Em nome do rock ou da modinha? Camisetas do Ramones e com rótulos de whisky são uniforme no Rock in Rio

Por Beatriz Medeiros

As instruções na hora de escolher a roupa para curtir um longo festival ao ar livre como o Rock in Rio e em uma cidade quente como o Rio de Janeiro são sempre as mesmas: roupas leves e confortáveis, acima de tudo. Mas, nesta edição, é só andar um pouco pelo gramado sintético para acreditar que mais uma dica foi incluída na cartilha: “aposte em uma camiseta da banda Ramones ou com o rótulo do whisky Jack Daniel’s”.

Entre metaleiros, fãs do pop da diva Beyoncé, hipsters ansiosos por Gogol Bordelo ou roqueiros tietes de John Mayer, durante os dois fins de semana do festival sentimos como se a Cidade do Rock tivesse se transformando em um enorme fã-clube dos roqueiros cabeludos que brinda os sucessos do grupo com boas doses de whisky. Mas, na verdade, a motivação por detrás do peito estampado está bem distante da devoção pela bebida ou pelo quarteto punk – pelo menos entre a maioria dos consultados por nós.

“Eu me visto muito mal, mas pedi para uma amiga me ajudar a escolher uma roupa para vir ao Rock in Rio e ela me emprestou essa camiseta porque disse que tinha o clima do festival. Eu já ouvi falar da banda, claro, mas só conheço aquela música mais famosa, do ‘Hey, oh, let’s go'”, nos confidenciou a estudante Mariana Nakazoni, de 19 anos, se referindo ao hit ‘Blitzkrieg bop’. A moradora de Rio das Ostras Ana Paula Rodrigues, de 18 anos, elegeu o show de John Mayer para estrear a camiseta que conseguiu comprar depois de muita procura e, ao chegar aqui, ficou levemente envergonhada – ainda mais depois que ouviu as amigas constatando que “todo mundo está usando” a estampa. “Lá na minha cidade as novidades demoram um tempo para chegar, né? Estou há alguns meses procurando essa blusa, mas só consegui encontrar agora, justamente na época que estourou e virou moda”, explicou.

Já a jornalista Marina Cohen, de 25 anos, se orgulha em dizer que o Ramones foi uma parte importante de sua adolescência – que ela carrega até hoje estampada no peito. “Acho que muita gente está usando essas camisetas porque é uma banda que sintetiza o rock e também é uma estampa mais fácil de encontrar. A maior parte das pessoas que vestem conhece muito pouco do grupo e aposta nelas só para entrar no espírito do festival”, acredita a ruivinha, que elege o clássico ‘Pet sematary’, como sua música preferida – tal qual Carlos Eduardo Caminha, de 41 anos. O fã inveterado do quarteto punk tem uma verdadeira coleção de camisetas como a que escolheu usar durante o show de seu outro ídolo, Bruce Springsteen. “O Ramones é a maior referência do rock. Gosto dessa popularização da banda porque acredito que mais gente está conseguindo entender a importância deles para a música”, defende.

Se Carlos não se sente mal com o uniforme, o mesmo não podemos dizer de Francisco Monteiro, de 42 anos, que comprou sua blusa com a estampa do rótulo de Jack Daniel’s há cerca de um ano, em uma viagem a Petrópolis. “Me senti horrível quando cheguei aqui e vi que todo mundo estava igual a mim. Apesar de não gostar de whisky, curto a estampa e nem sabia que estava na moda, até ver o baterista do The Black Mamba usando uma no show da semana passada”, disse, lembrando a apresentação da banda portuguesa que abriu o palco Sunset no dia 14.

A fã de John Mayer Tatiana Mota, de 32 anos, não tem vergonha de admitir que o real motivo por detrás da compra de sua blusa: “Ah, a gente compra tanta coisa porque está na moda e só depois descobre o que significa, né? Mas nesse caso não foi assim, eu já conhecia o whisky por influência do meu marido, que adora. Mas eu comprei mesmo porque está na moda”. E a jovem Mariana Mastrangelo, de 26 anos, segue a mesma cartilha. “Estou fazendo um estilo com essa blusa, mas tenho uma relação com a bebida porque aprende a beber com o meu pai, degustando whisky”, contou.

O espírito roqueiro, o apreço pelo design e o gosto pela bebida fizeram Filipe Fiedler, de 32 anos, começar uma pequena coleção de blusas da Jack Daniel’s. “Essa eu comprei há uns 2 anos e tenho outras parecidas. Além de gostar de beber, acho que representa um pouco do rock ‘n roll”, nos explicou, logo após ser alfinetado pela amiga que o acompanhava: “Ah, a entrevista é porque ele está de uniforme, né? Agora eu entendi”.