O pensamento coletivo, a união, o inserir socialmente, o compartilhar ações que corroboram cada vez mais e, em alta potência, práticas como economia circular, zero waste, ênfase total à sustentabilidade + consumo consciente, responsabilidade socioambiental, ressignificando uma nova produção no âmbito da moda. A moda do futuro? É agora. Sempre pontuo que há uma revolução poderosa no mundo, no nosso país: a Quarta Revolução Industrial, o tão aguardado momento de convergência e no qual sistemas ciber-físicos são capazes de comunicação entre si e com os seres humanos. O pensar e agir pela moda nacional requer processos inovadores, equipes multidisciplinares e muita cooperação. Mas é preciso saber conjugar in totum o high tech – que se mostra com os avanços da nanotecnologia, biotecnologia, robótica – com identidade, com o nosso handmade consagrado mundialmente e sinônimo de identidade e inclusão.
E a concretização de ações ressaltadas acima estão reunidas no Minas Trend, o maior Salão de Negócios da América Latina, promovido pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), propulsor da moda plural, com ênfase no novo fazer e pensar sobre toda a cadeia produtiva de diversos setores. Estamos às vésperas da 28ª edição do evento – que comemora 15 anos – e reunirá expositores de Norte a Sul do país e lojistas de olho nas inspirações e criações Outono-Inverno 2023, entre os dias 2 e 4, no Minascentro, construção em estilo neoclássico, tombada pelo Patrimônio Histórico, e um dos centros de convenções de Belo Horizonte mais requisitados pela referência geográfica.
As palavras-chaves que permeiam esta edição, “A moda no Centro”, proporcionam o protagonismo da moda mineira e de todos os estados do país e a conexão com o efervescente centro da capital mineira e a potência de um estado que abriga cerca de 32,7 mil empresas na cadeia produtiva da moda, sendo 8,8 mil indústrias e 23,9 mil comércios, gerando 209 mil empregos, sendo 121.390 trabalhadores na indústria e 87,6 mil pessoas no comércio. Entre os 853 municípios não há um em que não haja empresário produzindo moda, gerando emprego e distribuindo renda. Minas Gerais concentra cerca de 13% de todas as unidades fabris do segmento no território nacional.
As exportações brasileiras do segmento somaram US$ 4,3 bilhões em 2021. Só no estado de Minas Gerais totalizaram US$ 214,5 milhões, apontando um crescimento de 67,2% em relação a 2020 e ampliando a participação mineira em relação à brasileira de 4,2% apurados em 2012 para 5% em 2021. Na edição do Minas Trend, voltada para Primavera-Verão 2023, em entrevista exclusiva ao site, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, Flávio Roscoe já havia frisado: “No atual momento, as qualidades do setor da moda e o que ele proporciona são ainda mais relevantes. Os setores têxteis e de acessórios abrem espaço para a diversidade na área econômica. Vemos a relevância de mulheres assumindo lideranças nas empresas, a diversidade de pessoas e ideias extremamente criativas. A moda sempre esteve na vanguarda”.
O Minas Trend tem como DNA ser a principal plataforma de geração de negócios do setor moda no Brasil, na qual empresas e lojistas de artigos de vestuário, calçados e bolsas, joias e bijuterias movimentam milhões de reais para toda a cadeia produtiva. E, além do evento físico, foi pioneiro em investir no omnichannel com a realidade que vivenciamos na pandemia. Acelerou a comunicação phygital (física e digital), proporcionando também um ambiente de alta performance na web, no qual marcas e lojistas podem interagir em um showroom exclusivo.
Durante todo o evento são realizadas, nas redes sociais do Minas Trend, diversas lives sobre sustentabilidade, economia circular na cadeia produtiva, inovações tecnológicas, metaverso, gameficação da moda, tendências, entre temas que desenham contemporaneidade e se prospectam novos horizontes. O presidente da FIEMG, Flávio Roscoe, fazendo um balanço na edição passada, ressaltou: “Realizamos mesmo durante a pandemia inúmeras ações para o segmento de moda com a digitalização. Fomos pioneiros no convênio com a Amazon americana em que as marcas brasileiras estão colocando seus produtos no mercado dos Estados Unidos diretamente pela plataforma. Promovemos cursos na área financeira, pois vimos, na pandemia, que muitas empresas tiveram dificuldades financeiras, de planejamento, como se reorganizar. Foram tempos muito difíceis, mas, com muita criatividade e capacidade de reinvenção tudo pode ser operado e transformado”.
O maior Salão de Negócios da América Latina mantém a chancela de sair na frente do calendário da moda como suas inovações. “A pandemia nos obrigou a repensar o modo de fazer negócios em todos os sentidos e muitos aprendizados e mudanças vieram para ficar”, ressalta o presidente da FIEMG, Flávio Roscoe. No estado de Minas Gerais, por exemplo, há incentivos importantíssimos para a exportação de moda e indústrias com o compromisso ‘Race to Zero’ para zerarem emissões de gases de efeito estufa até 2050. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais foi uma das cinco das primeiras entidades empresariais do mundo a assinar o compromisso ‘Race to Zero‘. (Em tempo: A Race to Zero é uma campanha de alcance global com intensificação de ações de descarbonização, atração de investimentos para negócios sustentáveis, viabilizando desenvolvimento socioeconômico inclusivo e sustentável).
O presidente da FIEMG lembrou que o setor moda tem a capacidade de empregar muito em Minas Gerais: “São 150 mil pessoas como parte integrante nas várias cadeias (vestuário, calçados, bolsas, couro, têxtil). É um contingente muito grande de pessoas e de famílias que vivem com esta renda. O segmento que está no Minas Trend serve como dinamizador da imagem da moda mineira como um todo. Mesmo quem não expõe aqui bebe um pouco nesse conceito, na percepção que é passada para os compradores do nosso estilo, da nossa cultura. Por isso, o evento é tão importante: ele consolida a imagem da moda mineira para o país e tem a adesão de expositores de vários estados”.
O gestor do Minascentro, Rômulo Rocha, comemora a chegada do evento no espaço: “Um encontro de moda é muito desejado, ainda mais o Minas Trend, que é considerado um dos maiores eventos do Brasil. Apresenta glamour, mas, principalmente, é um local de troca, que fomenta os negócios dos produtores de moda de Minas Gerais. Para nós é um prazer ser a nova casa do Minas Trend”.
POTÊNCIA: LINGERIE, MODA-PRAIA E SLEEPWEAR
A nossa indústria da moda é a segunda maior empregadora do setor de transformação, perdendo apenas para alimentos e bebidas (juntos) e, segundo a Associação da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), emprega 1,5 milhão de trabalhadores diretos e 8 milhões se adicionarmos os indiretos e efeito renda, dos quais 75% são de mão de obra feminina. E o Brasil é referência mundial em design de moda-praia, homewear, tendo crescido também os segmentos de fitness e lingerie.
Portanto, uma das novidades desta edição do Minas Trend será o espaço dedicado aos segmentos de lingerie, moda-praia e sleepwear. “São muito relevantes em Minas Gerais, inclusive pelo ponto de vista do associativismo. Com uma produção bastante diversificada, as linhas de lingerie, praia e fitness estão crescendo, impulsionando emprego e renda e inspirando tendências”, diz Mariângela Marcom, presidente da Câmara da Moda da FIEMG.
É de suma importância ressaltar que Juruaia, no Sudoeste de Minas Gerais, e Taiobeiras, no Norte, são polos de confecções de lingerie que ganharam projeção nacional. Quase a totalidade das empresas (96%), são comandadas por mulheres, que começaram a produzir as peças informalmente para ajudar no orçamento da casa e hoje são grandes geradoras de renda.
O município de Taiobeiras tem mais de 100 empresas e conta hoje com o selo Lingerie Taiobeiras. A produção mudou a economia local em função dessas mulheres empreendedoras. Para chegar até aqui, desde 2017, um grande diagnóstico socioeconômico e competitivo foi realizado pela FIEMG, por meio do Programa FIEMG Competitiva, e contou com apoio do SEBRAE/MG e da Prefeitura Municipal, envolvendo reuniões com as empresas, entrevistas individuais, planejamento estratégico, benchmarking, ações sobre governança, entre outras. O Selo identifica os produtos fabricados no município, aumentando sua competitividade no mercado. As mulheres empreendedoras são exemplos de mentes repletas de ideias a partir de um mergulho profundo em processos produtivos e relações de consumo mais conscientes na cadeia produtiva da moda, gerando impacto positivo.
A cidade de Juruaia é considerada “a capital da lingerie”. De acordo com a Associação Comercial e Industrial de Juruaia (ACIJU), o município é o terceiro maior polo fabricante do país. São mais de 200 confecções instaladas na cidade que geram cerca de 5.000 empregos, vendem cerca de 1,5 milhão de peças por mês, e faturam R$ 15 milhões. Anualmente são produzidas aproximadamente 20 milhões de peças e o Produto Interno Bruto (PIB) da cidade cresce cerca de 30% ao ano. No mês passado, o programa FIEMG Competitiva e Sindicato das Indústrias do Vestuário do Estado (Sindivest MG) fizeram rodada de negócios em Juruaia e convidaram compradores dos estados da Bahia, de Pernambuco e de Minas Gerais para conhecerem fábricas de lingerie, moda-praia, sleepwear e fitness e foi um sucesso em termos de vendas.
PLATAFORMA DE ALTA PERFORMANCE CONECTANDO LABELS E LOJISTAS
A comunicação é um dos pilares da construção de uma marca. E a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) desde 2021 firmou uma parceria com a Teceo, startup de tecnologia, e foi lançada plataforma vanguardista para novas experiências online no alavancar vendas durante e também no pós-evento. À época, o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, sinalizou que “a adaptação é sempre a chave do sucesso. Desenvolver-se no meio digital é criar oportunidades de crescimento. A plataforma da Teceo chega ao Minas Trend para agregar e mostrar outros caminhos de negociação. É a moda acompanhando a evolução tecnológica”.
Guilherme Scalon, CEO da Teceo, também havia ressaltado que o maior diferencial da plataforma é a visão colaborativa. “Ela precisa ajudar aquele lojista do interior que nem sempre terá disponibilidade ou condição de ir a um evento presencial ou ao showroom da cidade da marca que ele gosta de comprar. Ajudar também as marcas que têm seu representante e sua consultora de moda que nem sempre poderão estar no presencial, mas contarão com a ajuda da plataforma, pois ela proporciona uma experiência rica em termos de conteúdo, de inteligência de dados”.
Com a consolidação da experiência inovadora, ele conta que as marcas selecionadas terão um showroom virtual exibido na página do evento, dentro da plataforma da Teceo, “para que lojistas possam acessar, se conectar e comprar. No evento presencial, teremos um espaço phygital com dispositivos para facilitar o acesso ao digital, e um time de suporte dedicado a ajudar e vender a ideia aos compradores”, explica.
De acordo com Guilherme, a consistência é o principal resultado obtido desde a primeira edição do Minas Trend Phygital. “Sabemos que, em um mercado tão analógico, a transformação digital não acontece da noite para o dia. Por isso, é importante estarmos presentes, edição a edição, ajudando e reforçando nosso propósito de conectar marcas e lojistas. Já conseguimos trazer algumas marcas de peso como Isla e Hector Albertazzi, e uma boa parte dos lojistas já estão ativos na plataforma”. O Minas Trend Phygital terá início junto ao evento presencial, no dia 2 de novembro, e ficará disponível na plataforma da Teceo até o dia 30.
ANALOGIA ‘O PAPEL DO TEMPO’
Considero o tema da exposição que consagra os 15 anos do Minas Trend, “O papel do tempo” extremamente emocionante. E propicia a todos nós darmos asas à imaginação fazendo a conexão entre o papel que reflete os primeiros traços das maiores mentes pensantes da moda nacional, assim como o que estamos escrevendo sobre as grandes mudanças industriais e sociais na moda. E o tempo, seja ele ontem, hoje ou amanhã, alinhavando sonhos e realidades em prol de tantas pessoas que, com suas mãos, criam, executam e escrevem uma longa história do empreender no país.
A curadoria é assinada por um dos maiores nomes da moda nacional, Mary Figueiredo, e com participações especialíssimas do estilista Luiz Cláudio Silva, leia-se grife Apartamento 03, que alçou voos lindos no cenário a partir dos seus desfiles no Minas Trend, e da arquiteta Ana Clara Escuciato, que, na edição passada foi responsável pela curadoria da exposição “Entretecer”, desenvolvida pelo designer Victor Dzenk a partir da produção do artista plástico Leonard Brizola, conjugando moda e arte. Foi lindo ver as interpretações a partir da mão que materializa o que está no coração, pelo ato de pintar, bordar, tecer, fiar. É tamanho o valor simbólico do que presenciamos. “Entretecer” entrelaça os fios da moda e da arte, tece elos, mas também emaranhados, coloca-se entre tecidos, tramas, criações, entremeia e transforma a beleza do lado de dentro em matéria viva.
A mostra, que abre a 28ª edição do evento e fica em cartaz de 2 a 4 de novembro, na sequência, migra para o Museu da Moda de Belo Horizonte (Mumo). “O tempo e seus ciclos são o ponto de partida para o evento que sempre privilegiou questões relevantes ao planeta, como a água, o oxigênio e a sustentabilidade”, observa Mary, que em toda a sua trajetória sempre atou pela economia circular.
A arquiteta Ana Clara conta que um dos corredores com a arquitetura neoclássica do Minascentro irá nos levar a uma experiência interativa. Totens de 50 centímetros até 1 metro serão metáforas para expressar o crescimento do evento ao longo de 15 anos. “A ideia remete a um portal, no qual os manequins, enfileirados e dispostos em triangulação, permitem que o visitante percorra o cenário, contorne cada modelo e interaja com a indumentária. Haverá ainda uma arara com cabides, como um closet imaginário, onde serão dependurados moldes, a maioria usados, e croquis enviados pelas marcas para os 15 anos do evento. Em outra parede haverá projeção de um vídeo contendo flashes de momentos do Minas Trend mesclados com depoimentos de caráter documental”, revela.
A viagem imersiva também estará presente no painel inspirado em fitas do Senhor do Bonfim, contendo cadarços em sarja onde se penduram etiquetas de marcas que fizeram história no evento. Lá, cada um dos participantes do evento perpetuarão sua assinatura na celebração dos 15 anos. E Luiz Claudio idealizou 18 manequins em tamanho gigante e com cabeças de abajur-túnel de canudinhos de jornal costurados e tramados a mão, trabalho executado pelo artista Ronaldo Lima, destacando a importância da reciclagem e do handmade. Vamos acompanhar ainda o processo de execução de roupas de papel ao vivo.
“O Minascentro está sendo o meu chão de fábrica, onde estou trabalhando como se estivesse executando em tempo recorde uma coleção”, pontua o estilista que fez o primeiro desfile da Apartamento 03 na passarela do Minas Trend. “Foi a partir das participações no evento que minha marca se projetou nacionalmente e eu passei a entender a importância de empreender. A conexão da imagem de moda presente nos disputados desfiles e o contato com compradores nacionais e internacionais foram determinantes para as vendas da Apartamento 03 saltar de 300 para 2 mil peças”, resume.
A PROSPECÇÃO NO CENTRO DAS NEGOCIAÇÕES
Você, leitor, pode conferir no site do Minas Trend uma série de informações sobre como os sindicatos avaliam as expectativas em relação aos caminhos que serão trilhados nestes dias de alta potência da principal plataforma de geração de negócios do setor no Brasil. Na opinião do experiente presidente do Sindibolsas, Celso Afonso, os expositores esperam realizar 70% das vendas projetadas para a coleção Outono-Inverno 2023. “O nosso segmento, na verdade, desde que o evento retornou, manteve sua participação de forma bem equilibrada. E nessa próxima edição as empresas virão com força total, uma vez que já se recuperaram dos momentos mais delicados vividos no passado”, ressalta. No que tange ao vestuário, o presidente do Sindivest-MG, Rogério Vasconcelos, avalia: “O expositor está super animado, isso corroborando com as edições anteriores. Os dois eventos realizados no pós-pandemia já ficaram acima da expectativa. Estaremos em um imediato pós-eleições, mas mantendo o entusiasmo de boas vendas”, reflete.
Quando falamos sobre a produção calçadista, Luiz Barcelos, à frente do Sindicalçados, analisa que muitos sentiam a falta de contato, de encontros físicos e de trocas de experiências, resultantes do período pandêmico. “Esta edição vai deixar as pessoas mais livres e mais cômodas. O segmento de calçados está bem animado”, pontua.
De acordo com os dados informados no site do Minas Trend, o segmento de vestuário representa uma das maiores forças do comércio varejista da capital. Ao todo, mais de 8.500 lojas estão espalhadas por toda a cidade. Na opinião do presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Marcelo de Souza e Silva, “o fortalecimento da área significa manutenção de empregos e geração de renda. O comércio varejista de vestuário da capital carrega uma grande responsabilidade de empregabilidade e também de geração e circulação de renda. O Minas Trend contribui para a valorização do segmento, fomento de novos negócios e expansão da moda mineira pelo país”, analisa.
Artigos relacionados