Mais de 300 pessoas se reuniram na Praça Mauá durante a tarde de ontem para testemunharem a força e a originalidade da moda carioca, que se apresentou em plena forma durante o desfile de Inverno 2016 realizado por cinco marcas de jovens estilistas – Benta Studio, Cabron, Haight, Handred e Helena Pontes – no Fashion Business Rio. Organizado por Eloysa Simão, o evento, como HT contou aqui, tem unido marcas consagradas no cenário nacional com grifes emergentes na indústria com o objetivo de impulsionar vendas e fomentar o setor, sem se perder em números e dando espaço também para o lado artístico do universo fashion.
Minutos antes de o desfile ao ar live começar, HT pôde testemunhar como, não importa o tamanho ou o tempo de experiência de uma grife no mercado de moda, o desespero no backstage momentos antes de um desfile começar é o mesmo para todos os estilistas. Ali, em uma sala organizada no Píer Mauá, as cinco marcas dividiam o espaço enquanto modelos andavam de um lado para o outro aplicando os toques finais de maquiagem, costureiras e estilistas ajustavam alguns detalhes das roupas.
O mix de referências era incrível e ilustrava, simultaneamente, a pluralidade e atitude dos envolvidos: enquanto as meninas da Benta Studio posavam para fotos com suas semi-joias indianas, os rapazes da Handred tinham o rosto coberto por acessórios de inspiração libanesa. Em um canto, o casting da Cabron – que incluía skatistas, artistas, arquitetos e músicos – se mostrava ansioso para o início, enquanto a beleza trazia um que de gótico e urbano (como contamos aqui, essa é a principal tendência de make para o Inverno 2016), contrastando com o visual híbrido e tecnológico das modelos da Haight, todos assinados pela beauty artist Carla Biriba.
Mas eis que chega a hora de sentar em seus lugares e, de frente para as obras do Museu do Amanhã, o público começa a ouvir “Paper Planes”, da M.I.A., e a Benta Studio deu a largada para os desfiles. Batizada “Raja tropical”, a coleção mostrou o forte das estilistas Gabriela Garcia e Maitê Lacerda, que se inspiraram na Índia paa criarem estampas cheias de referências àquela cultura, mas de maneira contemporânea: a santidade das vacas, o mercado aquático, reproduções do Taj Mahal e até mulheres indianas se espalhavam por vestidos, blusas e saias repletos de brasilidade tanto nas cores vívidas quanto nos tecidos e esvoaçantes. Após a apresentação, a dupla conversou com HT. “Queríamos trazer uma Índia menos clássica, com uma pegada mais urbana, esportiva e pop. Temos um carinho muito grande pelo país”, contaram as meninas, que viajaram para lá em momentos distintos ao longo do último ano.
Em seguida, foi a vez de o masculino com pegada unissex da Handred invadir a praça. Como havia nos contado na véspera, André Namitala não tem a pretensão ou vontade de se inserir no universo da moda feminina (pelo menos por enquanto), mas também não nega o apelo que algumas de suas peças têm nas mulheres que, como ele mesmo classifica, são mais intelectuais e cultas. Logo, não foi nenhuma surpresa quando, em meio aos 10 looks escolhidos pelo estilista e com “uma inspiração livre e menos literal no Líbano”, uma dupla de meninas apareceu no casting. Mesclando uma alfaiataria descontraída, com estampas geométricas que recriam a tapeçaria do país, e se repetiam em bermudas, camisetas e camisas, com uma paleta de cores sóbrias, do verde oliva e os tons ocres ao p&b. As modelagens soltas e amplas e os comprimentos grandes até abaixo do joelho, em algumas peças, deram um ar de liberdade às roupas, ampliado ainda pelo uso de seda e linho. “Dá um certo medo de fazer desfile ao ar livre, ainda mais com o tempo tão fechado, mas foi incrível, saiu tudo certo. Não poderia ter sido melhor”, desabafou André ao final do desfile.
Helena Pontes e sua moda atemporal, estruturada e confortável deram sequência às apresentações. Na coleção “Cúbica”, inspirada no coletivo londrino do século XX, Omega Workshops, que contava com artistas como Vanessa Bell e Duncan Grant, a estilista criou quimonos à brasileira, vestidos, blusas e saias midi com kaftans assimétricos. A estamparia foi desenvolvida pela artista visual pernambucana Lin Diniz, que comentou com HT: “O toque urbano do cenário enriqueceu ainda mais o nosso tema modernista, já que a coleção foi toda trabalhada em cima desse movimento do início do século passado. Quisemos passar todo esse frescor ideológico para as roupas”.
Apostando na atitude irreverente e no urbano, a Cabron apresentou sua coleção “Caos” com modelos reais, alguns visivelmente nervosos, mas todos perfeitos na função de ilustrar uma moda alcançável, entendível e contemporânea. Estampas de insetos se espalhavam por bermudas, camisas, t-shirts e regatas, todas em preto, branco e escalas de cinza, enquanto rapazes de dread ou sem camisa desfilavam ao lado de duas meninas, que também davam vida à estética unissex e, mais ainda, à liberdade de se vestir como quiser, uma das principais chancelas da grife. O styling certeiro de Vagner Donasc ajudou ainda mais nessa relação de proximidade com o público jovem, como o próprio contou a HT: “Sentimos que os modelos não representavam muito a nossa imagem e preferimos mostrar nossa coleção com essa gente que já tem a nossa ideologia. Estamos sempre nos lançando em novos desafios e propondo algo que fuja à regra e, hoje, não foi diferente”.
Responsável por encerrar os desfiles, Marcella Franklin levou as sereias chiques da Haight para a Praça Mauá, apresentando exatamente aquilo que havia explicado a HT: um beachwear que fuja do óbvio e seja usável em todas as esferas. Na coleção “Gota do mar”, a estilista usou e abusou de lycra e neoprene em bodies, tops e biquínis em preto e off white que, com o styling de Antonio Frajado, ganharam um ar ainda mais glamouroso, casados com saltos e chapéus, em uma versão globalizada, jovem e ultrafeminina da carioca.
Ao final das apresentações, enquanto todas as cinco grifes se posicionavam em frente aos convidados com violinos tocando ao fundo, ficou claro que cada marca selecionada ali apostava em uma identidade completamente diferente da outra. Na passarela, é preciso destacar ainda a diversidade étnica das modelos que foram escolhidas não apenas nesse, mas em todos os castings, algo raro de se ver hoje em dia até nas temporadas internacionais. Mais uma vez, o Rio de Janeiro provou por quê é um trend setter mundial, capaz de sempre se renovar, de olho em tudo o que acontece no mundo, mas sem jamais perder a essência carioca.
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