Logo depois de uma mesa de discussão em plena praça central do Fashion Mall, que contou com a presença de nomes como Antonio Schuback, stylist do Dream Team do Passinho, Yasmin Vilhena, DJ, gestora de marketing digital e sócia da multimarcas online Altlaw, e da stylist e cantora Marina Franco, mediados por Alessandra Marins, fundadora do Instituto Rio Moda, a programação do Rio Moda Discute Internacional 2016 continuou a todo vapor pelo shopping. Além de o projeto “A música que você veste” ter tomado os corredores do local, o Teatro Fashion Mall ganhou presenças especiais para discutir “design e styling: a influência da música na moda”. Adriana Bozon, diretora criativa da Ellus, Karina Mondini, estilista da Farm e Carol Roquete, personal stylist da Anitta, sentaram-se ao lado da apresentadora Maria Prata para mostrar, na prática, como a música influencia diretamente nas tendências. “A moda sempre pega emprestadas referências de várias demonstrações culturais, mas a música é a mais popular, de maior alcance. Nem todo mundo vai ao cinema, pouca gente frequenta exposições de arte, mas todo mundo ouve música e se influencia por ela na hora de se vestir”, disse Maria Prata, antes de chamar as convidadas ao palco.
Adriana Bozon foi a primeira a explicar que o rock ‘n roll e outras influências musicais foram fundamentais para construir a imagem tão sólida que a marca tem hoje no mercado. “Vamos fazer 45 anos de história na moda brasileira. Em 1972, o Nelson Alvarenga reuniu uma galera hippie pintando e bordando camisetas no fundo de um quintal. Isso tudo na época do Woodstock, a era dos grandes monstros da música. Isso inspirou a história dele e da marca. A partir daí, a Ellus sempre manteve relação forte com a música. Patrocinamos a banda de punk rock Made in Brazil e uma turnê dos Novos Baianos nos anos 70”, lembrou ela. Nos anos 90, a marca continuou com sua identidade musical forte e fez sucesso com o comercial “tire a roupa para quem você gosta”, com trilha da Rita Lee. “Ela estava no auge e esse comercial fez muito sucesso. Depois trouxemos a Grace Jones para o Brasil e, na semana de moda de 1999, a Cássia Eller desfilou com um visual meio punk em um momento que a gente estava fazendo uma roupa híbrida, masculina e feminina”, contou.
Em 2001, outra parceria musical marcante: “Chamamos o Arnaldo Antunes para fazer uma coleção com bordado manuais em silk e à máquina. No desfile ele recitava um poema”. Pensa que acabou? “Em 2006 fizemos um desfile-show de rock no parque do lado de fora do Ibirapuera. Formamos uma banda com a Geanine Marques e outros e fizemos uma trilha especial para o desfile”, contou ela. De lá para cá, teve muito mais. Em 2008, a marca invadiu o Theatro Municipal e misturou uma trilha digital com um coro ao vivo de 40 vozes masculinas. “Um dos componentes mais importantes de qualquer desfile é a trilha”, destacou Adriana. É visível que a Ellus leva essa relação a sério. “Fizemos uma linha de camisetas para o Sonar, temos licenças de bandas como Ramones, Rolling Stones. Além disso, já assinamos o figurino do Sarau do Carlinhos Brown, temos parcerias no Expresso 2222, no carnaval de Salvador, e em camarotes do Rock in Rio, fora as celebs que vestem nossas camisetas, como Ivete Sangalo, Karol Conká, Pitty, Wesley Safadão, Anitta e outros. Sempre apoiamos a música, vestimos bandas”, listou.
Falando na poderosa, a stylist Carol Roquete contou, no palco, como a roupa influencia na imagem de uma celeb. “Eu trabalho há dez anos no universo da moda, mas fazia mais editoriais em revistas. Não tinha isso de vestir alguém. É totalmente diferente. Fui apresentada a Anitta por um amigo e trouxe bastante referência para o estilo dela”, contou Carol. As principais? “Madonna, Rihanna, muitas elementos do Japão – cores, formas e texturas. No street style a gente pega as maiores referências. A referência está na rua, em tudo que a gente vê, respira e ouve”, entregou. O estudo foi tanto que, agora, Anitta já arrisca seus próprios passos: “Agora ela está criando uma coleção em parceria com uma marca de jeans. Ela já fez uma campanha com a Arezzo e uma coleção para a Denúncia. A Anitta está cada dia mais envolvida com a moda. No dia a dia a gente se preocupa muito com o que ela veste, hoje está todo mundo de olho pelas redes sociais”, afirmou. Por isso, não é só no palco que a popstar se preocupa com as roupas. “A relação dela com a moda mudou bastante”, destacou Carol, que explicou: “Antes ela usava muito shortinho, top e boné, que era bem funk mesmo, a gente teve que desmontar tudo para reconstruir a imagem, por isso brinco que não deixo ela usar boné (risos), os fãs reclamam. Mas vou liberar”, brincou.
Karina Mondini, da Farm, trouxe um case especial, a coleção “Velvet Caju”, que a marca criou em parceria com Céu. “Foi nossa primeira criação com uma artista. Para uma marca com 70 lojas é uma responsabilidade muito grande, tem o comercial, não dá para arriscar. Ousamos com a Céu, porque pensamos em fazer algo para emocionar, que é a nossa missão. Essa parceria foi uma comunhão, a convidamos para um show em uma convenção e começou o namoro. Gostávamos da música dela, começamos a fazer uma pesquisa e nos apaixonamos pelo Caravana Sereia Bloom. Só com esse conceito já daria para fazer uma coleção inteira, é muito rico. Ela, a música, a moda, é inspirador. Palavra é imagem e a Céu representa muito a Farm”, explicou.
A mistura de referências contou com muito brainstorm. “Criamos uma pasta no Pinterest e colocamos imagens que tinham a ver com a Céu. Na cabeça da Kátia Barros, sócia fundadora, ela tinha uns elementos de sereia, para mim tinha algo de Jimi Hendrix e ela chegou com os elementos dela mesma e casamos tudo. A mãe é artista, o pai é músico. A Céu tem uma história riquíssima, vai na raiz das coisas, é simples, tem tudo a ver com a Farm, os mesmos códigos e características”, destacou Karina. O processo foi intenso. “A Céu desenhava desde pequena e ela mesma rabiscou os silks das camisetas. Fizemos uma jaqueta bem parecida com uma do Jimi Hendrix, vieram de referências do armário dela. Ela queria fazer uma estampa pincelada, foi e fez. Sugeriu um colar todo de paletas e a gente gostou tanto que fizemos vários acessórios de paletas”, contou.
O resultado? Um lookbook criativo feito por Lane Marinho. “A Céu tomava um licor de caju com o avô e o veludo era uma vontade nova dela, de moda. Ela é ótima de misturar referências, tem um Pinterest que chama ‘tropical caju wine’ e o vinho entrou na cartela por isso. Ela adora blazer e tem usado bastante a coleção nos shows”, afirmou. Falando em shows, o lançamento do novo CD, “Tropix”, coincidiu com o da coleção. “Para o disco ela se inspirou muito no rock ‘n roll e a gente trouxe um pouco disso também. A construção de imagem do Tropix foi muito ligada à moda, então juntou duas forças. Esse trabalho ficou sensacional, feito a partir de vontades e ideias, exatamente como a gente fez a coleção. Ela trouxe o universo tecnológico e sua verdade tropical. Juntar essas duas coisas sem ficar obvio é um trabalho de construção intenso”, revelou Karina.
Maria Prata também endossou a influência que a música tem no meio fashion: “Vamos pensar o que está acontecendo no mundo? Madonna está usando Givenchy, Katy Perry está usando Jeremy Scott, Pharell está lançando moda, Kanye West está fazendo moda, e, no Brasil, o funk está influenciando as tendências…”, listou. Depois de uma reunião que desvendou o processo por trás do rock ‘n roll, do pop-funk e do Tropix, não tivemos dúvidas: a moda e a música estão sintonizadas. E a frequência é intensa.
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