Quem diria, a tartaruga, um dos animais mais longevos do planeta, com vida em torno de 200 anos e, por isso mesmo, enrugadinha para valer, está dando o que falar! Criadas em cativeiro na Fazenda Moenda da Serra, em Araguapaz, Goiás – com a devida autorização do Ibama -, esse réptil agora fornece seus poderosos ativos para os produtos de beleza da Cotomi Cosméticos, em linha composta por xampu, condicionador, sabonete líquido, máscara capilar e até creme hidratante para deixar o corpo com pele de pêssego. Tipo tartaruga-ninja: com um golpe certeiro de katana, acaba com os males que atingem sua pele e cabelos, não é mesmo? Ou no esquema da Tartaruga Touché, aquele icônico personagem da Hanna-Barbera, nos anos 1960, que ia com o seu florete direto no ponto.
Os produtos são confeccionados com extratos a partir do óleo das enormes tartarugas da Amazônia (podocnemis expansa), que antes corriam risco de extinção, mas, agora, após sua recuperação na natureza, podem ser mantidas em enormes criatórios, assim como os jacarés que fornecem matéria-prima para acessórios, sem risco algum para o ecossistema. A produção, completamente sustentável e ecologicamente correta, é o que há em termos de modernidade. O resultado é visível: peles hidratadas e cabelos com toque de seda, sem nenhum aspecto ressacado ou quebradiço, segredo que já era conhecido das populações ribeirinhas dos rios Amazonas e do Araguaia e que, agora, está ao alcance das sereias das grandes cidades. No mínimo, após o uso frequente, espera-se um cabelão de Cléo Pires e uma pele de seda, daquelas de deixar todo mundo com jeitinho de Dakota Fanning.
Fotos: divulgação
Todo o processo industrial tem acompanhamento científico da Universidade Federal de Uberlândia, já que, diante das maravilhas que os cosméticos prometem – e pela biodiversidade brasileira -, esta pode se tornar outra importante riqueza proveniente da nossa fauna. O responsável técnico, inclusive, é o próprio filho do fazendeiro que toca o negócio: José Roberto Ferreira Alves Jr também é professor da instituição de ensino, mestre em estudos de quelônios (a ordem na classificação desse tipo de animal) e doutor em doenças infecto-contagiosas em répteis. Ou seja, o cara é fera e está tudo em casa.
A história do desenvolvimento da linha de beleza é, no mínimo, curiosa. Em 1998, José Roberto (o pai), criador de gado, recebeu visita do Ibama após uma denúncia infundada. Da inspeção que resultou em nada, ele ouviu a sugestão do órgão federal para criar tartarugas da Amazônia. O órgão procurava incentivar o criadouro desses animais. Eele topou e, hoje, tem cerca 27 mil animais. “Uma criação modesta, que toco junto com meu gado, já que, dos cerca de 6 criadores da espécie que existem por aqui e dos 90 que estão Norte do país, alguns chegam a ter 150 mil animais prontos para o abate”, afirma o pecuarista. E completa: “Sempre quis criar animais silvestres, desde quando morei na Nigéria, por dez anos. Até tentei criar capivara, mas dava um trabalho danado e já tem muita solta por ai”.
As fazendas controladas pelo Ibama, além de estabelecerem uma atividade genuína, ajudam a evitar o abate ilegal na natureza. A partir da venda da carne, pai e filho logo perceberam que o óleo que sobrava do animal – localizado em uma espécie de bolsa à parte – podia ser aproveitado, ao invés de desperdiçado. Ofereceram o produto a uma empresa cosmética que acabou desenvolvendo as fórmulas usadas até hoje nessa linha de beleza, mesmo depois da família Ferreira Alves ter absorvido a tecnologia de produção. Exemplo de gente que faz. E o óleo da tartaruga, na verdade, é realmente um bem precioso. “Esse bicho não tem colesterol, a gordura é uma maravilha! Antes de processarmos ela quimicamente, ela entra em banho-maria”, confessa o pai. “Agora estou tentando criar uma utilidade para o casco, junto com mestres da Universidade Rural do Rio de Janeiro, mas ainda não consegui essa outra façanha”, despista, visionário.
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