Como a Inteligência Artificial está se inserindo no cotidiano e pode trazer ganhos de produtividade, qualidade de vida e de serviços para a sociedade e maior competitividade para a indústria da moda brasileira? Com a palavra, Roberto Gomes, especialista em Ciência de Dados, sócio-proprietário da Fellow, startup que atua no ramo de inteligência de consumo, consultoria em projetos de reconhecimento facial e de Mineração de Dados para estabelecimento de perfis de fraude, e que nos proporcionou uma palestra importantíssima sobre a Inteligência Artificial e seu Impacto no mundo da Moda. Foi realizada como parte integrante da 29ª edição do Minas Trend – Maior Salão de Negócios da América Latina -, promovida pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), sempre de portas abertas para a inovação, os melhores negócios da moda e propulsor de novos horizontes. “Quando fui convidado para esta palestra, não precisei pensar duas vezes. É um evento importante no cenário nacional, e eu estou curtindo muito poder dar minha contribuição de cientista e de engenheiro”, pontua Roberto Gomes.
Segundo ele, “com os avanços da Inteligência Artificial (IA), a o futuro da indústria da moda parece mais brilhante do que nunca. De experiências como desenho das coleções feito por máquinas, corte de roupas otimizados por computador ou experiências de compras baseadas em recomendações personalizadas, muito do mundo da moda está sendo tomado pela IA. Hoje já é possível provar roupas de uma loja sem sair de casa. Já estão disponíveis tecnologias de teste virtual que usam visão computacional para oferecer aos clientes uma representação 3D precisa de seus corpos. Essas e outras tecnologias de Inteligência Artificial estão invadindo o mercado da moda e parecem ter chegado para ficar”.
O local escolhido para o encontro foi o P7 Criativo, primeiro hub de inovação e economia criativa do país, que ocupa os 25 andares de um edifício projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012) em 1953, na Praça Sete de Setembro, no Centro da capital mineira. O belíssimo e imponente prédio da década de 50, com as linhas sinuosas saídas da prancheta do mestre do modernismo, passou por um retrofit de forma a preservar a arquitetura original em simbiose com as novas tecnologias. Perguntei a Roberto qual o caminho e novos horizontes (tema desta edição do Minas Trend) para uma empresa de moda entrar realmente nos processos da Quarta Revolução Industrial e como estão sendo desenhados os novos modelos de gestão em tecnologia?
“A Quarta Revolução Industrial, também conhecida como Indústria 4.0, se caracteriza pelo uso de tecnologias avançadas na Indústria. Fechando esse amplo contexto apenas no setor da moda, podemos apontar a intensa automação e robótica empregadas para otimizar a produção, reduzindo tempo e custo na fabricação de roupas, acessórios e até mesmo seus insumos mais primários usados na cadeia produtiva. Poderíamos incluir aí tecnologias que trouxeram melhorias para a logístIca e ir além, considerando também tecnologias de plantio e colheita do algodão, por exemplo, algo que está lá na ponta da cadeia de valor da indústria têxtil, que é base para a moda”.
Ao meu ver, os principais avanços tecnológicos resultantes pandemia, excluindo os óbvios avanços na saúde em si, foram no setor das comunicações. O isolamento exigiu novas formas de comunicação e interação entre as pessoas, o que proporcionou novas formas de trabalho inclusive – Roberto Gomes
Segundo o especialista, “tem muita coisa acontecendo, a tecnologia está evoluindo muito depressa, principalmente com avanços na Inteligência Artificial, apresentando novidades para as quais o cenário de emprego surge a posteriori. É como subverter a lógica de primeiro definir o problema para só então buscar a solução. Existem inovações que ainda não se sabe bem onde possam ser empregadas e este cenário cria um pouco de confusão para os modelos de gestão em tecnologia. Entendo que a questão de ordem para o momento seja adaptação. É importante conhecer as novidades e ter flexibilidade nos modelos de gestão para se adaptar às inovações que surgem”.
A tecnologia tem ajudado a sustentabilidade como formas menos impactantes (ao meio ambiente) de produção, com criação de materias alternativos, com menos consumo de energia ou água, além de trazer mais humanidade às pessoas – Roberto Gomes
Com os avanços da Inteligência Artificial (IA), o futuro da indústria da moda parece mais brilhante do que nunca. De experiências como desenho das coleções feito por máquinas, corte de roupas otimizados por computador ou experiências de compras baseadas em recomendações personalizadas, muito do mundo da moda está sendo tomado pela IA. Hoje já é possível provar roupas de uma loja sem sair de casa. Já estão disponíveis tecnologias de teste virtual que usam visão computacional para oferecer aos clientes uma representação 3D precisa de seus corpos. Essas e outras tecnologias de Inteligência Artificial estão invadindo o mercado da moda e parecem ter chegado para ficar.
Sobre os impactos positivos no aumento do uso de tecnologia, ele pontua que costuma dizer que “o principal aspecto positivo que a tecnologia traz é ampliação da humanidade. Explicando melhor, as diversas tecnologias chegam, normalmente, para dar mais humanidade para as pessoas. Existe muito debate em torna da extinção e diminuição dos empregos, mas no fundo, o principal objetivo é liberar um humano de ter que fazer algum tipo de trabalho árduo. Eu tenho uma visão otimista a esse respeito, pois quando você libera alguém de fazer um trabalho repetitivo que tenha alto consumo de tempo ou até mesmo de esforço físico, ainda que pareça significar que está retirando o emprego dele, em última instância, significa dar o tempo e esforço de volta para ele para que possa trabalhar em outra coisa. Obviamente, isso inclui melhor sua capacitação etc. Isso precisa ser feito e também está relacionado com dar mais humanidade para as pessoas. No final tudo visa a tirar alguém de um trabalho maçante, dando oportunidades para esse alguém se realocar em um trabalho melhor, que envolve mais potencial criativo e que seja mais humano”. Acredita ainda que dá para incluir na Indústria 4.0 toda uma parte de análise de dados, que tem se tornado uma ferramenta poderosíssima na indústria da moda, algo tratado na palestra.
Hoje é possível avaliar as necessidade do consumidor em tempo quase real e fazer previsões de tendências com grande precisão. Isso ajuda as empresas a produzir produtos que atendam às necessidades específicas do consumidor e a melhorar a eficiência da cadeia de suprimentos. Vamos colocar nesse caldeirão da Quarta Revolução Industrial também a sustentabilidade. Muitas tecnologias surgem para ajudar as empresas a reduzir o impacto ambiental e social a partir do uso de matérias-primas sustentáveis e práticas de fabricação éticas – Roberto Gomes
E os pontos de atenção na opinião do especialista? “Dentro desse contexto precisamos colocar esforços na melhoria da capacitação das pessoas. É preciso criar um salto educacional e de capacitação profissional de forma a acompanhar o salto de humanização que a tecnologia proporciona”.
A Inteligência Artificial, de acordo com Roberto Gomes, é um termo “guarda-chuva” que abrange um conjunto de processos, métodos, ferramentas e técnicas para atingir o objetivo de fazer com que os computadores se comportem de forma inteligente, como os humanos. “Isso inclui habilidades como raciocínio, resolução de problemas, recuperação da memória, planejamento, aprendizagem, processamento da linguagem natural, percepção, manipulação, interação social e criatividade”, analisa. Destaca também a mega velocidade com que a tecnologia vem evoluindo em comparação com a própria história do ser humano.
“Nós levamos 6 milhões de anos para desenvolver o cérebro que temos hoje, com todo o seu nível de complexidade. Já a capacidade de processamento de um computador dobra a cada 18 meses, em média. Isso mostra o potencial que a IA ainda tem para evoluir” – Roberto Gomes
E são inúmeras as possibilidades da IA ser aplicada ao mercado da moda. “No e-commerce, por exemplo, as marcas podem contar com um provador virtual, robô de atendimento e assistente de estilo virtual. “Para a logística e estoque podemos usar a IA para previsão de demanda e robótica de armazém. Já para o design, podemos usá-la para prever tendências. Lembrando que as tecnologias podem se complementar: se a marca prevê quais tendências vão vender mais, isso também ajuda a prever a demanda de peças e favorecer o planejamento”, exemplifica.
Ele acrescenta que a previsão de tendências, inclusive, tem se tornado até um setor específico chamado “trendhunter”. “Análises de Big Data, Machine Learning, Image Recognition e insights de consumo e redes sociais podem apontar tendências de cores, estampas, padrão de corte e modelos de consumo”, afirmou.
Outros exemplos são os espelhos virtuais, que fotografam o corpo do cliente e oferecem sugestões de peças. “A IA consegue sugerir tamanhos personalizados, recomendações de estilo, integração com sistema de pagamento e integração com a logística de entrega do produto. Com um sistema desses, a loja não precisa ter um espaço muito grande e nem um alto número de peças em estoque pois a experiência estará concentrada virtualmente”, comenta.
Durante nossa entrevista, eu perguntei a Roberto como se faz a conexão tecnológica direta com o novo consumidor que quer saber “quem produziu a sua peça?”, “como ela foi produzida?”. “Essa é uma pergunta excelente. Existem tecnologias hoje capazes de autenticar produtos e capazes de detectar fraudes. Sobre diversidade de profissionais, o meu entendimento é que a tecnologia empurra maior responsabilidade para a parte criativa, tirando as pessoas da parte braçal do trabalho e levando-as para a parte mais intelectual. No meu trabalho com inovação e pensamento criativo eu vejo na prática o quanto a diversidade influencia. É no caldo da diversidade que são maturadas as ideias mais criativas”.
O sócio-proprietário da Fellow, startup que atua no ramo de inteligência de consumo, responde ainda se podemos nos transformar em avatares, em uma persona digital, como a tecnologia se reflete no universo digital e o mundo real? “Tenho visto o uso de avatares na indústria da moda em abrangência mais limitada do que a de um metaverso completo. Está cada vez mais comum o uso dos espelhos inteligentes, por exemplo, que mapeiam o corpo da pessoa, apresentando um avatar dela e sugerindo estilos de roupa, mas principalmente, fazendo análise dos tamanhos mais adequados, trazendo resultados práticos do mundo virtual para o mundo real”.
Sobre contribuir para os novos horizontes da moda, ele é tácito: “Eu tenho trabalhado com dados, realizando uma jornada do dado até o insight. A jornada transforma o dado em informação, conhecimento e sabedoria, antes de virar o insight, a inspiração realmente relevante que traz melhoria para a tomada de decisão nos negócios. Eu tenho atualmente trabalhado com inteligência de consumo”.
E Roberto, como se tornar hoje referência no mercado de moda? “Essa é uma pergunta de 1 milhão de dólares (risos). Eu acho, e é possível apoiar essa opinião em alguns exemplos de grandes marcas, que o emprego de tecnologias como a Inteligência Artificial seja um ferramental importante para se chegar lá”.
O Minas Trend é uma realização do SESI, SENAI e FIEMG, com apoio master do Sebrae Minas e patrocínio da CDL, Bling e Banco Inter
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