Robert Schwenck é um dos profissionais mais badalados e entrega: “Não tem como só o fotógrafo fazer a imagem bonita. É um caminho que depende de muita gente”


Apaixonado por imagens desde pequeno, ele sempre soube que ganharia a vida clicando o mundo. “Tem o lado comercial, de vender, que o mercado exige. Quem é fotógrafo por hobby faz literalmente o que quer, e aí entra a arte, mas eu, que vivo disso, preciso fazer também as demandas dos clientes”

Robert Schwenck é do tipo low-profile. Calmo, atencioso e supertalentoso, não é de provar o que sabe fazer. Pelo menos não até o resultado, que você pode conferir, aliás, aqui, em um editorial exclusivo com Letícia Lima. “Não sou bom marqueteiro pessoal, não sei fazer lobby, me vender, me colocar em rede social, tanto que quase não uso. Às vezes, publico algumas fotos, mas é difícil”, explicou ele, que, recentemente, inaugurou seu site – uma espécie de portfólio online –. “É muito importante para organizar os trabalhos e colocá-los no ar”, disse ele, que, apesar de não ser entusiasta das redes sociais, usa a internet a trabalho. “Sei que o Instagram mudou muito a fotografia e tem muitos outros sites bons como de pesquisa. Hoje em dia, eu procuro trabalhos legais na internet e junto as referências. Admiro várias pessoas. Sebastião Salgado é incrível, acho o máximo os fotojornalistas quando conseguem captar a essência do momento. De moda tem vários também: Steven Meisel, Steven Klein, Annie Leibovitz, que faz retratos de celebridades com uma força. Isso eu amo, mas não sou do tipo que gosta de ficar olhando as pessoas tirando selfie na cama, no espelho”, contou.

Robert Schwenck

Robert Schwenck (Foto: Reprodução/Facebook)

Desde pequeno, Robert sonhava com a fotografia. “Dizia que eu ia ser fotógrafo da Geographic Universal, para viajar de graça clicando o mundo”, lembrou, aos risos. Pois viagens não faltaram: “Nunca achei que tirar fotos pudesse ser profissão. Para mim, era hobby. Até que fiz um curso na Gávea e depois viajei para os Estados Unidos, onde morei por quase um ano, entre cursos e trabalhos. Voltei e comecei a fazer assistência para alguns fotógrafos do Rio, como o Murillo Meirelles, por exemplo. Comecei devagar e fotografei teatro, cinema, produtos, tudo. Mas sempre gostei mais da moda, porque ela nos dá oportunidade de criar”, explicou ele, que, apesar disso, sabe bem: nem sempre faz o trabalho exatamente como deseja: “Tem o lado comercial, de vender, que o mercado exige. Quem é fotógrafo por hobby faz literalmente o que quer, e aí entra a arte, mas eu, que vivo disso, preciso fazer a demanda do cliente”, disse.

Em época de crise, viver de arte não é tão simples: “Crise no mercado de moda? É uma atrás de outra. O Brasil não tem dinheiro, a marca não vende, vai investir como? O momento é achar caminhos novos. A crise faz reavaliar tudo. Estamos em um momento que o que funcionava não funciona mais”, analisou. “E isso afetou, sim, o mercado. Antigamente fazíamos catálogos de 12 fotos e ganhávamos um valor x e, de repente, surgiu o lookbook, de 80 fotos, para ganhar dez x a menos, porque não é publicidade, mas acaba que vira catálogo, porque temos que tratar todas as fotos. Além disso, a chegada do digital trouxe uma geração nova, processos normais de toda profissão, e muita gente trabalha em grupos nesse meio. Então, um tira a foto, outro trata e assim vai. Eu não consigo alcançar o que eles propõem em termos financeiros, porque se eu fizer, fico uma semana tratando a foto e não dá para pegar outros trabalhos. Há uma ‘briga’ entre eles de baixar preços sem limites e eu não estou mais nessa. Mas não tem certo e errado, mercado é isso”, afirmou, emendando que: “Estamos vivendo um processo de transição de tudo. Todas as profissões estão sendo reconceituadas. A fotografia mudou, a câmera é mais simples, a edição mudou, é mais fácil. Antes, se você chegasse no laboratório e o rolo tivesse dado erro, perdia tudo. Hoje, na digital, vemos tudo na hora”, explicou ele, que garantiu: se os meios são mais fáceis, o mercado, pelo contrário, fica ainda mais complicado. “Antes as campanhas tinham um período maior de exposição. Hoje em dia tudo muda rápido. Passou, nem viu, já foi e tem outra”.

Robert Schwenck gosta dos editoriais porque eles dão liberdade de criação (Foto: Reprodução/Facebook)

Robert Schwenck gosta dos editoriais porque eles dão liberdade de criação (Foto: Reprodução/Facebook)

Apesar das dificuldades, Robert não é daquele tipo que acha que para ser bom fotógrafo é necessário ter diversos cursos no currículo. “Acho que todo mundo pode ser fotógrafo. Fotografia é pegar uma câmera, ter um olhar legal e usar uma linguagem bonita. Tem gente que nunca fez curso, mas tem um olhar tão bacana que eu me pergunto ‘por que não?’. Uma boa foto tem vários caminhos. Pode ser por conta da linguagem única de uma pessoa, pode ser incrível, porque tem um tom legal, uma composição bacana, porque fala da pessoa que é fotografada, tira verdade, expressão. Tem mil caminhos, não vejo um critério só”, disse. O principal deles? Energia. “É uma troca, a gente precisa – para ter uma foto incrível – de uma pessoa disponível do outro lado. Não sou paparazzo. Estou trabalhando com a pessoa, então tem que haver comunicação, disposição e vontade de um trabalho bacana”, afirmou.

E tem algum, em especial, que destaque? “Sim. Teve um com o Cauã Reymond na Marinha. Passamos o dia todo lá, viajamos em mil histórias e ficou legal demai,s porque era uma vontade mútua. Tinha troca. Mas também já peguei gente que estava ali só pelo dinheiro. Aí a gente fica tentando trazer a pessoa e não rola, porque ela está de mau humor. Em editorial é bom porque está todo mundo ali por pura vontade, de graça”, explicou ele, que gosta de trabalhar o conceito. “Por isso também foi acontecendo de eu fotografar celebridades. Começaram a me chamar para revistas, agentes de atores me indicavam e fui fazendo um atrás do outro. Tenho a pegada da moda e vou adequando do meu jeito. Eu sempre gostei de fotografar gente e a moda tem essa liberdade de criar e brincar”, disse ele, que, em seu currículo, tem, também, imagens de grandes musicais como “O despertar da primavera”, “Xanadu” e outros. “Cada segmento tem uma pegada, mas o comum a todos eles é o bom olhar, a paciência, o gosto pelas imagens e a prática”, entregou.

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O fotógrafo acredita que um bom olhar e a troca de energia são fundamentais para uma imagem bonita (Foto: Reprodução/Facebook)

Para ele, o melhor em trabalhar com pessoas é a troca. “Lógico que tem que ter paciência, eu já fiz matéria de 15 minutos com troca de roupa, aí fica a correria e é o que tem. Às vezes, alguém chega de mau-humor, tem que ter jogo de cintura. São muitas expectativas juntas, responsabilidade. Hoje em dia ainda é menos, porque não tem o custo de antigamente, de material físico, filme, revelação e tudo o mais. Mas existe uma expectativa, o veículo ou cliente esperando, e, se der errado, a culpa é do fotógrafo”, explicou ele, que defendeu: “Não tem como só o fotógrafo fazer a imagem bonita. É um caminho que depende de muita gente”. Pois, olhando o trabalho, só podemos concluir que o seu tem sido florido.