*Por João Ker
É impossível determinar exatamente quantas pessoas e funções estão por trás de uma imagem perfeita. Cenário, iluminação, fotografia, objeto/indivíduo retratado, styling, produção e por aí vai. Ainda assim, é inegável a importância de um diretor criativo que, através de seu trabalho, viabiliza um simples conceito discutido em uma reunião de marketing e o transforma em algo gigantesco, escala monumental, único e fiel à ideia original. E é exatamente essa responsabilidade alinhada a um modo único de criar que tornam Giovanni Bianco, dono do estúdio GB65, um dos maiores nomes do mundo neste mercado.
Brasileiro que vive entre Nova York e Milão, Giovanni já está há 26 anos nessa profissão, com uma clientela de fazer inveja em qualquer concorrente e uma lista extensa que nos tomaria um dia inteiro para descrever. Mas, apenas para se ter uma ideia do panorama geral, vão aqui algumas referências aos desavisados: entre os fotógrafos com quem costuma fazer dobradinha, nomes como Steven Klein, a dupla Mert Alas & Marcus Piggott, além de Inez & Vinoodh, Steven Meisel e Ellen von Unwerth, para citar apenas alguns. Na moda, ele atende simultaneamente marcas como a Miu Miu, Versace – esteve por trás da recente parceria da grife com a Riachuelo, da campanha ao desfile sensacional, que você viu aqui -, DSquared², Dolce & Gabbana, Arezzo, Schutz e muito mais.
Revistas como a Vogue Italia – a mais high fashion de todas as edições – volta e meia publicam imagens que ele ajudou a criar. De modelos, já trabalhou com as maiores e melhores, como Gisele Bündchen, Kate Moss, Lara Stone e Candice Swanepoel. Na música, já ajudou gente como Ivete Sangalo, Marisa Monte, Lulu Santos, Donna Summer e Madonna. Sim, Madonna.
A Rainha do Pop e Giovanni são amigos íntimos, daqueles que passam férias juntos tomando caipirinha a bordo de um iate em algum lugar paradisíaco, daqueles que só os bem-nascidos ou devidamente catapultados ao estrelato frequentam. Colaboram desde 2003 e, nesses onze anos, ele já a ajudou em inúmeros projetos: encartes e capas de álbuns (“Confessions on a Dancefloor”, “Hard Candy” e “MDNA”), ensaios fotográficos para as maiores revistas de moda do mundo, tour books, vídeos para as turnês (“Justify My Love”), livros de projetos paralelos e, pelo que HT conseguiu capturar do Instagram, ele também está fazendo parte do novo álbum de Madge, com segredinhos guardados a sete chaves (apesar de termos descoberto primeiro o nome de uma música – graças à indiscrição de Diplo durante a Copa, em tête-a-tête exclusivérimo durante um badalo no qual o DJ comandava as carrapetas- e de outras duas já terem vazado na internet). Foi ele, por sinal, quem ajudou a fazer a última campanha de Madonna para a Versace, a qual já andou causando um burburinho imenso e foi comentada em todos os cantos do planeta.
Pois é, entre a apertadíssima agenda de trabalhos, badalos com Madonna e o lançamento de seu novo livro sobre imagens religiosas, “Say A Little Prayer”, Giovanni conseguiu arrumar um tempinho para bater um papo esperto com HT sobre todo esse universo fantástico que ele cria através de imagens que, com certeza, o leitor já viu em inúmeros vários lugares. O resultado está aqui embaixo:
HT: Giovanni, você está há 26 anos trabalhando como diretor criativo, tendo colaborado com as maiores marcas do mundo. Como você decidiu seguir essa profissão e quais foram os maiores desafios que precisou enfrentar no início da carreira?
GB: Sempre tive grande fascínio por imagem e sempre fui muito curioso. Acho que foi isso o que me levou a esse trabalho. Por ser dislexo, foi muito difícil aprender outras línguas. Tive muita dificuldade com o italiano e com o inglês e, também, em aprender a ficar focado. Mas tudo isso me fez uma pessoa determinada e me ajudou a superar todas as dificuldades.
HT: O que você considera que foi um turning point na sua trajetória profissional?
GB: Primeiro foi o meu encontro com a Ana Couto [publicitária especializada em branding]. Depois, minha mudança para Milão. A grande luz apareceu mesmo em NYC.
HT: Você trabalha com moda, música, arte e projetos audiovisuais. Qual é o mais prazeroso e o mais complicado?
GB: Todos são muitos parecidos no processo. O mais complicado é fazer pequenos jobs, pois dão muito mais trabalho do que parece. E é trabalhoso também lidar clientes que não têm uma voz própria.
HT: Simultaneamente, você costuma criar várias campanhas para várias grifes diferentes na mesma temporada. Como consegue encontrar inspiração para cenários e uma comunicação visual tão diversos entre si em um prazo tão curto? Você consegue ver um ponto em comum que permeie certas estações, algo como uma “onda verde” do momento específico, que se reverbera temporada adentro?
GB: Nem eu consigo entender como consigo essa façanha de executar ao mesmo tempo tantos trabalhos diferente e conseguir ser diferenciado no todo. Um dia vou amar entender isso, porém acho que vem tudo da minha força. Não existe onda, mas sim intuição e bons briefings.
HT: Lembro que, recentemente em São Paulo, você me disse que havia tirado a inspiração para o desfile da Versace de uma revista da Air France. Se lembra de alguma outra epifania criativa que tenha surgido de algo banal ou corriqueiro?
GB: Muitas dessas ideias vêm quando estou tomando banho, andando pela rua, indo ao supermercado ou à feira. A outra parte vem da minha coleção de livros.
HT: Você colabora constantemente com Steven Klein e a dupla Mert Alas & Marcus Piggott. Imagino que já deva existir alguma familiaridade entre o processo criativo de vocês. O que mudou desde a primeira colaboração até os dias de hoje?
GB: Trabalho muito mesmo com os três, mas também colaboro com tantos outros… Steven Klein foi talvez o meu grande mestre, que me ensinou a olhar para o mundo de forma diferente. Com a dupla MM, aprendi a olhar para um mundo mais colorido e bello. Com o Steven Meisel, foi como fazer uma grande imagem de moda. E assim vai: sigo aprendendo um pouco com todos com que trabalho.
HT: Há sempre algumas questões ligadas à religião no seu Instagram e em alguns de seus trabalhos. Agora você vai lançar o livro “Say a Little Prayer”, no qual fala sobre o tema. Pode explicar um pouco sobre este projeto e como é o papel da religião no seu dia dia, tanto pessoal quanto profissional?
GB: Desde pequeno sou fascinado por religiões e por simbologias, crenças etc. “Say a Little Prayer” é um projeto muito especial na minha vida, e foram cinco anos desenvolvendo o livro. Amo rezar e gostaria de dividir essa fé e essas orações com o mundo.
HT: Seu mais recente trabalho na moda foi a nova campanha de primavera/verão da Versace, estrelada por Maddonna. Como foi a concepção dessas imagens e o processo por trás da escolha, levando em conta que esta é a quarta campanha de Madge para a grife e que o verão do ano passado foi estrelado pela Lady Gaga, “desafeto público” de Madonna? Houve alguma preocupação nesse sentido?
GB: Tudo aconteceu por acaso. Fomos tirar férias em Ibiza, eu, a Madonna, o Mert e o Marcus. Lá, tivemos essa ideia que logo dividimos com a minha amada Donatella. Ela amou muito tudo isso e nunca rolou o pensamento de que já havíamos feito campanha com a Lady Gaga. Isso já é o passado. Tenho como filosofia de vida não olhar para o passado, e sim para o hoje!
HT: Falando em Madonna, você vem acompanhando a carreira da Rainha do Pop há dez anos, ajudando a criar o imaginário visual por trás de grandes projetos e álbuns. É de conhecimento público que a cada disco ela entra em uma nova “era”, o que se traduz em novo visual, novas mensagens, nova atitude e novas bases para o comportamento. Em relação ao novo disco, o que se pode esperar do quesito criatividade?
GB: Sou apenas um bom instrumento para a Rainha M. Ela é quem cria tudo, é uma mulher genial. Como um grande fã dela, tudo o que vi e o que escutei desse disco é maravilhoso!
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