O Rio de Janeiro tem de volta um evento de moda. Após dois anos de hiato sem o Fashion Rio, a Marina da Glória recebeu o Veste Rio, uma feira de negócios promovida pela revista “Vogue” e pelo “Caderno Ela”, do jornal “O Globo”. De quarta-feira até hoje, sábado, cerca de 90 marcas apresentam as coleções para compradores nacionais e internacionais. E, em meio à crise econômica que o Brasil vêm enfrentando nos últimos tempos, HT foi descobrir como as marcas estão se portando e quais mudanças tiveram que adotar para continuarem firmes e fortes no mercado. E acredite: apesar de todos os números registrados pela economia brasileira, muitas delas tiveram crescimentos.
Dentre as empresas expositoras, está a Farm, uma das marcas que se mantém crescendo, segundo o diretor comercial Thiarles Borges. Como nos contou, os números positivos da loja carioca são resultados de um trabalho de visibilidade, blindagem da marca, branding e investimento. “A Farm está super bem nos três mercados que ela atende: e-commerce, atacado e varejo, embora a gente perceba que o mercado está muito mais hostil e retraído. Não estamos sentindo a crise. Mas esse resultado tem a ver com o fato da cliente Farm ser muito fiel e apaixonada pela marca. Então, ela deixa de comprar outras coisas, mas não abre mão da estampa que ela gosta, por exemplo. Na crise, você precisa investir mais para criar novos motivadores. Hoje, a empresa está olhando muito mais para dentro. Estamos tentando buscar, resgatar e ser o mais fiel possível ao que é a identidade Farm e, principalmente, ao que a cliente da marca busca”, explicou o diretor comercial.
A relação mais próxima com o cliente do atacado também foi uma estratégia para algumas marcas. A Sacada, por exemplo, optou por diminuir a margem de lucro e manter os preços em relação à última coleção, mesmo o país tendo uma inflação superior a 10%. Em entrevista ao HT, a gerente comercial da marca, Sandra Fróes, disse que, além da estabilidade nos preços, a empresa está oferecendo melhores formas de pagamento e descontos em fretes. “Nossa intenção com essas ações é conseguir manter a base de clientes que temos e expandir para novos mercados também. Então, nós elaboramos algumas estratégias para que pudesse ser bom para os dois lados”, afirmou Sandra. A Armadillo, loja de moda masculina, também preferiu assumir uma posição de “parceira” do cliente. “Nós passamos a entender a relação be to be com as multimarcas, compreender a crise socioeconômica que estamos passando e, com isso, tentar flexibilizar ao máximo possível a política comercial da empresa. Temos que ter esse entendimento entre ambas as partes e aproximar a relação com o lojista. No varejo, a Armadillo, teve crescimento em relação a históricos passados, devido a ações de venda que fizemos em cada loja”, completou o responsável pelo atacado da marca Fernando Freitas.
Para continuar viva no mercado apesar das condições insatisfatórias, a Totem vem se transformando ao longo dos últimos dois anos. A marca carioca, que é tradicionalmente conhecida pelas estampas exclusivas, optou por fechar todas as lojas físicas e permanecer com apenas uma, no Shopping Leblon, que assumiu o papel de vitrine e loja conceito da marca. “A nossa estratégia foi fortalecer a web e o atacado nacional e internacional, principalmente com a Austrália. A gente adotou uma nova identidade ao longo desses dois anos. Agora que a crise está no auge, a marca já está estabilizada por esse trabalho feito lá atrás. Nosso faturamento aumentou e as despesas diminuíram”, contou Daniella Guedes, gerente comercial da Totem. E segundo ela, para 2016 e 2017, o dono da empresa, Fred D’Orey, não tem planos para retomar a estrutura de lojas próprias que tinha antes das mudanças adotadas.
Mas também teve empresa que preferiu adotar mudanças nas roupas. A marca mineira Anne Fernandes, no mercado da alta costura há dez anos, diminuiu o preço final das peças. Como? A própria Anne Fernandes contou ao HT que, aliada às ultimas tendências, as roupas passaram a ter menos bordados e as rendas nacionais ganharam força nos looks da empresa. “Nós estamos tentando nos adequar em diferentes pontos. Não deixamos de usar rendas exclusivas, mas, agora, as nacionais ganharam força. Os fornecedores também são outros e as peças têm menos bordados. Dessa forma, conseguimos ter um preço final mais acessível”, explicou a empresária. Anne também destacou a preocupação das multimarcas ao escolherem as peças. Segundo ela, os compradores estão se preocupando mais com os preços da etiqueta, o que não era comum para o público que ela atende. “As lojas não deixam de comprar o seu produto, mas passam a comprar mais peças com preços menores e menos das mais caras. Assim, elas fazem um equilíbrio dentro das lojas. Outro ponto que percebemos, é que os compradores estão explorando mais o mercado nacional e passando a comprar menos de marcas lá de fora”, completou a mineira.
Já a Mary Zaide e a Metally, de bijuterias, preferem continuar com a qualidade das peças que são reconhecida no mercado. A empresária Lilly Barbato, responsável pela Metally, disse que enxugou os custos da marca demitindo cerca de 40% dos funcionários da fábrica própria – o corte representou a saída de 30 dos 80 trabalhadores que prestavam serviços diretos à empresa. Segundo ela, essa foi a única saída encontrada, já que ela não considera a hipótese de trocar o material utilizado. “Eu uso o estanho na confecção das minhas peças. E o metal é cotado pela bolsa de valores. Então, quando o dólar sobe, ele também fica mais caro. Eu só conseguiria baratear mais se deixasse de usar o metal nobre e passasse a usar níquel. Mas aí eu arriscaria a minha cliente a ter câncer de pele, e eu não tenho coragem de fazer isso”, disse Lilly, que tem a empresa há 26 anos e produz para marcas como Animale, Arezzo, Schutz, Ellus e Maria Filó. Com pensamento parecido, Mary Zaide, dona da marca homônima, contou que teve que produzir menos quantidade para não ter que alterar a qualidade das peças. “Nós tivemos que enxugar custos e reduzir aquilo que não estava dando certo. É um momento que precisamos prestar bastante atenção aos gastos. As vendas diminuíram e as pessoas ficaram mais preocupadas com o que compravam. Já que as vendas diminuíram, também reduzimos a produção. Tem que fazer menos, mas não cair a qualidade, não podemos descer o nível do produto”, concluiu.
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