A 26ª edição do Minas Trend – com o maior Salão de Negócios da América Latina -, promovida pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), imprimiu sua chancela na história como protagonista na retomada de eventos da moda nacional ao fomentar vendas e fazendo a roda da economia girar. Em entrevista exclusiva, o presidente da FIEMG, Flávio Roscoe, pontua: “É uma emoção para todos nós. Depois de um intervalo por conta da pandemia, sentimos uma imensa alegria por termos a chance da volta do evento com grande investimento da FIEMG para contemplar toda a cadeia produtiva da moda. Somos tal qual uma fênix. E o Minas Trend deu o start nesse novo período e com seu foco total nos negócios de moda, gerando oportunidades para a cadeia produtiva do país, reunindo indústria, marcas e lojistas, compradores”.
Com o tema, “De portas abertas para os melhores negócios da moda”, o evento proporcionou que todos os holofotes fossem voltados para o Expominas, em Belo Horizonte, onde marcas mineiras e de estados de Norte a Sul do país deram o start às vendas de suas coleções outono-inverno 2022, antecipando o calendário da moda – vanguarda esta que está no DNA do Minas Trend, além da sinergia com propostas sustentáveis, economia circular, alinhavando inovação, responsabilidade e inclusão. Como contei aqui para você, leitor, com dinamismo e concretização de ações que visam ampliar a possibilidade para as negociações entre marcas e lojistas do Salão de Negócios, a FIEMG firmou parceria inédita com a Teceo, startup de tecnologia, e foi lançada plataforma para novas experiências no alavancar vendas durante e também no pós-evento. O presidente da FIEMG, Flávio Roscoe, pontuou que “a adaptação é sempre a chave do sucesso. Desenvolver-se no meio digital é criar oportunidades de crescimento. A plataforma da Teceo chega ao Minas Trend para agregar e mostrar outros caminhos de negociação. É a moda acompanhando a evolução tecnológica”.
A partir da equação inovação + sustentabilidade + o futuro dos negócios, na nossa entrevista, Flávio Roscoe conta sobre iniciativas disruptivas que vêm sendo implementadas na sua gestão à frente da FIEMG. Uma delas, a parceria com a gigante norte-americana Amazon, com o objetivo de facilitar a exportação de produtos das indústrias mineiras diretamente para os consumidores dos Estados Unidos. Um enorme incentivo à internacionalização sem burocracia para a moda mineira, por exemplo. Segundo dados divulgados pela FIEMG, o estado possui hoje 32,7 mil empresas na cadeia produtiva da moda, sendo 8,8 mil indústrias e 23,9 mil comércios, gerando 209 mil empregos, sendo 121.390 trabalhadores na indústria e 87,6 mil pessoas no comércio. Entre os 853 municípios não há um em que não haja empresário produzindo moda, gerando emprego e distribuindo renda.
Flávio Roscoe também enfatiza outra ação de suma importância e com repercussão global. “A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais foi uma das cinco primeiras entidades empresariais do mundo a assinar o compromisso Race to Zero. O governo do estado de Minas Gerais foi o primeiro da América Latina e Caribe a aderir à ação global e, a FIEMG, a primeira a dar esse passo no Brasil. E já começamos a mapear a pegada de carbono das 200 maiores indústrias mineiras”.
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Confira nosso bate-papo:
HT – Com a pandemia, o investimento em tecnologia digital cresceu em meses o que era perspectiva para anos. A nova realidade das empresas busca experiência de excelência, integrando todos os canais. É o omnichannel. Em se tratando de um evento plural, o Minas Trend está totalmente voltado para esta sinergia entre os canais nesse mundo phygital. O que tem a comentar sobre a edição presencial do Salão de Negócios e, ao mesmo tempo, com palestras na web com reflexões sobre inspirações para moda e o lançamento de uma plataforma vanguardista de showroom virtual?
FR – O legado desse período de um ano e sete meses que atravessamos será a interação presencial/digital, que veio para facilitar os negócios e a vida das pessoas. É uma realidade positiva. O evento presencial continuará propiciando sempre o olho a olho entre empresários das marcas e lojistas, a relação com o prazer de tocar nas roupas e acessórios e a troca de ideias durante as negociações. E, com o investimento no digital, poderemos também conectar milhões de pessoas. Estamos preparados para todas as integrações do Minas Trend e Salão de Negócios da América Latina seguirem na inovação e crescimento.
– A indústria da moda é propulsora de empregos em todas as regiões de Minas Gerais. E o Minas Trend estimula a participação de toda a cadeia produtiva, desde a indústria chegando às marcas e compradores. Enfim, a missão primordial do evento sempre foi mostrar para o Brasil e o mundo a roda da economia girando em todos os processos e Minas Gerais proporcionando a outros estados que também estejam nesta nova jornada ao participarem do maior Salão de Negócios da América Latina. Pode comentar sobre o cenário que vivenciamos hoje?
FR – No atual momento, as qualidades do setor da moda e o que ele proporciona são ainda mais relevantes. Os setores têxteis e de acessórios abrem espaço para a diversidade na área econômica. Vemos a relevância de mulheres assumindo lideranças nas empresas, a diversidade de pessoas e ideias extremamente criativas. A moda sempre esteve na vanguarda. Consequentemente, esses setores econômicos sempre estiveram na vanguarda nas pautas da inclusão e da diversidade.
HT – E como analisa hoje o potencial das empresas mineiras depois de enfrentar um período de pandemia?
FR – É um potencial extraordinário. As empresas que se adaptaram mais rapidamente estão mais fortes que antes da pandemia. Os que reagiram, buscaram alternativas e não se renderam, estão colhendo os frutos. A possibilidade de acesso real das marcas direto ao consumidor, através de investimentos no digital, propiciou a percepção instantânea de um feedback positivo. Isso não tem preço. É muito relevante para o setor e sem deixar de valorizar os canais de distribuição tradicionais.
HT – Tenho pontuado que a Quarta Revolução Industrial já é uma realidade em nosso país e profissionais estão sendo capazes de elaborar projetos de implantação da Confecção 4.0, gerando processos industriais mais eficientes, produtivos e sustentáveis. Como tem avaliado esta mudança de mindset da indústria?
FR – É exatamente isso que está acontecendo. A pandemia proporcionou um avanço de anos na implementação da Indústria 4.0, na digitalização e na mudança nas relações de negócios. Com isso, abrimos diversas oportunidades, tanto de crescimento de produtividade na planta industrial como no aumento da assertividade das marcas no lançamento de coleções e na rapidez de transformar o cenário. Você lança uma coleção agora e, em horas, já sabe como foi o retorno, através de uma tecnologia instantânea. O processo produtivo já mudou, pois conseguimos integrar a venda com a produção simultaneamente, de uma ponta a outra. No passado, a cadeia produtiva tinha que se programar com muita antecedência. Com a grande distância temporal entre o que foi programado e a realidade, a chance de errar era enorme. Para menos e para mais em termos de produção, entrega e estoque. Hoje é muito mais fácil obter a assertividade com esse movimento conectado.
HT – E no chão de fábrica, o senhor já vê essa mudança com a máquina não substituindo pessoas, mas contribuindo para uma produção mais assertiva?
FR – Com certeza. Temos ganho de produtividade. A conectividade é significativa, ao passo que os processos já permitem até reduzir etapas. A redução da taxa de juros, por sua vez, permitiu que muita gente fizesse os investimentos necessários para dar o salto tecnológico.
HT – Nunca se falou tanto sobre os princípios da economia circular como processo que deve nortear as empresas nesta Quarta Revolução Industrial. Assim como zero waste, sustentabilidade e matérias-primas renováveis. A tônica do seu trabalho na FIEMG sempre foi dar ênfase a essas implementações. Qual o paralelo que se pode fazer sobre o ontem, hoje e amanhã?
FR – Tenho muito orgulho, porque a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais foi uma das cinco das primeiras entidades empresariais do mundo a assinar o compromisso Race to Zero. O governo do estado de Minas Gerais foi o primeiro da América Latina e Caribe a aderir à ação global e, a FIEMG, a primeira a dar esse passo no Brasil. E já começamos a mapear a pegada de carbono das 200 maiores indústrias mineiras. A boa notícia é que em alguns setores a emissão já é negativa. Estamos obtendo resultados surpreendentes. Por exemplo, o mundo todo usa carvão mineral nas usinas siderúrgicas, enquanto nós usamos carvão vegetal oriundo de reflorestamento de eucalipto. Para se produzir uma tonelada de ferro gusa, o eucalipto retirou da atmosfera, em um período de sete anos, quatro toneladas de CO2 (gás carbônico). E todo o processo produtivo das empresas tem como foco a sustentabilidade de uma ponta a outra da cadeia.
(Em tempo: A Race to Zero é uma campanha de alcance global para zerar as emissões de gases de efeito estufa até 2050 com intensificação de ações de descarbonização, atração de investimentos para negócios sustentáveis, viabilizando desenvolvimento socioeconômico inclusivo e sustentável. Atualmente, cerca de 30 regiões no mundo participam da campanha e o estado de Minas Gerais está incluído.)
HT – De que forma as palavras inovação, ressignificar e construir passam a ser essenciais em momentos como o que estamos vivendo? E quais os reflexos na indústria da moda?
FR – Essas palavras tinham que ser a nossa bíblia diária. E, em um momento como esse, elas têm significado com a capacidade de superação do ser humano. Veio a pandemia e chacoalhou tudo. As pessoas precisaram criar essas oportunidades de ressignificar e transformar. Muitas barreiras deixaram de existir. Barreiras que levariam décadas para cair. Quem não se apegar ao passado terá uma grande oportunidade no hoje e amanhã.
HT – A indústria tem sido capaz de produzir os têxteis inteligentes mais avançados e vemos wearables, roupas confeccionadas com têxteis que protegem de raios ultravioleta, que contêm ações auto-limpantes e anti-transpirantes, função antimicrobiana e são capazes de regular a temperatura corporal. Como sente este cenário high tech para a moda nacional?
FR – Era um movimento tecnológico que vinha caminhando gradativamente e deu um salto. E, com essa nova possibilidade de mais interação entre consumidor e cadeia produtiva, essas demandas ficaram mais evidentes. A funcionalização têxtil, que envolve tecnologias sofisticadíssimas, tem evoluído a passos largos e, cada vez mais, caminha para ser acessível ao consumidor.
HT – Como sentiu a repercussão de consumo de moda durante a pandemia? Hoje, marcas são lançadas na web e, se tudo der certo, seguem abrindo a loja física. Como foi e está sendo esse reflexo em Minas Gerais?
FR – A FIEMG acabou de firmar uma parceria com a Amazon (utilizando o programa Global Selling da gigante do e-commerce e tecnologia mundial) com o objetivo de facilitar a exportação de produtos das indústrias mineiras diretamente para os consumidores dos Estados Unidos. (O e-commerce transfronteiriço representa, atualmente, 20% do e-commerce global, sendo que 68% dos produtos comercializados são dos setores de vestuários, calçados e acessórios). As empresas farão a inscrição na plataforma e serão duas as formas de entrega: 72 horas, se o produto sair do Brasil, e, se a marca quiser fazer um depósito nos Estados Unidos, são 48 horas para chegar a qualquer lugar daquele país. Abrimos a possibilidade para todos os segmentos industriais também. Todos que geram produto final poderão comercializar no mercado americano. É um projeto revolucionário se lembrarmos que uma marca para comercializar seus produtos nos Estados Unidos tinha que fazer um planejamento de milhões de dólares.
(Só nos Estados Unidos, país sede da Amazon, 87% da população tem acesso à internet e as vendas via e-commerce, em 2020, foram de US$ 705 bilhões, sendo que cerca de 33% dos consumidores americanos fizeram compras internacionais no último ano via marketplace).
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Bate-bola com o presidente da FIEMG:
Um sonho de Flávio Roscoe?
“Os eventos realizados pela FIEMG, o Minas Trend, entre eles, cada dia mais fortes, fortalecendo a cadeia produtiva”.
Como presidente da FIEMG, qual a realização que mais falou ao seu coração?
“O trabalho que realizamos durante o período pandêmico na manutenção das atividades industriais em Minas Gerais, que não pararam um dia sequer. A indústria deu a sua quota de inovação para a sociedade. E produto industrial vai desde combustível a energia elétrica. Tudo é industrial. Conseguimos manter o abastecimento das famílias. E o trabalho humanitário. Minas Gerais foi o estado que contribuiu para a linha de frente do combate da Covid. Só de respiradores, a FIEMG foi apoiadora da fabricação e doou 1.700, mais que qualquer estado brasileiro comprou. Em três meses, conseguimos fabricar e homologar na Anvisa respiradores, além de termos feito inúmeras outras ações durante a pandemia”.
Qual o legado que Flávio Roscoe vem construindo ao longo da vida como ser humano e profissional?
“Um legado de conduta pró-sociedade”.
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