* Por Alexandre Schnabl
A coisa vai esquentar na moda brasileira. Essa é a conclusão de quem compareceu nesta noite de segunda-feira (6/4) no pavilhão do Expominas, por conta do desfile e coquetel de abertura da 16ª edição do Minas Trend, que traz as coleção de primavera-verão 15/16, tanto no salão de negócios quanto na passarela. O desfile de abertura, com styling de Paulo Martinez e direção de Roberta Mazzola, apresentou 36 looks pinçados entre as grifes que participam do evento e, com o tema “Viva ciclicamente”, evocou o espírito sofisticado dos resorts de luxo, em montagens que reeditam o charme do New Look de Christian Dior e os anos 1950, em boa parte acrescidos com toques étnicos. E, como estamos falando da estação mais quente do ano, nada de 50 tons de cinza, mas muitas gamas de vermelho, laranja, coral e amarelo, como se o sol poente invadisse a catwalk. Perfeito para dar aquela esquentadinha nos ânimos, já que a economia brasileira tem se revelado um banho de água fria.
“É importante trazer para o público, sobretudo neste show de abertura, um desfile atmosférico, que ofereça a tônica da temporada. Sobre as peças usáveis são acrescentadas camadas de inspiração em sobreposições e acessórios-conceito, para que as imagens se tornem icônicas e memoráveis”, cita Roberta, que abusou de uma trilha que cujo ápice foi Ella Fitzgerald entoando “Night and Day“, de Cole Porter, e “Mack the Knife”, a música que Kurt Weill compôs em cima da letra do dramaturgo Bertold Brecht. Coisa de gente chique, com o fashion show evocando esse último momento de glam do Pós-2ª Guerra, antes de o mundo desembocar na contracultura, na crise do petróleo e em seguidas recessões.
Sim, os últimos 50 anos mostraram que o universo pode conspirar contra o planeta, mas a moda está aí para servir como mola propulsora para a criatividade, desde que afinada com realidade de mercado. É o que pensa Victor Dzenk, estilista mineiro de alma carioca que atualmente desfila na SPFW: “O momento é para se pensar na venda e no cliente que é fiel à marca, não é hora para experimentalismos. Mas, ainda assim, é fundamental ser original dentro dessa premissa”.
Como nas edições anteriores, o Minas Trend procura conciliar apresentação de boa moda de passarela ao lado de uma feira que fomenta negócios e dá especial atenção às vendas, tudo dosado por uma boa pitada de fervo, na medida certa, sem que esse extrapole a necessidade de ser comercial da qual Dzenk se refere. E, dentro dessa receita, exposições se encarregam de adicionar ao evento um caráter cultural, enfatizando o estilo como veículo para a expressão de comportamento. Nesta abertura, os convidados puderam conhecer uma pouco mais – através de mostras – do trabalho de duas estilistas de acessórios, Claudia Arbex (bijoux) e Luiza Barcelos (calçados), ambas interpretando cada uma ao seu jeito o tal tema do evento, “Viver ciclicamente”. Tudo a ver, já que, assim como o próprio fluxo da vida, a moda também acompanha o vai-vem das estações e a cada temporada renasce.
Além dessas duas exibições, o Minas Trend traz dessa vez uma exposição de doze fotografias produzidas por alunos do curso de fotografia profissional da Escola de Cultura SESI – Escola de Fotografia Studio3 SESIMINAS –, obtidas através do acompanhamento do trabalho de pesquisa, realizado pelos estudantes do SENAI MODATEC e SENAI Américo René Giannetti, em quatro ateliês de moda de Belo Horizonte. As imagens decodificam o ambiente produtivo desses espaços e abordam também o processo de finalização das coleções de Rogério Lima, Heliana Lages, Luiza Bacelos e Vivaz.
E, para quem acha que o quesito arte ainda está pouco explorado pela semana de moda mineira, os organizadores se encarregam de por uma pá de cal no assunto, deixando os visitantes de queixo caído com a exposição de figurinos criados pelo designer mineiro Martielo Toledo e confeccionados pelos alunos do SENAI MODATEC e SENAI Américo Renê Giannetti, de Belo Horizonte, em parceria com a diretora e maitre de Ballet da CIA de Dança SESIMINAS, Cristina Helena. A partir de referências, pesquisas e workshops com os curadores, os alunos criaram uma coleção de figurinos exclusivos para os bailarinos e ainda fizeram um vídeo institucional do trabalho que mais parece um fashion film. Belezura cujas fotos podem ser vistas abaixo, assim como as das demais exibições. Confira!
O desfile conceitual de abertura trouxe toques militares misturados ao espírito de balneário chique, brincou com etnias, enfatizou o orientalismo (inclusive com o uso de quimonos e obis) e destacou chemises e amarrações, além de calçados de salto anabela. E, como o mundo anda mais polêmico do que precisava com a patrulha da turma que exagera no “politicamente correto”, minando a liberdade de expressão que a constituição assegura, o badalo trouxe até uma polemicazinha de leve: a topérrima Daiane Conterato, a quem foi destinada a missão de encerrar o desfile, irrompeu passarela adentro em clima de sofisticação a la Cole Porter, com vestido fluido e enorme piteira, em visual quase cinematográfico que revelava uma época em que fumar era podre de chique. Cena tipo cinema, mas incompreendida pela patota xiíta, daquela que curte criticar por criticar, sem base alguma.
“Eu nem sequer fumei na passarela, era só um imagem emblemática, que revelava um tempo passado, trazido de volta pela moda atual, que não incentiva o hábito, mas mostra que um dia ele existiu com força”, contou com exclusividade a modelo, surpresa com a bobagem. HT concorda com a moça e, entusiasta da história do comportamento, acha válido interpretar as atitudes de outrora na ficção, ainda que essa seja a realidade de uma passarela. Senão, o que fazer? Sair por aí queimando livros? Ou pior: destruindo o passado babilônico do Iraque só porque os registros arqueológicos não se alinham com as ideologias do governo atual? Sei…
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