O adeus de Ricardo Bräutigam à Ausländer, que passa ao comando total de Felipe Simão em parceria com a Limits


Empresário vai focar em novos projetos que incluem uma agência hype de branding, chamada The Black Haus; uma barraca de praia em Ipanema, batizada Restinga; e suas festas e festivais de música

*Por Júnior de Paula

Ricardo Brautigam, criador da Ausländer e uma das cabeças criativas mais importantes da última década na moda e na indústria de entretenimento do Rio, usou a sua conta no Facebook para fazer um comunicado: depois de dez anos e algumas vendas e revendas da marca para outros grupos, ele deixa definitivamente sua grife nas mãos de outra pessoa. E esse alguém é o empresário Felipe Simão, que se associa à Limits para tocar a “nova” Ausländer. Já Cadinho, como é conhecido o ex-dono da marca, agora terá tempo para focar em novos projetos que incluem uma agência hype de branding, chamada The Black Haus; uma barraca de praia em Ipanema, batizada Restinga; e suas festas e festivais de música que já vivem no inconsciente coletivo e no calendário de quem entende das coisas. Para saber mais, é só ler o comunicado que HT divide aqui com vocês:

 

Ausländer, 10 anos de realização profissional e satisfação pessoal!

Estou deixando a empresa que criei 10 anos atrás. Mas, neste momento, não consigo dizer adeus sem antes agradecer a todos que me ajudaram nessa jornada divertida e de sucesso. E convidá-los a um futuro ainda mais promissor.

Criei o nome e a marca Ausländer ainda em 2003, quando aprendia alemão com a minha querida Oma (avó). O livro de aula era “Deutschlere für Ausländer”, que em alemão significa “estrangeiro/o que vem de fora”. Foi nesse conceito que me baseei para criar a marca. Queria me diferenciar da onda “Brazilian Soul” (criada pela Osklen e seguida por tantas outras) que dava o tom da moda carioca. Nessa época, ainda trabalhava como designer na Binder (agência de Publicidade) e criava sites de bandas como freelancer. Comecei com os sites da Dibob, e depois fiz o do Los Hermanos, D2 (publicado no livro de design da renomada Taschen), Detonautas (premiado como Melhor Site de Artista pela MTV, no VMB de 2004), Jota Quest, entre outros.

Comecei a produzir as primeiras t-shirts da Ausländer em 2004, em sociedade com Pedro Cardoso (hoje à frente da Balasarae e UseHuck). Elas seguiam essa pegada “gringa” (tecido, cortes, modelagem e estampas diferentes do que se via por aqui na época) e vendemos para amigos e amigos de amigos (tks Juliana TPS, Renato Pereira, Miguel e Ana Luisa Lopes). Nossos primeiros hits foram as estampas “Padaria de Ipanema” (tks Juliana Bretas, nossa primeira model) e “Caipirinha”!!! Alguns bazares se passaram e, mais rápido do que imaginávamos, chegamos a algumas lojas multimarcas. A Ausländer estava na Tidsy (da minha “madrinha” e primeira compradora, Astrid Monteiro de Carvalho), na Clube Chocolate (tks Xavier, Xande Badenov e Laura Ulrich), na conceituada Daslu (tks Duda Falci) e, pasmem, ainda em nosso primeiro ano estávamos sendo vendidos na Galeries Lafayette, em Paris! Nesse ano, também produzimos o primeiro Catálogo/ Editorial da Auslander, com a ajuda de minhas queridas amigas Marta Zollinger (stylist) e Carla Biriba (make), e estrelando nossa primeira modelo profissional, Lara Grander. Vale lembrar que, em 2004, fizemos também nossa primeira festa oficial, que rolou no 00 da Gávea e contou com meus parceiros DJ Nepal e Digo Reis (Moo). Ela foi o embrião de uma série de eventos que marcaram minha carreira e a da Ausländer, e que fazem o maior sucesso até hoje!

Em 2006, abrimos nossa primeira loja própria, em uma pequena galeria no coração de Ipanema (a poucos metros da Padaria ilustrada em nossa primeira estampa de sucesso). No meio desse mesmo ano, fomos convidados a abrir nossa segunda loja, dessa vez no hypado Fashion Mall. A marca seguia crescendo em ritmo acelerado e sempre com a ajuda e os conselhos das minhas tutoras Patricia Viera, Lenny e Isabela Capeto (e sua braço direito, Duda Braga). Com elas, ia aprendendo as manhas dos backstages do mercado e a alegria de trabalhar feliz, em um ambiente agradável e querendo o bem da sua equipe acima de tudo. Meu amigo Máxime Perelmuter era outra grande referência na moda masculina e como pessoa/ profissional (todos continuam meus amigos e ídolos até hoje).

O Grupo Água Viva acertou com a Ausländer em 2008 (obrigado, Fernando Porto por todas as consultorias durante os anos). Naquele momento, tendo ao lado a produtora Lu Saturnino, minha braço direito e esquerdo à época, abrimos mais duas lojas: no Shopping Leblon e no Rio Design Barra. Nosso mix de produtos cresceu na mesma proporção da marca, tínhamos jeans, bermudas, casacos etc. Mas o nosso escritório seguia na minha casa, na Gávea. Éramos seis pessoas trabalhando na sala e duas no meu quarto. (Alô, Beguido, Stephanie Wenk, Renata Balbino, Bia Andreazza, Ana Julia Tango, Felipe Diz e Guilherme Ponde!) Eles encontravam comigo na night e me pagavam bebida, a ideia é que eu ficasse de ressaca e pedisse para eles chegarem mais tarde no dia seguinte (rsrsrs sei….).

A Ausländer sempre teve uma pegada jovem, transitava com naturalidade tanto entre as patricinhas como entre os surfistas (um salve pra galera Lanho do LTT!), e começou a ganhar corpo como marca cool, com a entrada de José Camarano para o nosso time. Stylist de quase todos os nossos desfiles até hoje, José foi fundamental para a marca e um irmão. Sentimento que eu nutria por toda nossa equipe. Costumávamos dizer que a Ausländer atraía gente “do bem”. Sempre valorizei muito o bom ambiente de trabalho e a relação profissional/de amizade dos que trabalham na marca. Assim, naturalmente, surgiu a expressão Ausländer Crew: um misto de amigos, parceiros, modelos, funcionários e ex-funcionários que continuam amigos e saindo juntos até hoje. O nome se foi, a amizade será eterna !! ‪#‎PuntaJovem (com a participação especial de Caio Braz, André Namitala, Suzana Till, Heleeeeenda, Carol Catão, Amanda Machado, Dani Esdras e grande elenco).

Fizemos nosso primeiro desfile no Fashion Rio em 2009. Na equipe, estavam José Camarano, Nepal, Carla Biriba, Ciro Luporini, Breno Votto, Daiane Conterato (musa da Ausländer durante todo o período que estive à frente da marca – muitas vezes capa dos nossos catálogos fotografada pelo ídolo André Nicolau), Aline Weber e muitos outros que continuaram na equipe por mais de dez temporadas e desfiles. Nossa missão sempre foi levar algo novo para o evento. E acho que conseguimos, pois chegamos algumas vezes a encerrar a semana de moda em sua Sala Principal. Pelas nossas passarelas passaram Zombie Boy, Andrej Pejic (a dupla tatuado e andrógino que fez nosso desfile aparecer no Fantástico e receber Prêmios Internacionais, como “Melhor Campanha da Temporada”), Jon Jones e Anderson Silva (UFC), Daisy Lowe (it-girl britânica), a atriz mais querida e supercool, Thaila Ayala, o galã Rodrigo Santoro e, também, o conceituado fotógrafo CobraSnake e a estrela hipster russa, Anja Konstantinova. Tivemos show ao vivo na passarela, com a banda canadense Dragonette e, com Beatrice Eli, fizemos nevar em um desfile patrocinado pela Mini Cooper e com o top gringo Cole Mohr, e trouxemos dois top blogueiros internacionais, como Gala Gonzalez e Pelayo. Aqui ainda cabe um special thanks para Converse (Leyla e Rena Benevistes), Rider (Juli Modelski), Levi’s (Ana Andreazza), BlackBerry, Morgana (Ford), Chevrolet (Glaucio Binder, Lucas Daibert, Luiz Madrid), Budweiser (Andre Clemente), Constança Basto e Lucio Salvatore, Chilli Beans (Luciana Cobra), MrCat (Lulu Novis) entre tantos parceiros.

Por volta do ano de 2011 fomos comprados pelo grupo Farm/Animale e fomos parar dentro do escritório da Farm, em São Cristóvão. Aquilo era o paraíso em todos os sentidos (e foi lá que conheci minha namorada e parceira de todas as horas, Thalita Cotrofe). Aprendi muito com o o Roberto (Animale), Marcello e a Katia, donos da Farm, que transmitem energia positiva e boas vibrações para toda a empresa. Não tem uma pessoa na empresa que não trabalhe com profissionalismo e alegria. Obrigado também ao André Carvalhal, que sempre me ajudou por lá, cedia os estúdios da empresa para as nossas bagunças (vale lembrar o episódio da “Busca Vida” voadora!) e que me citou como referência no seu livro sobre branding, “A moda imita a vida”.

Porém, mais uma vez, quis manter a essência da marca e me contrapor a tendência de crescimento acelerado do mercado, preferi manter a identidade jovem, cool, internacional da Ausländer mesmo que para isso tivesse que mantê-la um pouco menor. Com essa mentalidade, me desvinculei da Animale e, com o dream team que tínhamos na época (Lu Saturnino – a guerreira heheheh, Marcella Franklin, Erika Toscano, Natalia Sicsu, Ana Julia e Gabriel Garcia), voltamos a trabalhar da minha casa. Serei eternamente grato a essa equipe! Até que, menos de dois meses depois, conseguimos fechar um novo contrato. Dessa vez, com um novo sócio investidor/capitalista, uma empresa saudável financeiramente, com duas lojas próprias e vendendo para mais de 80 multimarcas.

Meu novo sócio tinha uma mentalidade jovem como a minha e muita vontade de crescer, trabalhamos muito os últimos 2 anos, mas fui percebendo que não tínhamos a mesma sintonia e conexão com a equipe. Aos poucos, essa falta de sintonia foi sendo sentida e a marca perdendo a identidade e a equipe não mais se identificava com esse novo perfil que se desenhava. Em pouco tempo, a situação financeira estava caótica, sem perspectivas. Acabei optando por me desligar da empresa.

A Ausländer continua (sem nenhuma participação minha) e, como saiu em nota no Globo: “depois de parcerias com Galeries Lafayette, Colette, Daslu, Patricia Viera, Isabela Capeto, Levis… se associou a Limits.” Desejo a eles boa sorte e que tenham sucesso em manter a marca nos padrões e na essência que criei.

O que vou fazer daqui para frente?

Sigo tocando antigos e novos projetos.

Estou inaugurando minha agencia de branding experience: a TheBlackHaus – onde irei trabalhar relacionamento, direção artística, consultoria e produção.

Abri uma barraca de praia, a Restinga, na Garcia D’Ávila, em Ipanema, (em parceria com Zeh Pretim e Tunico).

Ainda permaneço à frente das festas que criei, como o Halloween (versão private), a Mardi Gras (em parceria com André Barros), a Pool Party (em parceria com a Manu Maya, Cacau e Bruno Maia), o Festival de Musica em Itaipava (Alô Helinho, Vascon e Leo Rezende), além da Festa de encerramento das Semanas de Moda, entre outras tantas. Com uma única diferença: agora sem usar o nome de minha antiga marca.

Sem falar – mas já falando! – que continuo tocando em algumas das festinhas mais legais do Rio (tks aos Djs e produtores e promoters que fazem a identidade das festas: Cix & Yasmin, Nepal, Leondre, Bernardo Campos, Wladimir Gasper, Filipe Mustache, Diogenes, Val, Lu Dangelo, entre outros), e que, em abril, faremos a nossa casa no Coachella (no primeiro final de semana) pelo quinto ano consecutivo e, até o fim de 2015, espero já ter aberto no Rio um pub/ restaurante com uma cara cool de Berlin/ Londres.

Moda? Quem sabe uma linha de boardshorts/ biquínis/ maiôs e t-shirts só para os amigos.

Não escrevo esse texto triste por ter me desvinculado da marca, muito pelo contrário. Estou super feliz pois agora, depois de 10 anos, tenho a liberdade (e o tempo) para fazer outras coisas que sempre quis. Ano passado (já fora da marca – mesmo que ainda não oficialmente) foi um dos melhores anos da minha vida (financeira e pessoalmente). Que os próximos anos sejam ainda melhores! Sempre na companhia dos meus amigos e parceiros de trabalho e de vida!

Obrigado mais uma vez a todos