Perfeccionismo inatingível e intolerância com a diferença. Será o fim do bullying no red carpet e o início de mudanças no “Fashion Police”?


Após a morte da incomparável Joan Rivers, o famoso programa de TV do canal E! pousou sobre uma crise e está suspenso, ao menos, até setembro

*Com Lucas Rezende

HT informa: está liberado usar xadrez com estampado e usar bolsa de zebra com vestido de oncinha sem correr o risco de ser gongado no horário nobre da tevê. Até setembro – ao menos, já que o hiato tem fortes chances de se estender -, o já tradicional programa de bullying às vestes das celebs, “Fashion Police”, está suspenso. É o que informa o canal E!, que justificou mudanças previstas no formato da atração, sem especificá-las, e também nos deixou a ver navios sobre as próximas apresentadoras, já que Kelly Osbourne, Kathy Griffin e Giuliana Rancic não fazem mais parte dos planos da emissora.

Fashion Police: será o fim? (Foto: Divulgação)

“Fashion Police”: será o fim? (Foto: Divulgação)

Famoso por constranger e gongar até dizer chega as celebridades no tapete vermelho, o “Fashion Police”, como todo grande intimidador televisivo, ganhou o gosto do público e deixou as eventuais exibições para tornar-se semanal. Ancorado por Joan Rivers (1933-2014), o programa chegou a ter nomes como Nicki Minaj e Khloé Kardashian de comentaristas. Mas, desde a morte de Joan no ano passado, por complicações nas cordas vocais (leia mais sobre a apresentadora aqui), o “Police” não é mais o mesmo e vive passando por crise atrás de crise.

Zendaya Coleman: o estopim para o fim do bullying preconceituoso (Foto: Reprodução)

Zendaya Coleman: o estopim para o fim do bullying preconceituoso (Foto: Reprodução)

A começar pela causada por Giuliana Rancic, que se viu em meio a um escândalo virtual. A apresentadora disse que a atriz Zendaya Coleman parecia cheirar a óleo de patchouli ou a maconha, porque apareceu no tapete vermelho do último Oscar com dreadlocks. A internet caiu matando e a apresentadora veio a público se desculpar.

“Quero me desculpar por um comentário que fiz no “Fashion Police” da noite passada sobre o cabelo da Zendaya. Como vocês sabem, o “Fashion Police” é um programa que brinca com os famosos, mas entendi que fiz algo que ultrapassou os limites. Quero que todo mundo saiba que eu não tinha a intenção de machucar ninguém, mas aprendi que não é a intenção que importa, é o resultado”, disse à época.

Juntando ao escândalo de preconceito, Kelly Osbourne deixou o programa após cinco anos, por se desentender com o conteúdo apresentado na atração, já que engrossou o time que atacou publicamente Rancic pelas ofensas. A terceira gongadora, Kathy Griffin, deixou o barco após dizer que não queria mais “contribuir para uma cultura de perfeccionismo inatingível e intolerância com a diferença”.

E, se você acha que a crise é puramente televisiva, envolvendo ego de apresentadoras, está enganado. Todo esse bullying do tapete vermelho, que está em risco, tem mais cunho social do que se possa imaginar. Um grupo peso-pesado de atrizes, capitaneado por Reese WitherspoonCate Blanchett, Julianne Moore e Emma Stone, aproveitou a oportunidade para criticar o machismo da mídia e da indústria. O movimento #AskHerMore (“pergunte mais a ela”, que já deu as caras pelo Oscar, como você viu aqui) tem por intuito fomentar a imprensa a valorizar o trabalho das mulheres em relação aos homens, e parar com a velha pergunta no red carpet: “Quem assina o seu vestido?”.

O manifesto de Reese Witherspoon e outras atrizes para que tratem as mulheres com respeito e dignidade nos tapetes vermelhos (Foto: Reprodução)

O manifesto de Reese Witherspoon e outras atrizes para que tratem as mulheres com respeito e dignidade nos tapetes vermelhos (Foto: Reprodução)

As atrizes reclamam que, enquanto têm que responder questionamentos de looks e beauté, os marmanjos têm oportunidades de analisar a sétima arte e divulgar seus currículos. Reese, aliás, até publicou em seu Instagram antes do Oscar uma lista de perguntas que poderiam ser feitas às atrizes que iam muito além de”o que você está usando?”. E essa crítica, obviamente, esbarra na essência do “Fashion Police”, que só quer o corpinho das beldades no fundo vermelho para jorrar veneno. Pelo bem ou pelo mal, enquanto a gente segue em busca de uma igualdade de gêneros, a galera do E! vai colocar a língua, ops, as barbas, de molho.