O pesquisador Ted Polhemus, um baluarte da antropologia de consumo que ganhou notoriedade popular há 20 anos com seu livro Street Style, uma bíblia sobre o supermercado de estilos e a street fashion na qual a moda se transformou nas últimas décadas, vem à São Paulo Fashion Week dar o ar de sua graça em uma palestra nesta segunda às 1130h, a convite da Elle, no Conservatório de Música, em São Paulo. O tema? O significado de uma marca e o desejo de consumo em um mundo globalizado. Indispensável para quem só pensa em moda e naquilo que todo mundo está usando, abdicando de sua própria personalidade para se transformar em um boneco de ventríloquo e se sentir inserido no contexto. Ted, americano de 66 anos radicado em Londres, é responsável, entre outras polêmicas, pelo fato de ter estabelecido que a babel multicultural preconizada no clássico cinematográfico Blade Runner já era um fato na virada dos anos 1990. Em 2011 ele ampliou seu livro de 1978, Fashion & anti-fashion, outro calhamaço do comportamento ocidental. Além disso, ele acredita que vale mais “ser único, do que seguir tendências”, conforme afirmou em uma entrevista que deu ano passado para a TMP. “Usamos as roupas para sinalizar aquilo que acreditamos como indivíduos, então compramos marcas que acreditamos que têm a coisa certa”, afirma. Vai perder a palestra desse oráculo?
Enquanto isso, grifes que participam dessa edição da SPFW começam a se movimentar, dando dicas preciosas daquilo que vão apresentar na passarela. Ou na ausência desta. Fause Haten optou por transformar o processo de backstage em um interminável show, com duração de uma semana (conforme anunciamos aqui), e resolveu realizar um desfile-surpresa, cujo local será informado aos convidados apenas momentos antes. Dizem que os pré-cogs de Minority Report já descobriram o caminho das pedras através de técnicas de previsão do futuro. Só não passaram a informação do lugar para cambistas porque desfile não tem ingresso vendido.
Já a Cavalera viajou um pouco mais longe e foi buscar direto na fonte o conteúdo da sua nova coleção. Mais longe, no caso, quer dizer muito mais longe mesmo. Alberto Hiar – o Turco Louco – e sua equipe entraram neste espírito globetrotter da cena contemporânea e viajaram meio mundo para pesquisar a coleção: Líbano, Indonésia, Turquia e Índia são as influências dos looks que procuram estabelecer um olhar atual sobre a cultura islâmica, transformando seu desfile no Parque Villa-Lobos em uma espécie de Meca (literalmente) do Alcorão. Tecidos delicados processados por diversas técnicas, profusão de estampas, patchworks de veludo devorê em seda xadrez, moleton de tweed e jeans com tratamento empoeirado do deserto fazem parte das surpresas que a marca preparou para o seu caldeiraozinho de culturas. Como a Cavalera é street e o xadrez grunge está na moda, podemos espera um Punk-Islã por aí. Veja abaixo dois croquis que servem como tira-gosto para aquilo que será exibido.
E, por falar em deserto, Ronaldo Fraga também aposta na aridez para enriquecer sua coleção. Ele também foi beber direto na fonte e pesquisou o seco ambiente nordestino para desenvolver uma coleção que deve flertar com o étnico. Confira no desenho abaixo, enviado para a gente pelo próprio.
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