Já é uma realidade o quanto a pandemia acelerou o processo de transformação digital das empresas no país. A própria 28ª edição do Minas Trend, principal plataforma de geração de negócios do setor da moda, criou o Minas Trend Phygital (união do físico e digital), importante ferramenta de venda, conectando compradores e marcas e uma experiência de um showroom virtual, uma plataforma para que todos gerenciem vendas e compras. Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), Flavio Roscoe, pontou sempre que “a adaptação é sempre a chave do sucesso. Desenvolver-se no meio digital é criar oportunidades de crescimento”. E Guilherme Scalon, CEO da Teceo, também havia ressaltado que o maior diferencial da plataforma é a visão colaborativa.
E, além de celebrar 15 anos como evento propulsor de negócios na indústria, apontando as tendências da moda e o potencial de retomada da economia, o Minas Trend também proporciona conexões e aprendizados em sinergia com os novos tempos, e o pensar na moda de forma global e criativa. Com série de palestras, que proporciona uma imersão em temas sobre o futuro da moda, o evento recebeu a professora do Inova Consulting Eliane El Badouy para falar de ‘Negócios Digitais e Inovação Ágil: Novos Modelos de Gestão’.
“O evento vem contribuindo, de maneira significativa, para alavancagem não apenas do setor da moda, mas da economia criativa como um todo. É um espaço importante que permite que os criadores de moda e a indústria apresentem suas criações, se aproximem dos varejistas. Outro ponto importante é o compartilhamento de quais serão as tendências futuras que funcionarão, não só como inspiração, mas também como norteador de alocação de recursos e investimentos. Na minha fala trouxe um overview sobre negócios digitais e inovação ágil, novos modelos de gestão, além de alguns insights sobre inovações tecnológicas do setor”, diz.
Apostando na retomada, compradores, expositores e formadores de opinião movimentaram o Minascentro e cerca de R$ 20 milhões em negócios foram gerados, e justamente antenada com este cenário, a palestrante abordou o fato das transformações e os negócios digitais estarem encabeçando a agenda empresarial de todos os segmentos e portes; as possíveis formas de implementação de uma cultura voltada ao digital; os novos modelos de gestão, plataformas e ecossistemas, além de planejamento ágil e ambidestria corporativa; e por fim, apresentou um roteiro para preparar as empresas para esse novo tempo.
E para detalhar ainda mais o tema, aponta aqui os caminhos para um negócio entrar realmente nos processos da Quarta Revolução Industrial. “Todas as revoluções industriais trouxeram importantes saltos tecnológicos que foram sendo incorporados em todos os setores e impactaram significativamente os modelos de gestão em suas respectivas épocas. A Quarta Revolução criou o conceito de ‘fábrica inteligente’, porque envolve dados, seres humanos e equipamentos físicos. É baseada na convergência e na aplicação de tecnologias como Big Data, IoT (Internet das Coisas), Inteligência Artificial, Machine Learning entre outras tecnologias, que quando combinadas podem trazer resultados incríveis”, desenvolve Eliane.
“Por se tratar de um movimento natural de transformação da sociedade, traz uma evolução de comportamentos que exige o acompanhamento de todos os setores. Não abrange apenas as unidades fabris, sua linha de produção, processos internos da empresa ou produtos e serviços que comercializa, mas, sim, todo o ecossistema industrial. Esse cenário é favorável à agilidade, autonomia e eficiência e abre espaço para novas oportunidades de negócios e nos conecta com uma realidade mais condizente com as nossas necessidades. Já o caminho para uma empresa entrar na Quarta Revolução Industrial envolve direcionar adequadamente os seus investimentos. Primeiro é preciso entender os principais gargalos da sua indústria. A partir daí é possível definir suas prioridades, àquelas que serão o foco dos investimentos iniciais. Em seguida, é fundamental contar com profissionais e fornecedores qualificados, capazes de enxergar as tecnologias que melhor resolvam os seus problemas. Ao contrário do que muitos pensam, não é necessário começar do zero para entrar na era da Indústria 4.0., muito menos investir valores astronômicos para trocar todas as máquinas da indústria. Na maioria dos casos é possível aproveitar o que já existe no parque industrial, agregando pouco a pouco novas tecnologias”.
E complementa: “O principal conceito da Indústria 4.0 basicamente é coletar, analisar e transformar dados em inteligência. Por isso, esse deve ser o foco do investimento inicial. Sem precisar de muito dinheiro, já é possível instalar sensores e sistemas que coletam e analisam dados. Assim, é razoável melhorar processos e já colocar a fábrica no rumo desta revolução. E por último, mas não menos importante, mão de obra qualificada. Começar a investir tanto na capacitação dos colaboradores, quanto na contratação de prestadores de serviço que tenham uma visão voltada para a Indústria 4.0 faz toda a diferença. Seja como for, quanto antes fizer isso, melhor será”.
A especialista também dá dicas sobre como se tornar hoje referência no mercado de moda. “É preciso ter e ser autoridade em um determinado assunto e segmento. E autoridade se constrói com conhecimento, ele é a chave do sucesso e deve ser a primeira coisa a se buscar. E quando falo em conhecimento, falo de uma perspectiva bem direcionada para o entendimento do seu nicho, da sua concorrência, da proposta de valor da sua marca e, principalmente, entendimento da alma do seu público”, propõe.
“O que seus clientes procuram? Eles estão à procura de um bom design, garantias, características específicas, como conforto, sustentabilidade, impacto social? O que ele valoriza e de que forma as propostas de valor atuais estão abaixo do que é desejado por eles? Do que estão sentindo falta? Utilidade funcional, ganhos sociais, emoções positivas e economia de custos? Ao conquistar seu público e mostrar que entende bem as necessidades dele, que conhece o que importa dentro do seu segmento, ele tende a valorizar e fortalecer cada vez mais a sua marca. As pessoas tendem a acreditar e confiar mais em quem passa autoridade. Criar conteúdo de valor também ajuda a construir autoridade, porque indica domínio sobre um determinado território, assim como participações em eventos. Um bom exemplo, de quem faz isso muito bem é a marca Gucci em suas mídias sociais. Ligações de telefone, resolvendo de verdade os problemas, e ter o endosso de clientes satisfeitos, também gera autoridade. Então, se você trabalha para construir uma imagem de autoridade, de alguém que transforma a vida das pessoas, elas tendem a acreditar em você”.
Conexão direta com o novo consumidor
Eliane comenta sobre as práticas que apontam para um novo tipo de relação com o cliente. “O impulso para o futuro sustentável da moda é principalmente liderado pelos consumidores. Eles estarão muito mais seletivos, com uma mentalidade de qualidade, valor e sustentabilidade. Estarão preocupados com a origem da moda; se ela é fabricada eticamente e tão boa quanto possível para o meio ambiente. Para atender esse consumidor é preciso transparência e autenticidade. Ele reconhece, de longe, um discurso genuíno. Se é ou não alinhado às práticas da empresa. Se a marca não diz, esse consumidor vai buscar a informação e ele acha. O caminho é se mostrar acessível. Os consumidores estão cada vez mais interessados em trabalhar com marcas que lhes dão acesso ao produto e às pessoas por trás delas. Nada de asterisco no rodapé: a regra aqui é se colocar no lugar do consumidor. Então, ser transparente demanda que você conheça com profundidade seus produtos e serviços, entregando informações úteis”, orienta.
A profissional destaca ainda, que a indústria da moda vem passando por um processo de despertar para seu impacto social e no meio ambiente. “Isso porque o impacto ambiental das indústrias têxteis e de vestuário começa logo na produção das matérias-primas. O couro e as fibras naturais são os materiais com maior impacto, mas o mesmo material pode ser mais ou menos nocivo para o ambiente, dependendo de o seu cultivo ser intensivo ou mais sustentável. A moda sustentável e diversas correntes que pregam o consumo consciente alinhado à uma proposta ecológica, surgem diante da preocupação com os impactos negativos causados por esse setor da economia. Muitas são as medidas que podem ser empregadas para reduzir os impactos sociais e ambientais na indústria da moda. Existem inúmeros processos e momentos de decisão diante dos quais uma marca adota seu posicionamento e pode investir no paradigma do crescimento sustentável”, pontua.
“A moda sustentável é uma vertente que se preocupa em utilizar métodos que não produzam ou minimizem os impactos ambientais gerados no processo de desenvolvimento de produtos. Ela surgiu da necessidade de repensar a conduta da nossa sociedade, do ponto de vista ecológico, passando pela etapa de produção, consumo e descarte de peças usadas. Algumas marcas incluem escolhas mais sustentáveis em seu planejamento estratégico muitas vezes após sofrer sanções desagradáveis como denúncias de trabalho em condições análogas à escravidão em sua cadeia de produção. Há tecnologias que reduzem em mais de 90% o consumo de água no processo de tingimento, por exemplo, mas elas ainda estão longe de serem adotadas em larga escala. Há também fábricas que estão investindo no tratamento e reutilização da água para reduzir o impacto ambiental. Enfim, já não é mais suficiente crescer em grandes escalas sem criar opções saudáveis nos âmbitos econômico, social e ambiental. Os jovens desde já clamam por ideais de um futuro mais justo, igualitário e gentil com o próximo e com a natureza. Mais do que estilo, a moda tem de trazer sustentabilidade”.
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