O fracasso do Brasil na Copa do Mundo e a reação de um povo desencantado com a política


A reação de quem assistiu o Brasil perder para a Holanda, em Brasília, a proximidade das eleições e fomos ao Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha saber: quem fez ou faz um gol contra na política?

Duas derrotas consecutivas. Nem o terceiro lugar o Brasil conquistou nessa Copa. E eu bebo na fonte de um texto de Carlos Drummond de Andrade: “E chego à conclusão, de que a derrota, para qual nunca estamos preparados, de tanto não a desejarmos nem admitirmos previamente, é afinal instrumento de renovação da vida. Tanto quanto a vitória, estabelece o jogo dialético que constitui o próprio modo de estar no mundo. Se uma sucessão de derrotas é arrasadora, também a sucessão constante de vitórias traz consigo o germe de apodrecimento das vontades, a languidez dos estados pós-voluptuosos, que inutiliza o indivíduo e a comunidade atuantes. Perder implica remoção de detritos, começar de novo. (…) já escrevia Drummond em 1982, no Jornal do Brasil, sobre a derrota que o Brasil sofreu nas Oitavas de Final, em Barcelona. E o grande escritor disse ainda: “Perdendo, após o emocionalismo das lágrimas, readquirimos (ou adquirimos, na maioria das cabeças) o senso da moderação, do real contraditório, mas rico de possibilidades, a verdadeira dimensão da vida. Não somos invencíveis. (…).

Bem minha gente, tudo se repetiu agora, na Semifinal, realizada no Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília. Holanda 3X0 Brasil. Um público de 68 mil torcedores viu a derrota massacrante do nosso país. Um público que chegou ao estádio ainda otimista com um terceiro lugar, com sorriso no rosto, e holas na arquibancada, mas saiu de cabeça baixa. Mas, agora é hora de levantar a poeira e pensar em mudar alguma coisa nesse país. Fomos até lá para perguntar a alguns torcedores quem fez ou faz um gol contra na política e como é (foi) feito esse gol. Confira mais embaixo as respostas. E pense na sua.

Flagrantes da chegada da torcida ao Estádio Mané Garrincha ainda com a esperança de um terceiro lugar para o Brasil:

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Fotos: Henrique Fonseca

A tristeza e decepção à saída do estádio:

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Fotos: Henrique Fonseca

Vamos ao que o povo de Brasília tem a dizer sobre os gols contra na política brasileira:

Para o economista Edmilson Carvalho quem fez ou faz um gol contra na política? “Todos os políticos, no geral foi todo o sistema. Esse gol contra foi feito sem inclusão da população, sem propostas, sem a inclusão do cidadão no sistema político”.  Segundo o representante comercial Marcos Vinicius Figueiredo, “todos os políticos fizeram este gol contra. Feito com corrupção e falta de vergonha dos políticos”. Já a bancária Isabel Cruz diz que o “o gol contra foi feito pelo ex-governador do DF, José Roberto Arruda. Basicamente pelas mentiras”. Fernando Rossini, corretor de imóveis, dá seu ponto de vista: “José Dirceu faz esse gol contra na política, roubando a população”. Gil  Calderaro, funcionário público, também acredita que o gol foi feito “por todos os políticos. Um gol feito pela corrupção”. A relações públicas Marina Pereira diz que quem marca um gol fora é Marcos Feliciano “com suas idéias propagadas”. Fabina Peruchi, administradora, como a maioria, credita os gols contra aos políticos do país e mostra sua revolta: “E gol foi feito com a falta de valorização na educação e na saúde e também com falta de estruturas”. O estudante João Pedro Alves Aguiar é mais um a fazer coro: “Um gol contra feito por desvios de verbas e superfaturamentos”.

E mais: Simone Costa, gerente comercial: “Esse gol foi feito pela Dilma Rousseff pela falta de preocupação com a saúde e segurança dos brasileiros”. O advogado Dorival Souza diz que foi feito pelos atuais governadores. “Pelo distanciamento imposto por eles à população em relação à política transparente”. Vinícius Saccochi, professor, atesta: “Foi feito pelo Arruda e pelo Roriz com falta de transparência na administração”. A professora Janaina Viviane diz que os próprios brasileiros fizeram o tal gol contra: “Um gol feito pelo silêncio dos brasileiro em relação à situação da política”. Camila Cordeiro, adminstradora, diz que a culpa é da presidenta Dilma Rousseff:  “Ela fez esse gol tirando os impostos da Fifa e deixando a população cheia de impostos a pagar sempre”. João Pedro Rodrigues, estudante, atesta que foi feito pelo governador do DF, Agnelo Queiroz. “Falta de cumprimento das promessas”, completa. A médica Camila Boaretto culpa o PT: “Tirando dos pobres e deixando a saúde e a educação em segundo lugar”. Para o vendedor Ernestino José, o gol contra foi feito pelo governador Aécio Neves: “Com um discurso de politização da Copa e declarações mal-educadas”. Bruno Levaneira, fisioterapeuta, põe a culpa no prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes: “Fez investimentos errados e acabou causando um gol contra na política”. O comerciante Fabrício Pessoa acredita que Dilma chutou a bola errada. “Causada pela má administração do país”. A jornalista Laura Ravagnani volta a bater na tecla dos políticos: “Eles roubam esse país”. E Bertila Gonçalves Viana Soares, biomédica, lembra do nome do ex-governador de São Paulo, Paulo Maluf. “Uma bola chutada repleta de corrupção”. Daniel Lima, economista, por fim diz que a presidente é a culpada: “Dilma é a culpada mantendo do Guido Mantega no ministério”. É a voz do povo que deve ser refletida nas urnas nas próximas eleições.

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Fotos: Henrique Fonseca

Leia abaixo o que escrevemos sobre a repercussão da derrota de 7 a 1 para a Alemanha e a reação nas ruas do Rio:

Crônica de uma vida mundana patética: o surpreendente ato de repúdio à bandeira não por que o Brasil se revela uma republiqueta inviável, mas pela seleção ter perdido a Copa

Após quase um mês acordando diariamente e saindo pelas ruas do Rio apinhadas de turistas, esta quarta-feira (9/7) foi o primeiro dia em que o colorido predominante de verde, azul e amarelo deu trégua nas calçadas, sendo substituído por modelitos em preto, cinza e outros tons que poderiam passar em brancas nuvens. Salvo um estrangeiro usando as cores da nossa bandeira aqui e acolá, naturalmente desavisado de que, quando o Brasil perde o jogo, o patriotismo vai pelo ralo, aquela alegria avassaladora de querer mostrar que é filho da pátria foi substituída pelo mico de tomar um sete a um contra a Alemanha. Sim, no nosso país, a maior vergonha é perder a Copa do Mundo de goleada.

Okay, a esperança é sempre a última que morre – mesmo com todos os indícios de que provavelmente a gente tomaria uma surra da seleção germânica. O problema maior nem foi levar o vexame, mas sofrer uma goleada tão humilhante. Afinal, comenta-se que essa foi a pior derrota da seleção em 100 anos de história, a pior de uma seleção anfitriã em mundial, a maior goleada em uma semifinal e até o maior vexame do futebol brasileiro. Mais do que isso, este agora pode ser o momento em que o todo poderoso técnico do escrete canarinho, Felipão Scolari, sofrerá o maior linchamento desde a Inquisição Espanhola comandada pelo implacável Torquemada, assim como os seus  jogadores. Afinal, independente da arrogância e de vários descuidos na escalação do time, é necessário agora queimar em praça pública alguém que possa inclusive, assumir o manto de todos os prejuízos causados à produtividade brasileira nesse período em que, apesar do “pra frente Brasil”, o país descaradamente parou (com a conivência dos governos federal e estaduais) e a economia andou para trás como caranguejo.

O craque Neymar obviamente será poupado dessa queimação de Judas a que a equipe esportiva será submetida nesta festa junina tardia. Sim, Deus escreve certo por linha sinuosíssimas, e o desfalque do talentoso menino de cabelos engraçados agora serve para evitar que lhe assem sua batata na fogueira junto com as de seus colegas de camisa. Ele será resguardado para a próxima vez e sobre ele continuam (por hora) as esperanças de um futuro hexa.

HT percorreu nesta quarta-feira as ruas do Rio, pegou o metrô da Zona Sul carioca até o Centro, sempre disposto a observar como se comporta o carioca neste dia tão triste. Mario Jesus de Almeida, 36 anos, escriturário que estava a caminho da Uruguaiana, foi categórico: “Tenho vergonha de ser brasileiro. Nunca vi um jogo como esse”. Curiosamente, o semblante dos transeuntes no coletivo parece proporcional à uma derrota de guerra. Os franceses devem ter se sentido assim após a humilhante entrada triunfal dos alemães na Paris de 1940, quando se estabeleceu o Governo de Vichy. E, da mesma forma que os parisienses criticavam aquelas mulheres que, a despeito da submissão aos nazistas, procuravam manter seu espírito incólume, penteando as madeixas, trajando-se na moda e desenhando com lápis de olho as linhas que simulariam a costura das meias-calças nas panturrilhas, foi possível observar hoje pela urbe-maravilha um certo desdém dos poucos que se aventuraram a vestir camiseta amarela. O mesmo tipo de escárnio que os franceses tiveram com aqueles compatriotas que, apesar da invasão alemã, teimaram em manter o savoir vivre intacto.

O mais curioso de tudo é observar que o povo brasileiro não fica inconsolável, inconformado, desesperançoso nem raivoso quando as autoridades municipais aumentam as passagens de ônibus quase um ano depois das tentativas de aumento descabidas que irritaram a população. Nem se insurge contra impostos exorbitantes que ao invés de promover melhorias, vão parar em paraísos escondidos capazes de fazer resorts nas Maldivas parecerem meros casebres no Pantanal matogrossense, se comparados. Muito menos se levanta contra caríssimos serviços ordinários prestados por instituições muquiranas – desde achacadoras companhias telefônicas de décimo-oitavo mundo até atendimentos sofríveis feitos em bares, restaurantes, supermercados e no varejo em geral por funcionários mal treinados e mal educados, contratados às pressas por empresários gananciosos que se comportam como mascates do Século XVII, importando mão de obra desqualificada direto do caixa-prego. Não nada disso importa, o importante é vestir verde-e-amarelo enquanto o Brasil está ganhando e sustentar a mentira de que esse é um país que vai para frente em caso de campeão no futebol.

Não, nesse caso, nem importa o quanto somos roubados diariamente por políticos corruptos dignos de serem esfolados no inferno por uma trupe que incluiria, além de Lúcifer, a tropa de choque dos demônios judaico-cristãos: Astarote, Belzebu, Leviatã, Baal e Asmodeu. Se esses existirem, estão com sérios problemas de logística, pois não terão como acomodar nas profundezas a quantidade de personas que sairão da administração pública direto para o inferno. Não, saber que apesar de sermos a oitava economia do mundo e que a distribuição da renda é tão mal feita e que sofremos de males em níveis mais alarmantes que muita republiqueta das bananas não é tão vergonhoso quando perder a Copa. Exemplo disso é a profissional de pilates Pérola Guillermon Cortez postou em sua rede social: “Minha mãe afirma que se há vida em outros planetas, minha vergonha é interplanetária!”

Bem verdade que o governo brasileiro agora está com uma cumbuca vazia nas mãos: como justificar que o projeto“Minha Copa, Minha Vida” saiu pelo escanteio? “Será que a presidente vai entregar a taça aos vencedores na final do próximo domingo no Maracanã?”, questiona o executivo em mineração Rodrigo Coutinho Rebuzzi. Bom, existe um bode espiatório perfeito para tirar a atenção (por hora) da maracutaia reinante: o colombiano Zuñiga que nocauteou Neymar. É, pode funcionar por um tempo, sobretudo se o povo brasileiro continuar se fazendo de idiota e deixar de vestir as cores do Brasil na alma para assumi-las somente em um figurino de quermesse na hora de torcer no futebol. O bom mesmo é torcer para que ese ufanismo velado se torne verdade nas urnas em outubro. Como dizem os bicheiros no carnaval carioca na hora de se desentender com algum carnavalesco rebelde: “Na vaaaaaala!”

Mas a verdade é que, seja nas ruas ou nas mídias sociais, o brasileiros já estão destilando sua insatisfação contra o momento e, claro, a tristeza com a ineficácia da seleção canarinho é apenas a ponta do iceberg que pode, quem sabe, arranhar o titanic do governo nas eleições de outubro. Gestor de merchandising de uma multinacional no Brasil, Rafael Ducati foi categórico no facebook: “Será que alguém agora vai se importar tanto com o problema do Neymar?”

No frigir dos ovos, essa vitória da Alemanha sobre o Brasil não se limita ao futebol. Vai muito além: é o sucesso da organização planejada de uma nação séria contra a mixórdia generalizada em nível governamental de um país onde se acredita que as últimas tendências de maquiagem são suficientes para cobrir uma pele encarquilhada.

Com todos os problemas atuais, inclusive um inacreditável índice de 7,5 milhões de adultos que não sabem ler nem escrever, a Alemanha atual é um bólido que soube se recuperar de duas campanhas bélicas tenebrosas, foi á bancarrota devastada pelas duas Guerras Mundiais, teve sua auto-estima reduzida a pó, mas, às custas de muito planejamento sério, se reergueu e hoje sustenta toda a União Europeia. Em contra-partida, o Brasil é um fusquinha que até tem motor bom, mas só pega no tranco porque, ao invés de ter condutores dignos de um Mercedes-Benz, só arruma motoristas especialistas em recauchutagens de alcova e lanternagens duvidosas. Como uma Copa do Mundo de fachada.

Quem sabe o gigante adormecido finalmente não acorda com essa catarse esportiva, sai do torpor, se rebela contra situações intoleráveis e descobre que leveza de verdade não se sustenta com futebol, caindo na real nas urnas daqui a três meses? Tudo, claro, é especulação. Afinal, depois dessa copa e das eleições, vem o Réveillon, o verão dourado e a festa de Momo. Como afirmou ontem o lendário coreógrafo de comissões de frente no Sambódromo carioca, Fabio de Mello, na sua página no facebook: “Copa acabou, acho que vou voltar pro carnaval”.