez na coleção, mas o metalizado acobreado no final da apresentação foi o que despertou todos os olhares.
Emilio Pucci
A segunda coleção de Massimo Giorgetti à frente da Emilio Pucci – após substituir Peter Dundas que, por sua vez, fez a segunda temporada na Roberto Cavalli – veio colorida e muito estampada, bem a marca registrada de Pucci. Massimo trouxe um ar mais jovial à grife, com estampas florais-geométricas representando o ritmo da velocidade urbana e blocos de cores com muito azul, laranja, verde, amarelo e vermelho. O jogo de proporções ficou por conta dos casacos oversized usados com vestidos mídi e os macacões deram uma pegada esportiva e dinâmica à coleção. As estampas inspiradas em paisagens lunares e nos alpes fizeram contraste com o clássico tema Pucci e coloriram vestidos, casacões e calças. As matérias-primas? Seda, veludo e muito pelo!
Prada
Miuccia Prada seguiu o tema da coleção masculina e trouxe marinheiros novamente à catwalk. Dessa vez, ela decidiu retratar a mulher “que de manhã recolhe os pedaços do que já foi e do que é atualmente e os veste”. Ou seja: que une, ao longo da vida, várias personalidades, resultado de sua história. Para isso, ela teve a ajuda do artista Christophe Chemin – que, na coleção masculina da marca, desenhou as estampas das peças contando a história da humanidade. Na passarela de Miuccia, o masculino e o feminino se misturam da mesma forma que o mix de texturas e acessórios trabalhados. A ideia romântica aparece em modelos que unem a força e a sensualidade, como as saias lápis e os modelos mídi – sempre com cinturas marcadas por espartilhos e cintos largos que penduravam chaves e carteiras. “É sobre onde estamos e onde queremos estar: queremos ser femininas e sermos comandadas ou queremos ter o poder?”, disse Miuccia, ao explicar a coleção. Camisas com motivos havaianos em lamé, chapéus de marinheiros, casacos militares e em tweed e detalhes em pele foram combinados com veludos e meias-calças de lã bordados em quadriculado e usados com sapatos estilo boneca e botas amarradas com salto anabela. As estampas de flores, cactus, sol, frutas, beijos e formas femininas foram inseridas tanto em peças delicadas como em jaquetas esportivas e o alerta fashion ficou por conta dos dourados jacquard e de veludos. O que mais chamou atenção no desfile mais aplaudido da temporada foram as it bags transpassadas na altura da cintura – que inauguraram uma nova silhueta – e as bolsas em versão mini, penduradas junto aos colares e cintos. Esses acessórios, aliás, já estão disponíveis para compra nas lojas e no e-commerce da grife. Ah! Vale destacar que, em tempos de escassez de novas modelos brasileiras nas passarelas, a Prada colocou três promessas verde e amarelas nas passarelas internacionais.Lorena Maraschi, de 18 anos, abriu o desfile e, ao lado de Isabella Ridolfi e Angélica Erthal, tornaram-se queridinha de Miuccia.
Moschino
A moda mata. Essa foi a frase escolhida por Jeremy Scott, que, em alusão àquela que fala sobre os perigos do cigarro, brinca com o vício fashion. “Estava pensando em cigarros e no vício das pessoas pela moda”, contou, nos batidores de um desfile performático realizado em um cenário barroco com direito à móveis antigos e tapetes persas. Enquanto um vestido soltava fumaça, outras peças foram chamuscadas e uma modelo surgiu em um vestido candelabro! Looks dramáticos, muito couro, tramas de correntes e pérolas que formavam um esqueleto humano e bastante preto compuseram a coleção. Scott deu um toque fetichista às peças com botas de verniz acima dos joelhos. A parte mais colorida ficou por conta de tecidos brilhosos, maxi laços, saias curtas na frente e compridas atrás e volumes. Em um inverno afastado das criações pop como Barbie, Bob Esponja, Meninas Super-poderosas e outras pelas quais é conhecida, a marca levou até mesmo um smoking feminino à passarela – destruído, claro, ou não seria a irreverente Moschino. Cases para celular em forma de cigarro e estampas de fósforo conferiram um toque divertido à coleção.
Versace
A Versace apostou na sensualidade urbana, unindo os estilos esportivo e casual. Sem medo de ousar, Donatella Versace apostou em vestidos cheios de fechos que podem esconder ou revelar a pele. Com um casting estrelado de nomes como Kendall Jenner, Gigi Hadid, Adriana Lima, Karlie Kloss, Taylor Hill e outras, a grife apresentou minissaias de couro que, usadas com casacos compridos, garantem sensualidade na medida. Looks total black fizeram contraste com outros de tons candy colors e a referência barroca ficou por conta das estampas de impressão gráfica – que, algumas vezes, chegaram a tomar looks inteiros. Nos pés, saltos metálicos foram a grande aposta enquanto a it bag da vez foi a Versace Palazzo Empire. Durante sua segunda entrada no desfile, a bordo de um vestido preto com bordados coloridos nas laterais, Gigi Hadid sofreu um pequeno acidente que deixou seus seios à mostra. Apesar do rasgo na peça, a top continuou a andar como se nada tivesse acontecido e, em seguida, riu de si mesma nas redes sociais: “Acidentes que expõem partes íntimas acontecem na passarela todos os dias de fashion week… Infelizmente (risos), mas vamos falar sobre as novas gargantilhas Versace”.
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