Jeitinho mineiro, muito tricô e Miss Brasil 2016 na passarela. Estes foram alguns dos elementos que marcaram o segundo e último dia de desfiles nesta 19ª edição do Minas Trend. O dia, que começou com Lucas Magalhães cruzando a passarela e contagiando o público com o encanto mineirinho, terminou com os holofotes voltados para Raissa Santos, que foi eleita a mulher mais linda do Brasil no último sábado, dia 1º. No line-up, depois de Lucas Magalhães, a passarela do Minas Trend foi palco para as criações da Modem, Doisélles e Ellus, que fechou o espetáculo desta edição. Desce mais e confira tudo o que rolou!
Lucas Magalhães
Se o estado de Minas Gerais pudesse ser traduzido nos cinco sentidos, ele seria como foi o desfile de Lucas Magalhães. Na passarela, o público acompanhou uma mistura do barroco com o clima de roça. Na audição, músicas que nos remetem à vida na fazenda potencializou a experiência. Já as texturas que enriqueciam as roupas ocupavam a missão do tato. E, por fim, docinhos de leite mineiro ajudavam ainda mais os convidados a entrarem no clima do estado. Essa era a proposta. Com um sotaque que não dá para enganar, Lucas Magalhães quis trazer as experiências de sua terra natal para a passarela. O motivo? Depois que foi morar em São Paulo, deu saudades de casa. “A inspiração é Minas Gerais e fala muito da minha própria identidade. Com essa mudança para São Paulo, eu fiquei meio nostálgico e sentindo um vazio do que é essa vida mineira e quis contar para todo mundo das delícias que temos por aqui”, revelou.
Para isso, Lucas elegeu dois temas que serviram como fios-condutores: o barroco mineiro e o clima agradável do interior. “Eu trabalhei em cima de dois contrapontos da cultura mineira que, para mim, são muito especiais e fortes: a ostentação da arquitetura barroca e o aconchego da roça e da fazenda. Esses, para mim, são os símbolos e a forma com que o nosso estado é visto para além de nossas fronteiras”, justificou o estilista que acredita ter criado a coleção mais icônica de sua carreira.
Na prática, o mineirinho apostou em cores, estampas e detalhes. Em relação às padronagens, galinhas da angola, vacas, elementos arabescos e colunas da arquitetura mineira ajudam a explicitar esse conceito. Quando o assunto são as cores, Lucas Magalhães não teve medo de ousar. “A cartela de cor é bem em cima da arquitetura da região. Então, por exemplo, tem muito vermelho e azul, que representam a pintura de Athayde dos tetos das igrejas de Ouro Preto. Em relação a inspiração do campo, são cores bem típicas desse imaginário presente nas estampas”, contou sobre a coleção que ainda apresentou patches que faziam referência aos conceitos criativos.
Além de mostrar lindamente a cultura de seu estado, o designer ainda apostou no conforto e na liberdade de suas peças. Apesar de criar uma roupa imaginando o corpo que irá usa-la, Lucas acredita que suas peças são livres para gêneros e gostos. Prova disso, é camisa de alfaiataria usada por uma modelo no desfile e a saia que foi clicada em um homem no editorial da marca. “Isso é muito da pessoa. Eu como estilista, quando estou desenhando, eu penso em alguém usando a peça. Mas isso não significa que seja uma ordem. Se a pessoa se sente bem em uma roupa que seja ou do feminino ou do masculino, seja feliz. Eu acho que isso é uma questão muito pessoal. Mas acredito também que nós fazemos moda com a intenção de transgredir”, avaliou o estilista que acredita que o conforto seja a palavra de ordem da próxima estação.
Modem
Moderna e minimalista, a Modem cruzou a passarela do Minas Trend com uma coleção atemporal, como defendeu seus estilistas André Boffano e Sam Santos. Com o desejo de reforçar esta identidade da marca, a grife apostou em tons mais neutros pontuados com uma cor forte e shapes mais alongados. A inspiração que norteou esta coleção da Modem, segundo o desiger André Boffano, foi própria história da grife. “A gente não trabalha com temática por coleção e, sim, reforça os nossos códigos. Então, desde as primeiras criações a Modem já adotou alguns desses símbolos, como a simetria e o lado industrial, e a gente continua trabalhando isso com o passar das coleções. O nosso objetivo com essa coleção é reforçar o DNA da marca e estabelecer uma relação com a arte e o expressionismo abstrato”, explicou o estilista.
A tradução deste conceito se deu em peças limpas, modernas e elegantes. Como contou Sam Santos, a matéria prima e os detalhes são peças fundamentais nesta coleção. “Para esta temporada, a gente trouxe o tricô com cortes assimétricos e o couro, que estão bem interessante. Nas peças, os detalhes são sempre muito pontuais e importantes. Os punhos e as golas muitas vezes têm algo de especial para compor a produção”, disse o estilista que acredita que o tricô seja uma das principais tendências para o próximo inverno. “O tricô agora no inverno vem como o básico por baixo, e a parte de cima é o que deve ser mostrado. Inclusive, nós estamos fazendo sobreposição com jaquetas, alfaiataria e peças em couro por cima deste material”, adiantou Sam no backstage do Minas Trend.
As cores e os cortes também merecem uma atenção especial. Na cartela, tons mais neutros foram o destaque da coleção. Enquanto a assimetria e o babado contemporâneo se destacaram no quesito forma. “A gente já tem o hábito de usar uma cartela de cores com tons mais neutros. E, em cada coleção, nós fazemos uma aposta em uma cor forte. No caso desta temporada, é esse tom meio verde limão que a gente nomeou de citrón. Já em relação à forma, os recortes assimétricos e o trabalho diferenciado que fizemos com os babados estão bastante presentes na coleção. Nós fugimos um pouco daquele conceito mais tradicional e clichê e fizemos algo com a cara da marca”, afirmou André Boffano.
Doisélles
Se o tricô é a tendência da próxima estação, quem está muito feliz é a estilista Raquell Guimarães da grife Doisélles. Desde o começo da marca, a estilista aposta neste trabalho combinado ao crochê como identidades da grife. “Eu espero que essa realmente seja a tendência do inverno 2017 porque é o que a minha marca faz desde quando começou em 2008. Então, quando a gente entra dentro da moda é lindo. Mas também, se estivermos indo para o lado oposto, nós vamos continuar fazendo isso porque somos uma marca totalmente atemporal”, argumentou Raquell que para esta coleção apostou no conceito da economia criativa. “Ela atende a uma demanda de mercado que é a sustentabilidade. A gente quer mostrar que essa urgência para tratar dos processos têxteis precisa ter mais respeito”, avaliou.
Mas, como nos contou momentos antes de cruzar a passarela, esse conceito não está explícito na coleção. Pelo contrário. Raquell Guimarães quis trazer esse ideal para a identidade de suas peças. “Eu não traduzi isso esteticamente. Eu apliquei esse conceito no processo produzindo peças feita a mão por detentos. Esteticamente, ela é mais um vestido de celebração. Mas o processo dela tem muito respeito. Então, na alma desta roupa está toda essa proposta da coleção, que é a economia criativa”, disse a estilista que, esteticamente, apostou no metalizado como forma de euforia e felicidade. “Eu quis trazer brilho e alegria. Geralmente, o tricô atende muito bem ao preto e ao off white. Mas, para o desfile, eu quis celebrar e trazer a energia das cores. Então, a coleção é pontuada com dourado, prateado, azul petróleo e roxo metalizado. Teremos brilho na passarela”, adiantou a estilista no backstage.
O que também foi destaque nesta coleção foi a beleza de Ricardo dos Anjos. Em maquiagens ousadas e um tanto quanto dramáticas, Raquell Guimarães quis proporcionar experiências e sensações opostas a quem estava assistindo ao desfile. “A gente fez uma beleza mais teatral para proporcionar diferentes interpretações em quem vê. Então, quando a modelo caminha, o lado direito do público enxerga uma face enquanto o esquerdo outra. E depois isso se inverte”, explicou a estilista Raquell Guimarães da marca Doisélles.
Ellus
Com mais de 40 anos de história no cenário da moda brasileira, a Ellus foi a responsável por fechar o último dia de desfiles desta 19ª edição do Minas Trend. Em uma sala lotada, a grife apresentou uma interpretação moderna e contemporânea do estilo do Havaí e trouxe a modelo e Miss Brasil 2016, Raissa Santana, como destaque da coleção. A miss foi a responsável por abrir o desfile que mostrou a visão da marca sobre a cultura da ilha. “Nós temos uma história na Ellus que fala sobre esse jovem adulto que viaja o mundo. Então, muito mais do que falar da ilha de uma forma poética e literal, essa coleção é uma experiência da Ellus sobre essa viagem. Ou seja, a gente mostra essa pessoa que começa a usar suas peças, como a jaqueta de couro e o jeans, combinada aos elementos da cultura havaiana. O que vemos na passarela é um Havaí com um ar urbano e do rock, que são as referências da marca”, explicou o estilista Rodolfo Souza sobre a coleção Verão 2017.
Outro dado interessante que compõe o conceito da coleção é a presença da cultura jovem do final dos anos 1990 e início dos anos 2000. A era clubber, das boates e raves, aparece traduzida no stylling do desfile. “Nós temos coturnos tratorados e mais pesados e detalhes nas botas com as padronagens havaianas acrescidas de glitter, por exemplo, para traduzir essa ideia. Eu acho que isso dá uma rejuvenescida e alia um pouco a essa referência que, teoricamente, não teria a ver com a marca”, disse Rodolfo que também destacou a variada cartela de cores como símbolo desta proposta. “É uma coleção muito colorida e a gente se permitiu uma certa liberdade na escolha de matéria prima também. Então, em um mesmo look, nós temos estampa, textura de cobra, glitter, couro preto e couro com viscose. É um desfile rico em sobreposição com mistura de matéria prima cores. Tinha muito tempo que a marca não apostava em combinações assim. Então, é uma coleção que tem uma energia jovem, cor e atitude”, argumentou o estilista Rodolfo Souza.
Logo depois, a diretora criativa da Ellus e da Second Floor, segunda marca da grife que tem uma pegada naturalmente mais jovem, Adriana Bozon reforçou a argumentação de seu estilista. “Eu acho que a Ellus é uma marca muito forte e já consolidada. Nós temos esse DNA urbano, rock’n roll e o jeans e o couro como carros-chefe. É uma marca que vem se renovando e atualizando, mas o nosso target continua sendo 30+. Só que hoje em dia, todo mundo quer ser jovem e estar mais descolado. E isso é um trabalho constante que pontua toda a história da Ellus. Nós somos uma marca contemporânea que veste pessoas modernas no dia-a-dia. É só uma constante atualização”, avaliou Adriana.
Conhecida pelo seu jeanswear impecável, a coleção inspirada na cultura do Havaí traz modelos mais despojados. Total insider nas tendências do jeans, a Ellus apresentou modelos pontuados com patches exclusivos. “O jeans aparece todo lavado, destruído e com patches únicos que fazem referência às estampas que nós criamos. Esses modelos têm bastante cara de brechó e aparecem reformulado e reeditado com a aplicação desses desenhos”, explicou Rodolfo que acredita que esta tendência já foi super aceita. “Eu acho que essa moda já pegou. E o mais legal é que os nossos patches além de exclusivos, são feitos com fios de lúrex, o que os deixa mais bonitos, ricos e especiais”, afirmou o estilista da Ellus, Rodolfo Souza.
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