Da limpeza minimalista de Stella McCartney ao frenesi étnico de Riccardo Tisci para Givenchy, a Paris Fashion Week continua oferecendo acepipes para paladares variados nas coleção outono inverno 15/16. Em comum nos olhares, a forte presença de preto e cinza pontuando as criações. Tudo a ver, são tempos de recessão e apostar na venda certeira (espera-se!) se tornou tão essencial quanto respirar, para não correr o risco de sair para almoçar e ver sua cadeira de diretor criativo ocupada pelo concorrente. E, como essa dança das cadeiras pode ser realidade, melhor não arriscar em pirações rocambolescas – como aconteceu com Marco Zanini que, após três temporadas à frente da recém-ressuscitada Schiaparelli, foi depressinha para o nirvana fashion em novembro último por “não compreender a essência da grife” (leia-se, insanidades de gosto duvidoso, quase tipo vestido de cisne de Björk em festa do Oscar). Mas, como o coração dos deuses é grande, o moço continua no embalo, prestes a ocupar o lugar que foi de Peter Dundas na Emilio Pucci. É esperar para ver.
Stella McCartney apresentou seu inverno seguindo o corolário da moda atual, mas repleto de charme: pretinhos revezando com os cinzas onipresentes da temporada (iluminados por azul forte aqui e acolá), formas simplificadas, tecidos encorpadinhos, shapes cinturados e toque aassimétricos. Sobre isso tudo, adicionou uma boa pitada de sedutora alfaiataria, efeitos origâmicos nas saias dos vestidos e voilà: boas calças com cintura alta em acabamento clochard, sua marca nesta estação, lindas de ver, ótimas de usar.
O resultado? Um misto de moda noventinha quase a la Hervé Léger (na simplificação), com essas cinturinhas (ou cinturonas) típicas dos anos 1980. Moda pronta para vender feito água, para sobreviver em tempo de consumidor com grana curta. Com presença em coleções para a C&A, a estilista anda refinando mais do que nunca seu olhar em direção à brisa daquilo que é comercial, sem furacões criativos, mas mantendo o pé numa criatividade sólida.
Já Riccardo Tisci, nome que hoje em dia tem um quê midiático, preferiu imprimir ao seu inverno o toque de estranheza étnica da estação, como sua estilização das chola girls, com cabelos esquisitinhos e colados típicos dessa mulheres latino-americanas, com levada equivalente às periguetes funqueiras do Brasil, mas abrindo mão dos lábios marcadões característicos em prol de piercings que poderiam ser indianos, nunca mexicanos ou colombianos. Saladinha com o devido selo da Givenchy nas últimas décadas, vide a colaboração nos últimos vinte anos de gente como John Galliano e Alexander McQueen. Os engravatados da marca sabem mesmo como manter a continuidade no espírito. Mas, no frigir dos ovos, o tal tempero folk serve para emoldurar o estilo, repleto cinturas marcadas, sobretudos com a parte de baixo ampla, botas pontuais, boas estampas, fendas reveladoras e vestidos midi ou longos. Tudo ancorados na trinca veludo, couro & peles e em colorido sóbrio, onde azul profundo e principalmente bordô acentuam o preto. Caliente como uma cigana Carmen do novo milênio, mas nada óbvio. Destaque para os belos debruns decorando peças, remetendo de forma moderna aos acabamento das latinas nas quais o designer se inspirou.
Hoje é o último dia de desfiles em Paris, encerrando a temporada internacional. Enquanto isso, o Brasil se prepara para mostrar seu verão 15/16, com o Minas Trend começando dia 6 de abril e emendando com a SPFW dia 13. Em tempos de crise e dona Dilma & cia. fazendo trapalhadas, de se esperar para ver o que acontece…
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