Max Bitencourt. Quem está por dentro do mundo de beleza no Brasil muito provavelmente já ouviu esse nome. O beauty artist, que frequentemente trabalha com estrelas, é um homem que mantém os pés no chão. Foi ele quem assinou a beleza do ensaio exclusivo para o site HT com a atriz Agatha Moreira, que contou com as fotos incríveis de Beto Gatti (leia nossa entrevista com ele aqui) e styling de primeira by Letícia Cazarré, profissional que acredita no talento da nova geração.
No currículo de Max, a beleza de celebs como Gisele Bündchen e muitos outras, mas nem tudo foi fácil. Ele chegou a se matricular em três faculdades antes de decidir pela profissão, que considera essencial em sua vida. Apesar de sempre ter tido dons manuais, Max nunca havia pensado na carreira como opção. “Minha mãe é costureira autodidata e, por influência dela, eu quis trabalhar com moda. Sempre estive envolvido com desenho, dança, costura, dons manuais. Mas não sabia o que era e minha família queria que eu fosse dentista ou médico. Eu não tive incentivo para o lado artístico”, contou ele, que chegou a cursar informática, administração e educação física e comparou a última faculdade à profissão que atualmente exerce. “Consegui achar dentro da área de beleza o que eu procurava em todas as outras: trazer conforto e bem-estar para as pessoas. Educação física e maquiagem são complementares. Os dois trabalham com autoestima, mas um é a longo e o outro a curto prazo”, refletiu.
Foi cursando a faculdade de educação física que Max descobriu seu talento. Ou melhor, foi descoberto. Conversando com um amigo no intervalo entre uma aula e outra, viu uma mulher passando na rua e comentou como ela ficaria melhor se estivesse com uma maquiagem poderosa. “Eu olhei para ela e pensei: ‘imagina com a maquiagem tal, correção na pele, cabelo assim’, e meu amigo disse que eu deveria virar cabeleireiro, porque eu falava da menina como se a enxergasse pronta. Então, eu comentei que não sabia segurar uma escova e o assunto morreu”, contou, rindo. O destino o surpreendeu e, na semana seguinte, o dono de um salão em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, foi até a faculdade lhe oferecer um emprego. “Ele chegou perguntando se eu era o Max que queria ser cabeleireiro e contou que meu amigo havia dito que eu tinha um olhar muito sensível. Me propôs um emprego com ajuda de custos e cursos e eu fui”, disse ele, que confessou ter tido que superar preconceitos. “As pessoas sempre julgam quem trabalha em salão e eu estaria inserido naquele mundo”, relembrou.
Em pouco tempo, com seu carisma e talento, se tornou o mais requisitado profissional do pequeno salão no bairro da Freguesia. “Fiquei lá por dois anos e meio e meu chefe começou a ter ciúmes de mim, mas eu não competia com ele. Enfim, ele quis me tirar, mas não guardo mágoas. Foi quem abriu as portas para a profissão da minha vida”, explicou. Max decidiu, então, fazer um curso no Werner e, em seguida, começou a trabalhar como profissional de corte em uma das filiais. “Quando eu estava quase completando um ano lá, a chefia me convocou para a feira de beleza da L’Oréal do Projac, que tinha uma vez por ano. Selecionaram os melhores cabeleireiros de cada loja para cortar o cabelo da equipe de direção e produção da Globo e eu fui”, contou. Chegando lá, soube de vagas para a oficina de caracterização da emissora e não pensou duas vezes. “Na semana seguinte, eu estava participando de um processo seletivo com 920 profissionais. Eu queria mostrar a minha arte. Passei por testes de velocidade, psicológicos e fui admitido”, comentou.
Foi na Rede Globo que começou a trabalhar com maquiagem e onde sua vida deslanchou, de acordo com ele. “Quando pus meus pés lá dentro tudo mudou. Conheci muita gente”, declarou. Ainda assim, nem tudo foi fácil. “Eu comecei a ser visto como barraqueiro, porque ainda existe a crença de que cabeleireiros e maquiadores são subservientes. Só que nós trabalhamos com isso, porque estudamos. Não por falta de opção”, disse ele, que ficou por três anos e meio na empresa. “A Globo me abriu muitas portas, eu estava dentro do maior veículo de divulgação de imagem de mídia”.
Depois disso, foi morar em São Paulo, onde ficou por três anos e meio e teve a oportunidade de aprender com os melhores profissionais de beleza do Brasil. “Eu peguei técnicas de cada um e coloquei a minha personalidade”. Na capital paulista, realizou grandes sonhos, como trabalhar com a uber model Gisele Bündchen. “Eu conheci o Ale de Souza, que me ensinou muito. Depois, no último ano que morei em São Paulo, fui assistente do Daniel Hernandez, que maquia a Gisele. Ela tem uma energia incrível, é simpática, educada, olha nos olhos, fala com todo mundo”, contou ele, que aproveitou para declarar que considera o humor característica essencial para uma boa maquiagem. “Contribui 100% no resultado. Quando a pessoa chega de cara emburrada, tudo fica ruim. Eu trabalho muito com energia e já fui embora de trabalho por não bater com a pessoa”, revelou.
No ramo da beleza, a alegria é fundamental. “Parto do princípio que todo mundo que está ali faz o que ama, então deve haver felicidade”, declarou ele, que aponta o respeito e saber ouvir como características importantes na profissão. “Temos que observar, nos compadecer com o outro. É um trabalho de equipe, então não pode existir fotógrafo, maquiador, atriz ou modelo astros ou estrelas. Todos são profissionais e a engrenagem só funciona com as peças encaixadas”, garantiu.
Max voltou para o Rio de Janeiro há dois anos e meio e, atualmente, trabalha como freelancer. “Tenho conseguido construir um nome no mercado e ser reconhecido pelo meu trabalho. Faço moda, publicidade, casamentos, tudo”, contou. Seu material é de fazer inveja em muita it-girl. Produtos de todos os tipos, importados e brasileiros, tem lugar na mala do beauty artist e ele testa tudo no próprio rosto. “Não acho que uma marca cara é melhor só pelo preço. Compro as minhas próprias maquiagens, mas tenho parcerias. Gosto de tudo hipoalergênico. A minha pele é muito sensível, então, se não me der alergia eu compro. Já trabalhei com os melhores maquiadores do país, tive acesso a vários produtos e fui vendo o que era melhor pra cada tipo de pele e luz. Aqui no Brasil o material é muito caro e eu tenho que ter muitos tons, porque trabalho com todas as peles”, contou ele, que elege uma específica como preferida: a negra. “As negras têm todas as vantagens: a oleosidade e o viço. Se hidratar bem, a pele fica sensacional. Além disso, posso abusar de cores quentes, porque ficam lindas”, explicou ele, que sonha em maquiar a modelo Naomi Campbell. “Todo mundo fala que ela é super difícil, mas eu amo desafios e tenho muita vontade”.
Os sonhos vão ainda mais além. Max tem vontade de abrir um ateliê próprio. “Gosto de atender as pessoas com tranquilidade. Se precisar, trabalho rápido, mas prefiro fazer tudo com calma”, disse ele, garantindo que visão estética apurada é essencial em seu meio. “Nós usamos os mesmos materiais em diferentes rostos”, justificou. As apostas dele para a próxima estação são uma pele mais trabalhada e a inversão da make “Kardashian”. “Maquiagem é sombra e luz, o escuro traz profundidade e o claro ilumina. A nova tendência é o strobing, valorizar em vez de esconder”. Ou seja: ainda mais iluminador, que, na opinião de Max, não sairá de moda tão cedo. “O mercado de make muda muito, mas a pele iluminada, leve, com poucas correções, valorizando o traço da mulher, se mantém há algumas estações”.
Ele, que costuma acompanhar as semanas de moda, disse que gostou bastante dos rostos na edição Verão 2016 da São Paulo Fashion Week. “Adorei a força dos olhos, com delineador borrado e máscaras marcadas. A boca agora é secundária”, analisou ele, apostando ainda nos tons que vão bombar na próxima estação. “Acredito que a maquiagem metálica com tons quentes vai ser bastante usada. Antes era prata, agora tudo mudou. Tem muito dourado, cobre, marrons e alguns tons frios como azul”, disse, acertando em cheio a tendência das semanas de moda internacionais antes mesmo de elas cruzarem as passarelas. Ele sabe das coisas.
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