#NãoSomosEscravosdaModa: projeto de combate ao trabalho escravo mistura celebs e especialistas do Ministério do Trabalho para debater a questão


O projeto #NãoSomosEscravosDaModa, em São Paulo, começou sábado (20) e acontece até amanhã, 23. Visando erradicar o trabalho escravo no ramo, a iniciativa apresenta instalação, exposição e debates com personalidades conhecidas, como Fernanda Paes Leme e Caio Braz.

A moda é a segunda categoria de exportação que mais explora o trabalho escravo. Esse dado expressivo é da pesquisa The Global Slavery Index 2018, desenvolvida pela fundação Walk Free divulgada esse ano. A realidade, que se esconde em porões, fábricas e em diversas regiões do país, é tema principal do projeto #NãoSomosEscravosDaModa, parte da ação promovida pelo Ministério Público do Trabalho e que integra a campanha “Somos Livres”, realizada pela Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo. O objetivo é esclarecer para a população brasileira que trabalho escravo contemporâneo é uma grave violação dos direitos humanos, ferindo diretamente a liberdade e dignidade dos cidadãos. O evento acontece na Casa Paulista 1811, na Avenida Paulista, desde sábado (20) e continua até amanhã (23).

A programação do projeto é impactante e fala diretamente com a população, incluindo uma simulação de uma fábrica têxtil em que trabalhadores são submetidos a condições de trabalho precárias. De acordo com o estudo da fundação Walk Free, cerca de 40,3 milhões de pessoas estão nessa situação, das quais 71% são mulheres. No mundo, 24,9 milhões de indivíduos exercem profissões forçadamente.

Além da simulação, o evento conta com a mostra “Costurando Dignidade” do fotógrafo Chico Max, formada por 19 imagens de mulheres submetidas à exploração em oficinas de costura. Segundo o fotógrafo, a maioria das mulheres é boliviana e muitos dos depoimentos gravados em vídeo podem ser acessados ao lado dos retratos na exposição, por meio do celular, utilizando um QR code. Chico, em 2015, já havia feito uma exposição fotográfica com imigrantes vivendo no Brasil, circulando em vários lugares. E recentemente, o fotógrafo foi a Roraima, onde passou dez dias para registrar a presença de venezuelanos no Estado. Chico Max é referência no trabalho antropológico e social relacionado à imigração, o que garante a qualidade e sensibilidade da exposição.

Uma das mulheres retratadas na exposição na oficina de costura (Foto: Divulgação/Chico Max)

A experiência imersiva também traz uma loja da campanha “Somos Livres”, com produtos confeccionados por imigrantes e refugiados para promover o trabalho inclusivo na moda brasileira. Para compreender e pensar o assunto, mesas redondas estão sendo realizadas com especialistas do Ministério Público do Trabalho, como as procuradoras Catarina von Zuben, Elisiane dos Santos e Tatiane Bivar Simonetti, a subprocuradora-geral do MPT Sandra Lia Simón e o procurador Gustavo Tenório Accioly. Além disso, contam com a presença de nomes conhecidos da indústria da moda.

A ação está muito ligada ao movimento mundial que busca saber e entender de onde vem as roupas das lojas e buscando acabar com qualquer tipo de produção que seja fruto do trabalho escravo. Como por exemplo, o Fashion Revolution, um movimento internacional criado com o objetivo de aumentar a conscientização sobre o verdadeiro custo da moda e seu impacto em todas as fases, desde o processo de produção até o consumo e pós consumo. Mostrar ao mundo que a mudança é possível através da celebração dos envolvidos na criação de um futuro mais sustentável; criar conexões e trabalhar em rumo às mudanças exigindo transparência. O movimento Fashion Revolution Brasil também estará no projeto, em mesas e debates. 

A atriz e apresentadora Fernanda Paes Leme, mediadora de diversas mesas no projeto, foi ativa na loja da Campanha “Somos Livres”, com confecções de imigrantes e refugiados (Foto: Manuela Scarpa/Brazil News)

No dia 19, o evento começou com uma prévia para convidados, que debateram “Onde está o trabalho escravo na moda?”, contando o panorama desse tipo de exploração no ramo, com a participação da promotora Catarina Von Zuben, Leonardo Sakamoto, da ONG Repórter Brasil, a jornalista Astrid Fontenelle, a cantora Preta Gil, a modelo Fernanda Motta e a jornalista e consultora de moda Lilian Pacce.

O sábado, primeiro dia aberto ao público da ação, começou com o debate construindo a dignidade na moda, com um registro de boas práticas e perspectiva para a mudança de paradigma das relações de trabalho na indústria da moda, com foco na erradicação da escravidão. Contou com a participação de Dra. Catarina Von Zuben (MPT), André Roston (MTb), o apresentador Caio Braz, a modelo e estilista Lea T., o estilista Dudu Bertholini e a atriz Alice Wegmann.

Na tarde de domingo, a mesa debateu representatividade negra na moda e o enfrentamento da escravidão, assunto presente no tema de trabalho escravo por envolver os maiores explorados: a população negra e como. A mediação foi feita pro Fernanda Paes Leme e recebeu o ator Dan Ferreira, a cantora Luedjl Luna e as procuradoras do MPT Elisiane dos Santos e Valdirene de Assis. Fernanda Paes Leme se emocionou e acabou chorando depois de ouvir os relatos.

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A programação continua hoje com a mesa “O ponto cego da moda: a questão da cadeia produtiva”, para debater como a produtividade de empresas gera o processo de trabalho escravo e como podem existir meios de modificar essa realidade. A mediação é por Fernanda Paes Leme, recebendo como convidados a coordenadora educacional do Fashion Revolution, Eloisa Artuso, a diretora de redação da Vogue Brasil Daniela Falcão, a digital influencer e modelo Paola Antonini, o cantor e produtor Silva, as procuradoras Dra. Christiane Vieira Nogueira e Dra. Tatiane Leal Bivar Simonetti.

Na terça-feira (23), último dia, o evento conta com a mesa sobre moda sustentável e inclusão social, mediada pela jornalista Astrid Fontenelle, Caio Braz, da cantora Maria Rita, a modelo e estilista Lea T, o ator Marco Pigossi, a subprocuradora-geral Sandra Lia Simon e o procurador do trabalho Gustavo Accioly.

Não Somos Escravos da Moda

Data: 20 a 23 de Outubro
Local: Casa Paulista 1811 – Avenida Paulista, 1811, SP
Horário de Funcionamento: 11h00 às 19h00 | Os horários da manhã são destinados apenas às crianças da rede pública de ensino
Classificação: Livre

Entrada gratuita, mais informações no site.