Estamos vivenciando tempos em que palavras como união, solidariedade, fraternidade, sororidade e empatia têm se transformado em ações. Sentimos também nesses meses de pandemia a busca pelo autoconhecimento para a mudança de padrões. Vibracionais, inclusive. E Schutz ao lançar o manifesto e a campanha “What’s your deep truth?” propôs um convite para as mulheres despertarem um diálogo saudável em torno das múltiplas verdades que habitam cada uma delas. Conversei sobre todos esses temas com Valentina Sampaio, a primeira modelo transgênero a ser capa da Vogue Paris, e que foi convidada a integrar esse manifesto e campanha ao lado de Lara Lisboa. E Valentina abriu o coração: “Enfrentei muito preconceito. Mas, se antes tudo que passei me machucava, agora, eu sinto que me deixa ainda mais determinada e focada para ter força e lutar para que não aconteça mais para mim e para a minha comunidade trans. Esta causa sempre vai estar comigo, porque levanto essa bandeira. A minha luta é a luta de muitas”.
Nas mais lindas fotos e short films de “Whats Your Deep Truth?” como parte integrante do Verão 2021 da Schutz, Valentina é protagonista de Deep Bold, com destaque para o sneaker NINETY, modelo de shape casual com linhas athletic, inspirado nos anos 90. Este traz recortes modernos, linhas arrojadas e costuras marcantes, além de toques de cores vibrantes. O drop também traz a The 95 Black nas versões crossbody e shopping bag, dois modelos com presença e estilo.
No filme que deu start ao manifesto batizado “Whats Your Deep Truth?”, Valentina diz uma frase capaz de reverberar em alta potência para muitos (muitas): “É na minha vulnerabilidade que encontro forças e equilíbrio. E precisamos de um mundo com mais respeito em que você possa viver como é”. Lembro de quando Valentina começou a carreira, que alçou voos internacionais, e ela já falava sobre a luta contra o preconceito que sentiu na pele desde a adolescência, na pequena cidade de Aquiraz, no Ceará. Hoje, ela já fala sobre a sociedade estar em sinergia maior com a diversidade, mas reconhece que ainda existe um longo caminho a percorrer quando se trata de representatividade LGBTQ+.
Só para vocês terem uma ideia das conquistas de Valentina nos últimos anos, ela foi a primeira modelo a estampar uma capa histórica da Vogue Paris com o título: “A Beleza Transgênera”, com um editorial de 18 páginas. Ainda a primeira mulher trans na Sports Illustrated, na Swimsuit Issue. Mais? Em 2017, ela foi protagonista do longa-metragem “Berenice Procura”, contracenando com Vera Holtz, Eduardo Moscovis e Claudia Abreu, e fez participação na novela O Sétimo Guardião, de Aguinaldo Silva, como uma modelo sedutora no sonho do delegado Machado (Milhem Cortaz).
Valentina é puro ativismo em prol da comunidade trans. Em tempo: o Brasil está no topo do ranking de países com mais registros de homicídios de pessoas transgêneras. E ela afirma que com sua voz tenta transmitir mais amor, compreensão e aceitação. E ainda em sinergia com a proposta da campanha “Whats Your Deep Truth?”, eu pergunto à modelo: “Qual o seu sonho?”. E Valentina revela: “Ter uma fazenda. Desde criança, eu sempre amei me dedicar aos animais”.
E vem com a gente para este pingue-pongue com Valentina Sampaio:
Heloisa Tolipan – O Grupo Arezzo&Co tem sido pioneiro em apoiar grandes causas e movimentos sociais. O que temos hoje são mulheres reconhecidas irmãs e que lutam juntas em prol da ética, do respeito e da justiça. E você participou do manifesto e campanha “What’s your deep truth?“, da Schutz, permeados pela valorização também do autoconhecimento neste momento que atravessamos com a pandemia. Como a sororidade é parte integrante da sua vida?
Valentina Sampaio – Venho de uma família grande. Somos sete irmãos e com uma união muito grande. As mulheres de minha família sempre foram muito fortes.
HT – E viajando pelo mundo como tem manifestado o seu amor a quem sempre cuidou de você?
VS – O meu maior amor nessa vida é a minha família. No entanto, em função da profissão que abracei tenho estado muito pouco com todos. Graças às chamadas de vídeo diárias e o grupo do Whats App eu me sinto acolhida e também posso expressar o meu amor.
HT – Como foi sua saída da pequena Aquiraz, no Ceará? Enfrentou preconceito e discriminação em sua vida?
VS – Sim, sim! Enfrentei muito no trabalho. Mas, se antes tudo que passei me machucava, agora, eu sinto que me deixa ainda mais determinada e focada para ter força e lutar para que não aconteça mais para mim e para a minha comunidade trans.
HT – Como tem sido a sua relação com a família nesses tempos que passamos de isolamento social?
VS – Com o cancelamento de vários trabalhos nos Estados Unidos e, antes do lockdown em Nova York, eu consegui ir ao Brasil e estar com as pessoas que mais amo na vida.
HT – O Brasil registra uma morte por homofobia a cada 23 horas e as redes sociais estão repletas de ódio. O que você tem a comentar?
VS – Hoje em dia, o poder das redes sociais aumentou muito e tem pontos positivos e negativos. Os positivos, por exemplo, são movimentos como o #MeToo contra o abuso sexual que mobilizou as pessoas a quebrarem o silêncio contra seus abusadores. E sinto que, por causa desse movimento, até no mundo da moda as relações estão mais transparentes. O lado negativo, na minha opinião, são os haters e a patrulha nas redes sociais. Queria um pouco mais de amor com tudo o que acontece hoje. Muitos não gastariam tanto o tempo odiando o próximo. (O movimento #MeToo ganhou força em 2017 quando a atriz Alyssa Milano publicou no seu twitter um pedido para que todas as pessoas que já sofreram assédio sexual usassem a hashtag #MeToo)
HT – Você apoia causas sociais? Quais?
VS – Todas as da minha comunidade e aquelas que respeitam a diversidade.
HT – E como você trabalha o respeito à diversidade, que inclui o combate ao racismo, à intolerância religiosa e à LGBTfobia?
VS – Eu trabalho sempre levantando a bandeira das minhas lutas e tentando de quebrar todas as barreiras que enfrento. E tenho certeza que, na minha carreira, ainda que nova, já consegui quebrar muitas.
HT – Ser famosa aumenta a responsabilidade em uma sociedade?
VS – Com certeza aumenta. Ainda mais no meu caso. Não sou a única a quebrar barreiras no mundo da moda, mas ainda somos bem poucas da nossa comunidade.
HT – O que pensa sobre o futuro dos desfiles pós-pandemia? Acredita que serão híbridos com presencial e virtual? Como você trabalhou durante a pandemia?
VS – Acho que os desfiles presenciais vão voltar ao normal. Agora mesmo já integrei o cast de fashion shows na Europa e tinha público. Mesmo reduzido e seguindo os protocolos de saúde. Por enquanto, eu estou trabalhando bem. Claro que até em um shooting temos que fazer o teste Covid-19, mas é importantíssimo para o mundo todo.
HT – A pandemia tem mostrado as desigualdades. Afinal, nem todos têm ou tiveram condições de se manter isolados. E, estatisticamente, nas regiões menos favorecidas contabilizamos mais mortes. O descaso com que autoridades e a maioria da população vêm tratando o tema aponta para uma completa incompreensão da complexidade do momento que atravessamos. Sairemos melhor dessa?
VS – Espero que sim, Eu vi o caos total em todo o mundo, mas confio ainda no ser humano e que tentará melhorar a sua condição.
HT – Mudou sua forma de consumir moda com a pandemia?
VS – Meu consumo foi totalmente feito de forma digital. A pandemia mostrou a força do e-commerce para todos os tipos de compras de produtos. Não só na moda.
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