* Com Maria Eugênia Gonçalves
A organização do Minas Trend acaba que soltar o balanço da 15ª edição do evento, que terminou neste último final de semana em Belo Horizonte. Na nota, é ressaltado o aumento do número de expositores de 44% em comparação com o outono-inverno anterior, com 228 marcas expondo seus produtos e comemorando um aquecimento de negócios para a próxima temporada, ainda que diante de um mercado cauteloso, devido ao ano atípico. Para o Presidente da Fiemg – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, realizadora do evento, Olavo Machado Junior, “mais uma vez o evento reforçou sua genuína vocação ao promover e estimular a indústria de moda e acessórios brasileira”. Segundo ele, “criar um ambiente favorável aos negócios e que privilegia produtos com alto valor agregado, que aumenta a competitividade e visibilidade dos fabricantes, é o principal objetivo do evento. Os resultados positivos desta edição confirmam que estamos no caminho certo”. Durante a semana da feira, HT circulou pelos corredores e registrou os principais lançamentos.
De cara, é possível constatar que, embora o salão de negócios mantenha sua vocação enquanto plataforma de lançamentos de roupa de festa, os expositores deram um tempo na overdose de pedraria e bordados, reduzindo o excesso de aplicações que configurou as últimas estações e preferindo substituí-lo por uma pegada étnica. Sinal de recessão? Não se sabe ainda. Marcas como a Vivaz e Mabel Magalhães não aboliram o brilho em suas roupas, mas reduziram bastante a decoração de produto nas coleções de inverno, ainda que algumas, como a Kalandra, ainda insistam na fórmula de bordados sobre tule que vinha consagrando o MTP. Afinal, mesmo em queda, tipo de produto não desaparece nunca das araras. Ainda assim, está decretado: podem vir as Fridas, Marias e Mercedes. Se depender do evento, o próximo inverno traz a América caliente ao centro das vitrines. E mesmo as flores – outra forte influência constante nos estandes – comparecem nessa pegada, se misturando com grafismos tribais originários do México e América Central.
As irmãs Isabela e Celia Bicalho, sócias da UH Premium, empresa sediada em Belo Horizonte, fazem parte da turma que comemora os bons resultados de vendas. Para Isabela, foi um acerto enfatizar o espírito étnico, que já está nas lojas nesse verão, mas que continua presente na próxima estação: “Esse tema vai dar uma crescida. A peças continuam cheias de aplicações manuais e dando um trabalho danado para serem feitas, mas o caminho é por aí. Não adianta, essa é a identidade da moda mineira Temos richelier, renda diversas, muito bordado, um pouco de metal. Isso não sai. Mas esse espírito navajo está com tudo e deu uma boa mexida na cara da roupa”.
Toninho Diniz, da Fleche D’Or, empresa que surgiu há dois anos e está presente na feira desde o seu lançamento, concorda com Isabela: “Estamos indo bem. Aqui não é um salão de badalo, a clientela que vem é dirigida, mas percebo que, se a estampa digital continua em alta, a maneira de bordar deu uma mudada. Caem os exageros e toda renovação é boa, até porque o uso constante de aplicações encarece os custos e estamos vivendo um período de crise. Dessa vez me inspirei até no medieval, nos contos de fada que andam com a corda toda nos seriados da TV e no cinema. E também em ‘Game of Thrones’, série que tem legião de fãs”, enfatiza o designer.
Na contramão da vocação mineira para a riqueza de detalhes, expositores cariocas como Mara Mac e Alessa exibiram coleções limpas, procurando valorizar a modelagem. Se a primeira é minimalista, a segunda mantém a estamparia como carro-chefe. Mas, segundo ambas, o resultado foi bom, revelando que nem só de aplicações handmade sobrevive o Minas Trend, embora esse seja o principal atrativo para o lojista que vai lá montar seu sortimento. “O cliente quer ver primeiro o trabalho manual, que é a marca de quem está sediado na região. Mas não compra só isso, vai além”, observa Mara.
Mineiro até a raiz dos cabelos, mas apaixonado por estampas, Victor Dzenk concorda: “Embora eu tenha aplicações, minha coleção versa muito mais pela riqueza de grafismos e detalhes de modelagem, como drapeados, do que pelos brilhos. Dessa vez, inclusive, a inspiração na equitação e na selaria me pedia que eu fosse mais comedido nos excessos. Deu certíssimo!”, afirma o estilista, que trouxe como principal influência o cavalo Mangalarga Marchador. “Ele é mineiríssimo!”, brinca, destacando em seguida que, se o animal print não sai da moda, então prefere agora fugir das oncinhas e zebras tradicionais e cair na reprodução da pelagem do equino. “Acho fofo!”, diz ele, mostrando que texturas de casca de árvore pode virar também estampas riquíssimas.
Nesse caminho, a Scarf Me, que ampliou seu sortimento de acessórios para linha de roupas a partir dos lenços e echarpes, comemora o resultado: “Estamos indo bem, a visibilidade aumentou com a feira e os clientes estão gostando do que trouxemos. Sem dúvida, eles estão amando as nossas estampas e é essa verve étnica que está chamando mais atenção”, diz Adriana Leonzini, coordenadora de estilo da marca.
O potiguar Wagner Kallieno, que desfile na SPFW daqui a duas semanas, é outro que vai na contramão do preciosismo artesanal que caracteriza a criação mineira, mas celebra o Minas Trend: “Vendo muito bem aqui na feira, que é ótima para abrir novas frentes. Aqui consigo mostrar uma diversidade de produtos que no fashion show de São Paulo não posso, por conta da edição de moda que preciso fazer para a passarela. Essas duas estampas aqui, por exemplo, estão bombando, assim como esse paetê azul!”
Amanda Ferrari, diretora de marketing da Authoria, marca especializada no público jovem sediada em Blumenau e pela primeira vez no evento, é categórica: “Viemos mais para ampliar nossa visibilidade e fazer contatos. Nesse campo, a feira está tendo ótimo resultado. Vou voltar”. É o caso da Civil Jeans, de Belo Horizonte, que era novata na edição passada e agora participa pela segunda vez: “O balanço é bom. Lançamos a linha masculina, prospectamos novos cliente e vejo um aumento de 5%”, conta Pedro Rabello, diretor da empresa.
Mas, se para a turma do vestuário a limpeza de decoração marcou esta edição, para os fabricantes de acessórios o caminho foi inverso. “Com uma roupa mais limpa, os acessórios tendem a ficar mai exagerados”, ressalta Juliana Lins, do marketing da Donna Brasil, empresa especializada na produção de clutches para festas. “Temos modelos em uma média de R$199, com preços variando entre R$99 e R$899, o que é bacana já que muitos itens tem cristais aplicados à mão. Estamos vendendo bem as peças forradas em cetim e com padronagens tribais e de cobra, mas nosso carro-chefe é a pedraria mesmo”, conta.
Diante do destaque dado aos acessórios, a paulista Monica Di Creddo, que costuma criar bijoias bem vistosas, afirma que o momento está favorável para maxi brincos e maxi colares: “Os dois dão trabalho enorme para fazer, mas as clientes estão querendo esses itens pontuais”, revela, completando que os braceletes, para ela, estão em baixa. “A mulher brasileira prefere um braço cheio de pulseiras, ao invés de uma peça larga, tipo Cleópatra. Faço um ou outro porque é preciso ter na coleção, mas não é o que está saindo mais”, destaca, mostrando a coleção inspirada na icônica Loulou de La Falaise.
Para Ana Lígia, proprietária da SD Design, de Natal, “as maxi bijoux continuarão em voga por um bom tempo”, mas ela ressalta a importância atual dos adornos para cabeças no dia a dia, e não apenas no segmento de festas: “Tiaras e acessórios como pentes com cristais são o que há e já estou antecipando algumas coisas que vi lá fora. O desfile do Dolce & Gabbana, por exemplo, trouxe rabos de cavalo com giga-broches que podem ser vistos aqui e agora. A onda das peças graúdas vai continuar por um bom tempo. Estamos chamando de giga colares e giga brincos”.
Já Toni Barros, a cabeça à frente da Mon Cher, de São Paulo, acredita que isso é reflexo de uma tendência global: “A opção por peças enormes já está aí há pelo menos três estações e acho que sigo por este caminho mais algum tempo. Atualmente a tônica são os brincos enormes, mas os maxi colares continuam e a mulher nem está ligando mais para um decote que segure um acessório mega. Jerusa Gomes, da marca de mesmo nome, completa: “Brasileira adora volume no acessório, e os braceletes só não pegam mais por conta das mangas dos casacos. Acho que os braços ficam mais expressivos nas coleções de verão, porque a roupa é mais pelada nessa época”.
Tatiana Arrigoni, proprietária da T. Arrigoni, de Itu, faz coro com Monica: “São as peças graúdas que saem mais. Ou aquelas que tem uma pegada gráfica, assim como a roupa. Minha linha de colares, aneis e brincos com ilustrações de olhos inseridas nas peças está indo bem, assim como essas peças que evocam os camafeus antigos”. A empresária, que produz cerca de mil peças por mês, contratou a badalada ilustradora Luisa Aguiar para criar os desenhos que foram aplicados nos acessórios em metal. “Como estudei design gráfico antes de me tornar designer de acessórios, esse viés da Belas Artes vem no meu sangue. Daí esse espírito vitoriano e art nouveau na coleção, que eu amo!”, completa.
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