* Por Alexandre Schnabl
Após quatro dias de feira, o Minas Trend encerrou sexta-feira, no Expominas, em Belo Horizonte, sua 14ª edição com o tema Sob os olhos do mundo, apresentando moda Verão de ótima qualidade. Como sempre, o apuro que os criadores do estado têm pelos acabamentos sofisticados, o estilo para festa e o requinte artesanal foram levado às últimas consequências. No total, 254 expositores – 120 de vestuário, 54 de calçados e bolsas e 80 de jóias e bijoux – e um crescimento de 23,9% em comparação à edição anterior de Inverno. E, como sempre, os desfiles, distribuídos por três dias do evento, causaram ótima impressão no público. Foram 13 fashion shows com 15 marcas contempladas, já que duas grifes de acessórios apresentaram em conjunto com duas de roupas. Bom número, que havia minguado há algumas edições e que, agora, volta a fazer toda a diferença. E, claro, a gente faz figa para que marcas bacanas – com Graça Ottoni, Printing e Coven – fora do line up, não só deste evento como do Fashion Rio, voltem a mostrar suas coleções na passarela. Confira abaixo os highlights de cada show! E, se o belo cenário geral do evento não permitiu variações na ambientação de cada desfile, as trilha sonoras da maioria deles fizeram os pezinhos do público balançarem durante o catwalk.
A Ammis se inspirou em flores, folhas e pássaros para seu Verão. Na abordagem, certo aroma vintage nos prints que reproduzem vitrais art nouveau dentro do tema escolhido. Sempre funciona. Os vestidos de trama vazada em couro – um recurso que tem comparecido bastantes nas passarelas – são lindos, ainda mais no bordô, cor que completa a cartela de neutros com eficiência. Aliás, a cartela que intercala tons pastel e vivos, como rosa suave, azul, pink, vermelho, amarelo e laranja, levanta a coleção. E o engana-mamãe em crochê é outro acerto. Entretanto, a opção por shapes secos e embalados a vácuo no corpo – como os tubinhos -, se é um acerto no quesito venda, bem ao gosto da brasileira, na passarela vai na contramão daquilo que está no topo das paradas. Nada mal apresentar na passarela moda comercial, mas criar um contraponto e dar uma pitadinha de conceito não é caminho de se engavetar.
No mais, uma delícia a trilha com Don’t you (Forget About Me), hino dark da virada 1984/1985 que catapultou o Simple Minds à fama. De quem é essa nova versão usada por Bittencourt (Raio Noir)?
Fotos: Henrique Fonseca
Áurea Prates deu continuidade ao trabalho com aplicações que é a sua marca. Bonito e comercial. Teve música gostosa no show, que foi de “Hung Up”, com Madonna, a hits do Abba, já que a verve paz & amor do musical “Mamma Mia” inspirou a coleção, assim como as praias da Grécia. Daí os maiôs em paetês, as transparências, o mix de azuis do céu e mar, além das texturas e rendas. Nesse âmbito, as aplicações misturadas às texturas colaboram para reforçar a ideia das praias de cascalho e conchas à margem do Egeu e ajudam a justificar tanto relevo nas peças. Branco, cáqui, bege e neutros (da areia do mar e das casinhas da Santorini) pontuam o desfile, que tem os corais como ponto de destaque. As formas são amplas, os midi são a principal aposta no comprimento e alguns barrados em listras imprimem o toque esportivo da temporada.
Fotos: Henrique Fonseca
O verão de Fabiana Milazzo vem com cartela de cores fortes, com muitos prints de flores sobre bases de pinceladas artsy. A brincadeira é evocar os artistas plásticos contemporâneos – como Pedro Miranda, que cria belas esculturas que expõem o universo feminino, e Amada Cavour, conhecida pelas reproduções de jardins e cenários – através do trabalho de costureiras e bordadeiras. Daí muitos bordados sobre as estampas, criando relevos. Assim, o shape descomplicado nessa pegada street art é precioso, mas jovial, com presença de vestidos midis corsetados e acinturados (com saias godê) e longos retos de efeito vestal, tudo ricamente valorizado por rendas e tules, bem leves, femininas. O azul jeans contrasta com laranjas e framboesas, permitindo resultado de quente/frio e chiaroscuro.
Fotos: Henrique Fonseca
A Faven volta ao line up do evento com desfile bacana e seu tricô diferenciado, outro dos pontos fortes de Minas Gerais. A grife se aprofunda no próprio trabalho e vai fundo em sua tecnologia, bricando com jacquards e estampas digitais. Duplas de laranja e turquesa, laranja e cinza, laranja e uva e e rosa e lilás brincam com os prints florais de figura e fundo, com a coleção abusando do midi, das camadas e do positivo/negativo. Silhuetas secas e babados, inclusive na barra de tops, fazendo efeito basque com as saias lápis, comparecem em sua moda cool, que ainda ganha a adesão de Grace Jones na trilha, outro acerto de Bittencourt nesta temporada. Viviane Orth e Laís Ribeiro – a loura e a morena – continuam causando respiração ofegante na plateia. E a beleza de Bruno Cândido, onipresente nos desfiles, arremata tudo com limpeza. E, por falar em beauty, de quebra, o desfile ainda contou com Luiza Brunet na plateia. Precisa falar mais?
Fotos: Henrique Fonseca
Mabel Magalhães é outra boa filha que à casa retorna. E, como está celebrando os 35 anos de estrada, não fez por menos e contratou logo o sempre inspirado Paulo Martinez para assinar o styling de sua roupa de festa premium. A alfaiataria comparece coordenada com os vestidos de festa, em montagens minimalistas amplificadas pelas belas floradas que decoram algumas peças. Como detalhe de produção, belas tulipas em couro decorando pescoços, ombros ou cabeças. Materiais nobilíssimos, como cetim duchesse, jacquard ricci, organza e renda – que fariam bonito em um rega-bofe em Downton Abbey -, contracenam com o couro em tons suaves. Alguns brilhos lembram que a marca, apesar do visual diurno impresso pela cartela de cores, curte vestir quem vai para a noite chique dos badalos sociais, e um certo aroma setentista paira sobre a coleção, com duplas de bustiês e pantalonas e através da presença de saias longas rodadas e macacões.
E, em vestido longo, Lea T. arrasou abrindo o desfile. Desfrute.
Fotos: Henrique Fonseca
A Vivaz – uma das grifes top do evento – entrou na cachoeira (ou na corrente de mar) para fazer um Verão aquático, com as moléculas de água se desdobrando em formas geométricas. Foi bom, porque deu aquela renovada no estilo, já que a marca há muito insistia na releitura do art déco e art nouveau. O resultado, dentro daquele espírito de festa da grife, impressionou, fugindo da supremacia dos midis, apostando no contraste entre longos hollywoodianos e tubinhos curtíssimos e brincando com novas formas de decorar a superfície das peças. E ainda surgiram couros recortados a laser, fruto de uma parceria esperta com Patrícia Viera. E capas de chuva em plástico incolor, com detalhes de cor, colaboraram na interpretação do tema. Essas capas, que têm aparecido vários desfiles, são um detalhe significativo no visual da próxima estação, ainda que o clima africano não colabore em várias regiões do Brasil. Lima, goiaba, azul clarinho, gelo, laranja, cinza e celadon – aquele verde pastel que os franceses adoram – compõem a cartela chique dessa temporada.
Fotos: Henrique Fonseca
A Plural tem se destacado pela modinha bacana que une peças lisas em boas cores e estampas da hora. Dessa vez, as palavras de ordem foram cultura oriental e geometria das dobraduras. Essa arte milenar do origami, ao invés de dobras e mais dobras na modelagem, gerou prints geométricos sobre tecidos de fibras naturais, tudo em formas minimalistas sobre tons neutros. E, na cartela de cores sucinta ainda há espaço para listras largas em amarelo e branco. Alguém duvida que isso seja sucesso de vendas? Assim como as peças em telinha, outro importante hit do verão que vem. A marca, aliás, foi outra que apostou mais nos curtos do que nos midi. E sãs flatforms desenvolvidas com a Vicenza e os colares em madeira solucionaram bem o styling.
Fotos: Henrique Fonseca
Responsável por momentos de poesia em suas apresentações, Mary Arantes é daquelas que transforma bijuteria em conceito, ou melhor, em arte conceitual. Daí um pulo para, dessa vez, ela se deixar levar pelo fluxo do pensamento na loucura de Arthur Bispo do Rosário ou na efusão criativa de Frida Kahlo, que beira o desequilíbrio. No release, Mary vai fundo no tema e chega até “O Elogio da loucura”, a obra de Erasmo de Rotterdam. Muito cabeça? Ela pode.
As sobreposições de maxi colares que apimentam as roupa criadas pela Apartamento 03 – que dessa vez não fez desfile individual – tem esse quê de doideira: embaralham entre si, todas enroladas, como se fosse um turbilhão de pensamentos confusos e entremeados de um louco. Ou as artérias de alguém cuja insanidade flui pelo sistema sanguíneo, em descontrole absoluto. Correntes são arrastadas pelo chão de quem está confinado ao sanatório (ou preso aos seus próprios devaneios confusos), e contas e bolas de tramas de metal, todas emboladas, dão as caras em looks onde amarrações aludem às camisas de força. No final, um enorme coração tramado em fios fecha o desfile, confirmando a vocação para a arte pura na Mary Design. Na trilha, “Maluco Beleza”, de Raul Seixas, dá a tônica.
Fotos: Henrique Fonseca
Se Mary Design apelou para a loucura, Lucas Magalhães deu vazão à sua obsessão por listras, provando que na moda, todo mundo tem um quê de louco ou, no mínimo, um tiquinho de TOC. Como o rapaz radicado em Londres é bom, fica difícil não babar com os vestidos cinturados em tricô cujos grafismos se desdobram em listras que brincam em efeito trompe l’oeil, imitando as pregas de uma saia godê. Ou se impressionar nas listras gestuais que remetem a um animal print estilizado, sem nenhuma pecha de perua. Ou ainda, comer com os olhos as divertidas barras com riscos horizontais que lembram aqueles listrados esportivos.
Fotos: Henrique Fonseca
Depois de desfilar ao lado de Victor Dzenk, Rogério Lima volta ao desfile-solo. Ou melhor, quase, já que ele faz bolsas bacanas e, para as modelos não desfilarem nuas, fez parceria com a B.Bouclé, de Bárbara Maciel. Obviamente, as texturas bonitas da renda guipure, usada nas roupas dessa marca, serviram de pano de fundo para as bolsas e, apesar dos vestidos com corações em maxi paetês não emplacarem, aqueles com os mesmo em bordados vermelho causaram boa impressão na plateia. Perfeitas para completar as bolsas grandes e estruturadas de Rogério, em branco, marrom, verde esmeralda ou amarelo forte.
E, como aconteceu nesta edição do Minas, a trilha sublinhou otimamente o show, agora uma mixagem usada no documentário sobre Pina Bausch, “Pina”, dirigido por Wim Wenders.
Fotos: Henrique Fonseca
A Anne est Folle está se consagrando como uma boa marca mineira que foge daquele padrão decorativo que costuma ser comum entre os criadores da região. Com seu estilo descolado, cool e minimalista, ela costuma apresentar boas soluções dentro de sua visão de moda. É gostoso conferir, a cada temporada, ela firmando seu espírito voltado para esta mulher que quer estar bem vestida, mas sem os exageros da trinca bate-cabelo/decotão/pernocas de fora. Pétalas de flores estilizadas em aguadas e geometria em blocos de cores fortes levantam as modelagens simples, mas confortáveis.
Fotos: Henrique Fonseca
A GIG fechou a rodada de desfiles do evento com aquele tricô diferenciado que tem colocado a grife no mapa-múndi da moda. Dentre todas as que enveredam por este caminho, a marca de Gina Guerra é daquelas cujo desfile dá prazer de assistir. Peças super bem modeladas, como midis cinturados, longos, blusas, saias e calças – com variação de volumes –, seguem a inspiração em Bora Bora, com maxi hibiscos e cores fortes rejuvenescendo uma matéria-prima que, às vezes, tem fama (descabida) de careta. Algumas transparências colaboram com a leveza, mesmo com a insistência em manter o lurex na coleção. E as sandálias com tiras de macramê são lindas!
Fotos: Henrique Fonseca
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