*Por Karina Kuperman
À frente da maior semana de moda da América Latina, Paulo Borges quer sempre mais. O todo-poderoso da moda brasileira comentou os rumos da SPFW após a Luminosidade, braço do grupo Inbrands – dono de Ellus, Salinas, Richards e VR – que comanda o evento, vender 50,1% das ações da SPFW para a gigante IMM Participações, de propriedade do fundo árabe de investimentos Mubadala Development Company, que detém parte de eventos como Rock in Rio, Cirque du Soleil, Rio Open e outros e, agora, tem planos ainda mais impressionantes para a moda brasileira.
Entre as ideias, voltar com a semana fashion carioca e internacionalizar o setor. “Os sócios gostam da ideia do Fashion Rio, até porque a empresa é fincada lá. Parei de fazer o evento há uns quatro anos e só teve crise, mas o que mais prejudicou é que as pessoas não tinham comprometimento. Não tem a ver com arranjar ou não patrocínio, mas com quem faz parte do todo, com as pessoas do próprio mercado. Uma semana de moda só existe com comprometimento”, disse ele, que sempre cita a jornalista Regina Guerreiro – com quem trabalhou na Vogue nos anos 80 -, quando fala da importância de fazer o que se ama. “A moda é feita de resistência, foi a primeira palavra que ouvi da Regina Guerreiro, em 82, quando eu comecei. Se você gosta de moda, quer trabalhar no setor, tem que ser apaixonado. Nunca será fácil fazer moda no Brasil. Construir uma edição da São Paulo Fashion Week é difícil, me definem como um arqueólogo da área, porque é quase que feito a fórceps. Tem que ir buscar, construir a história. A entrada da IMM no evento é natural, porque precisa ser assim para crescer”, defendeu. “Não me vendi, continuo à frente, tocando a história”, assegurou.
“É engraçado porque a gente vendeu 50,1% das ações e o povo já está achando que vou usar burca. As pessoas se dizem crentes, mas quando o rabo aperta são desistentes. Eu sou um resistente, sou crente. Amo moda, faça chuva ou sol penso da mesma forma”, afirmou ele, que listou o que mudará daqui para frente: “Vamos ter uma empresa global, superestruturada, mas carioca por trás. A base da IMM é no Rio e a diferença entre meu sócio InBrands e meu sócio IMM é que a InBrands quis ser de entretenimento e conteúdo. Mas não foi, então a Luminosidade acabou ficando isolada. Eu não vendi a Luminosidade, as outras três donas venderam. Agora 50,1% são da IMM e 49 vírgula alguma coisa é da Luminosidade, que eu e a InBrands continuamos sócios. É um período de quatro anos, depois teremos uma nova conversa, mas o que posso garantir é que está no contrato que eu permaneça à frente do negócio. É financeiro, mas tem questão de networking internacional e estratégia de negócio também”, explicou. “Quero uma América Latina mais unificada e uma moda brasileira cada vez mais forte. O evento não vende roupa, é uma plataforma. A crise afeta a marca, elas quem precisam melhorar com a crise. No sentido de fortalecimento, de produto, de tudo”.
Paulo vai ainda além: “Não temos que pensar em mudança e aporte. Meu olhar é de longo prazo, o que está na minha cabeça sempre foi feito, até na época que era sem InBrands. Vamos crescer. Com um executivo focado na SPFW me sobra mais tempo para a parte mais gostosa”, comemorou ele, que, agora, finalmente poderá dedicar-se ao seu livro, que conta sua história com o filho Henrique, adotado em 2007.
Para a 45ª edição, Paulo espera “ver desfiles incríveis”. “Acho que dessa vez é particularmente especial, porque falamos de resistência. Você vê que o line-up é mais de criadores, parecido com os anos 90, quando comecei, quando tinha um momento de crise e de mundo parecido. Hoje, claro, é pior, mas lembro que naquele momento as grandes marcas estavam perdidas e os jovens criadores tinham energia para fazer. Aliás, a força vem sempre deles. Não falo de jovens de idade, mas de cabeça, que tem alma de criação. Estar no line-up da SPFW representa a resistência das marcas”, analisou.
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