Naomi Campbell não é nenhuma novata no mundo da moda, e nem quando o era a top se calava ou calibrava os comentários. Hoje em dia, então, após ter alcançado o status de ícone, a britânica tomou para si uma causa e não sossega enquanto o cenário geral não mudar: o racismo nas passarelas e o contraste entre o número de modelos brancas desfilando, contra o número de modelos negras. E foi exatamente sobre isso que ela conversou com Nick Knight no último capítulo da série de entrevistas do fotógrafo.
Amigos de longa data e colaboradores frequentes, Nick e Naomi se sentaram para um papo descontraído, relembrando alguns de seus projetos em comum mais importantes e a histórias por trás de tais bastidores. Eis que surge um ensaio com a modelo atirando metralhadoras e granadas que, na época do lançamento, foi uma espécie de protesto fashion contra a falta de diversidade racial nas passarelas. E, de acordo com a “Pantera Negra”, esse é exatamente o motivo pelo qual ela não se aposenta.
“É algo que continua até hoje. Ainda há um problema de ignorância no nosso mundo fashion. Eu não gosto nem de usar a palavra racismo, prefiro dizer que é uma ignorância, uma espécie de territorialismo onde eles não querem se mover. Eles simplesmente não querem mudar o ideal ou terem a mente mais aberta sobre o que é uma garota bonita, independente de cor ou credo”, comentou Naomi Campbell, com sangue nos olhos.
Motivos para tais reclamações não faltam: basta olhar para passarelas e capas de revistas para ver que as modelos negros quase nunca aparecem de forma igualitária à brancas, um assunto que veio à tona em janeiro deste ano, quando Jourdan Dunn foi a primeira negra a estrelar uma capa da Vogue britânica em 12 anos. Repetidamente, o histórico de “ignorância” tem sido criticado. Olivier Rousteing, diretor criativo da Balmain e um dos responsáveis por aumentar o índice de diversidade em campanhas já declarou em entrevista à OUT, em abril, que “fica feliz de as pessoas entenderem que a moda não pertence somente aos brancos”. O próprio fato de Rihanna também ser a primeira porta-voz negra da Dior, uma casa que tem um histórico pesado de racismo graças às críticas de John Galliano quando era diretor criativo da marca, fala por si só.
Naomi ainda comentou a importância de ícones como ela e Iman usarem seu poder, influência e status para exigir mais diversidade: “Nós não queremos que os bebês como Jourdan Dunn e Joan Smalls sejam prejudicadas por falarem sobre isso”, declarou, comentando ainda que na última temporada de desfiles em 2014 houve uma média de 6,8% de modelos negras, contra 7,9% de asiáticos. “Nada bom”, disse, com olhar de reprovação. “Nós não somos uma tendência. E não deveria ser assim. Se a menina é linda, consegue fazer o trabalho certo e dar o que o cliente quer, então não deveria haver um problema. É por isso que eu não me aposento, porque sinto que ainda preciso representar, ver meu bebezinhos e cuidar deles. É algo que eu não vou parar de falar, enquanto não houver uma grande melhora”, finalizou.
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