Todo brasileiro – de uma criança de um ano a um senhor de 100 anos – já dançou ao som de Frenéticas e, mesmo sem saber do que se trata, foi imediatamente transportado para o Frenetic Dancing´Days Discotheque, boate idealizada pelos amigos Nelson Motta, Scarlet Moon, Leonardo Netto, Dom Pepe e Djalma Limongi, ponto de encontro de todos os seres livres nos anos 70 no Rio. Foi lá que a cena disco brasileira começou a nascer, e, também, na pista da boate que funcionava no Shopping da Gávea, que surgiu o fenômeno As Frenéticas. Por mais que a boate e o grupo não existam mais há muito tempo, aquele clima de alegria, liberdade e diversão invade qualquer ambiente ao primeiro sinal de “Abra suas asas, solte suas feras! Caia na gandaia, entre nessa festa”. Quatro décadas depois, a magia daquele club bate novamente à porta, já que, ao lado de Patrícia Andrade, o próprio Nelson Motta assina a história do musical ‘O Frenético Dancin´Days’, que estreia, nesta sexta-feira, no Teatro Bradesco Rio. O musical marca a primeira investida da coreógrafa e bailarina Deborah Colker na direção de um espetáculo teatral, com realização das Irmãs Motta e Opus e produção geral de Joana Motta.
Contratadas inicialmente como garçonetes, As Frenéticas também faziam uma breve apresentação durante a madrugada. O sucesso foi imediato: Leiloca, Sandra Pera, Lidoca, Edyr, Dhu Moraes e Regina Chaves logo abandonaram as bandejas e viraram estrelas. “As Frenéticas foram obra do acaso e, claro, do talento de seis garotas que eram atrizes desempregadas, começaram como garçonetes do Dancin´Days e, no fim da noite, cantavam quatro músicas. Foi um estouro! O Dancin lotava só para ver as Frenéticas, que se tornaram as rainhas da discoteca no Brasil”, aponta Nelson. O musical, aliás, é uma superprodução e conta com uma ficha de técnica de respeito. Além de 16 atores e sete bailarinos, escolhidos através de audições, à exceção de Stella Miranda, que foi convidada especialmente para o projeto, tem ainda Gringo Cardia assinando a cenografia e direção de arte, Maneco Quinderé o desenho de luz, Alexandre Elias a direção musical e Max Weber o visagismo.
Mas o nome que mais chamou a nossa atenção foi o do estilista modernex, e queridinho do site HT, Fernando Cozendey, que assina os mais de 100 figurinos vestidos no espetáculo – o primeiro de sua carreira – alguns bem realistas, característica pouco vista em seus desfiles de moda. “A minha inspiração foi a estética da era Disco, de como as pessoas se comportavam na época e o quão ousadas eram no vestir”, explica Fernando Cozendey. “O desafio foi trazer o shape 70 atualizado, criar algo que ainda provocasse espanto, alegria e libertação para um público em 2018. O espetáculo para mim é sobre transgressão de ser, vestir, dançar, existir”, acrescentou, em papo com o site HT, que vocês podem ler aqui embaixo.
Heloisa Tolipan: A década de 70 tem uma identidade visual muito forte, especialmente a cena disco. Você buscou fazer uma recriação da época ou lançar um olhar novo sobre o tema?
Fernando Cozendey: Quando fui convidado para o projeto, pensei imediatamente em como traduzir para o hoje aquela estética tão impactante. Na era pós- internet, meia de lurex com salto não são suficientes para trazer comoção que a década causou na história do vestuário. O desafio foi trazer o shape 70 atualizado, criar algo que ainda provocasse espanto, alegria e libertação para um público em 2018. O espetáculo para mim é sobre transgressão de ser, vestir, dançar, existir.
HT: Alguns personagens da peça estão presentes até hoje no imaginário do público, como as Frenéticas. Como você pensou o figurino delas?
FC: Estudamos as características de cada uma delas, o que costumavam usar, de onde vieram e suas experiências. Cada uma tem um estilo singular, uma é do samba, outra é paulista, já Leiloca transgredia a questão do corpo fora do padrão há décadas atrás… Todas têm personalidades muito diversas e importantes. Isso é o mais legal nelas.
HT: O seu trabalho dialoga muito com o universo LGBT… Como isso surge na criação desses figurinos?
FC: O movimento LGBT nasceu em 1969 e foi tomando “corpo” ao longo dos anos 70. Nesta década, homens e mulheres cis, gays, lésbicas, transexuais, travestis, Negros, gordos, magros, ricos e pobres dançavam e se divertiam juntos nos clubes. Assinar o figurino do O Frenético Dancin’ Days está sendo incrível por isso. A história casa perfeitamente com meus princípios e inspirações como criador.
HT: É sua primeira assinatura em teatro. Qual a principal diferença em relação a sua criação de coleções/desfiles?
FC: Nos meus desfiles lido geralmente com apenas um cenário e movimentações corporais suaves. Já este musical, que é dirigido e coreografado pela Deborah Colker, teremos muitas danças intensas, e a roupa tem quer ser confortável e contribuir com a movimentação dos bailarinos. Além disso, estou lidando criativamente pela primeira vez com diversas cenas e isso exige um raciocínio minucioso de tempo para trocas de roupa. É como se eu estivesse fazendo 10 coleções para serem apresentadas de uma só vez no palco (risos). Tudo tem que se encaixar.
Quando: De 24 de agosto a 21 de outubro. Sextas, 21h, sábados às 17h e 21h e domingos às 18h
Onde: Teatro Bradesco Rio (Avenida das Américas, 3900 – loja 160 do Shopping VillageMall – Barra da Tijuca)
Quanto: A partir de R$37,50
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