“A moda no Brasil sofre atualmente de uma ressaca criativa e só deve se recuperar após 2016, depois da Olimpíada”. Esta declaração é do produtor Robert Guimarães, responsável pelo Prêmio Rio Moda Hype, cuja última edição acaba de acontecer no Fashion Rio, recém terminado no Píer Mauá. Considerando a importância do trabalho concebido e realizado por Robert Guimarães, em parceria com seu sócio Fernando Molinari, entrevistamos o empreendedor com exclusividade para nosso site. Assuntos não faltaram: a situação atual da moda no país, o formato de gestão dos eventos de moda, seus planos em sua carreira paralela como cineasta e até a maneira como a crise econômica interfere nos planos da Inbracultmode, empresa criada pelos dois sócios para fomentar projetos e que cuida da gestão do PRMH. Alcançando a emblemática marca de dez anos de idade, o prêmio é, sem dúvida, uma empreitada vitoriosa no fomento de novos criadores na moda nacional, funcionando como uma incubadora de novos talentos, orientando, capacitando e promovendo sua visibilidade. Além disso, no ano que vem, a Babilônia Feira Hype completa 18 anos de existência, ou seja, motivos não faltam para Robert e Fernando comemorarem.
No entanto, Robert encontra-se atento ao contexto econômico da moda no Brasil, percebendo um encolhimento não só nos negócios, mas também eventos que se propõem a ser plataformas para a moda, como o Fashion Rio, a SPFW e o próprio Rio Moda Hype. “Percebo uma retração no mercado. A quantidade de marcas que não estão conseguindo se manter é grande e, por isso, acabam não só reduzindo sua participação no mercado, fechando lojas, mas também desistindo de fazer desfiles nas semanas de moda. A crise no varejo de vestuário atinge também os eventos’, comenta. Para ele, a competição no mercado com os produtos importados fabricados na China e a ausência de uma legislação que favoreça a produção nacional de verdade, ao invés de sobrecarregar as empresas com tributos insustentáveis, são os principais fatores da crise. “Precisamos nos resguardar da entrada das marcas internacionais no Brasil. Neste momento, a visibilidade brasileira em decorrência dos eventos esportivos aumenta o interesse dos grandes conglomerados da moda e da beleza pelo país. Além das grifes de luxo, temos gigantes como Top Shop, Desigual, Gap, Forever 21 e Sephora desembarcando aqui, abrindo lojas ou prestes a abrir”. Robert, naturalmente, se refere à capacitação estrutural que marcas desse porte têm, acostumadas a atuar em todo o mundo de uma forma verdadeiramente globalizada, ao contrário das grifes nacionais. Para ele, nossos empresários não têm condições de competir de igual para igual, e cabe ao governo instituir leis de incentivo, ao invés de atochar as empresas com impostos abusivos. “E, para piorar a coisa, os eventos esportivos são bons para o país, mas tiram o foco dos investimentos na moda, deslocando para outros segmentos”, completa.
Ele ainda cita a importância da parceria que a Inbracultmode tem com o Sebrae / RJ, afirmando que, sem ela, seria muito mais difícil realizar hoje em dia o PRMH. Para ele, a expertise do Sebrae em gestão de negócio depura a curadoria que Imbracultmode faz de estilo junto aos designers arregimentados por todo o Brasil: “Considero visionária a postura do Sebrae / RJ já que, por ser uma instituição voltada para o fomento de negócios no Rio de Janeiro, aceita participar de um projeto como o PRMH, mesmo que este contemple estilistas sediados também em outros estados. Fico encantado com isso”.
Quanto à redução do elenco de participantes no PRMH, que diminuiu de 10 para 5 participantes , Robert acredita que o fato acompanha a própria redução das grifes participantes nos eventos de moda em geral nas últimas edições. E completa: “Se já é difícil para uma marca consolidada tomar parte em uma semana de moda, com custos altos, imagina uma grife novata! Por isso, a quantidade diminuiu, mas, por outro lado, ganhamos em qualidade porque, antigamente, entre 10 marcas, 8 já estavam em um bom caminho, mas as demais em processo de maturação. Com a redução do line up, podemos caprichar mais ainda na seleção, escolhendo só quem já está nos trinques”.
Ele ainda cita o fato de, nesta edição do PRMH só ter havido uma grife de moda masculina, Marie Raz, enquanto em edições anteriores, já houve uma presença maior, com gente de peso como Akihito Hira, de Brasília. “A moda feminina representa cerca de 80% da produção e da visibilidade, portanto, em um mercado em crise onde o estilo masculino já é normalmente reduzido, faz sentido termos diminuído a participação desse segmento no nosso line up. Não foi planejado, mas acabou acontecendo em função dessas agruras do mercado.
No mais, ele ressalta as comemorações dos 18 anos da Babilônia Feira Hype e se diz contente pelo fato de cerca de 20 marcas do evento terem aberto lojas desde que o evento retornou, no final de 2011. “A próxima vai ser a Capi, que encontrou um sócio investidor em na própria feira e, analisado seu potencial, vai abrir uma loja em Ipanema. Estou super orgulhoso”. O produtor comenta que também credita parte do sucesso dessas novas grifes à parceria com o Sebrae, já que os seus consultores fazem uma análise de gestão “pente fino” junto aos expositores do BFH. E brinca: “Fico feliz de estimular o crescimento de marcas que fogem da hegemonia comercial do mercado, é bom trabalhar com sangue novo”, quase esquecendo que muitas grifes que ele lançou na feira de forma frugal, hoje fazem parte do cardápio substancial da moda nacional, como Farm e Espaço Fashion, duas redes arroz e feijão que, cada qual à sua maneira, hoje têm presença maciça no Brasil. “É mesmo, a própria Espaço Fashion me deixou extasiado neste Fashion Rio. Impressionante como elas conseguem por na passarela peças que também consigo imaginar vendendo nas lojas, tudo lindo! Fui no camarim dar um beijo nas duas (donas) logo após o desfile”, disse com jeito de paizão. Talvez até já comece a sobrar um tempinho para Robert dar maior vazão à sua porção cineasta, pois pretende transformar em longa seu curta ‘O Bolo’, ganhador de 5 prêmios internacionais. Seguindo os passos de gente esperta como Woody Allen, ele também joga nas onze e faz quase tudo: roteirizou, produziu e dirigiu o filme e, agora, se prepara pra esta investida maior no cinema, preparando o longa. O cara faz de tudo!
Abaixo, um resumo das grifes que tomaram parte desta 19ª edição do PRMH e a galeria de fotos de cada uma. Confira!
Fotos: Agência Fotosite
A Acolá, de São Paulo, se inspirou no dublê de artista e cientista Joseph Scheer, que provou, através de técnicas como o escaneamento, que mariposas marrons são muito mais coloridas do que se supunha. Daí os rosas, vermelhos escuros, mostardas e laranjas queimados que bateram as asinhas na coleção, criada pela borboleante dupla Laís Abbate Corrêa e Beatriz Tavares, ao lado de preto e cinza. Muito movimento, fluidez e volumes, em peças repletas de pregas.
Taiana Miotto participa pela primeira vez do evento com uma coleção voltada para mulheres cosmopolitas com idade média de 25 a 30 anos, segundo ela. E, embora a ideia seja urbana, Miotto viajou no miojo e foi buscar a inspiração no Oriente. Comparecem as ruínas da antiga capitão do Sião (atual Tailândia), Ayutthaya e a exuberância das estampas krabi e garuda, típicas da região, agora pintadas à mão pela artista plástica Monica Herkenhoff. Lindos os pied-de-poules, uns dos melhores da temporada!
Outra marca voltada para a mulher cosmopolita, a Ocksa, dos gaúchos Igor Bastos e Deisi Witz, aposta no branco das peças assimétricas cheias de recortes e assimetrias baseadas na obra do artista plástico Carlos Zílio. Volumes, transparências vinílicas e detalhes com levada de figurino sci-fi.
Única grife masculina nesta edição, Marie Raz, nome que é o alter ego de sua criadora, Mariana Razuk, brinca com ótima alfaiataria impregnada de elementos da cultura maori, da Oceania, originários dos desenhos do artista neo-zelandês Mitch Manuel. Foi nossa favorita!
As cariocas Ana Wambier e Daniela Sabbag, da Wasabi, são outras que investem na mélange entre arte e moda. Dessa vez, o artista Lércido Redondo e o arquiteto sueco Birger Lipinski desenvolveram estampas e peças que serviram de ponto de partida para uma coleção inspirada na arquitetura do século XIX, quando as treliças deram vez às grades de ferro e balaústres de madeira. Parece doideira, mas é tudo motivo para um inverno repleto de xadrezes com identidade própria que fogem da mera repetição de padrões e cores fortes. Uma graça!
Artigos relacionados