Se por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher, por trás de três grandes mulheres há Giovanni Bianco. Gisele Bündchen, Anitta e Madonna que o digam. É assim, com clientes – pessoas e marcas tão diferentes -, que o diretor criativo ítalo-brasileiro conquistou a fama de um dos maiores nomes no mercado de moda mundial. E foi em cima de cases como esses que Giovanni Bianco foi convidado a ministrar uma aula especial na Laje, no Rio. Entre declarações como “Anitta é a pessoa mais interessante no panorama da música popular” e “nunca achei que teria a capacidade de trabalhar com Madonna”, ele explicou o poder da imagem na construção de marcas e analisou o processo de criação de grifes como Miu Miu, Arezzo, DSquared e tantas outras que são parte de seu enorme portfólio que começou ao lado de Ana Couto, a idealizadora do núcleo de inovação e aprendizagem Laje. “Nós dois começamos a carreira fazendo o convite de casamento da Claudia Raia com o Alexandre Frota”, revelou Giovanni, entre risos.
Com o recente lançamento do icônico livro de Gisele Bündchen, a aula não poderia começar diferente. “A Gisele foi o encontro da minha vida”, afirmou Giovanni. Os dois se conheceram quando a top tinha apenas 14 anos e pouca visibilidade no mercado, o que abriu pauta para que o diretor explicasse a importância da percepção. “Nós trabalhamos juntos no começo da carreira dela, em 1997, e fizemos Daslu e Forum. Ela era uma modelo auxiliar. Isso mostra a importância da percepção, que é um dos maiores segredos no nosso meio. A beleza da Gisele não chamava atenção, mas ela sempre teve muita determinação. Ela sabia que seria alguém e dizia: ‘Vou ser a modelo número 1 do mundo’”, lembrou. Em 2005, um contrato milionário na Victoria’s Secret e várias campanhas bem-sucedidas depois, Gisele reencontrou Giovanni Bianco. “Eu comecei a ter clientes importantes que ela era a modelo. Achei até que havia uma mágoa entre nós, mas foi um encontro incrível”, disse ele, que, de lá para cá, nunca mais se separou da über.
O processo de construção do livro teve muita conversa. “É dividido por editoriais, por histórias. Emocionalmente, ela queria colocar todas as campanhas, mas eu ficava tirando”, confessou ele, que acredita que provocar seu cliente é essencial para um bom resultado. “A Gisele sabe tudo. É ela quem cuida do próprio business. É uma máquina. Sabe exatamente o quanto vale, o quanto vende. Nenhuma modelo no mundo é assim. Eu queria provocá-la. Então, colocava uma foto dela horrível para ser capa. Sabia que ela não ia gostar e ela nunca dizia ‘não’, só me falava ‘interessante’. Eu não queria deixá-la linda, sexy, o que esperavam dela”, disse. Ao final, com muita conversa e intimidade, o resultado ficou exatamente como os dois queriam. “O livro estava em preto e branco, mas a Gisele é cor, beleza. Não tinha como tirar isso. Ela nunca foi uma página branca, criou a personagem dela mesma, não deixou cortarem seu cabelo. Sempre foi Gisele”, resumiu.
E Giovanni gosta de gente com personalidade. Foi isso que fez Anitta ganhá-lo. “Ela é incrível, me conheceu e no mesmo dia apontou o dedo para mim e disse: ‘Você vai trabalhar para mim’”, lembrou. Movido por desafios, aceitou o convite de fazer a capa do disco e o clipe “Bang”, sucesso de visualizações na internet. Falando nos mais de 60 milhões de acessos ao vídeo, Giovanni elogiou a cantora. “Eu queria lançar o clipe no ‘Fantástico’ e ela disse: ‘Vamos lançar na minha conta do Youtube’. Anitta tem 22 anos e é a pessoa que mais entende de mídia interativa que eu conheço. Hoje, o Youtube dá mais audiência do que a Globo”, disse ele, que foi muito criticado por aceitar o convite da cantora. “Pessoas influentes da moda me ligavam dizendo que a minha carreira iria acabar, saíram manchetes do tipo: ‘Fim de Giovanni Bianco. De Madonna acaba com Anitta’, mas eu não ligo. Fazer o que já é bonito qualquer um faz, eu não tenho preconceitos”, afirmou, ressaltando que acredita veementemente no sucesso da cantora: “Ela tem muita inteligência de marketing e visão. Tem um brilho a mais, sabe o que diz. Há um preconceito enorme, mas gostamos de Beyoncé e Rihanna porque não entendemos a letra.
Já Madonna, seu maior case e também, como ele mesmo faz questão de brincar, o grande karma, era apenas um sonho. O caminho para a realidade teve uma ajuda especial: o amigo Steven Klein, que apresentou Giovanni e Madonna. A partir daí, o caminho para o sucesso foi rápido. Talentoso, foi convidado pela própria cantora para assinar a direção de arte da turnê “Re-Invention”, tão aplaudida que fez com que a parceria perdurasse. “Ela era o sonho da minha vida. Em 12 anos juntos, fizemos quatro capas de disco e quatro turnês. Foi uma escola. Madonna me ensinou que, quando achamos nosso trabalho ‘bom’, temos que refazer até ficar melhor”, contou. Giovanni lembrou que chegou a quase recusar o primeiro convite da maior diva pop do mundo. “Eu não me achava capaz de apresentar ideias para ela, que já tinha tudo. Mas nada é novo. Ninguém inventa nada, todo mundo já fez de tudo no mundo. O que vale é como interpretamos aquilo”, ensinou. A brincadeira com “karma” é também o que o levou a dar um tempo na parceria. “Eu quero trabalhar com outros artistas, mas me associam demais a ela. Tenho desejo de fazer algo com a Rihanna, mas ela fala que eu sou ‘muito Madonna’”, contou.
O sucesso como “image maker” veio depois de muitos acertos em marcas renomadas como Arezzo, Miu Miu, Dsquared, Dolce & Gabbana, Ermenegildo Zegna, Versace, Tory Burch, Emilio Pucci, Vivara e tantas outras. “No Brasil eu trabalho com poucos fotógrafos, porque as fotos de campanhas são muito específicas. Não é uma imagem livre e o tempo é curto, então preciso da experiência de quem já faz”, explicou. É assim, com sabedoria em todas as áreas, que Giovanni entende o que cada cliente precisa e é da mesma forma que atende a Arezzo há mais de 15 anos. “A Arezzo é muito especial. Nós colocávamos atrizes da Globo sempre e as campanhas eram tão famosas que já tinha aposta de quem seria o rosto da próxima”, lembrou ele, citando Juliana Paes como um case específico. “Depois que ela foi garota-propaganda da Arezzo, criou-se uma sofisticação em torno dela. Até hoje ela me agradece”, disse.
As campanhas nacionais de sucesso o inspiraram a falar sobre um de seus grandes clientes internacionais: a Miu Miu. “É uma marca intelectual. A Miu Miu gosta de mulheres fora do padrão, não tão bonitas”, contou. Giovanni revelou, ainda, que para o trabalho de uma campanha é preciso ter objetivos concretos. “Antes, o produto era o de menos e o legal era vender imagens, mas isso mudou. Hoje é tudo calculado, quase matemática. Um exemplo: em um anúncio de página dupla, a bolsa mais importante tem que estar na direita, então envolve menos criação”, explicou. Mas, como ele mesmo faz questão de ressaltar, as tendências são cíclicas. “Isso é de época. Depois enjoa. Em dois minutos tudo muda”, garantiu.
O “Fashion Image” foi o primeiro módulo do “Fashion Immersion” um curso de 30 horas que tem como objetivo principal analisar e discutir todas as etapas necessárias para a construção de uma marca no mercado de moda. Os próximos módulos contarão com aulas especiais de profissionais como Francisco Javier López Navarrete, Danilo Cid, Erika Pinheiro e a própria Ana Couto. Responsável por abrir o curso com chave de ouro, Giovanni resumiu o que o fez chegar lá: “Muito trabalho duro”. Está anotado.
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