De todas as novidades em matéria-prima para o Inverno 2016 e Verão 2017 conferidas na 12ª edição do Inspiramais – Salão de Design e Inovação de Materiais, realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), pelo Footwear Components by Brasil e pelo Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) nos dias 8 e 9, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo, as que mais chamaram a nossa atenção foram as matérias-primas artesanais e sustentáveis que vão ser utilizadas com ainda mais força. Capitaneados pelos estilistas Walter Rodrigues, Isabela Capeto e Jefferson de Assis – que integram grandes núcleos da Assintecal – os projetos buscam no reaproveitamentos de materiais, na cultura popular brasileira e nos elementos naturais existentes na natureza soluções para se desenvolver uma moda atual, moderna e também com valor agregado.
O Projeto Mix By Brasil, por exemplo, é realmente fascinante, já que foi buscar em comunidades como Cooperativa Artisans Brasil (Maringá); Grupo Canoa (Canoas); Artesão José Guimarães de Souza (Cabaceiras) e Artesão Manoel Carlos do Castro (Cabaceiras) o autêntico artesanato brasileiro – elemento inspirador para o preview do Verão 2017, que foi apresentado no último dia do Inspiramais – feito por gente simples, mas de puro talento. Sob a consultoria técnica de Jefferson de Assis, o projeto resgata o artesanato brasileiro, valoriza a mão de obra e as habilidades individuais, além de incentivar o uso de técnicas que unem artesanato e design, como forma de diminuir o impacto ambiental e social. Antes do evento, os artesãos das quatro comunidades participantes receberam consultorias, como forma de auxiliar na criação e desenvolvimento de dez componentes em cada comunidade, todas expostas no Inspiramais.
Foi lá que a gente conheceu Manoel Carlos de Castro, por exemplo, que nunca tinha saído de sua cidade, São João do Cariri, na Paraíba, até ser “descoberto” pelo Inspiramais e ser convidado para ir mostrar suas bolsas e chapéus de couro de bode e carneiro – que mais pareciam acessórios para desfiles de alta-costura – para o grande público. “Nunca pensei que o que eu fazia regionalmente e que era consumido pelos meus vizinhos e moradores da região interessaria a tanta gente”, contou Manoel, que já recebeu convite para ir expor suas peças até em Paris. “Mas ainda estou pensando se vou. Não sei nem falar português direito, vou fazer o que em um país que fala outra língua?”, perguntou, antes de soltar uma risada.
Jefferson, o responsável por descobrir Manoel, contou que na temporada passada a arte do couro do sertão paraibano apareceu no Salão Inspiramais como uma das referências e explicou o motivo de, neste ano, resolver trazê-lo pessoalmente com suas peças. “A ideia é a gente apresentar algumas informações de moda e sugerir pequenas adaptações aos produtos – sem abrir mão da originalidade deles, claro”, disse Jefferson, que também é responsável por outro projeto, a 8ª edição do Projeto Referências Brasileiras. Alinhado às diretrizes do Preview do Couro, Jefferson foi buscar símbolos na cultura brasileira que tinham alguma ligação ao minimalismo e ao abstracionismo expressionista, dois dos sete temas do Preview do Couro Verão 2017.
Para contextualizar o minimalismo, Jefferson de Assis foi pesquisar a “Escola Paulista de Arquitetura”, tendo a cidade de São Paulo como campo de estudo e, quando o assunto foi o abstracionismo, ele trouxe as tags retas – um tipo de grafite muito comum em São Paulo, de letras retas, feitas com rolinhos ou pinceis. No estande do projeto, a gente pôde ver, tocar e registrar um total de 10 protótipos, dentre eles, calçados, bolsas, acessórios e nessa edição uma categoria de protótipo inédita, a de móveis. A execução desses protótipos foi possível através da parceria com empresas fabricantes de materiais e de produtos acabados que acreditaram e apostaram no Referências Brasileiras, são elas: Affare Laser, Barth, Couroquimica, Creatto, G5 Design, LLV Metais, Lótus, Solus Mk Química, Studio Coralli e West Coast. “A ideia não é apresentar um projeto pronto, é servir, mesmo, como referência. Assim, quando a gente coloca um salto impossível de se andar sobre ele, por exemplo, estimulamos o produtor a criar o seu próprio produto a partir da referência e, assim, atacamos a ideia de copias”, explicou Jefferson.
Ainda sobre o Preview do Couro Verão 2017, que foi apresentado por Marnei Carminatti, Ramon Soares e Walter Rodrigues, ficamos sabendo de mais pistas sobre o que vai virar inspiração daqui a um ano e meio. Quase uma bola de cristal, sabe? O que descobrimos? As peles de peixe, principalmente tilápia, ganham recortes e montagens com formas que se repetem, como armaduras protetoras. As exóticas cobras python valorizam as cores da cartela, lisas e limpas, ou com efeitos de desenhos abstratos – olha o abstracionismo aí! Efeitos excêntricos, como pintura iridescente sobre pele de mestiço ou perolados metálicos sobre pele de jacaré, compõem o mix de opções para o Verão 2017.
Bom, mas como o assunto central do Inspiramais era um passo antes do futuro, o Inverno 2016, vamos aos fatos. Com o tema “O Que Reflete é Conteúdo”, a ideia era fazer um paralelo sobre a ostentação dos tempos contemporâneos, onde as selfies e redes sociais norteam parte das relações. Para explicar melhor como isso se junta às inspirações para o setor do couro, calçadista e acessórios, damos a palavra a Walter Rodrigues, diretor do Núcleo de Design da Assintecal.
“Essa plateia mundial, hipnotizada por participantes de reality shows, artistas pop e celebridades de 15 minutos, sempre está em busca de entretenimento, o que revela um comportamento contemporâneo em que o instantâneo e o imediato têm o poder de se tornar virais e ser o assunto número 1 no mundo, até ser suplantados por outro acontecimento fugaz. Cria-se, assim, o desejo de consumo de itens mais acessíveis, que geram lucros milionários, desde que os logos estejam bem visíveis para satisfazer o voyeurismo contemporâneo. O consumidor atual estabelece com as marcas de luxo uma relação de o que importa é que, no filme de sua vida, na timeline de suas redes sociais, todos o reconheçam como um exemplo a invejar. Nesta estação, a palavra ostentação também se refere a pertencimento, à apropriação de tradições, da exclusividade e da essência dos produtos artesanais, aqueles que contém alma”, explicou Walter, fazendo um link com o começo dessa nossa conversa, ao valorizar elementos regionais do nosso país, como o Manoel Carlos, lá da Paraíba.
Outra ideia bem interessante discutida no Fórum de Inspiração do Inspiramais é o conceito de pirâmide, onde o 100% de sua superfície representa o mercado de moda como um todo. A partir daí, divide-se em três números: 10%, que representa o nascimento da ideia, o processo de conceituação de uma peça ou coleção, a experimentação e a busca pelo novo; 30% englobam o processo, a aceitação e racionalização do produto, em que se busca planejar e construir a engenharia de produção, levando em conta os ajustes de planejamento; e, enfim, os 60% restantes, que sintetizam a base da pirâmide, englobando a fabricação em série e a massificação do produto.
Para cada fase, há um conceito, batizados por Walter em sua apresentação encerrando o primeiro dia como Conceito 01, 02 e 03. No terceiro, vê se o desconstruído, as costuras aparentes, as referências brasileiras, o curtido ao sol o tricolor, o couro perfurado, o atanado, o chifre e o pelo, a madeira, o tressê, o dourado, o movimento, o animal print, vermelho, rosa claro, rosa pink, e texturas em relevo e aveludadas, e as formas curvilíneas. Já no segundo conceito, onde a palavra chave é o deslocamento, as principais tendências giram em torno da questão das fronteiras, onde o consumidor assume um papel de desbravador e de cocriar, divulgar e financiar novas histórias para contar. Entre os materiais apresentados estão o minerais, os tons ferrosos, vulcânicos, as rochas, cordas, índigo, tricô, o foco na fibra, o novo artesanal, a tapeçaria e assim por diante.
Já no conceito 1, que representa 60% da nossa pirâmide referenciada lá em cima, a palavra principal é suavidade. A chuva é um elemento que sintetiza essa suavidade, lavando as cores, criando pontos de luz e em metáforas como chuva de diamantes, detalhes em formato de gota, a ausência de contornos, a fragilidade e delicado de florais, borboletas e outros elementos da natureza, como tingimentos orgânicos,animal print, penas e o degradê. Ufa!
Para quem quiser saber mais sobre o evento, as próximas datas e destrinchar tudo o que vimos por lá nos mínimos detalhes, é só navegar pelo site do Inspiramais. Daqui a seis meses tem mais!
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