*Por Karina Kuperman
Sempre é tempo de recomeçar. Veralinda Menezes está aí para provar isso. Nem uma carreira consolidada como auditora, escritora e roteirista fez com que ela abrisse mão de um outro desejo: modelar. Aos 60 anos, ela inicia uma trajetória no universo fashion. “Para comemorar a virada dos 59 para os 60, resolvi que faria trabalhos que valorizassem a maturidade. E ser modelo tem uma grande simbologia, pois mexe com a imagem das pessoas. É aceitação, é autoestima, é admiração”, pontua ela sobre a eterna “juventude” que foi imposta durante muito tempo na moda.”Creio que isso tem a ver com a imagem de ‘idosos’ no imaginário coletivo, colocando-os como pessoa incapaz. Os idosos no Brasil já somam mais de 30 milhões de pessoas, e muitas delas em plena capacidade produtiva, pagando impostos, usufruindo de bens e serviços, financiando famílias, movimentando o mercado. Mas falta uma representação mais adequada de sua imagem e de suas capacidades. A publicidade precisa cumprir esse papel ou os empresários vão perder muito dinheiro com os novos tempos e mudança de mentalidade”, analisa.
De fato, o que se vê, pelo menos no meio fashion, é uma moda cada vez mais inclusiva em todos os sentidos. Atualmente, muitos estilistas e designers já se preocupam em criar para todas as mulheres sem distinção. É uma mudança recente, mas já acontece. Veralinda acredita que isso ocorre por alguns motivos: “O mercado de modelos usava meninas muito novinhas para mostrar a moda, visando muito mais o consumidor jovem, tanto que víamos modelos que pareciam que estavam desfilando com as roupas de suas mães. Mas na verdade quem tem o dinheiro para comprar são as mulheres mais maduras, já estabelecidas profissionalmente. Quando os filhos crescem, as despesas diminuem e sobra mais dinheiro para investir em si mesma. Então essas mulheres acabam consumindo moda, passeios, viagens, acessórios…, mas é necessário que a publicidade coloque mulheres com essa mesma faixa etária para mostrar esses produtos”, ressalta ela, que acredita no poder que a representatividade gera.
“Eu diria que a publicidade tem a força necessária para mudar o imaginário da população em relação aos idosos, e essa mudança acaba se transformando em referência e em representatividade. Eu por, exemplo, tenho como referência mulheres bem sucedidas e artistas da minha faixa etária. Na hora de comprar dou uma espiada no que elas estão fazendo, misturo tudo, crio o meu estilo, meu visual e adquiro os meus produtos”.
Não importa mais a idade que a mulher tenha para consumir ou estar inserida no mercado de trabalho. É preconceito estabelecer parâmetros. “Hoje há uma diferença nos espaços para as mulheres no mercado de trabalho e isso reflete na imagem devido aos cuidados e aos produtos consumidos. Uma mulher que trabalha fora se antena mais nos cuidados com o corpo, vai mais ao salão, usa mais maquiagem, compra mais roupas, acessórios, mais jóias mais carros, vai mais a restaurantes. Está focada na política, na economia, na cultura. Claro que mulheres que optaram por ficar cuidando do lar também podem ter todos esses cuidados, mas a mulher que trabalha fora consome e se movimenta muito mais. Proporciona vitalidade. Também temos a questão do avanço da medicina preventiva e da democratização dos procedimentos estéticos”, analisa.
Falando especificamente da carreira de Veralinda: será que dá um certo medo ser, novamente, iniciante? “Medo não, porque não é uma obrigação, mas uma opção! Tenho certeza que vou ajudar outras pessoas a fazerem o mesmo, a cuidarem de si, a escolherem seus produtos tendo como garota propaganda alguém que as represente. E quanto a ser iniciante, tenho boas referências na família, pois a Sheron (Menezzes, sua filha) foi modelo da Ford Model Sul antes de virar atriz e na época acompanhava seus cursos e seus desfiles prestando muita atenção. A Sol (Menezzes) também é uma ótima modelo, recém desfilou na São Paulo Fashion Week e curto demais os ensaios fotográficos dela! É perfeita! E o meu filho Drayson (Menezzes) é empresário da moda, sócio na grife de saias masculinas Galo Solto. Então a moda está em nossa família há tempo. Agora é a minha vez de mostrar o que aprendi e de ajudar a mudar o mercado valorizando a maturidade”, garante ela.
E Veralinda também nos mostra a verve como roteirista de cinema. O curta-metragem “A Namoradeira” que participou do Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul, no Cine Odeon, Cinelândia tem roteiro assinado por ela. Estrelado por Sheron Menezzes, o filme é um projeto especial da Príncipes Negros Cultural, fundada por Veralinda e os filhos – irmãos de Sheron – Sol Menezzes e Drayson Menezzes. Quando o site Heloisa Tolipan conversou com Sheron sobre o projeto ela nos contou que foi dirigida por Licínio Januário, responsável pela Bará Filmes e seu cunhado. “Eu sou a mais velha dos meus irmãos e comecei muito antes na dramaturgia e depois cada um despertou para arte, estudou e começou a sua trajetória e seu caminho. E ver ali uma história criada pela minha mãe, o meu cunhado dirigindo e meus irmãos envolvidos me deu um orgulho. Orgulho de fazer parte e ter despertado a arte neles. Agora quero ver todo mundo transformando esse filme em um longa”.
E Veralinda conta sobre sua paixão por moda: “Na adolescência, eu adorava as mulheres exageradas. Depois, como auditora, eu tive que aderir ao visual mais formal, e, agora, como artista me sinto livre novamente. Mas estou em outra fase, tentando achar o equilíbrio entre a elegância, a minha forma de me expressar e a maturidade. E é um grande desafio, e estar no mercado da moda será um grande aprendizado”. A gente não duvida.
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