Rio Moda Rio #Day2: Maria Filó vai ao MAR, Mara Mac traz poesia, Alessa busca William Morris, Isabela Capeto e Andrea Marques reafirmam a carioquice cosmopolita


Roberta Ribeiro, Mara MacDowell, Isabela, Andrea e Alessa contaram pra gente um pouco da coleção, analisaram o sistema de “see now buy now” e deram dicas de como superar a crise econômica

*Com Leonardo Rocha e Julia Pimentel

A quinta-feira (16/06) começou cedo para os fashionistas que estão na cidade para acompanhar o Rio Moda Rio. Com direito a passeio pelo Museu de Arte do Rio, a turma desembarcou na Praça Mauá no começo da tarde de um lindo dia de céu azul para acompanhar a apresentação autorreferencial da Maria Filó. Depois, já nos armazéns do Porto, foi a hora de injetar um pouco de poesia e intelectualidade com a dobradinha Bia Lessa e Mara Mac. Em seguida, Andrea Marques derramou todo o seu universo cool na passarela com uma coleção em homenagem ao Rio. Já Isabela Capeto, outra carioca que não se cansa de levar o Rio para o mundo e fazer a gente se encher de orgulho, apresentou um desdobramento do que vimos na São Paulo Fashion Week. Tudo bem delicado e colorido, como ela – e a gente – ama. Para encerrar a noite, Alessa pegou o designer têxtil do século XIX William Morris pela mão para um passeio pelo Rio. Vem que a gente estava em todos os lugares e conta tudo.

MARIA FILÓ

Dando início ao segundo dia de desfiles da Rio Moda Rio, a Maria Filó escolheu o cenário deslumbrante do Museu de Arte do Rio, o MAR, para apresentar a “Coleção 18”. Pensada por Roberta Ribeiro e sua equipe, o desfile deu início às comemorações dos 18 anos da marca junto ao mercado fashion. Para o evento, que coloca a Cidade Maravilhosa de volta ao circuito, a grife apostou nas tradicionais rendas geométricas, no onipresente tecido jacquard e no tricô, valorizando a beleza feminina junto a poás, listras, babados e jabôs.

“O conceito na verdade são os 18 anos da marca. A gente fez um apanhado de tudo o que a gente tem de melhor, dos nossos detalhes, estampas e o tricô, claro, que é o grande protagonista de tudo o que a gente tem desde o começo. Mas também decidimos inovar misturando renda com o tricô e tudo aquilo que a Maria Filó tem de mais legal, que são os detalhes e a feminilidade”, revelou ela, minutos antes do desfile.

O sistema “see now buy now”, em que as peças da passarela já podem ser imediatamente encontradas para os consumidores nas lojas, tem divergido opiniões, mas Roberta garantiu que a marca se adequou bem à novidade. “Eu acho superimportante, porque você liberar as peças dos desfiles para compra seis meses depois do evento é péssimo, tanto pro varejo quanto para a marca. Hoje mesmo, a gente já está vendendo as peças que vão desfilar nas nossas lojas”, adiantou ela que ainda falou sobre o segredo para superar a crise econômica do país. “Se reinventar faz parte da nossa história. E em um momento como esse, a gente tem que olhar pra dentro e seguir em frente, dando para o cliente a qualidade e o conceito de sempre”, completou.

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MARA MAC

Já a estilista Mara MacDowell, da Mara Mac, apostou em um desfile artístico e totalmente inspirado na natureza, com direção artística da indefectível Bia Lessa. O fundo do mar, os oceanos e a sustentabilidade foram temas, além de pertinentes, muito bem esclarecidos com a fala do físico Luiz Alberto Oliveira, curador do Museu do Amanhã, que fica ao lado do Pier Mauá, onde acontece o evento. Sobre o conceito do trabalho, a estilista explicou: “A minha coleção tem o conceito das marés e dos oceanos. Eu acho tudo do oceano muito bonito: o fundo do mar, as formas estruturais, a fluidez das ondas me trouxeram inspiração. O tema se reflete nas estampas e nos modelos, lógico. Tons de azul, areia e tecidos que trazem movimento compõem as peças da nossa coleção”, afirmou.

A inspiração da estilista para o feito também veio da literatura. “Partimos de uma frase do Carlos Drummond: ‘No mar estava escrito uma cidade.’ A partir daí a Bia Lessa fez todo o trabalho”, contou Mara. Completamente nua, a pesquisadora de cibersegurança Natasha Felizi caminhou sobre uma camada espessa de folhas secas, que cobriam toda a passarela, dando a ideia de liberdade, naturalismo e emponderamento. “A ideia de pegar uma menina nua, vem para mostrar que somos seres simples e puros, e, a partir daí, começa a evolução e a construção do ser humano. A ideia era fazer um desfile que a gente tivesse o conceito de que a natureza é o elemento mais importante. A gente está vivendo um momento do planeta muito grave, a humanidade está completamente desumana. E não falo só do Brasil, em sentido geral mesmo. Esse desfile é isso: estamos aqui para falar sobre o mundo e pensarmos que juntos podemos fazer daqui um lugar incrível”, contou Bia Lessa.

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Bia ainda escolheu encerrar o desfile com duas mulheres também nuas penduradas em balanços no teto do galpão. “O planeta está num momento tão sem ética, que eu quis que a moda levasse uma ideia de beleza, e não de consumo. Saber que a moda tem um conteúdo. Aproveitar um desfile para dizer coisas. A ideia de consumo é o oposto da moda. A moda deveria falar de desejo”, justificou Bia, que escolheu um trecho de ensaio de Hannah Arendt para ser lido no meio do desfile.

Ainda no backstage, Mara Mac aproveitou para falar sobre o que as mulheres podem esperar do verão 2016/2017: “Eu acho que a tendência acabou e a moda segue muito mais democrática. Para a próxima temporada eu aposto em calças de ganchos baixos, saruel e cores vibrantes”, apontou ela, que ainda falou sobre o sistema “see now buy”now, “Eu sou a favor e a minha loja da Gávea já está pronta para atender às clientes que queiram comprar as peças do desfile de hoje. Esse movimento não atrapalha a criação, porque ele é totalmente comercial, não tem nada de artístico”, ponderou.

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ISABELA CAPETO

O tempo continua inspirando Isabela Capeto. Depois de apresentar uma coleção com esse pano de fundo na 41ª edição do São Paulo Fashion Week, a estilista trouxe a mesma temática para sua cidade natal no Rio Moda Rio. “Segue o mesmo tema, mas são totalmente diferentes. A cartela de cores mudou completamente, as modelagens, tudo. Os tecidos acaba que são um pouco os mesmos porque são os que eu gosto de usar: jeans, malha, seda, algodão. A coleção do São Paulo Fashion Week era muito mais sofisticada. Essa também tem esse toque, mas é mais usável, mais carioca”, explicou. “Fala sobre a atemporalidade, a demora – os bordados representam isso. Eu acabo usando peças antigas e customizando de maneira diferente. Acho muito legal a sustentabilidade na moda, reciclar peças. Meu estilo é bem atemporal, não sigo tendências, tenho uma identidade bem própria do que eu gosto e acho bonito”, disse.

Isso dá a liberdade de, por exemplo, pegar um vestido dos anos 40 e customizar. “Eu brinco com as peças. Aqui tem florais – representando a ação do tempo sobre as flores que nascem e morrem, os ovos que também têm esse significado, bocas, beijos, bordado em ráfia que eu amo… é tudo bem a minha cara”, contou ela, que se disse absurdamente feliz em poder desfilar novamente no Rio de Janeiro. “É um tesão. É a minha cidade, então acaba que tudo tem um jeito, alguém traz algo de última hora”, afirmou. Se as peças desfiladas na SPFW já estão nas lojas, essas chegam em cerca de um mês. “Não consigo pôr na próxima semana, até porque não tenho essa produção gigantesca para fabricar tudo assim”, explicou.

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(Foto: Reprodução/Fernando Fraz)

Falando nisso, como é viver de moda em época de crise, Isabela? “É jogo de cintura”, afirmou ela, que vai “se virando”. “É o meu trabalho, a minha profissão. Faço o que dá, outros trabalhos, parcerias com multimarcas, palestras, tudo. Não tem escapatória. Não é só o mercado da moda: todos os meios estão passando por isso. Mas sou superpositiva, acho que tudo vai dar certo e que, daqui a pouco, volta ao normal. Estamos vivendo um momento ruim, temos que apertar os cintos, fazer do limão uma limonada e já já tudo se encaixa”, animou-se. A gente torce.

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ANDREA MARQUES

Com inspiração na Cidade Maravilhosa, a coleção de Andrea Marques, que estava há dois anos longe do circuito das passarelas, apresentou sofisticação descomplicada em looks leves, mais fluidos alternando o clássico preto e branco com tons mais coloridos. Segundo a estilista carioca, sua coleção é uma grande homenagem ao Rio. “A minha coleção de verão é totalmente inspirada na nossa cidade. A vontade de falar sobre a minha casa, que não foi por acaso já que esse ano será a Cidade Olímpica, me motivou a voltar. A gente tenta evitar os clichês, mas o Rio é cheio de clichês mesmo e, ainda assim, é único. Neste desfile apresento uma coleção super feminina e delicada de uma forma que imprime o meu olhar sobre o Rio e a moda carioca”, disse. “Escolhi diversas referências da geografia e da arquitetura. Vamos brincar com as curvas da cidade”, adiantou ela no backstage da marca.

Longe das passarelas desde 2014, Andrea explicou o que motivou sua volta aos grandes eventos. “Na verdade eu fiquei fora porque a semana de moda no Rio também deu uma parada e, agora, a possibilidade de fazer novamente um desfile na minha cidade foi muito estimulante para minha volta às passarelas”, revelou ela, que não demostrou muito interesse pelo sistema “see now buy now”. “Minhas peças não vão estar à venda imediatamente depois dos desfiles. Esse tipo de roupa é muito complicado de disponibilizar para uma venda direta e para isso eu teria que ter feito uma grade de cada uma delas, o que seria um custo muito alto para uma marca como a minha. O see now buy now é um movimento inegável, mas a indústria e as marcas vão ter que se adaptar com o tempo”, ponderou. “Se tudo der certo, as roupas estarão nas lojas em agosto”, contou ela, que ainda falou da crise no país.

“Fazer moda no Brasil é um desafio constante. A gente vai encontrando caminhos nas dificuldades. No Brasil a gente está habituado a passar por momentos complicados, mas tem que ser otimista e trabalhar muito”, finalizou.

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ALESSA

Seja bem-vindo ao Rio de Janeiro, William Morris. Essa foi a brincadeira que trilhou a inspiração da nova coleção da estilista Alessa Migani, apresentada nessa quinta-feira, no Rio Moda Rio. Como contou ao HT momentos antes do desfile, a ideia foi juntar duas paixões: o Rio de Janeiro e o artista inglês do século XIX, William Morris. “A inspiração da coleção é arte para vestir. O tema é art-nouveau e foi criado a partir das estampas florais e botânicas de William Morris, que eu amo. É uma brincadeira mesmo de imaginar o que aconteceria com o artista inglês chegando ao Rio. O desfile é bem a cara da cidade. Na passarela, as modelos são damas antigas que entram com guarda-chuvas e vestindo organza com bordado, e vão se transformando em esporte-chique atléticas”, contou. Sim, queridos leitores, esporte-chique atlético. Na prática, Alessa apresentou os vestidos longos (e maravilhosos) com tênis e mochilinhas. Sensacional!

Como vimos no backstage e depois acompanhamos na passarela do Rio Moda Rio, a coleção Art-Nouveau da Alessa é bem rica. Bordados, organza, estamparia digital e tudo mais que temos direito estão presentes nos modelos da carioca. Quando questionada sobre a preocupação com a crise financeira do país e o valor final da peça, a estilista contou ao HT que, “graças a Deus”, ela ainda não a sentiu. E completou afirmando que é um privilégio para a moda poder continuar a criar sem ter que ponderar o material ou os detalhes. “A gente trabalha com cetim de seda pura e materiais mais sofisticados. Mas, ao mesmo tempo, materiais novos, como o veludo nessa coleção. Até agora, não precisamos fazer nenhuma adaptação, e isso é um luxo que eu sempre pude ter. É incrível ter essa liberdade de trabalhar com os fornecedores que eu escolho e continuar mantendo tudo a toque de locomotiva. Tem que agradecer mesmo!”, concluiu a estilista Alessa. A gente que agradece!

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