Apesar do que vem sendo anunciando e do crescente temor entre lojistas e estilistas, 2015 tem um horizonte de esperança para a engrenagem da moda, mesmo com as dificuldades do setor. Pelo menos é o que se pôde perceber pela 16ª edição da Feira da Moda de Gramado, que movimentou a cidade turística do Rio Grande do Sul entre os dias 20 e 22, com mais de 200 expositores oriundos principalmente do Sul e de São Paulo – uma concentração de 70% do segmento no país – apresentando seus produtos para a temporada de outono/inverno. Com uma crescente porcentagem entre as vendas realizadas no evento, pode-se dizer que a indústria está conseguindo se manter, apesar dos tropeços e pedras ao longo do caminho.
Pelos pavilhões climatizados do Centro de Convenções Serra Park, local escolhido para receber o evento, cerca de 3.000 lojistas se espalharam em busca das novidades para as estações frias do ano. Nos estandes, grandes novidades de moda masculina, feminina, infantil, beachwear, underwear e acessórios antecipavam parte dos estoques que os comerciantes fazem durante a época, garantindo cerca de 30% do faturamento previsto pelas marcas para o período. Cláudio Goerl, diretor da Cia. das Feiras, empresa responsável pelo fenômeno comercial, comenta a importância da Feira da Moda de Gramado para a indústria e pontua um momento favorável ao comércio durante o evento: “Temos aqui a confluência de alguns dos maiores fabricantes nacionais expondo para o importante mercado consumidor do setor têxtil. As conversas com os expositores apontam para um desempenho favorável, com expectativa de crescimento de suas atividades produtivas e comerciais em percentuais de 5 a 10%”.
A região Sul foi uma das que marcou forte presença durante o evento, e um bom exemplo disso é a estreia do Grupo Beeight, que tem sede em Cianorte, no Paraná, e engloba a Six One, a Yonders e a Club Denim, especializada no maior coringa atemporal da moda, o jeans, que apareceu pelas araras em suas mais diversas formas, provando que o material cabe em todos os estilos e não deve ir embora do radar fashion tão cedo. Responsável por essas três marcas de maior destaque durante a Feira da Moda de Gramado, a empresa caracteriza a importância de aproximar a relação entre o vendedor e sua clientela. “Viemos para conhecer, saber quem são os lojistas que participam e o movimento que a Feira atrai. A partir disso, poderemos ter uma projeção de vendas, mas a nossa expectativa é de que já nessa edição tenhamos um bom volume”, afirmou Ledenir Poncetti, diretora comercial da Six One. O próprio Cláudio Goerl foi categórico ao anunciar que o jeans terá maior participação na próxima edição da feira, entre os dias 9 e 11 de junho, com a comercialização das coleções primavera-verão.
São Paulo, como é de se esperar, também participou ativamente do evento, com papel de destaque, como ficou evidenciado através do Grupo Mar Quente, que engloba as marcas Gangster (moda masculina), Dixie e Mosaico (moda feminina). Com um crescimento anual médio entre 10 e 15%, a empresa já viu produtos esgotados das prateleiras logo no primeiro dia de Feira. “Apostamos forte nas negociações durante o evento. Nossa expectativa é inicialmente vender o mesmo volume do ano passado, somando a nossa margem de crescimento definido internamente. Estamos tendo um bom movimento e concretizando as vendas esperadas para a feira. Esperamos seguir crescendo dentro da nossa realidade, trabalhando o cenário de cada cliente”, comentou Edson Ramos, administrador da Dixie, prevendo os bons ventos para os negócios.
Por onde se olhava, a impressão era a de que a indústria não mostra nenhum sinal de desaceleramento, pelo menos por ali. Matheus dos Santos, coordenador comercial da Mooncity, marca com alto índice de importação, comentou: “O nosso estande esteve sempre cheio, pois temos bons preços, condições de parcelamento e produtos para pronta entrega”. O mesmo processo foi observado por Adelaide Paniz, proprietária da Malharia Paniz, que vê a cidade de Gramado como um dos grandes atrativos do evento: “Gostamos muito do movimento na feira. Gramado privilegia muito a comodidade do cliente, e isso atrai os lojistas”.
Engana-se, entretanto, quem acha que a Feira da Moda de Gramado é voltada exclusivamente para o Sul e o mercado dominante de São Paulo. A crescente economia de estados do Norte e do Nordeste já tem atraído o olhar de marcas que vêem nas regiões uma economia pronta para receber a indústria da moda de braços abertos. Este é o caso da fabricante de moda íntima mineira, Torp, com fábrica em Juiz de Fora. Acostumado a concentrar suas vendas entre o Sul e o Sudeste, Carlos Lorenzon, gerente de vendas da marca, falou sobre o novo posicionamento estratégico: “Percebemos que, no atual cenário de orçamentos familiares apertados, o consumidor quer encontrar um produto diferenciado, porém com um preço competitivo. Nossas linhas podem custar até 50% menos do que as poucas opções hoje existentes”. A tática parece estar funcionando: a Torp produz, mensalmente, 9.000 peças e, nos últimos dois anos, observou um crescimento de 20 e 25% em suas receitas.
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA –
Impulsionar o crescimento da negociação com a indústria têxtil e injetar adrenalina nas vendas das marcas e dos lojistas é algo que Cláudio Goerl pretende levar para além da Feira da Moda de Gramado. Este ano, ele acaba de criar uma nova plataforma online que promete revolucionar a forma como o comércio é entendido e estabelecido nesse setor, algo de proporções similares ao que a Riachuelo fez quando lançou sua coleção com a Versace no ano passado, disponibilizando todos os itens para consumo logo após o desfile através de uma pop-up store. Através do site e do app “Feira da Moda de Gramado 365”, a relação entre o comerciante e o comprador se estenderá ao longo de todo o ano, e não apenas durante os três dias de evento.
“Cada empresa vai comercializar a sua coleção e o portal será um canal especial para divulgação das coleções dos nossos expositores. Será um serviço extra que vai auxiliar o lojista que veio à feira, conheceu as coleções e deseja fazer novos pedidos”, explica Goerl orgulhoso do novo empreendimento revolucionário. “A ideia é de que o custo de quem expõe nos três dias na feira seja diluído nestes seis meses de permanência no portal, que é cedido gratuitamente para os participantes. Vamos colocar uma planta virtual da feira, onde o fabricante pode enviar todos os dias, além dos produtos que expôs, novidades da coleção e também ofertas. É uma bonificação. Meu papel é colocar o fabricante e o lojista juntos, com custo-benefício ideal para ambos”.
Na era onde as tendências duram menos que o tempo necessário para se fazer um macarrão instantâneo e o mercado vive uma sede infindável por novidades, o estreitamento desses laços entre venda e consumo é não só inestimável, como essencial. O avanço tecnológico provou que além de influente, a internet é uma ferramenta que, se usada com astúcia, pode servir à indústria têxtil como a engrenagem que falta para sua máquina funcionar a todo o vapor. E, se as vendas durante os três dias da Feira da Moda de Gramado já mostram um momento promissor para o business de moda, esse vínculo durante o ano todo só pode – e deve – render bons frutos.
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